Electus escrita por Khaleesi


Capítulo 18
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Olha quem ressurgiu das cinzas!
Nada mais justo do que reviver do que no dia das bruxas, haha. Happy Halloween people!
Mais explicações dareis nas notas finais ^^

(Recapitulando rapidamente: O pessoal de Sweet Amoris resolveu fazer uma investigação no ginásio durante o processo seletivo e as coisas acabam indo de mal a pior...)

Desejo a todos uma boa leitura!



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Capítulo 17

 

Minha mente estava perto de um colapso, eu sabia. Apesar da tonelada de cultura pop e jogos que acumulei ao longo dos anos eu ainda não estava preparado para o que acontecia naquela noite. Era para ser uma brincadeira de jovens, entrar no ginásio e bisbilhotar alguns arquivos e correr para um bar depois.

Agora eu estava cercado por uns homens armados e dois cachorros do inferno. Meu irmão parecia a beira de ataque histérico e Castiel havia ficado incrivelmente mudo. Era de se imaginar que apenas uma loucura dessa fosse calar o ruivo. O pior era não saber o que diabos tinha acontecido com Kentin que se jogara em direção ao cão maldito lá dentro.

Para de pensar merda, Armin.

Nesse momento eu sentia que a adrenalina de descobrir todas as teorias de conspiração era pura mentira. Você não se sentia eufórico e sim um medroso. Por que dessa reflexão? A verdade era que eu vim para essa seletiva com outras intenções.

Enquanto estava na capital participei de diversos eventos e num deles me deparei com uma figura inusitada no mínimo. Uma jovem me agarrou desesperada em uma festa pedindo ajuda, dizendo que era descendente de faelins e que estava fugindo de uns homens malvados.

Até ali acreditei que fosse culpa do álcool, eu mesmo havia bebido umas cervejas. Fiz uma piada e fugi dela. Porém, quando estava indo embora do local vi a mesma garota sendo levada por dois homens fortes em direção a uma van, desacordada.

Com remorso por não a ter ajudado, liguei para a polícia para denunciar acreditando ser um rapto por bandidos. A autoridade local me mandou pastar, dizendo que era pegadinha de adolescente. Nos dias seguintes procurei pela moça ou por alguém que a conhecesse, até mesmo procurei nas colunas investigativas dos jornais. Mas, ela parecia ter virado fumaça.

A única coisa que lembrava do ocorrido era um desenho na camiseta de um dos homens que a levaram. Imagine a minha surpresa quando me deparei com o mesmo desenho numa propaganda de emprego com bolsa de estudos. Sem pensar muito no assunto, vim até minha antiga cidade pensando em investigar melhor.

Em parte eu desconfiava que a Tenebris não era uma empresa comum, mas magia? Era algo fora da realidade da vida pacata de um jovem. Minha mente fértil me dizia que era o preço que estava pagando por não tê-la ajudado quando tive oportunidade.

E agora era eu quem estava na situação daquela moça.

— Mas que merda?!

A exclamação de um dos homens me fez focar no presente. O que havia gritado estava olhando para o cara ao seu lado que havia sido congelado com uma expressão de susto.

— Estou triste por não ter sido formalmente convidado para a festa.

Olhei para o portão secundário do pátio onde uma figura apareceu brincando com uma espécie de bola de gude. O rapaz possuía o cabelo azul idêntico ao de Alexy e sua pose era debochada. Ele girou rapidamente a bola e o outro homem ficou igualmente congelado.

O que ocorreu em sequência foi uma confusão digna de filme hollywoodiano, do tipo missão impossível. O rapaz de cabelo azul congelava os homens tempo o suficiente para um marombado platinado os arrebentar a socos. Enquanto isso outro jovem de cabelo negro conseguia entreter os dois cães se movimentando de uma maneira humanamente improvável. Quase gritei de susto quando uma mão pousou nos meus ombros, só parei quando percebi que era Kentin.

— Sem perguntas, só me sigam – ele comentou.

Pressionei os lábios com força para segurar a torrente de perguntas que queriam escapar e ajudei Alexy a caminhar, já que havia torcido o pé na tentativa de desviar de um dos cães. Castiel olhava para os lados, procurando por alguém. Só então notei que Lysandre e Rosalya haviam virado fumaça, nem mesmo um fio de cabelo deles era visto. Seguimos Kentin para as sombras das árvores perto o suficiente do portão, mas ainda sim longe demais para escaparmos da confusão sem sermos vistos.

