Bem, com toda a merda que eu fiz, o jeito foi dar uma de louca na frente dos dois mesmo.

Acordei correndo, me arrumei correndo, nem tomei café e saí correndo para a escola antes que Andrew me visse no caminho. Deveria ter feito o oposto! Deveria ter me atrasado pra não vê-lo, isso sim. Porque o idiota pensou que eu acordaria mais cedo e fez a mesma coisa pra me ver. Quando eu cheguei na nossa esquina, o vi de costas, saí correndo e passei ao lado dele fingindo que não o conhecia. Quando ele percebeu, me chamou e correu atrás de mim, mas eu não olhei para trás e corri o mais rápido que podia. E como iria demorar pra começar a aula, entrei no banheiro e fiquei rondando o colégio bem longe da nossa sala pra não precisar encarar Andrew. Ele me procurou, me achou duas vezes no corredor, mas eu corria novamente e ele me perdia. No intervalo forcei Jenny a ficar trancada no banheiro comigo.

De tarde, fingi que estava com dor de cabeça, e pedi para que minha mãe ligasse para a escola de música e dissesse que eu estava doente e não poderia ir. Ela desconfiou, mas não quis perguntar o que estava acontecendo. Já falei que amo a minha mãe?

Fiz isso mais dois dias, pra chegar no fim de semana e pensar no que fazer. Na sexta-feira, no intervalo, Andrew gritou da porta do banheiro feminino que queria conversar comigo, e que entraria ali se fosse preciso, mas como ele não sabia se era esse o banheiro que eu estava escondida, e como uma professora estava passando bem na hora que ele disse isso, Andrew não entrou.

Eis que, no fim de semana, enquanto eu estava trancada em casa louca de medo de encontrar alguém na rua, algo acontece.

Na segunda-feira, cansada de correr de Andrew, eu resolvi que iria explicar para ele a situação. O pior que poderia acontecer é ele ficar puto comigo, e me deixar para o David. E se isso acontecesse com ele também, bem, eu mereci.

-Sasá! – Grita Andrew, parado na nossa esquina, quando me vê de longe.

-Oi Dedé, preciso conversar contigo – Eu disse quando cheguei perto.

-Eu já sei.

-S-sabe do que? – Perguntei eu, meio confusa.

-Sei que é mentira. Você não escolheu o David.

-C-como você sabe?

-Eu me encontrei com ele.

-O QUE? – Fiquei apavorada, já imaginando a cena dos dois atirados no chão, um socando o outro.

-Relaxa, não aconteceu nada demais.

-Tá, mas o que aconteceu? O que vocês disseram, o que vocês fizeram, Não aconteceu nada demais? O que tu considera nada demais?

-Sasá, te acalma! – Acho que eu fiz todas aquelas perguntas rápidas demais, como eu faço quando fico nervosa, sabe.

-O David tá super chateado com você. E eu quero saber quem é que você escolheu de verdade.

-Eu não decidi ainda por ninguém, poxa. Que droga isso.

-Eu sabia. É outro, não é?

-O que?

-Você decidiu por outro. Só pode. Quem é esse gay?

-Do que você tá falando?

-Você tá afim de outro cara, não é? Eu sei disso, não precisa me esconder. Eu tenho certeza disso. Quem é esse filho da puta que eu vou quebrar a cara dele. Eu só aceito perder pro David, pra mais ninguém. Quem é esse cara, Larissa?

-Andrew, não tem ninguém. Da onde você tirou essa idéia?

-Qual é Larissa? Porque motivos você estaria nos enrolando? Acha que a gente é palhaço pra não adivinhar que você não nos quer mais?

-Andrew, eu...

-Tá vendo, até de Andrew tá me chamando. É Dedé, Dedé!

-Dedé!! – Eu o chamei tão forte que ele parou de falar por um momento, e me olhou sério. – Eu não gosto de mais ninguém, eu gosto de você. E do David.

-Então porque mentiu pra a gente?

-Desde quando você defende o David também?

-Ah, a gente conversou bastante e eu vi que o cara é boa pinta. Mas não muda o assunto, por que você tá fazendo isso com a gente? Eu já disse que só aceito perder pra esse cara! – Ele apontou o dedo para mim, e eu desviei sua mão, olhando bem séria para ele.

-Andrew, eu não menti. Eu não quis mentir. Eu disse porque sou uma idiota.

-Não entendi.

-Me deu uma louca na hora, e com medo da Raquel e da Bárbara, eu simplesmente... disse aquilo.

-Mas... e pro David?

-Na hora, eu resolvi que, depois do que tinha dito pra você, não poderia voltar mais atrás. Então, quando fui dizer para David que eu o tinha escolhido... bem, bateu o nervosismo novamente, e... eu literalmente gritei na cara dele que tinha escolhido você e saí correndo, e só notei o que tinha feito quando cheguei em casa.

-Ah...

Andrew ficou ali, raciocinando. E eu me sentindo cada vez pior. Depois de repetir tudo que eu fiz, em voz alta, percebia cada vez mais como eu fui uma idiota, maior vergonha me dava, e eu não pude mais suportar aquilo;

-Andrew, eu preciso ir.

Então eu corri (como já estava virando costume) para a escola, me enfiei no banheiro e chorei mais uma vez.