Contramão escrita por Lua Reyna


Capítulo 7
Capítulo 6 - Caos


Notas iniciais do capítulo

Heeeey!
LEIAM AS NOTAS POR FAVOR!
Primeiramente (rsrs), mil perdões por demorar tanto para postar o capítulo novo, mas eu estava sofrendo da síndrome do AI MEU DEUS TÁ UM LIXO. Na verdade eu ainda não estou 100% satisfeita com esse capítulo, mas eu juro que me dediquei.
Outra coisa, apareceram muitos novos acompanhamentos depois que eu divulguei a história com aquela conversa no grupo do Nyah! oficial, então, novos leitores, sejam muito bem vindos ♥
Deixem as opiniões de vocês quanto ao roteiro e o desenvolvimento da história, porquê as vezes eu não consigo ter noção de qualidade hsauhsu
Aaaah, última coisa. De acordo com os comentários e algumas mp´s que eu recebi, o Noah está sendo adorado pelos leitores, e eu tinha escrito a muito tempo uma one-shot com ele. Mais especificamente sobre a irmã dele. Então eu acabei postando pra vocês conhecerem um pouco mais sobre o personagem. Vou deixar o link nas notas finais pra vocês ♥
Enfim, chega de enrolação. Espero que gostem do capítulo ♥



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Eu nunca mais havia deixado meu cabelo crescer depois daquele ocorrido. Apesar de ter mudado de corte inúmeras vezes, ele jamais voltara a passar da nuca.

Para ser sincera, eu gostava dele daquela forma. Entretanto, aquela lembrança não era algo agradável, me fazia pensar que eu lutei muito para conseguir me aceitar e para não me importar se as pessoas consideravam aquilo um corte masculino, ou não.

Quando eu era mais nova, e ainda morava no orfanato, uma pessoa em especial me ajudou absurdamente a entender que as pessoas tem inúmeras particularidades, e que ninguém, jamais, vai conseguir desvendar todas elas.

Ela trabalhava como cuidadora e se chamava Amy, mas acabou se tornando diretora depois de um tempo. O que foi o uma coisa maravilhosa, porquê a antiga diretora era absurdamente insuportável.

Eu costumava visita-la sempre, ainda tirava um tempo para ficar lá conversando e brincando com todas aquelas crianças. Afinal, eu já estive no lugar delas.

Por isso, naquele exato momento eu me encontrava rodeava por um bando de mini pessoinhas, tentando distraí-las enquanto o almoço não ficava pronto. Não vou mentir, não era uma tarefa fácil, mas eu ficava extremamente feliz em estar lá.

Estávamos sentados no pátio. Um lugar calmo, com algumas arvores espalhadas em grandes vasos e o chão quase completamente coberto de cimento. Eu tinha imensas lembranças de joelhos ralados e brincadeiras naquele lugar, o que me trazia uma sensação de nostalgia.

Algumas crianças brincavam de esconde-esconde, outras pulavam uma amarelinha falhada desenhada com giz no chão. Eu tentava dar atenção para todas, respondendo perguntas e escutando sobre a escola ou algum brinquedo, mas estava sentada em uma sombra com duas delas que insistiram em fazer as minhas unhas.

— Tia, por que você demorou tanto para voltar? — perguntou Sammy, um menino de oito anos de idade que brincava de fazer as unhas da minha mão esquerda.

— Ei, eu já falei que não tenho idade para que vocês me chamem de tia. — disse, enquanto ria da mania que eles tinham de me chamar daquela forma. Apesar de eu falar várias vezes para eles me chamarem apenas de Noelle. — Sabe, quando as pessoas crescem elas tem que trabalhar muito para pagar as contas.

— Não seja burro, Sammy. Ela não tem tempo para nós. — Disse Alyssa, que estava concentrada em pintar as unhas da mão esquerda. Na verdade, acho que ela poderia estar concentrada em pintar os dedos ao invés de as unhas, mas, segundo ela, era só limpar depois. Ela parecia chateada, com o olhar vago e respostas secas para tudo.

— Não é desse jeito. Eu sempre arrumo tempo para vocês, mas esses dias eu estava chateada com algumas coisas.

— Que coisas? — questionou Sammy, com aquele olhar curioso que toda criança tem.

— Coisas de adultos. Vocês não tem que se preocupar com isso.