— Você está machucado – Alexy comentou em voz baixa, olhando para o moreno.

De fato havia um colete esportivo precariamente tampando um corte em seu abdômen, provavelmente ganho dentro do ginásio naquela hora. Uma onda de raiva me tomou pela minha fraqueza. Eu não servi para absolutamente nada naquele dia e ainda fui o idiota que teve a ideia de espionar o ginásio. Se não fosse por mim meus amigos não teriam se machucado.

— Isso não é nada – Kentin respondeu, mal ligando para o corte voltava a sangrar – você também se machucou – ele apontou para o tornozelo dele.

Alexy fez um gesto como se não fosse nada. Bufei, era óbvio que queriam passar uma imagem de durão um para o outro.

— Você não parece surpreso – Castiel apontou a calma que o nosso amigo emanava.

Reparei em um pequeno tique na perna esquerda do ruivo que denunciava seu nervosismo. Kentin soltou um suspiro olhando para além da segurança das árvores.

— Não, mas aqui não é a hora nem local para essa conversa – ele falou, olhando para algo invisível para nós – agora, por favor, não gritem.

Sabendo do descontrole de Alexy, pousei uma mão em sua boca por precaução e reparei em Castiel que se também preparava para o que quer que fosse ocorrer. De fato eu cogitei duas ou três mirabolantes teorias, mas certamente não esperava que Lysandre fosse brotar do nada com Rosalya no colo.

Abri a boca, mas um cutucão de Castiel me fez ficar calado. Lysandre nos ignorou e fez com que a Rosa se agachasse ao nosso lado. O rosto dela estava pálido como se tivesse visto um fantasma, o que levando em conta o ocorrido poderia muito bem ser verdade.

Eles vão criar uma distração para que possamos ir até o portão e então você corre com o pessoal aqui como nunca fizeram na vida até o seu carro. Leve-os até a minha casa e esperem por nós lá – Lysandre falou em voz baixa para Kentin, sério.

Rosa apertou a mão de Lysandre, nervosa.

— Não vamos te deixar para trás.

O grandão deu um sorriso calmo e com gentileza tirou a mão da Rosalya dele.

— Vou ficar bem – dispensou a preocupação dela.

— É bom que fique mesmo, está nos devendo uma tremenda explicação mais tarde – Castiel resmungou, mostrando sua preocupação com o amigo.

Lysandre assentiu, concordando.

— O que fazemos? - pedi, tentando focar no que realmente podia fazer.

Notei um brilho nos olhos de Lysandre como se aprovasse minha posição. De algum modo aquilo me acalmou da merda que tinha plantado. Os demais ao meu lado pareciam ter virado geleia diante toda essa confusão maluca.

— Eu vou me infundir nas sombras e vigiar os arredores enquanto vocês vão avançar com cautela pelo terreno. Nevra vai distrair os BlackDogs para que eles não sintam o cheiro de vocês. Valkyon e Ezarel vão nos dar cobertura e Kentin vai acompanhá-los todo o caminho.

Eu não sabia quem eram as pessoas que ele citou exceto pelos dois presentes ou o que ele citava como estratégia, mas eu confiava neles para nos ajudar. Então a expressão de Lysandre tornou-se severa.

— Não importa o que ouçam ou vejam, não parem. A única coisa que devem ter em mente é atravessar aquele portão – ele olhou um por um nos olhos, certificando-se que tínhamos entendido seu ponto.

Naquele momento eu vislumbrava uma faceta do meu amigo que jamais havia cogitado. Um comandante habilidoso que transmitia certeza e segurança no que fazia. Se ele me pedisse para andar sob brasas eu faria sem pensar duas vezes.

— Entendemos – respondi por todos.

Respiramos fundo e o observamos sumir da mesma maneira que chegou, deixando as perguntas de lado e pensando no que nos foi indicado para fazer. Prendi os braços de Alexy aos meus e fortalecemos o laço que nos unia desde o útero de nossa mãe. Rosa deu a mão a Castiel e Kentin preparou-se para o sinal.

Que Deus, se ele estiver por aí, nos proteja.

