Meu Querido Cupido escrita por Bonnie Only


Capítulo 31
Estilhaça-me




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➵♥

Os cupidos estão afastados de mim. Até mesmo Louis, que costuma ser tão gentil comigo. Tentei entender o motivo de estarem assim, todos me evitando. A minha resposta chegou mais rápido do que eu esperava...

— Cassandra? — David apareceu subitamente na cozinha. Eu estava degustando alguns biscoitos de mel quando ele apareceu. Estava sentada sozinha em cima da mesa, perdida em meus próprios pensamentos.

— Oi. — Levei um pequeno susto e o segui com um olhar enquanto ele se aproximava.

— Está melhor?

Assenti, balançando a cabeça para cima e para baixo. 

— Estou... — Engoli o que mastigava. — Eu pensei bastante, e acho que acredito em você. — Abri um pequeno sorriso para ele. — Estive pensando em tudo o que passamos... Sempre senti que deveria confiar em você. Acho que nunca estive tão certa.

Ele não pareceu feliz com a resposta, e aquilo me decepcionou. Ao contrário do que eu esperava, ele olhou para baixo e parecia procurar uma forma de me dizer a coisa certa.

— Esqueça tudo o que eu te disse. — Ele falou.

— Como?

— Franklin tinha toda a razão quando disse aquelas coisas para você. Ele falou a verdade.

Foi difícil processar aquilo, mas quando notei que ele estava falando sério, entrei em desespero. Fiquei calada. Não encontrei palavras para demonstrar o que senti naquele instante. 

— Estive procurando a hora certa para te contar. — David estava inquieto, senti em seu tom de voz que aquele assunto era um total incômodo para ele. — Mantive você aqui porque não suportava a ideia de te perder. Dean é o seu escolhido. 

Outra vez meus olhos marejaram. Eu não queria chorar, mas foi a coisa mais dolorosa que alguém já disse para mim.

— Está... Está dizendo que foi você quem me fez aquela entrega com os pertences da minha mãe e do Dolph?

— Não! Cassie, escute... Eu nunca faria isso. 

— Não chegue tão perto! — Desci da mesa. — Isso é muito, muito ruim. — Apontei um dedo para ele.

— Eu vou concertar, Cassie. — David dobrou as sobrancelhas e senti toda a compaixão dele por mim. 

— Preciso sair daqui... — Me virei de costas para ele e massageei minhas têmporas. — Dean não é o meu escolhido. — Virei de volta.

— Ele é. — David falou e engoliu a seco.

Abri minha boca para dizer algo mas logo em seguida me calei, limpei as lágrimas que escorreram e tentei me recompor, enquanto a figura do meu cupido estava pouco distante, me olhando.

— Você terá um dia para se acostumar com a ideia. Não mais que isso. Preciso que você fale com o Dean, e para facilitar, que aceite ir morar com ele. Sabe que ficar aqui não é mais seguro. — Agora David soou frio. Como se tivesse tirado os nossos sentimentos do jogo. 

Eu ri sarcasticamente.

— Acha mesmo que vou fazer isso?

— São regras. Coisas que você deve fazer para que seu destino com o Dean dê certo.

Ri outra vez.

— E se eu não quiser? 

— Muitas garotas morreram sozinhas porque não aceitaram ficar com seu escolhido. Não estou dizendo que isso é um problema, mas se você quiser que dê certo com o seu escolhido, sugiro que comece logo. Você pode fazer a escolha que quiser. 

— Agora nós seguimos regras? — dessa vez fui eu quem me aproximei dele. — Tudo o que fizemos até agora foi quebrar todas elas. Não estou entendendo nada do que está acontecendo, mas de repente Franklin decidiu dar uma de mocinho e você admite que o vilão da história sempre foi você! — Olhei no fundo dos olhos dele e senti aquela sensação inexplicável. Olhar em seus olhos era extremamente viciante e agonizante na mesma medida.

Ficamos muito próximos, de forma que consegui sentir a sua respiração quente. Eu estava ofegante, e a vontade de me jogar em seus braços e iniciar um beijo naquele momento só foi crescendo. 

Mas David se virou, saiu e me deixou ali.

➴ ➵ ➶

Tive a noite toda para pensar sobre isso. Ainda não confio no Dean, mas talvez ele seja quem diz ser. Talvez seja uma boa pessoa e com boas intenções. Mas não se trata disso... 

É que aconteceu tão rápido. De repente descubro quem é o meu verdadeiro amor e que terei que dar uma chance a ele. E a ideia de deixar para trás os rapazes passou a ser o meu maior problema.

Eu sempre quis fugir daqui e voltar para a minha mãe. Mas agora... Eu estou com medo de perder todos eles. São as criaturas mais fantásticas que já conheci. Eu ainda tinha tantas perguntas para fazer... Tantas dúvidas para tirar e tantas asas para ver!

Às dez da noite eu estava arrumando minhas malas. Pensei que se esperasse todos eles dormirem, poderia fugir. Andar pelas ruas à noite e dar uma de Stacy.

A ideia de ser pega por um cupido superior talvez não seja tão ruim...

Coloquei tudo o que era meu dentro de uma mala e ligeiramente caminhei até a escada. Fui verificar se eles estavam acordados, e caso não estivessem, eu fugiria.

Quando desci apenas três degraus, ouvi algumas conversas. A luz da sala inicial estava acesa. Desci um pouco mais e espiei quem estava ali.

Me surpreendi quando vi David sentado no sofá, e à sua frente, em cima da pequena mesa de centro, uma garrafa de bebida alcoólica. Mas, em principal, Hayley.

