Meu Querido Cupido escrita por Bonnie Only


Capítulo 32
Minha casa é a sua casa




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Aquilo foi tão estranho. David não se despediu de mim. Trocamos um olhar por bastante tempo, mas ele não disse nada. Olhou para frente, focado, e esperou que eu descesse do carro. Eu esperava um pouco mais. Aquilo contribuiu para despedaçar totalmente o meu coração.

Quando desci e parei de frente com a casa do Dean, David acelerou o carro e me deixou. Fiquei longos segundos observando a rua deserta do Dean. Era cercada por árvores. Do outro lado da rua não havia nada além de árvores. 

Antes de bater na porta, pensei em como aquilo estava mal explicado. David não age como se o Dean fosse realmente meu escolhido. É como se estivesse me deixando na casa de um completo estranho! Tudo o que os cupidos me disseram não parece verdade. Mas ainda assim, decidi que vou enfrentar tudo.

Estou em modo automático agora. Preparada para ser surpreendida a qualquer momento.

Me aproximei da entrada da grande casa, encarei a porta e dei duas leves batidas. Ninguém veio, então optei pela campainha. 

Bati meus pés no chão algumas vezes, impaciente e ansiosa. Ainda tentando acreditar que vou pedir moradia ao Dean Trent. E que David finalmente encontrou meu escolhido e me deixou.

Levei um susto quando a porta se abriu. Fiquei de frente com o Dean e o analisei. Ele estava radiante como todas as outras vezes que nos vimos. Quando ele me viu, seu olhar se direcionou para as minhas mãos que seguravam apenas uma mala. E em meu rosto eu carregava a expressão de cãozinho sem dono. 

— Desculpe te surpreender. — Falei.

Dean me olhou e franziu a testa, carregando uma expressão brincalhona, como se não acreditasse que eu estava ali.

— Cassandra Drayton batendo na minha porta? — Perguntou para si mesmo em voz alta.

— Eu posso entrar? — Pedi, mostrando o quão exausta estava.

Dean me encarou um pouco mais, cerrou os olhos para mim e disse:

— Vou pensar no seu caso.

Em seguida abriu um sorriso acolhedor, abrindo espaço para que eu entrasse. Eu sorri de volta, e enquanto eu entrava ele rapidamente pegou a minha mala e a carregou com tamanha facilidade. Apesar de não ter muita coisa, estava pesada, porém ele fez parecer que não. Era intimidante ficar perto de alguém tão alto e forte como o Dean.

Já dentro de sua casa, ele fechou a porta e me olhou, como se esperasse uma explicação.

— Eu pensei sobre o convite que você me fez. — O olhei, e coloquei minhas duas mãos no bolso traseiro da minha calça. — Quero saber se ainda posso ficar aqui por um tempo. Eu preciso.

O sorriso de lado que Dean abriu significou um sim.

— O que fez você mudar de ideia? — Dean indicou o sofá para mim e carregou minha mala.

— Eu só decidi que é uma boa opção ficar aqui. Por enquanto não posso ir a nenhum outro lugar. — Me sentei e continuei observando sua casa. Era confortável, de maneira que eu podia já me sentir em casa. Era grande e com decorações simples. A mobília era cor creme e macia. O carpete também.

Agora Dean me olhava intrigado. Um quase-sorriso no rosto e aquela forma única que ele tinha de me observar. Extremamente intimidante. Quase como os cupidos costumam fazer.

— O que o David acha disso? — Perguntou. Senti que agora estava sob o julgamento de Dean Trent.

— David? Acho que isso não importa. De qualquer forma ele é meu amigo, não deve se opor.

— Ele parecia algo mais. A forma como te protegia chegava a ser assustadora. — Dean se assentou no braço do seu sofá e ficou de frente para mim.

— Não quero falar sobre isso. Não agora. Aliás, peço desculpas pelo o que fizeram com você. 

— Por me cercarem e me encherem de socos? Realmente não foi gentil da parte deles.