 

(…)

 

Pelo canto do olho vi Lysandre terminando de orientar seus amigos e minha irmã. Voltei minha atenção novamente aos três homens com quem lutava, determinado a mantê-los ocupados para que os demais pudessem escapar. Mas, minha mente continuava girando em torno da pessoa com quem compartilhava laços sanguíneos a poucos metros de mim.

Tinha imaginado várias hipóteses de como veria minha irmã perdida pessoalmente, entretanto essa não era uma das opções que vislumbrei. Bufei, pensando em como as coisas jamais saíram como planejei em minha vida. Sempre fui fadado a mover-me conforme o fluxo que o destino tivesse traçado para mim.

Um chute em minhas costelas me forçou ao presente, tirando-me dos meus devaneios. Usando um dos movimentos que aprendi com Jamon desestabilizei a postura do atacante e o joguei contra seu comparsa. Estava me virando para lidar com o terceiro que desviada de mim quando o homem foi jogado contra a construção.

Ezarel.

Meu amigo vinha usando seus recursos incansavelmente, mas eu sabia que ele estava se cansando mais rapidamente que o normal. Por ser um alquimista, ele utilizava de encantos que manipulavam a natureza ao seu favor através de palavras e gestos. Entretanto, estávamos em um mundo desprovido do Cristal de Maana e por conta isso suas habilidades eram reduzidas e facilmente exauridas.

Ambos sabíamos que era questão de tempo até o inimigo notar nossa debilidade e atacar com mais vigor. Quanto a mim ainda havia uma pequena vantagem por usar corpo a corpo em meus ataques, mas a minha parte mágica que corria pelas veias já mostrava sinais de fadiga com o esforço em fortalecer meus golpes e me proteger dos que recebia.

Agindo em conjunto, Ezarel e eu atacamos sem dó. Mal ligava para os cortes que me cobriam ou a dor que começava a aparecer. Tinha um objetivo e estava disposto a cumpri-lo. Vagamente notei Lysandre colocando o plano em ação usando seus poderes de Lorialet, os quais herdou de sua mãe, podendo se misturar com as sombras e criar ilusões.

Descobri mais sobre os Lorialet através de Dona Margarita, por conta das aulas que Lysandre vinha recebendo da senhora desde a nossa pacata conversa em sua cozinha. Por serem criaturas da noite e por terem afinidade com a lua eles podiam moldar as sombras ao seu favor e criar ilusões realíssimas num piscar de olhos.

Neste momento Lysandre estava cobrindo o grupo com uma névoa para que tornasse difícil notá-los, mas não impossível. Afinal, Lysandre mal havia despertado seu lado mágico. Assim, redobrei meus esforços e chamei toda a atenção que podia para mim. Um pequeno vento ao meu lado e sons de rosnados indicou que Nevra havia entrado em ação também.

Um dos homens puxou uma espada média e com aparência maligna das vestes, sendo copiado por seu colega logo em seguida. Engoli um xingamento em homenagem ao Leiftan, pois minhas amadas espadas haviam ficado para trás, em Eldarya. Por sorte tinha três adagas comigo, pois estavam bem escondidas no meu traje e passaram despercebidas durante a revista que fizeram antes de nos mandarem para cá.

Eu sabia que poderia lidar com eles com as adagas com a mesma facilidade que as espadas, porém a visão de armas poderia desestabilizar o grupo que pretendia fugir dali. No fundo, sabia que era apenas o medo de que Rosalya se assustasse demais comigo e por isso eu me impedia de lutar com todo meu vigor.

Entretanto, lutar de mãos vazias fronte eles não era uma opção. Dando uma rasteira no mais próximo, mergulhei a minha direta onde haviam um conjunto de vassouras velhas provavelmente descartadas. Sem pensar muito, quebrei a ponta onde tinha a palha e peguei dois cabos para mim. E pronto, eu tinha meios de me defender.

Respirei fundo e parti ao ataque. Graças a Jamon eu sabia lutar com réplicas de madeira conta espadas reais, mas ainda era um pouco mais complicado lidar com isso em algo fora de treinamentos. Por mais que eu acertasse as aberturas que eles me davam, pouco a pouco os centímetros dos cabos iam sendo devorados pelas lâminas. E mais cedo do que previ tinha em mãos apenas dois cotocos de madeira.

— Acho que acabou a brincadeira – suspirei, jogando os restos no chão.

