Electus escrita por Khaleesi


Capítulo 17
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Eu vim mais cedo pq não me aguento quando tenho capítulo pronto, hahaha.
Espero que gostem do cap de hoje e segurem os forninhos pq tem treta!
Desejo a todos uma ótima leitura!



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Capítulo 16

 

— Não imaginava que tanta gente viria – Lysandre comentou ao meu lado, observando a multidão em frente ao nosso antigo colégio em Sweet Amoris.

Era um pouco nostálgico voltar ao local e parecia um pouco surreal encontrar tantos rostos familiares naquele mar de pessoas. Lysandre, que havia decidido participar do evento organizado pela Tenebris S.A a uma semana, parecia um pouco deslocado em frente ao público. A verdade era que o rapaz não saia da propriedade a quase um ano, e esse isolamento não deve ter ajudado na questão de entrosamento com os demais.

— Eu já esperava por isso, a fila que enfrentei para colocar nossos nomes era igualmente gigante – respondi, atravessando o portão.

A pré-seleção de candidatos para as vinte vagas ofertadas se realizaria em vários polos ao redor da Europa. Era uma tremenda sorte que nossa cidade tivesse sido escolhida entre tantas para sediar a seletiva na região de 7 cidades que nos encontrávamos. A inscrição inicial, onde anexei meus dados e do meu amigo, era para a primeira peneirada. Servia para retirar aqueles que tentavam bular as regras de ser maior de idade para participar.

Nós dois escolhemos um canto um pouco mais afastado do ginásio e observamos o local se encher em poucos minutos. Escolhemos uma das fileiras ao alto da arquibancada, assim poderíamos ver quem seriam nossos concorrentes. No meu caso em específico, tentar encontrar uma determinada pessoa.

Não demorou muito e avistei a cabeleira azulada e o fone de ouvido pendurado no pescoço de meu antigo amigo. Alexy. Ele estava mais a frente da arquibancada conversando casualmente com um rapaz encapuzado. Ainda sentia um pouco de dor em vê-lo, principalmente quando parecia tão em paz. Não podia negar que sentia saudades da nossa amizade.

— Castiel? - Lysandre sussurrou, supreso.

Franzindo o cenho, olhei na direção que Lysandre observava e arquejei quando o notei no outro lado de Alexy. Naquele momento o rapaz encapuzado virou-se um pouco mais na direção de Castiel, como se estivesse falando com ele, deixando-me ver parte de seu rosto.

— E Armin – comentei, indicando a figura encapuzada.

— Parece que vários colegas nossos estão por aqui – ele respondeu, indicando com o queixo uma beldade de cabelos albinos. Rosalya.

— Isso não é bom – baixei o tom de voz.

Pelo olhar preocupado de meu amigo ele devia ter pensamentos parecidos. Afinal, aquele evento não era puramente para pescar jovens talentos e sim para propósitos mais obscuros da organização que se escondia na fachada empresarial. Precisei conter um bufo, pois até mesmo o nome da empresa era uma dica. Tenebris. Significa escuridão em latim.

Apesar de que tinha de lhes dar o crédito da criatividade, pois o ramo escolhido por eles era entretenimento noturno. Eles eram donos de uma extensa rede de restaurantes, bares, boates e alguns clubes de jogos. As vagas oferecidas queriam aprimorar os talentos que encontrassem nos jovens, e eu desconfiava que a busca era um pouco mais profunda do que isso.

Um homem alto e de bom condicionamento físico subiu no palco improvisado criado no local. Atrás dele na fileira de cadeiras se encontravam alguns membros do grupo corporativo que controlava a entidade. O aparente locutor tinha um rosto atraente o suficiente para ser o centro das atenções. Seu cabelo era castanho escuro e os olhos eram acinzentados conforme pude ver no telão. Porém, havia um quê brutal na sua expressão. Como se soubesse de sua importância e não pausaria seu caminho por terceiros.

— Bom-dia Jovens! - iniciou o discurso recebendo o coro em resposta – Primeiramente, quero parabenizá-los por tomarem essa iniciativa, de procurarem por mais e não se contentarem com o que já possuem. Meu nome é Kreis e serei o guia responsável pelo distrito de vocês no decorrer de toda a trajetória dessa seleção. Instruímos através do nosso e-mail que vocês deveriam vir até o local em jejum e espero que tenham realizado essa pequena exigência.