Ele não pareceu satisfeito com a explicação, mas logo mudou de assunto, fazendo com que, finalmente, Alyssa ficasse interessada no que estava sendo falado.

— Crianças, venham comer. — gritou uma das cuidadoras. Automaticamente, todas saíram correndo.

Ajudei a servir todas aquelas crianças, até que elas estavam sentadas nas mesas de plástico que ficavam espalhadas pelo refeitório. Até que finalmente pude me sentar em uma das mais afastadas junto com Amy e os outros funcionários.

— Então, Noelle, como vai a vida? — questionou Miranda, uma das cuidadoras mais antigas lá, que era encarregada de preparar as refeições. Ela havia cuidado tanto de mim quando eu era pequena que era quase como uma avó.

— Olha, estaria mentindo se dissesse que vai bem, mas vocês já sabem sobre a tia Natalie. — respondi, suspirando.

— Sentimos muito. — disse Amy.

— Não se preocupem, eu estou lidando com isso. De qualquer forma, financeiramente as coisas melhoraram. Noah conseguiu um emprego, então não estamos tão apertados assim.

— Isso é maravilhoso. Agora, para de se preocupar tanto com as coisas. Você precisa curtir um pouco. — Amy sempre dizia que eu não sabia aproveitar, e que eu sempre me preocupava demais com tudo.

— Estou curtindo essa comida maravilhosa que a Miranda fez. — respondi, e todos na mesa riram.

Antes que pudéssemos embarcar em qualquer outro assunto, Sammy interrompeu a conversa.

— Amy, a Alyssa não veio almoçar. — sua voz estava com um tom preocupado, assim como sua expressão.

— Não se preocupa, eu acho ela. — disse, quando Amy estava quase levantando-se para procura-la, sem dar a ela um direito de resposta.

Fui até a sala, o pátio, o jardim, mas só consegui encontra-la quando resolvi entrar nos dormitórios femininos. Ela estava sentada de frente para o espelho, com uma prancha na mão, tentando alisar seu cabelos, que eram crespos e armados.

— Alyssa, o que está fazendo? — questionei, apesar de já saber da resposta.

— Nada. — respondeu ela, um tanto assustada com a minha chegada repentina. Automaticamente a imaginei se queimando ou fazendo alguma besteira com aquela coisa.

— Você sabe que mentir é errado. Eu vi.

— Então por que perguntou? —rebateu ela, enquanto tirava a prancha da tomada e jogava em cima de sua cama.

— Você quer me contar o motivo de estar fazendo isso?

— Na verdade não. — retrucou, parecendo ao mesmo tempo brava e chateada.

— Então quer contar pra Amy? — ameacei, sabendo que conseguiria fazê-la falar. Amy era um amor de pessoa na maior parte do tempo, mas se tem uma coisa que ela sabia fazer muito bem era como dar um bom esporro.

— Tudo bem. — disse ela, derrotada. Me sentei na cama do lado dela, esperando-a falar. — Eu só queria ficar mais bonita.

— Mas você é bonita, não tem nada de errado com o seu cabelo.

                — Hannah disse que o cabelo liso era mais bonito, porque o cabelo crespo parece uma vassoura. Então eu tentei deixar o meu cabelo liso.

                — E quem é essa Hannah?

                — Uma amiga da escola.

                — Ela não me parece ser tão amigável assim. — Alyssa ainda parecia chateada. Ela encarava os próprios pés enquanto falava. — Já ouviu falar em padrão de beleza?

                —Nunca. — respondeu ela, ainda sem olhar diretamente para mim.

                — A nossa sociedade prega que apenas um tipo de corpo é bonito. Na cabeça das pessoas, as meninas tem que ter a pele clara, os cabelos lisos e grandes e corpos esculturais. — Ela finalmente olhou para mim. — Mas felizmente, não somos todos iguais. Por isso, as pessoas que não nascem dentro desse padrão são sempre influenciadas a tentar mudar seus corpos.

                — Mas você não tem o cabelo grande. — disse ela, um pouco pensativa.

                — Exatamente! Amy não tem um corpo escultural, Miranda não tem a pele clara... A questão é que poucas pessoas realmente conseguem seguir esse padrão, porque ele é muito injusto. Por isso temos que aceitar nossos corpos da forma que eles são e nos sentir bem com eles, sem se importar com que as outras pessoas pensam. Porque se você se sente bem consigo mesma, ninguém consegue derrubar a sua autoestima. — Alyssa estava com os olhos marejados, mas aparentava refletir sobre o que eu havia dito. — Você é uma menina negra linda, o que significa que muita gente pode tentar te atacar com comentários racistas, mas você não pode se render à isso.

