Descobri que Bárbara e Raquel tinham cheirado cocaína naquele dia, por isso estavam com bafo ruim e pupilas dilatadas. E agiam estranhamente (eu acho).

Depois do almoço, fui para a aula de harpa. Eu estava tão nervosa, que apelei a uma mania que eu tinha quando era criança: Usar um boné quando me sentia assim. Não sei por que eu gostava tanto de fazer isso, talvez porque me deixava mais segura, algo assim.

Cheguei lá e fiquei sentada no meu cantinho apertando a aba do meu boné, ao lado da garota da clarineta de sempre. Ela sorriu para mim e conversamos um pouco, mas eu estava tão nervosa que não conseguia dar continuidade ao assunto. Ela percebeu, mas não perguntou nada. Provavelmente achou que era só por eu estar tendo aula com o “deus” da escolhinha de música. Não sei por que, mas queria naquele momento mudar de vida com ela!

Enfim, ele me chamou.

Suei frio, muito, muito frio. Aquele corredor nunca me pareceu tão longo e tão... apertado. Cada passo que eu dava era uma eternidade pra pensar em voltar atrás e sair correndo. Mas eu não podia fazer isso, eu tinha que enfrentar. E finalmente, cheguei a sua sala.

-David, precisamos conversar.

-Ah... ok. Quer se sentar primeiro?

-Claro. Porque não? – Dei uma risada seca, ansiosa.

Eu sentei, e fiquei olhando para ele, de pé.

-David, pode sentar na poltrona?

-Sim, sim, eu já estava...sentando. – Parecia até mais nervoso que eu. Pena que não era verdade. David nunca se sentiria mais ansioso naquele momento do que eu.

-Então... David...

-Sim...?

“Nossa, pararam o tempo e não me avisaram?”  Foi a ultima coisa que eu pensei claramente, até onde eu me lembro.

-Larissa, tudo bem com você? – David se esticou na ponta da poltrona para me alcançar e segurar as minhas mãos. Foi então que eu... delirei. Meu coração saltava no meu peito, uma angustia horrível tomou meu corpo, parecia que eu iria vomitar a qualquer momento, mesmo que não houvesse nada para botar para fora. Minhas mãos suavam tanto que escorregavam nas de David. E quando eu olhei nos olhos dele...

Sabe quando parece que alguém dentro de sua cabeça aperta um botão que provavelmente se chamaria “controle automático”? Pois é, se isso existe, foi o que aconteceu comigo.

Eu disse... não, eu gritei “Desculpa David, escolhi Andrew”, saí correndo e só percebi o que estava fazendo quando cheguei na porta de casa. Com a mão na porta, agachada e arfando, percebi a besteira que tinha feito, entrei e me joguei na cama, chorando até sentir os olhos incharem.

Devo ter problemas na cabeça. Porque o que eu mais faço é besteira. Besteira em cima de besteira. Um dia ainda acabo morta por causa das merdas que eu faço. Um dia.