Ele deu uma pequena piscada como se estivesse brincando, quando eu podia sentir o leve alerta em suas palavras. Esse era o primeiro teste não enunciado e classificaria aqueles que conseguiam cumprir pequenas ordens. O meu estômago roncando era um claro sinal que cumpri com o acordo, bem como Lysandre.

— O motivo desse pedido era em razão dos exames que precisarão realizar neste dia, para que tenhamos a certeza de que todos os candidatos são capazes de trilhar todo o evento – ele continuou e então pegou o aparelho para mexer com os telões – aqui nesse pequeno mapa do colégio vocês podem ver em quais salas devem se dirigir e o que farão em cada uma delas. Separamos os candidatos conforme a cidade e idade, então espero que tenham paciência e aguardem a sua vez.

Tinha que dar o crédito a Valkyon. Desde que contei a respeito do evento, o Chefe da Guarda Obsidiana projetou várias hipóteses do que poderia acontecer. Entre elas estava um exame para saber quem possuiria relação com magia. Por conta disso, precisamos de um plano para que eu me destacasse e estivesse dentro da primeira colheita.

Lysandre já era dotado magicamente. O que não foi surpresa alguma de minha parte com tudo que já tinha acontecido. Mas, eu era um caso diferente. Digamos que era um pouco de sorte termos um vampiro a nossa disposição. Nevra me fez tomar um pouco do seu sangue noite passada para que eles pudessem detectar algo a mais em meu sangue, além de me dar a capacidade de ouvir, enxergar e cheirar melhor durante este dia.

Meu celular vibrou no meu bolso e reparei que os celulares de todos fizeram o mesmo. Dando de ombros para Lysandre, peguei o meu e verifiquei a tela. Era outro e-mail da Tenebris contendo a lista de grupos conforme anunciado por Kreis.

— Demos sorte, estamos juntos – comentei, lendo meu nome e de meu amigo.

— E eles também – Lysandre respondeu, indicando na tela os nomes de Alexy, Armin, Castiel e Rosalya.

Como se sentisse um peso sob mim, olhei para baixo na arquibancada e reparei no pesado olhar que Alexy me dirigia.

Isso vai ser interessante.

 

(…)

 

Se um vulcão prestes a entrar em erupção pudesse ter um corpo certamente seria o Alexy.

— Acalme-se – sussurrei-lhe, inclinando-me para frente e pegando um de seus ombros.

— É claro que o covarde viria – meu amigo resmungou – seu cunhado veio também, Rosa.

— Lysandre? - indaguei, curiosa.

Castiel também virou-se ao som do nome de seu melhor amigo e constatamos juntos que de fato o vitoriano estava sentado ao lado de Kentin, o rosto sem transparecer emoção alguma. Uma mistura de sentimentos me bateu quando o vi. Saudades, pois fazia tempo que não nos víamos, surpresa por que jamais imaginei que participaria e um pouco de raiva por ter escolhido Kentin em vez de mim para lhe acompanhar.

Mas, pensando melhor, era compreensível a escolha. Kentin era o único que tinha contato regular com ele já que trabalhavam juntos. Senti um pouco de vergonha de mim mesma, lembrando o longo período que fazia desde a última vez que visitei a propriedade. Desde o falecimento de seus pais e o desaparecimento de Olimpya, Lysandre se tornara recluso e com isso as interações com ele ficaram mais distantes.

— Não acha que é hora de resolverem isso? - pedi para Alexy enquanto saíamos do ginásio já que o nosso grupo era o terceiro a fazer a bateria de exames.

Armin e Castiel seguiam um pouco mais atrás, sem dúvida esperando pelos outros dois ex-colegas de classe.

— Não tenho nada a resolver com alguém que sente vergonha dos amigos e ainda mais do que ele sente – foi a resposta ríspida que recebi.

Soltei um suspiro, dando-me por derrotada. A briga entre Alexy e Kentin era algo complicado e delicado ao mesmo tempo. Os dois foram amigos para qualquer momento por um bom tempo, até que as coisas começaram a ficar um pouco mais sérias do que o normal. Alexy era seguro de si e sobre o que sentia, mas aparentemente Kentin não estava preparado para isso e acabou machucando os dois no processo.