Ela estava ao seu lado no sofá, quase em seu colo, acariciando seu cabelo e o consolando. David não estava nada bem. Estava tão aparente a tristeza nele. Mas a todo custo Hayley tentava animá-lo.

Foi quando ela colocou sua cabeça em frente a dele, para que se olhassem nos olhos. Me foquei naquela cena. David cerrando os olhos e olhando fixamente para Hayley.

Ela o beijou.

Ele não impediu.

Conforme iniciavam um beijo lento, David franziu a testa e sobrancelhas, e o beijo continuou. Eu respirei fundo e logo em seguida voltei para trás, subindo cada um dos degraus que havia descido.

Voltei para o quarto dele e lutei contra tudo o que estava sentindo. Por quê vê-lo com outra doía tanto?

Me sentei em sua cama e fiquei de cara com o ursinho cor-de-rosa que Dean havia me dado. Até agora ainda não o tirei do quarto, por algum motivo... Será que no fundo eu sempre soube que Dean é meu escolhido?

Peguei o ursinho e o abracei, bem forte. Pensei no David e o que se passa dentro dele... Se ele queria tanto ficar perto de mim, por que então não luta por isso? Naquele momento, segurando o ursinho, decidi que não faria mais perguntas... Deixei de entender os cupidos e os seus segredos há muito tempo.

Então, sabendo que naquele momento David estava no andar de baixo com a Hayley, decidi que daria uma chance ao Dean. 

Deixei de ser a Cassie que tem esperança de voltar para o Kismet Diner. Agora vou jogar esse jogo. Eu sempre soube que esse momento chegaria, que um dia eu encontraria o meu escolhido. Não há motivos para ficar chateada. Devo estar feliz por finalmente estar livre, ou quase.

No outro dia de manhã, encontrei todos os cupidos zombando e conversando na sala. Fiquei tão surpresa quando vi Louis rindo também. Ele estava aprendendo a ser um cupido.

— Estou pronta para ir embora hoje. — Apareci e eles ficaram surpresos. Todos me olhando. As risadas e zombaria se foram. Agora encaravam a pálida e tímida Cassie. 

Olhei para o David e não suportei o olhar de nenhum deles sobre mim. Me virei e saí dali.

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Olhei para aquela casa uma última vez. Caminhei até a saída e lá estavam todos os rapazes. Fitei Bruce, Colin e Louis.

Franklin não estava presente, e senti muito por isso. Acho que eu nunca mais o veria.

— Preparada para viver sem a gente? — Bruce perguntou e eu o abracei assim que ele disse isso. Era tão bom ser abraçada por ele. Era tão acolhedor, e grande. Admito que Bruce é como um escudo para qualquer situação. Forte e grande. E... Cheiroso. 

— Vou sentir saudades. — Falei. — E aproveitando que não vamos nos ver mais... Eu sempre tive inveja do seu cabelo  — Passei uma mão no cabelo claro e comprido do Bruce. Era o charme dele.

— Eu sempre soube.

Eu ri e caminhei até o Colin, enquanto David me esperava no carro.

— Você é meu preferido. — Sussurrei para o Colin enquanto nos abraçávamos. — Não deixe eles fazerem bobagens, eu te imploro. 

Colin parecia emocionado, e não conseguiu dizer nada. Apenas assentiu. Caminhei até o Louis e lhe disse:

— Acho que você já pode se virar sem mim. — Toquei seu ombro. — Estou orgulhosa de você. E por favor, não siga os exemplos de nenhum deles.

Os três riram. Aquela despedida não foi como eu esperava, e fiz o possível para que acabasse logo. Não hesitei em entrar no carro, pronta para enfrentar o que viesse.

➴ ➵ ➶

David continua exatamente como ontem. Estamos dentro do carro, e pedi para que ele me leve até a casa do Dean. Eu quero que as coisas comecem lá.

— Como vai ser? — Perguntei, quebrando o silêncio, enquanto o carro percorria uma estrada deserta. David sabia exatamente o local em que Dean mora, e isso me assustou um pouco.

Ele me olhou, questionando.

— O processo? Como eu vou me apaixonar por ele? Uma vez eu vi o Colin segurando uma flecha... Você vai atirar em nós?

— Não posso responder. Mas isso vai levar tempo... Digo — David pigarreou. — Se apaixonar por ele pode levar tempo. — Respondeu, concentrado na estrada e uma só mão no volante.

— Quando eu era pequena... Sempre pensei que os cupidos atiravam nas pessoas e elas logo se apaixonavam. Mas vocês são o contrário de tudo o que eu sabia... É triste saber que eu vou me esquecer de tudo isso... Não vou? Vou me esquecer que existem cupidos?

David não sabia responder, e isso me deixou intrigada. Pela primeira vez ele não sabia a resposta para uma pergunta sobre cupidos.

— Eu não sei... Talvez você nunca se esqueça.

Aquilo foi estranho, porque me lembro quando ele me disse que eu me esqueceria de tudo isso quando encontrasse o meu escolhido.

— Mas... Isso não faz sentido! Eu ainda vou viver com medo de ser morta por um cupido superior? Pensei que depois que eu encontrasse o meu escolhido, eu me esqueceria de tudo e os cupidos superiores deixariam de me perseguir!

— Cassie... — David respirou fundo. — Só confie em mim. Com o Dean você vai ficar segura.

Me calei e fiquei pensando na história da flecha... E cheguei à conclusão de que David já atirou uma em mim. E ela era afiada e foi bem fundo. A flecha que ele atirou fez um estilhaço... Estou quebrada em pequenos pedaços desde que o vi no sofá com a Hayley.

Interrompendo meu devaneio, o carro parou de frente com uma grande casa.


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Notas finais do capítulo

Até logo ♥



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