                — Obrigada, Noelle. — Ela se aproximou mais, me abraçando. Eu estava de coração partido por ela ter tido que escutar aquele tipo de coisa tão nova, e completamente revoltada com ideia de que já tinham aquelas ideias implantadas na cabeça. Provavelmente, reflexo do que escutavam em casa. É como aquele ditado: Pais ignorantes fazem filhos ignorantes.

                — Obrigada por não me chamar de tia. — respondi, logo após ela me soltar. Então ela soltou uma risada abafada.

                Quando finalmente descemos, Amy questionou inúmeras vezes o que tinha acontecido, por conta de Alyssa estar com os olhos vermelhos, mas dei a ela total certeza de que tinha lidado com a situação.

                Nós fomos até a sala dela, onde eu expliquei o ocorrido. Como diretora, ela precisava saber do que acontecia com as crianças, e como adulta, era minha obrigação contar. Entretanto, era mais fácil ter aquela conversa com ela longe de Alyssa.

                — Não se preocupe, eu vou até a escola. Eles precisam tomar alguma providência. — respondeu ela, assim que eu terminei o meu relato. — Muito obrigada, Noelle. De verdade. As crianças precisam ouvir coisas como essa, e eu nem sempre consigo perceber as necessidades particulares de cada uma delas.

                — Eu só fiz por ela o que eu gostaria que alguém tivesse feito por mim quando eu estava morando com a tia Natalie.

                — Esse tipo de assunto deveriam ser prioridade nas escolas, tanto em forma de palestras, quanto de debates ou até mesmo por meio da arte. As crianças tem que ser ensinadas a respeitar desde pequenas, e nem sempre os pais contribuem com isso.

                — Na maioria das vezes não contribuem, pra falar a verdade.

                — Infelizmente. — respondeu ela, organizando alguns papeis que estavam em cima da mesa. — Mas mudando um pouco de assunto, tem alguma coisa acontecendo com esse coraçãozinho?

                — O que? Como assim? — questionei. De onde diabos ela havia tirado aquilo?

                — Eu te conheço. — disse ela, me encarando com aquele olhar curioso. — Você está com um brilho diferente no olhar, e eu só lembro de ter te visto assim uma vez.

                Pensei por um instante. Estava tão obvio assim que eu estava sentindo algo por Summer? Ou Amy é que me conhecia a tempo demais, então perceber minhas mudanças de humor era fácil para ela?

                — Não acho que seja o caso, é algo muito recente.

                — Independente do tempo, isso está te fazendo bem, então não deixe ser algo passageiro.

                — Eu adoro seus conselhos de filme cult. — Amy começou a rir, quase no mesmo momento que eu comecei a rir também.

                — Por que você não consegue ser romântica pelo menos uma vez na sua vida? — questionou ela, revirando os olhos.

                — Faz parte da minha personalidade. — respondi. — De qualquer forma, já estou indo. Prometo vir mais vezes, mas essa vida de gente grande é muito complicada.

                — Eu que o diga. — disse ela, enquanto me dava um abraço de despedida. — Se você desaparecer novamente eu vou aparecer no seu apartamento no meio da madrugada. — realmente não era algo que eu duvidava que Amy faria.

                Eu me sentia mal por não ter tanto tempo para fazer visitas frequentes, mas ir lá de vez em quando me fazia tão bem. Eu me sentia purificada. Fui andando pelas ruas, ainda com as cenas daquele dia passando pela minha cabeça.

                Quando eu estava no ponto de ônibus, meu celular começou a vibrar.

                — Alô? — atendi a chamada, colocando o aparelho na orelha.

                — Noelle! —  disse uma voz feminina do outro lado da ligação.

                — Summer? — respondi em tom da interrogação. Quando foi que ela havia pegado meu número?

                — Você tem algo para fazer hoje? — questionou ela, com a voz animada.

                — Na verdade não.

                — Quer me encontrar no shopping daqui a meia hora pra assistir alguma coisa no cinema? — Por um único instante eu fiquei sem reação. Talvez pelo fato de ter sido um convite completamente inusitado, ou pela maneira como ela falou tão naturalmente como se fossemos íntimas a muitos anos.