Ainda consigo me lembrar dos gritos de Alexy no parque. Você tem medo! É um covarde que não consegue olhar para dentro de si aceitar o que sente. Eu não preciso ser amigo nem nada mais de uma pessoa que tem vergonha sobre isso.

Entretanto, o olhar cauteloso que percebi que Kentin direcionava ao outro não parecia ser de alguém despreocupado e com vergonha. Kentin observava Alexy naquela arquibancada como alguém que quer proteger uma pessoa importante.

Mas, não cabia a mim falar algo.

— Espero que tenham um belo banquete nos esperando depois – comentei, mudando de assunto.

Ouvi o estômago de Alexy roncar em conjunto com o meu. Era um saco essa questão de jejum, mas a oportunidade de curso superior de graça era maior do que esse incomodo.

— Um banquete e uma massagem – ele brincou, piscando o olho.

Precisei segurar meu suspiro de alívio em saber que meu amigo estava de volta.

— Eu adoraria – respondi.

 

(…)

 

Observei Rosalya acalmar seu amigo alguns passos atrás. Era um pouco intrigante saber que não tinha ideia de como me portar ao seu lado agora, quando antes era natural. Prima. Rosalya era minha prima e eu não tinha a mínima ideia. Será que aquele interesse que tive por ela foi uma reação do enroscamento sanguíneo?

— Quem é vivo sempre aparece – ouvi a voz um pouco rouca de Castiel antes de sua palma se estatelar em minhas costas.

— Tem certeza de que ele está vivo? Está pálido igual um fantasma – Armin comentou, aproximando-se.

— É bom vê-los novamente – respondi, acenando com a cabeça.

— Verdade – Castiel estreitou os olhos como se avaliasse – pensei que a vida de fazendeiro fosse lhe dar um bronzeado.

Revirei os olhos, ciente que Kentin continuara sua perseguição em segredo de Alexy.

— E eu achei que estivesse vivendo perigosamente como cantor solo – retruquei, sorrindo de canto.

O ruivo soltou uma curta risada. Senti meu peito se apertar em saudades. Quanto tempo fiquei recluso sem falar com eles? Acredito que deva agradecer essa confusão toda por ter me feito mexer.

— Eles não pagam muito para um guitarrista solo, mas poderia ser melhor com um vocalista junto – respondeu, colocando as mãos no bolso da jaqueta gasta.

A quase dois anos Castiel partira em uma viagem pelo país para se apresentar como artista viajante. Ele havia me feito a proposta para ir junto, mas o luto me fez ficar. A ideia de se libertar de todas as amarras que me prendem a Sweet Amoris ainda é tentadora, mas no momento tinha motivos maiores e mais nobres para negar o convite.

— Infelizmente enferrujei com o tempo – dei de ombros, apesar da mentira.

Kentin, que havia desistido da perseguição e parado alguns metros de nós, sabiamente se manteve calado. Eu sabia que ele me ouvira várias vezes praticando o canto e tocando os instrumentos que ainda possuía.

— E está pensando em desistir da roça agora? - Armin perguntou, balançando as sobrancelhas.

— Desistir não, mas tentar. Poderia me arrepender de não tentar algo quando está tão perto – comentei, então lhe olhei com uma sobrancelha erguida – e você já não estava cursando algo na capital?

Armin bufou e puxou um console do bolso do casaco.

— Digamos que o curso não era bem o que imaginava – respondeu, evasivo – então resolvi participar como um desafio – brincou, fazendo uma careta marota.

Para qualquer um que conhecesse Armin pensaria que era verdade, afinal ele já se metera em confusões o suficiente com a desculpa de que era um jogo. Porém, havia algo em sua postura e olhar que se desviava para os seguranças que não me fez acreditar inteiramente em sua resposta.

— Já é quase a nossa vez – Kentin falou, ignorando Castiel e acenando com a cabeça para Armin.

Então nós quatro seguimos para dentro do colégio e começamos a maratona de exames que nos esperava. Por ser por ordem alfabética acabei ficando no meio da fila, observando os demais irem na frente e desaparecerem pelas portas das salas. Estava pensando nas hipóteses que Valkyon imaginara quando uma mão delicada me tocou no braço. Meu coração se acelerou, entretanto o perfume que detectei era completamente diferente do que eu esperava.

