Eu ainda sonho com tudo aquilo às vezes. Hoje é um desses dias.

Eu acordo tremendo, meu rosto banhado em lágrimas. Não é medo. Eu não tenho medo. Não mais, de qualquer forma. Suas mãos delicadas estavam lá por mim, firmes ao redor dos meus ombros, quando precisei delas, quando o mundo parecia prestes a me engolir, quando o mundo estava se despedaçando; quando eu estava me despedaçando. Eu abro os olhos, a respiração ofegante. A realidade demora um pouco pra se instalar.

Não se instala, em absoluto.

Nunca.

Nem depois de todos esses anos.

Essa é a verdade.

Eu sento vagarosamente na cama, esfregando minhas mãos em meu rosto, enxugando bruscamente as lágrimas. Eu corro minhas mãos por meus cabelos e trago meus joelhos para mais perto de meu corpo.

“Foi só um sonho”, eu repito pra mim mesma, tentando me convencer e rio um riso sem humor algum por entre meus dentes. Simplesmente não é possível que um lugar como aquele existisse. A simples ideia daquela casa de banhos é absurda, junto com seus espíritos, deuses e dragões-

Eu sinto as lágrimas escorrendo outra vez. Eu tempo limpá-las, mas eu não consigo. Eu simplesmente não consigo. Não importa o quanto eu as enxugue ou o quanto eu tente refreá-las, elas simplesmente não param de cair. E quanto mais eu tento, mais eu penso sobre ele. Por que eu ainda penso sobre ele? Aquilo ao menos era real? Eu sou tomada por soluços enquanto começo a duvidar de mim mesma, da minha sanidade, dele, e de uma promessa em uma memória que nem ao menos sei se é real.