— Confesso que esperava mais do Chefe da Guarda Obsidiana – o da esquerda retrucou.

Dando um sorriso digno de Ezarel, agachei-me e peguei as adagas.

— Oh, acredito que tenham me entendido mal – comentei, fingindo ir para o da esquerda, mas alterei o rumo no último segundo – não eram vocês quem brincavam – completei o movimento cortando profundamente a mão da espada do guarda da direita – era eu.

Para seu crédito, o homem que restou comigo tinha certa habilidade de luta. Eu ficaria desapontado se esses caras fossem fracos demais. Mergulhei tão profundamente no que fazia que tardiamente notei um encanto de Ezarel enfraquecer e com isso um dos três guardas que Ezarel continha escapou do seu controle.

Mais rápido do que previmos ele ganhou o terreno entre nós e o grupo que estava na metade do caminho até o portão. Senti meu coração gelar com o grito feminino ecoando no ar. Imediatamente o cenário ao nosso redor se alterou. Sem pensar, dei um golpe que poderia ser considerado sujo entre os guerreiros e joguei o guarda sobre o outro ao chão.

Dei um passo em direção a eles, mas ouvi um grunhido vindo do elfo ao meu lado. Suor escorria por seu rosto mostrando seu cansaço. Com a fuga do outro, os dois que ficaram em sua rede de encantos dobraram os esforços em derrotar o elfo. Meu coração pesou, divido entre correr até minha irmã ou ficar e ajudar ele.

— Vá! – Ezarel gritou notando meu tormento com o grito.

Puxando energia do fundo de sua reserva mágica, Ezarel executou um pretensioso e perigoso encantamento. Gavinhas dos mais diversos tipos e espessuras surgiram dos pés e mãos do elfo e engolfaram os inimigos. Sabendo do custo do que ele fazia rompi em uma corrida desenfreada até o portão que o grupo estava se dirigindo.

O rapaz fujão puxou um cordão do pescoço contendo um amuleto de teletransporte curto, seus lábios já formando o encanto para ativá-lo. Por também ter se distraído, Nevra acabou deixando escapar um dos BlackDogs que agora lutava contra Lysandre, que mesmo tempo um certo grau de conhecimento de luta ainda levava a pior, mesmo com os esforços de Kentin e dos demais.

Por mais que eu forçasse meus pés e impulsionasse meu corpo, a visão que eu tinha me dizia que eu não chegaria a tempo. Agindo como último recurso mudei minha rota e bati contra o último BlackDog que Nevra se ocupava. Ouvindo meu sussurro desesperado enquanto eu recebia uma mordida na perna, Nevra correu até o grupo. Não me permiti olhar, pois tinha que manter o serviço do vampiro já que o havia mandado em meu lugar.

Sem ligar para os machucados que recebia soquei, chutei e esmaguei o animal numa velocidade desesperada. Ouvi mais do que vi Ezarel liquidar os guardas restantes. Por mais que eu fosse rápido o BlackDog era mais. Meu sangue o fez ficar ensandecido. Mal pude dar um passo para desviar de um golpe quando senti garras afundarem na carne da minha coxa já machucada, cravando-me no chão.

Uma fraca gavinha enroscou-se na pata traseira do animal, permitindo-me pegar a última adaga do meu acervo pessoal e travá-la na sua jugular, silenciando seus rosnados. Trincando os dentes devido a dor do ferimento, levantei-me odiando a lentidão dos movimentos.

Ridículo seria uma boa palavra para descrever meu desempenho nessa luta.

Ergui os olhos para frente e senti um gosto amargo tomar minha boca. Nevra jogara o BlackDog que atacara Lysandre contra o guarda, mas não foi rápido o bastante para impedí-lo de agarrar o rapaz de cabelos azuis. Outro jovem muito parecido o rapaz o agarrou, tentando impedir que fosse levado, porém o feitiço já estava sendo finalizado.

Por conta do impacto do BlackDog os dois rapazes foram empurrados contra o guarda. Uma série de palavrões me saltou a boca ao vê-los sendo engolidos pela névoa do feitiço e outra torrente foi solta quando vi Nevra correndo em direção a eles, o rosto determinado.

— Deixem comigo – foram suas últimas palavras antes de pular no feitiço e ser tragado junto para se sabe onde o guarda os tivesse levado.