— Desculpe se te assustei – Rosalya comentou um pouco envergonhada.

Sorri para lhe acalmar e apertei sua mão ainda em meu braço.

— Apenas imaginei que era outra pessoa – respondi, sabendo que ela entenderia.

O toque era quase uma marca registrada de Olimpya, sendo o seu jeito quando costumava se aproximar e nos enredar nas suas confusões. Senti meu coração pesar, então resolvi mudar o foco de meus pensamentos.

— Senti saudades sua, sabe. E Leigh também.

Soltei um suspiro.

— Acho que os preocupei durante esses anos – falei, recebendo um aceno em confirmação – mas, acho que eu precisava desse tempo sozinho para me reorganizar.

Inesperadamente Rosalya me abraçou, deixando-me sem ação por alguns segundos. Tocado pelo gesto, abracei-a de volta colocando naquele momento toda a saudade pelo tempo que passamos separados e o sentimento de amizade e companheirismo que nutria.

— Por favor, não nos isole novamente – sua voz era um pouco embargada.

Apertei meus braços em resposta.

— Não irei.

Permanecemos juntos até o momento que me chamaram. Os exames em sim eram simples de acordo com o que explicaram. Precisavam ter certeza sobre nosso estado de saúde, bem como qualquer complicação que pudesse surgir no decorrer da seletiva.

Notei os olhos dos organizadores brilharem um pouco quando vieram monitorar um pouco a minha sessão. Algo me dizia que seria aprovado sem muito esforço no que quer que tenham visto naqueles gráficos e dados numéricos.

Esperava que Kentin tivesse o mesmo resultado.

Quando saí para a cantina reparei que havia um café da manhã nos esperando. Um pequeno agrado para conquistar os corações receosos com o pequeno teste. Inteligente da parte deles. Observando as pessoas que já estavam ali, notei que Alexy, Armin, Castiel e um Kentin mais isolado foram colocados na mesa próxima ao buffet.

Calmamente me servi com um prato cheio de salgados e um copo de suco e me dirigi até a mesa. Sentei-me entre Kentin e Castiel para diminuir a tensão no ar. Os gêmeos estavam imersos numa discussão acalorada e Castiel os observava com diversão.

— O que você acha, Kentin? - Armin perguntou, pegando todos de surpresa.

Alexy ficou visivelmente enfurecido do irmão ter pedido a opinião do outro.

— Ele não tem que achar nada – retrucou, acidamente.

— E você precisa parar com essa sua atitude infantil, Alexy. Francamente, só por que vocês não são mais amigos não significa que ele não existe e nem possa ser meu amigo – Armin respondeu na mesma moeda.

Se antes o azulado estava bravo, agora estava roxo de fúria, entretanto guardou seus pensamentos para si. Bufando, olhou em direção ao buffet para nos ignorar. Castiel me deu uma olhada como se pedisse minha opinião e eu apenas dei de ombros.

— O que estão discutindo? – pedi.

— Eles querem espiar os organizadores – Kentin me respondeu antes de se virar para Armin – e eu acho que é perigoso, pois se formos pegos estamos fora na hora.

Ante minha expressão confusa meu amigo ruivo tratou de explicar.

— Eles viram alguns dos organizadores levarem os papéis a uma sala mais reservada no ginásio – começou, roubando um salgado do meu prato – diziam algo como “o Mestre vai gostar disso, teremos experimentos interessantes”.

Um pequeno alerta soou em minha mente, fazendo-me entender o porquê que Kentin os queria longe de qualquer espionagem. Se fossem pegos o perigo seria maior do que serem expulsos da seletiva. O olhar que Kentin me lançou confirmou o que eu imaginava.

— Que seja, vamos igual com ou sem vocês – Armin respondeu, passando um braço nos ombros de Alexy.

Suspirando, Alexy deixou de lado da raiva e tentou ser mais civilizado.

— Você é um péssimo irmão que fica instigando minha curiosidade.

— Estou dentro – Castiel comentou como se falasse do clima.

Ergui uma sobrancelha para o mesmo.

— É mais divertido que ficar empoeirando por aqui – explicou.

Troquei um olhar preocupado com Kentin antes de tomarmos uma atitude que poderia ser catastrófica.

— Iremos também – respondi.

O olhar malicioso de Armin não me acalmou em nada.

