Cap. 26 Treino

Prometheus se levanta de seu trono, enquanto margaridas florescem ao seu redor. O castelo a sua volta, antes escuro e esquecido, começa a receber luz e vida.

Pouco a pouco, as montanhas que rondam a cordilheira do Cáucaso são tomadas pelo cosmo do titã. Em cada uma delas, uma estrutura de pedra emerge do chão, contendo grandes pilares e particularidades. Cinco grandes templos são formados ao redor do castelo de Prometheus, enquanto o eclipse paira sobre o céu.

Strella, a bruxa das estrelas, ergue um altar no templo de Prometheus, enquanto o titã começa os preparativos para recriar os humanos:

— Strella, traga a argila e o pó de estrelas. Iremos dar início à criação dos novos humanos que povoarão a terra, após a extinção que começará logo em breve...

Enquanto isso, na hiperdimensão, um homem ergue sua mão, disparando um ataque vermelho:

— Agulha escalate!

— AAAAH!!!!

— Essa é a segunda agulha que você recebe. Estou curioso para saber quantas mais você aguentará, amazona de prata.

Shaina cai muito afetada pelo golpe do cavaleiro, e pensa:

— É como se um veneno muito forte estivesse correndo minha corrente sanguínea e chegando até meu cérebro. Se eu levar mais uma taque desses, tenho certeza que não irei sobreviver. Preciso fazer alguma coisa.

— Levante-se amazona, vamos prosseguir com nossa luta.

— Eu... eu gostaria de entender qual o motivo de estarmos lutando. Somos cavaleiros, então estamos do mesmo lado, não?

— Não diga besteiras. Levante-se e me ataque.

Shaina consegue recobrar sua postura por alguns minutos, e parte para cima do cavaleiro de ouro:

— Garras do Trovão!

O ataque elétrico sequer encosta no cavaleiro de ouro, que apenas balança seu braço, dispersando o ataque.

— É... é impossível lidar com o cavaleiro de ouro?

A hiperdimensão ao redor dos dois começa a se desestabilizar, fato que preocupa o cavaleiro de ouro:

— Grr... nosso tempo aqui está acabando. Será que devo te derrotar logo, ou insisto um pouco mais?

— O que está acontecendo? Por que esse lugar está desaparecendo?

Shaina então se lembra do sacrifício de Asaho, e de palavras que o cavaleiro de taça disse pouco tempo antes:

“Não se preocupem, pessoal. Reuni alguns amigos que irão ajudar vocês quando chegar a hora certa...”

— Então é isso!

Shaina, agora entendendo que se tratava de um treinamento arranjado por Asaho, parte com toda sua força para cima do cavaleiro de ouro:

— Milo, sinta toda a força do ofiúco, o domador de cobras! Garras do Trovão!

O ataque, dessa vez mais forte, exigiu uma esquiva do cavaleiro de ouro.

— Interessante amazona. Você funciona muito bem quando está motivada. Será que manterá essa postura por muito tempo?

— RESTRIÇÃO!

O cavaleiro de ouro começa a liberar ondas de sua cabeça, que vão até Shaina. Esta fica completamente paralisada:

— O que é este ataque? Por que eu não consigo me mexer?

— Amazona, esta é a restrição. Você agora é apenas uma presa do escorpião. Para que eu te explique qual a intenção de estarmos lutando, preciso que você se livre deste ataque o quanto antes. Estarei te esperando.

O cavaleiro se retira, deixando Shaina encolhida e paralisada no chão.

Em outro lugar da hiperdimensão:

— Shaka, o cavaleiro de ouro de virgem? Será este homem um traidor do santuário, ou alguém em quem eu possa confiar?

— Mayura de pavão, o que eu lhe avisei? Um simples pensamento impuro pode te levar a outro mundo menos interessante que esse. Experimente agora o inferno.

O grande Buda onde os dois cavaleiros estavam começa a desaparecer, assim como o cosmo do cavaleiro de ouro. Mayura se vê em um local sombrio, rodeado de demônios deformados:

— O que... o que é este lugar?

Impressionada, a amazona tenta se levantar e correr, mas é impedida por algumas criaturas que a impediam dizendo frases:

— Ravana, meu senhor Ravana.

— Meu senhor, deixe-me alimentar de seus órgãos por favor.