 

(…)

 

Nunca na vida pensei que ficaria feliz em ver uma casa de uma bruxa. E era exatamente o sentimento que tinha ao avistar a cabana submersa num mar de folhas e cipós que lhe proporcionavam um esconderijo natural. Miiko havia dito que era um modo de poupar sua magia, já que pela descrição que Kentin nos fizera do seu ataque a dimensão do interior não correspondia com o que víamos pelo lado de fora.

Ou seja, Magia.

— Tem certeza de que é uma boa ideia eu ter vindo junto? - pedi ao elfo ao meu lado.

Ezarel suspirou e deu um cutucão doloroso em nosso refém fazendo-o ficar quieto antes de me responder.

— Não vou mentir para você, preferiria o Nevra cuidando das minhas costas – ele falou, engasgando suavemente no nome do amigo – mas você tem dons valiosos também, Lysandre.

Depois de toda a confusão de se sucedeu a maravilhosa ideia de bisbilhotar o ginásio, era admirável que ainda tivessem energia para lidar com uma bruxa. Em meio ao desespero de ver Armin, Alexy e Nevra sendo levados junto com o guarda, os demais comparsas começaram a fugir também, mas Ezarel conseguiu capturar um antes que evaporasse também.

No final da noite tínhamos um Kentin machucado, Valkyon em pior estado por conta do BlackDog, Rosalya e Castiel assustados, um elfo irritadíssimo, uma brownie chorona, e Miiko pra lá de nervosa que não contribuiu em nada para acalmar o grupo sofrido. Assim, quando Ezarel propôs usarmos uma bruxa para que o nosso prisioneiro falasse seus segredos sobrou para mim lhe acompanhar.

E eu mais que depressa aceitei. Não sei consolar as pessoas, mal sabia me consolar. Então aqui estava olhando para o casebre e tomando coragem para o que faríamos. Sentia meus músculos protestarem devido ao grande esforço que fiz usando magia por um longo período pela primeira vez. Mesmo com os treinos que fiz com Dona Margarita eu ainda era um coelho em meio a tigres.

Se eu tivesse sido melhor ninguém teria sido levado.

— Ora, ora! O que temos aqui?

Uma voz coaxante soou na soleira da porta. E lá estava a nossa bruxa, encostada despreocupadamente em frente a sua casa, nos observando com toda a calma do mundo. Em despeito as descrições feitas nos filmes ela não seria o que eu estava esperando.

Era mais baixa que o normal das pessoas, mas era magra e tinha um condicionamento físico bem desenvolvido como se fosse uma maratonista, vestia calças negras e uma blusa branca um pouco solta. Nada de verrugas ou cabelos desgrenhados. Fora a estatura e a voz, era uma pessoa perfeitamente normal.

— Um passarinho me contou que uma bruxa local tem meios de extrair as verdades mais ocultas – Ezarel respondeu.

Pelo olhar que a mulher lançou ao homem fortemente amarrado aos nossos pés me indicou que foi uma boa ideia não termos trazido Kentin junto.

— Talvez a bruxa tenha, mas só mediante um bom pagamento – retrucou, estreitando os olhos – e digamos que essa bruxa esteja com bastante fome pelos jantares inacabados, membro da Guilda.

Ela estava brava.

Sem dúvidas conseguia sentir o cheiro de nossos amigos em nós, Miiko tinha nos avisado sobre essa capacidade antes de virmos. E dado ao conturbado encontro que Kentin e Nevra tiveram com a bruxa, ela poderia estar mais do que arisca em nos ajudar. Mas, Ezarel não parecia preocupado com o pagamento que ela mencionara.

Eu não sabia se ficava nervoso por ela ou pela calma dele.

— Será paga pelos seus serviços e sua fome saciada – Ezarel falou com uma certeza de que me fazia perguntas se eu não era o pagamento.

A não ser… Olhei para baixo para o refém e depois para o elfo. Havia um fogo crepitando em seu rosto, prometendo vingança. Apertei meus lábios para evitar a bile quanto entendi o que ele disse. Contos de Fadas? A mais pura besteira. Não havia nada de bonito nesse mundo oculto pela magia.

— Aceito – a bruxa limpou os dentes, ansiosa, abrindo a porta para nós.