— Por que permitiu aquilo? Nem mesmo se defendeu! 

Com a minha pergunta, Dean olhou para baixo, pensou e depois olhou para mim.

— Fiz aquilo por você. Sabia que se revidasse, as coisas ficariam mais sérias. A última coisa que eu queria era trazer problemas para você. Então aceitei. Eles fizeram aquilo para te defender, então não os culpo.

➴ ➵ ➶

Dean me mostrou sua casa. Era muito grande, como eu já havia notado. Quartos espalhados, alguns sem mobília. Vários banheiros e uma ótima sala. Depois passamos na cozinha, e apenas não vi o sótão e o porão.

Escolhi um quarto pequeno e tentei me adaptar ali. Evitei ficar perto do Dean, apesar de precisar criar laços com ele.

Ainda estou tentando me recuperar de tudo o que me aconteceu nesses últimos meses. Minha mãe e Dolph devem estar tão preocupados... Acredito que é questão de tempo até que eu possa visitá-los. Afinal, eu estou com o meu escolhido. As coisas precisam voltar ao normal!

Quando anoiteceu, tomei um rápido banho, vesti a minha blusa preferida (a mesma que usava quase todos os dias na lanchonete), que era azul, as mangas listradas com preto e branco, e a estampa era uma ancora vermelha. As crianças amavam a minha blusa.

Tomei coragem e procurei pelo Dean. Ele estava na sala, falando no celular e deitado no sofá. Na outra mão segurava algo. Sua sala estava bem iluminada e o lugar me deixava à vontade. Me lembrei da casa da minha mãe, de repente.

Quando apareci na sala, ele desligou. Se levantou do sofá e perguntou:

— O que achou do quarto?

— Ótimo, obrigada.

— Se quiser alguma coisa, não hesite em ir à cozinha. A dispensa está cheia, também. Se quiser toalhas tem algumas no...

— Não precisa se preocupar. Estou bem. 

Dean parou de falar, e me olhou com muita ternura.

— Estou feliz que esteja aqui, Cassie. 

Eu não sabia o que responder.

— Bom... Eu devo dizer que quase sempre vou estar ocupado pela parte do dia. Estou trabalhando em um clube de piscina e natação. Às vezes dou aula, às vezes sou o salva-vidas. Então nem sempre vou estar aqui. Você fica bem sozinha?

— Sim. — Era a maior mentira. Agora estou muito mais vulnerável sem os cupidos por perto. — Interessante... Então agora você é um professor de natação e salva-vidas.

— Como fui da marinha, sei lidar com a água. 

Nos surpreendendo, a campainha tocou rapidamente três vezes seguidas, Dean logo foi atender. Eu me aproximei um pouco mais da porta para ver quem era.

Quando olhei e a porta se abriu, ali estava David, carregando um sorriso completamente falso e sarcástico para o Dean.

— Como vai, irmão? — Fizeram um aperto de mão e David deu um tapinha nas costas do Dean. Logo que me viu foi entrando.

➴ ➵ ➶

— Cassie. — David me olhou. Senti aquele incômodo e ele caminhou até mim, como um predador. Sem saber o que fazer, fiquei imóvel. Ele ficou bem perto, beijou meu rosto e logo em seguida me fez algumas perguntas. — Como está?

— Bem, eu acho. — Respondi, fazendo uma careta.

— Eu falei que viria mais tarde para ver você. — Ele disse, e sorrindo voltou a olhar para o Dean.

Ele falou? Claro que não. O que David pensa que está fazendo?

— Então essa é a sua casa? — David observou o local. — Grande demais para um marinheiro sozinho.

— Como pode ver, eu preciso de espaço. — Dean respondeu no mesmo tom para o David, que assentiu em troca.

— Posso me sentar? — David perguntou, olhando para o Dean, que estava tão confuso e surpreso quanto eu. David logo se assentou no sofá. — Do que vamos nos servir?

— David... — Sussurrei, repreendendo ele. — O que faz aqui?