 

(…)

 

Isso vai dar merda.

Era a frase que se passava repetidamente em minha mente enquanto dávamos início ao plano “Descubra o Mestre” como Armin o intitulou. O pior era a quantidade de pessoas que poderiam se ferrar, já que Rosalya ficara tão animada quanto os gêmeos sobre esse plano.

Um pensamento nostálgico me surgiu, imaginando que Olimpya certamente participaria dessa loucura como uma curiosa nata que era. Pensar nela me fez voltar a lembrar quem eram os organizadores e quão perigosos seriam conosco.

Porra.

— Não sei como me surpreendo ainda – Lysandre comentou quando Armin voltou para o pátio, onde estávamos escondidos, com as chaves do ginásio nas mãos.

A ideia era esperar escurecer e então entrar de fininho do ginásio. A quantidade de pessoas inscritas fez com que os exames continuassem por mais um dia além de hoje. E dois dos organizadores pediram permissão para permanecer no ginásio, improvisando camas.

Guardando as informações sem dúvida.

Então, esperaríamos eles adormecerem e assim Armin confiscaria a cópia das chaves da diretoria. Invadir o local já não era dificuldade algum para nós pelo tanto que aprontamos durante o colegial. Sinceramente, não sei como não fomos presos antigamente.

— Pelo amor de Deus, não façam barulho – sussurrei enquanto nos dirigíamos para a porta lateral do ginásio.

— Deixe de ser uma mãe – Castiel respondeu, bem-humorado.

Era de se esperar que uma aventura fosse apaziguar o humor desse bipolar metido a rockstar.

Quase gritei de alívio quando a porta abriu sem fazer barulho. Aparentemente Boris queria causar uma boa impressão que lubrificou as dobradiças. O que era um ponto a nosso favor. O local era desértico salvo pelo palco ainda montado e as paredes móveis colocadas no local.

Fechamos rapidamente a porta sem fazer barulho. Escondidos nas sombras observamos o ginásio a procura de algum vigia, entretanto não encontramos nenhum. Para os demais, exceto Lysandre e eu, isso era uma boa notícia.

Os próximos passos seriam uma paródia de pique-esconde, onde em vez de procurar os amigos estaríamos atrás das pastas documentadas ou de qualquer coisa que explicasse o que queriam dizer com experimentos interessantes. Se bem que eu podia ter uma boa noção do que seria.

Conseguimos cobrir boa parte do local em poucos minutos pela quantidade de gente que estávamos. Lysandre seguia próximo a Rosalya e Castiel e eu verificava os gêmeos. A explosão e as frases ásperas que Alexy me dirigia doía, mas eu tentava não me machucar com isso.

As palavras que ele me dissera a um tempo ainda martelavam em mim. Eu estava em uma avalanche emocional, tinha perdido minha melhor amiga e meu pai e não pude fazer nada por eles, minha mãe estava definhando em depressão e eu só podia contar com Alexy.

O tempo que passava com ele era divertido e me fazia esquecer dos problemas que me esperavam assim que passasse pelo batente da porta de casa. Era tudo tão novo e delicado que eu tinha medo de qualquer deslize meu aquilo acabar. E foi o que aconteceu.

Meu medo de agir, da sociedade, do que minha mãe pensaria, de muitas outras coisas fez com que eu trancasse tudo lá no fundo e ficasse quieto. Tão quieto que não soube como agir com Alexy, uma pessoa aberta e que já havia passado por essas inseguranças, mas ainda sim tão delicado quanto.

Achei que era um ímã para catástrofes assim o deixei pensar que não estava interessado, deixei-o ficar com raiva e ir se distanciando, porém eu ainda era um filho da mãe egoísta e tentei me aproximar novamente e fiz uma tremenda cagada. Quis fingir que não sentia e ele percebeu a mentira e foi embora.

Covarde.

Sim, eu era e ainda sou um covarde. Covarde por não ter sido sincero naquela época. Covarde por não ter ido atrás dele depois. E covarde por ainda permanecer calado com medo de outra rejeição.

Estava tão absorto em meus problemas sentimentais que não percebi o perigo antes que estivesse em cima de nós. Nós seis estávamos perto de uma das últimas portas, contrária a dos dormitórios improvisados, possivelmente aquela que teria o que procurávamos quando um vulto negro foi em direção aos gêmeos.