Enquanto rebocávamos o guarda para uma mesa gasta e com manchas duvidosas sobre o tampo, a bruxa mexia em um de seus vários armários em busca do tal soro da verdade. Em algum momento que amarrávamos o homem ele acordou e nosso serviço ficou um pouco dificultoso devido seus espasmos.

Ele compreendeu a situação mais rápido do que eu.

— Fique quieto – a bruxa rosnou, estalando os dedos.

Imediatamente o prisioneiro ficou flácido em nossos braços. Foi muita sorte do Kentin de que ela queria brincar com a comida quando o capturou tempos atrás. Agora ela queria mais do que depressa ser saciada.

— Tenho apenas seis gotas que servem para seis perguntas, seja sábio ao usá-las – ela recomendou aproximando o pequeno vidro da boca do guarda.

Afastei-me da mesa e escorei minhas costas na porta, não confiando em mantê-la a vista da mulher, por mais que ela estivesse concentrada em sua mesa. Peguei meu bloco de notas do casaco, pronto para anotar tudo o que conseguíssemos.

— Para onde os levaram? - Ezarel pediu.

O homem a mesa piscou, a face ficando pensativa.

— Não sei.

Um rosnado nada humano saiu do elfo, enraivecido pela pergunta perdida.

— Cinco – crocitou a bruxa, feliz.

Percebendo o pavio curto do azulado inverti as posições. Peguei-o pelo braço e lhe alcancei o bloco e em seguida parei de fronte ao homem amolecido pelo feitiço e soro.

— Para quais locais costumam levar seus reféns ou prisioneiros? - indaguei, calmamente.

Senti mais do que vi Ezarel querer se exaltar, mas foi parado com a resposta fornecida.

— Para o calabouço do QG, para as terras exiladas ou para o Resort.

Resort? Das três opções que ouvimos a mais louca era o Resort. Vendo o cenho franzido de Ezarel notei que ele não sabia da existência do terceiro local ao me mostrar suas anotações.

— Por que os levariam ao Resort?

— Para divertir nossos clientes no mundo humano.

Sua resposta me levava a duas hipóteses. Se de fato havia um Resort com seres mágicos sendo mantidos por lá, ou era para exposição ou para prostituição. E nenhuma das duas alternativas me deixava calmo.

Humanos sabiam ser porcos quando queriam.

Ezarel me cutucou e me passou o bloco de notas contendo algumas perguntas para escolhermos com cautela. Olhei atentamente para elas antes de fazê-las, afinal tínhamos somente mais três perguntas e nenhuma resposta concreta sobre o paradeiro dos nossos amigos.

— Conte-nos tudo o que sabe sobre o Resort – comandei, fazendo uma junção de algumas perguntas de Ezarel.

O homem teve um estremecimento, fazendo-me olhar para a bruxa.

— Devem ser informações importantes para ele reagir assim – ela estalou a língua – está tentando conter o soro.

De fato o rosto dele ficou vermelho devido ao esforço. Ela então encostou um dedo em sua testa, deixando-o mole novamente.

— Não quero que morra logo – comentou como se ele fosse uma criança – agora, responda o rapaz.

Seja lá o que ela tenha feito ele desatou a falar. Era quase uma enxurrada de informações.

— São dois Resorts comandados por Kreis, poucos sabem de suas localizações e ninguém do nosso grupo as tinham. Mas, eles estão escondidos no nome da empresa que Kreis criou. Sei que os mais ricos do mundo humano a visitam para se entreterem com nossos prisioneiros e que tem portais ativos que ligam a Eldarya para que possamos levá-los até lá.

Ezarel anotava tudo furiosamente no bloco, não querendo perder nenhuma palavra.

— Agora são duas perguntas. E lhe aviso para perguntar ou ele pode não colaborar da próxima vez – a bruxa indicou, dando um tapa amigável na face no homem.

Respirei fundo e pensei em tudo o que tínhamos conseguido com as perguntas. Haviam três possibilidades de locais que possam ter sido levados e uma delas era aqui no nosso mundo. Segundo o guarda o Resort estava em nome de Tenebris, a tal empresa que empregou a seletiva para a bolsa de estudos.

Com um estalo de dedos pedi o bloco de notas de Ezarel. Escrevi a pergunta no papel, pois não queria correr riscos do refém achar que ela era destinada a ele. Assim que terminei, mostrei o papel para a bruxa que leu com toda a calma do mundo.