— Cassie. — David apontou para o seu lado do sofá, pedindo que eu me sentasse. Sem saber o que fazer, caminhei insegura até ele e me sentei ali. Bem próxima a ele. 

Sentir o perfume do David foi como um choque. O calor do seu corpo e o simples fato de ele estar ali. Odeio confessar mas pensei nele a tarde toda até à noite. Eu nunca imaginaria que ele voltaria para cá. E dessa forma, tão de repente, como sempre, sarcástico com o Dean.

— Não sabia que viria. Então vou pegar algumas cervejas. — Dean se retirou, não muito contente.

Esperei que ele saísse da sala para encarar David.

— O que está acontecendo?

— Precisava saber como você estava.

— Precisava? — Acabei sorrindo. Droga. Para disfarçar o sorriso franzi minha testa e fiz uma careta. — O que pretende fazer? Por favor, não provoque o Dean! — Sussurrei, quase gritando.

— Não vou provocar. — Ele levantou as sobrancelhas e olhou para frente, como se não soubesse do que eu estava falando. Quando uma criança diz que não vai fazer algo mas sabemos que vai fazer mesmo assim. Tentei segurar um sorriso outra vez.

Dean voltou e os dois se serviram. Eu recusei a bebida e tentei parecer segura.

— Está mesmo disposto a ajudar a Cassie? Porque se não estiver, ela pode voltar para a minha casa. Eu e ela já conversamos sobre isso.

O que? Dean é o meu escolhido! Não posso voltar para a casa do David.

— Cassie sempre vai ser bem-vinda aqui. Tudo que eu puder fazer por ela, eu farei.

David assentiu, fingindo estar impressionado com o discurso do Dean, enquanto assentia outra vez.

— Vai conseguir ser homem o suficiente para dar atenção a ela quando ela precisar? Vai ser paciente e vai conseguir protegê-la se aparecer alguma ameaça?

Só naquele momento percebi que meu cupido estava analisando o Dean. David queria saber se ele seria um bom escolhido para mim. Se saberia me proteger caso algum cupido superior aparecesse. 

Dean demorou para responder. Estava surpreso demais com as perguntas repentinas do David.

— Eu espero que sim. — Dean franziu a testa após beber sua cerveja.

— Acho que ele não vai saber, não... — David cochichou em meu ouvido. Mas falou alto de propósito, para o Dean ouvir.

A campainha tocou de novo, só que dessa vez foi sem parar. Alguém apertava a campainha várias vezes seguidas. Me assustei e Dean também. Ele logo se levantou e foi atender. Rapidamente olhei para o David, e ele fingiu que nada estava acontecendo, enquanto coçava a nuca.

O bando de cupidos entrou na casa.

Bruce, Franklin, Colin e Louis.

Sussurrei um palavrão enquanto os quatro entravam gritando.

— Chegamos! — Colin gritou.

— Sinto cheiro de cerveja. — Franklin falou assim que entrou e começou a procurar pela cerveja, olhando de um lado para o outro, desesperado.

— Cadê o meu lindinho? — Bruce gritou também, procurando pelo David.

Louis não conseguiu segurar a risada.

A expressão do Dean me resumia. Ele estava de boca aberta, observando cada um deles passar pela porta.

— Cassie! Quanto tempo! — Bruce abriu os braços e veio em minha direção. Os três logo caíram em cima de mim, para me abraçar, enquanto o Franklin se dirigia até a mesinha central e pegava a bebida que até alguns minutos atrás Dean estava bebendo.

— O que estão fazendo aqui? — Perguntei, tentando me recuperar dos abraços, e rindo.

— Viemos te visitar no novo lar. — Colin respondeu, sentado do meu lado e sorrindo feito idiota.

— Mano, eu gostei dessa casa. — Bruce falou. — Seria melhor viver aqui. Aquela casa é pequena demais pra muito idiota viver junto.

— Idiota é o teu...

— Olha a boca. — Bruce tentou repreender o Franklin mas riu alto.