Mayura fica chocada enquanto tenta se esquivar das criaturas. Eram muito magras, mas suas barrigas estavam bastante inchadas. Ela percebia que eles comiam partes de si mesmo e dos outros, logo em seguida vomitando-as.

— Este lugar deve ser realmente o inferno... Por quê esses monstros estão me idolatrando? O que eu devo fazer para sair daqui?

Neste momento ela sente novamente a presença de Shaka, que aparece meditando sobre ela, em forma espiritual:

— Este é o mundo dos demônios, também conhecido com inferno. Mayura, você sabe o motivo de eu ter te trazido até aqui.

— Eu não sei do que você fala, traidor. Me tire daqui agora em nome de Asaho!

— Você me chamando de traidora? Que coisa engraçada, afinal você traiu o santuário anos atrás. Não faço idéia de como ainda era aceita na vila das amazonas, sendo que o santuário proibiu qualquer um de ter contato com traidores.

— Você não sabe de nada, cavaleiro de ouro. Se acha extremamente iluminado, mas somente está sendo enganado, junto com todo o santuário!

— Não viemos até aqui para discutir esses assuntos, amazona de pavão. A grande questão é a derrota de Prometheus.

— Então... então você sabe mesmo de tudo?

Mayura continua se esquivando de alguns demônios, e começa a se sentir incomodada com o clima do local. Ela percebe que se não conseguir sair dali o quanto antes, acabará se tornando um daqueles monstros. Ela então resolve atacar o espírito de Shaka:

— Técnica privada! Plumas mágicas da virtude!

O ataque de Mayura materializa milhões de penas que rodeiam a alma de Shaka, causando um enorme tufão de ar. Porém, nada acontece à forma espectral do cavaleiro, que sequer se move:

— Mayura, vamos direto ao ponto agora. A única forma de sair deste local é despertando o dom oculto dos humanos. O dom que os deuses selaram junto de Prometheus: O Minueto Sagrado!

Ao mesmo tempo, em outros lugares da hiperdimensão, os cavaleiros de ouro proclamavam as mesmas palavras de Shaka a seus respectivos treinandos: Todos deveriam despertar o Minueto Sagrado. Shaina, jogada ao chão e completamente paralisada, ouve a recomendação de Milo e começa a sentir uma grande raiva, conseguindo quebrar parcialmente a restrição na sua fala:

— Ma... maldito! Você só me diz isso agora, depois de me derrotar? Vejo que não posso mais ser boazinha com você...

— Ora ora, você quebrou parcialmente a restrição, amazona. Mas vejo que seu corpo ainda não pode se movimentar. Ainda é um inseto nas presas do escorpião. Para se livrar completamente desta restrição, terá mesmo que despertar o dom secreto de Prometheus.

— Me diga, porque nós temos que lutar contra Prometheus? Vocês cavaleiros de ouro poderiam cuidar disso, não é mesmo? Me diga Milo!

— Nós não podemos sair do santuário. Sem contar um pequeno detalhe: Somente quem pode selar Prometheus são vocês.

— O.. o que quer dizer com isso?

— Apenas aqueles que tocaram os Riscos dos Deuses podem despertar o poder secreto conhecido como Minueto Sagrado. O dom selado pelos deuses junto com Prometheus é o único que pode selá-lo novamente. É por isso que é tão importante deixar este trabalho com vocês, cavaleiros de Prata.

De volta ao inferno, Mayura entende a situação explicada por Shaka, e agradece mentalmente Asaho pela oportunidade. Porém, segue com um ar de preocupada:

— Então é isso, Shaka. Você vai me forçar a fazer isso mesmo.

— Sim, Mayura. Me desculpe, mas esse é o seu destino.

Mayura começa a elevar seu cosmo, fazendo as faixas em seu corpo começarem a se desprender. Pouco a pouco, sua pele começa a ser revelada e suas faixas se esvoaçam pelo ar. Os demônios ao redor imediatamente param de agonizar e se jogam em flexão sob os pés de Mayura.

— Senhor Ravana, nos liberte!

— Por favor meu senhor, nos tire dessa agonia!

— Somente você pode fazer isso, senhor Ravana!

Os cabelos de Mayura começam a ficar negros, e sua máscara e armadura caem. Totalmente nua, a mulher revela sua verdadeira face:

— Sou Ravana, o Rei dos Demônios. Revele-se Shaka de Virgem! Vamos iniciar nossa batalha!