Agindo por instinto, usei os dons que recebi temporariamente de Nevra para chegar nos dois antes e tentei identificar o que era o vulto no processo. Meu olfato me dizia que era ruim, que não era desse mundo. E a visão me fez desejar não tê-la. Era uma espécie de cachorro quatro vezes maior que o normal, negro e de olhar maligno.

E estava a centímetros da perna de Alexy.

Mandando a cautela pro espaço me joguei com vontade no curto espaço entre a presa e o predador. Ouvi um grito escapar de um deles, mas minha atenção estava nos dentes afiadíssimos a milímetros da minha cara.

As semanas com Valkyon me salvaram de ter o rosto retalhado. Enfiei o dedo no olho violeta que reluzia, causando um ganido e fazendo o cão se afastar. Entretanto, isso me custou um pouco. Focado nos dentes não me preparei para o golpe com a pata que ele me deu nas costelas, abrindo um talho na pele, mesmo com o meu pulo para trás para me afastar.

— Kentin! - ouvi o grito de Alexy ao mesmo tempo que as portas do dormitório se abriram.

— Parece que o BlackDog achou uns petiscos – um homem comentou, sua voz era animada.

Isso ia ficar muito ruim.

Principalmente com o olhar pouco amigável que os dois organizadores nos destinaram. O tal BlackDog nos circulou, fazendo com que nos agrupássemos como um gado para o abate. O corte na lateral já latejava e eu rezava que não tivesse veneno naquelas garras.

— Para trás – falei em voz baixa, abrindo os braços na frente deles.

— Mas que droga? - ouvi Castiel praguejar.

No fundo da minha concentração consegui notar que Rosalya e Lysandre sumiram. Eu esperava que o outro tivesse um bom plano e agisse a qualquer momento.

— Nos desculpem, acho que nos perdemos – falei em voz alta, tentando ganhar tempo.

Ouvimos um bufo descrente vindo de um dos caras.

— Humanos são tão tolos – sua voz era escárnio – acham mesmo que conseguem nos enganar?

— Qualquer tentativa é válida – resmunguei.

Antes que algum deles pudesse responder um estrondo soou do outro lado do ginásio. Com uma troca de olhares um dos homens partiu atrás do barulho. Lysandre está separando-os. Analisando a situação comecei a criar um plano maluco, mas precisava que desse certo. Pressionei-me contra os três e ignorei os resmungos de Armin e Castiel. Ficando de olho no BlackDog e no homem restante sussurrei o que precisava que fizessem.

— Castiel, quero que você arraste os gêmeos se for preciso, mas corra em direção a porta que entramos. Derrube o que tiver no caminho para atrasá-lo – disse o mais baixo e rapidamente que podia.

Sem dar-lhes tempo para retrucarem, fui em direção ao BlackDog pegando uma cadeira no caminho. Lancei o objeto em direção ao cão trazendo sua atenção para mim e ouvi os três correrem no mesmo instante. Apertei a ferida fazendo com que mais sangue saísse, fixando a atenção do ser.

Então corri.

Agradeci mentalmente Boris pelas inúmeras corridas que me fez correr pelo ginásio, assim sabia exatamente onde estava indo mesmo no escuro e com os obstáculos. Sentia e ouvia o BlackDog me seguir e encurtar a distância entre nós com facilidade, mas não deixei que o medo subisse.

Estávamos chegando no vestiário masculino, assim aumentei a velocidade. Usando meu conhecimento, dei voltas pelos armários para confundir o meu perseguidor, levando-o um pouco tonto em direção aos chuveiros. Com os segundos extras que tinha, liguei todos os chuveiros que consegui para abafar o som e quase me joguei atrás da porta.

Ele era imenso, observei do meu esconderijo. As patas facilmente passavam por de um urso. O pêlo era espetado e escuro, as unhas que me atingiram tinha uma aparência cruel. Uma leve névoa sombria o envolvia, deixando-o com um ar ainda mais amedrontador.

Quando o cão estava no meio da sala, próximo do armário onde deixei minha camiseta ensanguentada, pulei de meu esconderijo e fechei a porta. Peguei uma cadeira e a coloquei contra a fechadura. Agindo na adrenalina vi o armário baixo de Boris e o arrastei em direção a porta. Não o deteria por muito tempo, mas rezava que fosse o suficiente.