Os quatro começaram a conversar, bem alto. Olhei para o lado e fitei o David.

— Você os trouxe?

— Eles queriam ver como você estava, também.

Ficamos nos olhando, e eu abri um pequeno sorriso. Apesar de todas essas coisas, os rapazes ainda se importam comigo.

— Você é o cara que vai ficar com a garçonete? — Franklin apontou para o Dean e caminhou todo folgado até ele. — Aqui ainda dói? — Franklin tocou exatamente onde os cupidos tinham socado o Dean há um tempo atrás.

Dean não pareceu gostar daquilo. 

— Franklin! — Chamei a atenção dele.

➴ ➵ ➶

Os cupidos fizeram uma bagunça. Gritaram, soltaram alguns palavrões, soltaram todas as piadas que podiam em cima do Dean, Franklin fez o Dean quase escorregar (a especialidade do Franklin) e o Colin levou um vaso de porcelana embora, pensando que ninguém viu. Haviam flores no vaso, e segundo o próprio Colin, ele adora queimar flores. Eles também ameaçaram o Dean várias vezes, dizendo que se algo acontecesse comigo, eles voltariam para atormentá-lo.

Aquilo foi tão inesperado e eu ainda estava tentando entender. Por que agiram daquela forma com o Dean? 

Todos eles se dirigiram para a saída logo depois. Bruce, Colin e Louis ficaram próximos ao carro, no meio da rua. Franklin ficou no gramado da casa do Dean, enquanto eu e David nos despedíamos na porta.

— Vai ficar bem aí? — Ele me perguntou.

— Me diz você. Qual foi a conclusão que tirou quando analisou o meu escolhido? — Cruzei meus braços e dei uma de espertalhona.

— Que nenhum cara neste mundo nunca vai ser o suficiente para você. 

Sua resposta me fez perder todo meu ar superior. Aliviei minhas expressões e olhei para baixo, sem saber o que fazer.

— Se cuida, Cassie. — David me olhou uma última vez e com um aceno se afastou.

Respirei fundo observando o David se afastar. Olhei para a rua e para o carro deles. Os faróis ligados e eles ao lado do carro, rindo e dando empurrões uns nos outros. Sorri e ia me virando, quando gritaram:

— Garçonete? — Olhei para frente e vi o Franklin, ainda no gramado da casa, um pouco longe.

Quando me virei para ele, Franklin abriu um pequeno sorriso. Aquela era a primeira vez que ele sorria para mim propositalmente. Logo em seguida Franklin ergueu um braço e acenou para mim, sussurrando algo mais ou menos como "fique bem". Observei a figura do Franklin, e as árvores do outro lado da rua. Um vento repentino apareceu e bagunçou a minha franja do cabelo. Sorri de volta, enquanto Franklin caminhava até o carro para ir embora.

Os rapazes saíram buzinando enquanto aceleravam o carro.

— Tchau, Cassie! — Louis gritou, colocando a cabeça para fora da janela.

— Lembre da gente! — Colin empurrou o Louis.

— Se ele fizer alguma coisa a gente volta para matar ele! — Bruce gritou sorrindo.

Coloquei uma mão na testa e ri, enquanto o carro desaparecia pela estrada, sobrando somente eu, o vento, a estrada escura e as árvores.

Ah, e o Dean...

➴ ➵ ➶

Depois daquela noite notei que ficar longe dos cupidos seria muito mais difícil do que pensei que fosse. Fiquei me perguntando quando David finalmente voltaria a ser um humano, quando eu me esqueceria de cada um deles, e se talvez algum dia... Eu iria encontrá-lo outra vez. Ou qualquer um deles.

Me levantei mais uma manhã, preparada para iniciar a minha meta.

Me apaixonar pelo Dean.

Porque... Por algum motivo, a flecha que David atirou em mim não está funcionando. Nunca vou sentir pelo Dean o que sinto quando olho para o meu cupido.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo ♥ ♥ ♥



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