— Ah, que esperto você meu doce – ela comentou, olhando-me maliciosamente causando um leve arrepio em mim.

Ezarel nos olhou curioso.

— O jovem aqui pediu o alcance daquele colar mágico que o outro guarda usou para levar seus amigos – ela recitou a pergunta sem dar a entonação da interrogação – se estiverem certos sobre o objeto é um teletransporte curto, e itens assim não conseguem armazenar grande quantidade de maana, sendo assim impossível se transportar para Eldarya, ainda mais com passageiros junto.

Touché. Isso significava que eles estavam em dos dois Resorts em nome da Tenebris. E eu rezava por alguma divindade oculta, que minha intuição estivesse certa para que não perdêssemos as duas últimas perguntas.

— Como encontramos nossos amigos no Resort sem sermos pegos e existe uma saída secreta entre os dois?

O guarda puxou uma das mãos amarradas com força, machucando-a no processo, mas não parecia ligar para a dor. Olhamos para a bruxa em busca de respostas e ela limitou-se a desatar a mão amarrada. Imediatamente o guarda puxou um cartão de um bolso interno de sua roupa e o estendeu a nós.

— Só se pode entrar nos calabouços com esse item ou ativarão um alarme silencioso. Eles podem estar em qualquer cela, mas os prisioneiros mais importantes ficam no último andar do subsolo. Um andar a cima desse existe um túnel que percorre o fundo do mar é o ponto de ligação entre os dois Resort, mas não sei onde exatamente está a porta dele.

Ezarel mais que depressa pegou o cartão e o guardou, enquanto isso o guarda começava a ter uma espécie de convulsão em cima da mesa.

— Acabaram suas perguntas – ela cantarolou, ignorando o homem ao nos conduzir até sua porta praticamente nos empurrando – agora saiam daqui e não apareçam com suas carcaças em minha porta novamente – finalizou, fechando a porta em nossas caras.

Observei em silêncio para os tímidos raios rosados no céu, indicando que começava a amanhecer, pesando tudo o que tinha acontecido nas últimas horas e em como a minha vida tinha tomado um giro completo para o desconhecido.

Ezarel ao meu lado olhava para o bloco de notas como se desejasse retirar seu amigo dali de dentro, mas a nossa resposta não era algo tão fácil como pensávamos.

— Bom, parece que vamos fazer uma viagem de férias – comentei em falsa alegria.

O elfo deu um sorriso maroto.

— Vamos ver o que esse mundo tem de tão interessante.


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Notas finais do capítulo

Bem, primeiramente quero garantir a todos os leitores de que eu não abandonei Electus e nem pretendo fazer isso. Me comprometo com vocês de que irei finalizar essa fanfic nem que demore mais do que o planejado, mas não vou abandonar.
Meu atraso se deve a um problema que assombra vários autores: "como vou desenvolver o enredo que planejei??"
Assim, tive que sentar, respirar fundo e pensar no enredo de Electus por inteiro (começo, meio e fim) e então elencar os pontos principais que queria colocar na fanfic. Depois criei vergonha na cara e organizei a fanfic inteira, pontuando o que colocaria em cada capítulo e fui estruturando todo o enredo. Agora, posso dizer com satisfação que a Primeira Temporada de Electus está toda planejada e organizada, só faltando a autora aqui escrever os capítulos, ou seja, nada de bloqueio criativo.
E sim, você leu direito, Primeira Temporada. Por que em meio a organização eu notei que eu tinha pano para manga e podia expandir a minha ideia. Com isso planejei todo o foco da primeira parte onde temos a trama da Olimpya e o pessoal em mundos diferentes e a segunda com a sequencia das consequências que virão com a solução do grande problema da primeira parte.
Isso significa que teremos Electus por muito tempo, haha!

Enfim, quero me desculpar pela demora que tive em atualizar e por deixá-los esperando tanto tempo. E agradecer imensamente a todos que me cobraram tanto por MP ou review e que aguardaram essa pessoa complicada aqui a escrever o capítulo.

Amo vocês!

Agora, me despeço por um tempinho, pois preciso dar uma estudada aqui. Quem mandou fazer outra faculdade, haha.

Um beijo e até o próximo!



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