Não sou uma aberração! escrita por Uni Amaral


Capítulo 2
Capitulo 2


Notas iniciais do capítulo

Bem, esse capitulo foi mais para conhecimento do melhor amigo do Bryan, espero que gostem ~



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— Então quer dizer que você finalmente vai contar a verdade para a Amanda?

— Acho que é justo com ela... - suspiro e jogo minha mochila na mesa, apoiando o peso do corpo na parede em frente à Alan - Tirando você, minha mãe é a única que sabe. Só estamos namorando a uns 2 meses e ela já quer ir para cama comigo... Isso é estranho.

— Na verdade não - ele riu um pouco enquanto guardava o celular na mochila. - Isso é quase tão normal quanto segurar a mão de alguém hoje.

— Então eu não sou dessa era.

Algumas pessoas começaram a entrar na sala e me direcione até minha mesa.

— Nem da passada se me permite dizer. Aliás, sugiro que seja de outro mundo. - Disse brincando.

— Claro! E você veio na nave comigo.

— Ainda tem dúvidas?

Esses eram meus inícios das manhãs. Eu e Alan nos conhecemos logo quando entrei no ensino fundamental e somos amigos até hoje no médio e ele é a única pessoa que sabe que sou um homem trans, tirando claro, os professores que preferem não comentar isso na sala de aula.

Não foi fácil contar para ele o motivo que minha mãe nunca deixava dormi na casa dele ou ir a praia com sua família.

"Bom dia meu amor! Hoje não consegui ir para escola porque acordei tarde então quer vim me ver em casa? Minha mãe vai está trabalhando"

Bufei.... Não era algo que queria fazer agora, e ela estava começando a se sentir constrangida por não ter "nenhuma ereção" com ela. Amanda era uma menina bonita, só que diferente de mim, sexualmente ativa. Isso nunca me incomodou na verdade, me permitia passar a mão pelo seu corpo algumas vezes, mas ela em mim não era comum. Antes ela já havia namorado outros garotos que não a satisfaziam (como ela já me contou inúmeras vezes antes de começarmos a namorar sério), mas eu não sabia se eu poderia fazer isso. Até hoje tudo que eu estava tomando era hormônios que me permitiam pelos, voz grossa, um rosto mais desenhado... Mas nada que me desse um pênis ou tirasse meus seios. Não tínhamos dinheiro suficiente ainda para pagar a cirurgia, porém tudo indicava que até 5 meses de junção teria o suficiente para isso.

" Hoje não posso amor. Tenho que ir para casa do Alan estudar para um trabalho"

Mexer no celular na aula de matemática era um risco grande, então apenas guardei o aparelho na minha mochila, sem muitos rodeios. Eu amava a Amanda, mas as vezes ela conseguia falar demais.


~~

— Ei, aquele não é seu pai?

Nós estávamos no terminal de ônibus indo para a casa dele. Um homem alto e gordo de cabelos grisalhos parou a alguns metros da gente.

— Acho que sim. Espere - voltei a atenção para sua mão, onde uma mancha escura de forma estranha estava - é ele mesmo - disse levantando a minha mão, indicando a minha mancha.

— Até hoje você não conversou com ele né? Não acha que seila, deveria pelo menos avisar que está vivo?

— Levando em consideração que ele tentou me espancar uma vez, acredito que não - disse dando de ombros enquanto subimos no ônibus - Mas as vezes tenho sim vontade de falar com ele algo só tipo "Estou vivo e seguindo minha vida como você!".

— É mesmo né? Ele se casou novamente.

— Sim. Bom, ele usa uma aliança de casamento a bastante tempo.

— A sua mãe ainda continua namorando aquele cara lá do supermercado?

— O Felipe. Eles brigaram a uns dias atrás, mas não acho que eles tenham terminado. Ele é uma pessoa legal, só um pouco... não é meu pai entende? É difícil ter alguém dentro de cada quando você foi acostumado a morar apenas com a mãe.

— Não entendo não - ele riu.

Era verdade. Alan morava com a mãe, pai e as gêmeas. Eu adorava ir à casa dele por isso, eram todos tão felizes, diversas vezes eles precisariam que minha mãe olhasse as gêmeas, que eu apelidei de diabinhas 1 e 2, enquanto eles corriam com Alan para o pronto socorro quando suas crises de vomito. Ele foi diagnosticado com Síndrome do Vomito Cíclico, então sempre que começa a vomitar seus pais correm com ele para o pronto socorro para que ele não fique a carne e osso. É um fato que o menino fica realmente magro quando tem suas crises, porém existem alguns dias (na verdade, uns 57 dias) que ele não tem nenhuma crise do tipo, então ele já está bem mais gordo e forte.

~~

— Oi meninos, o almoço está pronto!

Assim que entramos na casa Akanni e Zulai passaram correndo na nossa frente. A duas diabinhas de cabelo crespo e pele escura puxaram a senhora Eva, uma mulher negra de 47 anos com cabelos cacheados sempre evolvidos em um turbante vermelho vivo com flores amarelas. O senhor Enzi era nigeriano com um rosto bem quadrado e olhos escuros. Os dois sem dúvidas formam um dos mais bonitos casais que eu já conheci.

— Boa tarde Bryan – a voz dele era grossa, áspera e bem puxada num sotaque engraçado.

Todos nós nos sentamos numa mesa redonda e almoçamos aos risos e brincadeiras. As endiabradas de 8 anos estavam pulando e pulando, tagarelando e tagarelando sobre coisas que nós não conseguíamos nem acompanhar. O senhor Enzi fez questão que seus filhos soubessem falar a língua do seu pais, o que dificultava um pouco para mim, que mal falo português.

— Meninas, modos por favor! – O senhor Enzi sempre era atencioso com seus filhos e comigo.

Eu e Alan estávamos sentados na cama dele, revisando alguns livros antes de começar o real trabalho.

— Sabe o que eu acho engraçado? Suas irmãs terem nomes nigerianos e você não.

— Isso foi mais parte da minha mãe. – Ele fechou o livro, pegando algumas anotações – Mas eu gostaria de ter um nome tipo.. Ajani talvez.

— Isso parece nome de mulher – comentei rindo nervoso.

— Bryan? Com “y”? Você não é a melhor pessoa para falar de nomes. – Ele jogou o travesseiro em mim – Eu gosto, significa “Aquele que luta por algo”. Me dá a sensação que seria mais forte, ou algo assim.

Uma das coisas que eu mais me impressionava com Alan era sua força, não só por ter suas crises de vômitos, mas por ter lutado contra uma depressão severa após a morte do seu avô, na qual era muito próximo. Ele podia ser uma pessoa magra, miúda, porem era uma das pessoas mais fortes que eu conhecia, depois da minha mãe.


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Notas finais do capítulo

Então, como perceberam, eu acho aushauhs, o foco não vai ser apenas em um personagem mas sim em uns 2 ou 3. Espero que não se cansem de mim ;-