                — Claro, seria ótimo. — respondi, ainda sem saber muito o motivo de ela ter me feito esse convite.

                Entrei no ônibus que daria na rua do shopping, ao invés de ir diretamente para casa. Coloquei meus fones de ouvido e passei todo o caminho escutando The Clash, uma das minhas bandas favoritas.

                Quando Tommy Gun terminava de tocar, avistei Summer parada em frente à praça de alimentação. Ela sorri e acenou animadamente assim que me viu.

                Pude escutar Then the same goes for life poucos segundos antes de ela perguntar algo como “Como você está?”

                — Bem. — respondi, pausando a música que começava a tocar nos fones de ouvido. — Por que esse convite do nada?

                — Bom, é feriado e eu não tinha nada de útil para fazer em casa. — O que aconteceu com a sua mão? — perguntou ela, se referindo a grande quantidade de esmalte que saia das unhas e manchava grande parte dos meus dedos. Eu havia esquecido completamente que Sammy e Alyssa não haviam limpado aquela bagunça.

                — Ah, coisas de criança. — disse, fazendo-a soltar uma risada leve. — mas por que não chamou uma de suas amigas?

                — Eu tinha um namorado. Elliot. Peguei ele transando com a minha melhor amiga. Desde então eu tento não fazer muito contato.

                — Que canalha!

                — Pois é. Homens são canalhas. — Ela não parecia triste com isso. Na verdade, não expressava nenhuma emoção específica. — Eu achei que amava ele, mas depois que eu parei pra pensar, não era nada disso.

— O amor é a coisa mais complicada que se pode imaginar. Não existe uma fórmula matemática para dizer como acontece. Você só sente, e não tem nada mais mágico ou reconfortante do que estar perto de quem você ama. — Quando eu terminei o meu monólogo, Summer estava me encarando com os olhos brilhantes e um meio sorriso no rosto.

                — Você já se apaixonou? — perguntou ela, curiosa.

                — Uma vez, mas eu era muito nova pra entender o que isso significava.

                — Ela tinha um nome?

                — Todo mundo tem um nome. — respondi, então ela soltou uma risada. Estávamos andando pelo shopping, passando pelas lojas e ignorando completamente todas elas. — Julia.

                Faziam sete anos que eu não falava sobre você com ninguém. Noah e eu prometemos seguir em frente. Prometemos esquecer tudo o que havia acontecido e deixar o passado em seu devido lugar, mas a verdade é que eu jamais havia conseguido ignorar isso. Eu jamais havia conseguido fingir que você não existiu, que aquilo nunca havia acontecido. Porque, por mais horrível que tivesse sido aqueles últimos anos de colegial, haviam momentos com você que eu jamais poderia esquecer.

                — Foi a sua primeira namorada?

                — Única também. — Ela pareceu um pouco surpresa.

                — Então quer dizer que agora você só fica com as meninas e torce pra não encontrar elas nas baladas?

                — Eu tento não me envolver. De longe não sou a melhor pessoa pra manter um relacionamento.

— Já namorou um menino?

                — Sim. — respondi, rindo. — Mas isso não conta. Eu devia ter uns treze anos e foi péssimo.

                — Por falar em péssimo, só tem filme péssimo passando.

                — Podemos ver um filme péssimo e comer alguma coisa depois. — Summer sorriu, concordando.

                Compramos os ingressos pra um filme aleatório de comédia. Para ser sincera, eu não prestei muita atenção quando ela tentou explicar sobre o que era o filme, mas admirava o fato de ela ter pesquisado as sinopses de praticamente todos os filmes que estavam em cartaz.

                Compramos pipoca, refrigerante, algumas balas e entramos para a seção pouco antes de começar os trailers. A sala do cinema estava fria e escura, como qualquer outra. Nossos assentos ficavam na última fileira, bem em baixo de um ar condicionado. Nós colocamos os celulares no silencioso, os refrigerantes nos porta copos e a pipoca estava no colo de Summer.

                A sala do cinema estava um tanto cheia, mas a grande maioria das pessoas ocupavam as fileiras do meio. Mais especificamente, perto de nós só estavam um casal, que pareciam estar mais interessados em beijar do que em assistir ao filme, uma senhora e um homem na fileira da frente.

                Admito que o filme não era exatamente bom, mas rimos bastante. Era aquela típica comédia romântica forçada em que os protagonistas se apaixonavam do nada, mas com boas piadas.