Peguei um dos coletes de futebol de salão de uma caixa. Parecia limpo o suficiente para que eu o envolvesse no torso para tampar o rasgo que ganhei. Apossei-me de um taco de beisebol largado as pressas e saí do vestiário depois de trancá-lo. Espiei e tentei ver em meio a escuridão, mas não tive muito sucesso. Assim, tive que sair do local na base da sorte, pois já ouvia o BlackDog lutar contra minha armadilha.

Tirei os sapatos e os escondi atrás de uma caixa largada por perto e corri em sentido contrário de onde saí, procurando sinal de meus amigos. Estava perto da sala dos técnicos quando uma mão tapou minha boca e outra me puxou para trás. Ergui o taco para o mesmo ser logo retirado de minhas mãos por outra pessoa, um pouco mais baixa.

— Somos nós – Lysandre sussurrou para que apenas eu lhe ouvisse.

Rosalya, quem havia pegado o taco, devolveu-me o objeto e andou ao lado de Lysandre. Notei que os dois haviam retirado os sapatos e os prendidos nos cintos de suas roupas. Cutuquei Rosa com um dedo e formulei o nome de Alexy sem falar, pedindo por informações.

Ela balançou a cabeça sem saber me responder, mas indicou o guarda que eles tinham atraído para longe, desacordado e bem amarrado naquela sala. Isso significava que um ainda estava por aí e os outros três poderiam estar em perigo. Não sabíamos se aquele era o único BlackDog do local.

Então ouvimos um grito rouco soar do lado de fora do ginásio. Apesar da vontade de correr igual um louco para lá, mantivemos a calma caso fosse apenas um chamariz. Meu coração martelava e o corte doía como um inferno, mas mantive a calma.

A porta estava arrebentada nas dobradiças, o que significava que os três conseguiram sair e trancá-la. E que o sujeito era tremendamente forte. Droga.

— Juntos – sussurrei, pegando a mão de ambos. Senti Lysandre apertar a dele em apoio.

Contornando o ginásio a visão que tivemos fez o meu coração despencar. No meio do pátio estavam os três cercados por mais sete homens e dois BlackDogs. Ainda bem que eu tinha pego as mãos dos dois ou teria voado até eles e me metido em confusão.

— A qualquer momento seria bom – ouvi Lysandre resmungar, olhando para os lados a procura de algo.

O pequeno suspiro de alívio dele foi o indicador que o que ele estava pedindo tinha chegado. E olhando em direção ao pátio notei a cavalaria que fora requisitada. Nevra, Valkyon e Ezarel apareceram como se fossem fantasmas. Olhei interrogativamente para o rapaz e ele balançou seu celular.

— Uma ligação pode salvar vidas – respondeu antes de voltar sua atenção ao pátio – Eles provavelmente vão lutar contra os homens e os animais, distraindo-os. Assim seremos nós a retirarmos os três do meio disso – Lysandre falou, calmo, indicando nossos amigos – Kentin, mergulhe no sangue de Nevra e Rosalya não saia de perto de mim.

— O que diabos está acontecendo? - ela pediu, arregalando os olhos – não era um cachorro normal lá dentro, não era?

— Não era – respondi para Rosa e então assenti para Lysandre.

Fechei os olhos e tentei visualizar a lembrança de Nevra me doando o seu sangue. Senti algo pinicando no lado machucado, mas não interrompi. Pouco a pouco a audição, olfato e meu corpo foi reagindo, ficando mais forte. Conseguia sentir o cheiro de Alexy, Armin e Castiel, o cheiro do medo. Ouvia o coração descompassado de Rosalya e a calmaria antes da tempestade de Lysandre.

— Vamos – falei, abrindo os olhos.


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Notas finais do capítulo

E então? Estou LOUCAA pra saber a opinião de vocês. Já adianto que o próximo vai ser continuação desse evento aí.
Quero agradecer a todo carinho que venho recebendo de vocês! Vocês moram no meu coração. E também quero indicar uma fanfic de Naruto de uma amiga minha, Belune. A fanfic se chama Person to Person e é do babado! Recomento muuito que leiam ela.
Link https://spiritfanfics.com/historia/person-to-person-9244351

Um beijão a todos e até o próximo!



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