                Summer esfregou as mãos e os braços, aparentando estar com frio. Ela havia, aparentemente, esquecido de levar um casaco. E a nossa localização não ajudava muita coisa. Em alguns momentos, nossas mãos se tocavam quando íamos pegar mais pipoca, e eu percebi que ela havia chegado um pouco mais para perto.

                Ela encostou a cabeça no meu ombro e por um momento, tudo ficou sério. Ao mesmo tempo que eu não pude conter um sorriso, tentei não fazer movimentos bruscos. Não sei se por medo de ela por acaso perceber o que tinha feito e simplesmente voltar a sua posição original, ou se porque eu havia sido pega de surpresa.

                Boa parte do filme se passou com ela deitada ali, rindo de vez em quando, mas sem mexer um único musculo do resto do corpo. Arrisquei olhar para baixo, afim de tentar ler sua expressão. Summer parecia uma boneca de porcelana, com sua pele clara e os cabelos ruivos e longos se estendendo pela cadeira. Ela sorria, de maneira leve, mas, ao mesmo tempo, satisfeita. Devagar, o olhar dela se direcionou ao meu, como um movimento programado.

                Eu pensei em dizer alguma coisa. Comentar sobre o que estava acontecendo no filme ou simplesmente falar a primeira coisa aleatória que passasse pela minha cabeça. Mas quando eu abri a boca para falar, ela se aproximou. Ainda sem desgrudar os olhos dos meus, como se perguntasse se estava tudo bem. Eu me aproximei também, e nossos lábios se tocaram pouco depois de eu fechar os olhos.

                Foi um beijo calmo. Parecia que todo o mundo havia parado naquele instante, como se o tempo não existisse. Entretanto, era tempestuoso, como uma garoa que cai num fim de tarde e traz consigo fortes trovões. Como um choque fraco que te desperta de um transe temporário. E eu não tinha certeza se o transe era o beijo ou a realidade. Mas a minha única certeza naquela momento, era que o choque tinha um nome e cabelos avermelhados.

                Eu não tinha certeza do que havia acontecido, para ser sincera. Quando o beijo acabou, eu vi Summer me encarando com seus olhos escuros e expressivos, sem saber muito o que fazer. Ela teimava contra um meio sorriso, enquanto os cabelos cobriam parte do seu rosto.

                Puxei os fios levemente para trás de sua orelha, me aproximei novamente de seus lábios e repetimos aqueles movimentos. Summer não estava perdida, não estava atormentada. Tudo o que ela fez a partir daquele momento era algo certo. Ela não estava em dúvida, nem parecia sentir-se diferente.

                Por um momento, voltamos os nossos olhares para o filme, para os telespectadores que riam de alguma piada que nós não havíamos nos preocupado em prestar atenção. Nesse momento, eu havia sentido que as coisas voltariam ao normal, então, para não deixar que isso acontecesse, passei meu braço por cima de seus ombros, afim de esquenta-la do ar condicionado.

                Summer se ajeitou novamente em meus braços. Mas dessa vez eu não estava preocupada em não fazer movimentos bruscos. Eu estava confortável com tudo aquilo.

                Julia,

Por muitos anos eu acreditei que o mundo era composto de caos. Apesar de ter aprendido tantas coisas sobre esperança, tudo sempre se resumia a um inabalável, perseguidor e impiedoso caos.

                Por muitos anos eu acreditei não poder escapar desse caos, que tudo sempre se resumiria a destruição. Durante todos esses anos, jamais havia pensado que eu poderia criar algo único e exclusivamente meu dentro dessa confusão. Algo que nunca, ninguém jamais poderia derrubar, por ser autossuficiente.

                Quando eu abro as notícias, vejo tantas coisas sobre mortes, doenças, guerras, descriminação, preconceito, me dá ainda mais certeza sobre a minha teoria. Quando eu abro a janela, tudo ainda se resume em caos, mas dentro de mim, em lugar específico da minha mente, eu me sinto em paz. Talvez essa seja só mais uma das minhas particularidades, e eu tenho a total certeza de que nem eu consigo decifrá-la, mas eu estou bem com isso.


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Notas finais do capítulo

Então? O que vocês acharam? Deixem nos comentários o que vocês mais gostaram e o que vocês acham que pode ser melhorado. Isso me ajuda muito.
Ah, esse é o link da one shot do Noah: https://fanfiction.com.br/historia/723871/Arabella/



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