Abstrato escrita por roux


Capítulo 8
Eu preciso de Você




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Quatros dias de férias. E eu não sentia vontade nenhuma de sair de casa. Para ser sincero eu queria morrer. Minha vida parecia estar indo bem, então simplesmente por causa de uma coisa idiota tudo mudou. Estava deitado em minha casa ouvindo algumas músicas tristes da cantora Birdy, e pensando em tudo que tinha acontecido no baile da escola. Na festa não houve bebida, mas nesse momento eu queria poder dizer que a culpa das coisas que Robson disse foi por conta do álcool em seu sangue. Mas só tinha sido ele mesmo. As lágrimas passaram a rolar no meu rosto e eu me virei para a parede. Não quis correr o risco de Lucas estar acordado e me ver chorando.

Meu amigo estava deitado no chão em um colchão e dormia quieto. Eu continuei chorando silenciosamente, estava pensando em tudo. Lucas e até mesmo Guilherme tinham me dito que ninguém estava rindo. As pessoas só conseguiam olhar atônitas para a cena ridícula de ciúmes que Robson estava fazendo, mas mesmo que fosse isso. Eu não queria voltar para a escola. Eu não iria voltar depois das aulas. Meu pai já estava vendo outra escola para mim. Eu continuei chorando até pegar no sono.

— Acorda dorminhoco. — Falou Lucas pulando na minha cama e dando vários beijos no meu pescoço. — Acorda vai, lindão! — Ele disse baixinho em meu ouvido e depois mordeu minha orelha.

Eu estremeci, então arrepiei. Estremeci porque gostei daquilo. Porém aquilo me assustou. Era uma brincadeira de amigo ou ele estava dando em cima de mim? Eu e Lucas ainda não tínhamos sentado para conversar sobre o que ele me disse no dia da festa. Eu abri os olhos e sentei na cama empurrando meu amigo de leve.

— Eu não posso mais dormir? — Eu perguntei bravo e coçando os olhos. Então olhei para Lucas ele estava sério me encarando.

— Você andou chorando? — Ele perguntou tocando a região abaixo dos meus olhos.

— Não eu só não dormi tempo suficiente graças a você, mocinho. — Eu disse sorrindo.

— Vai se foder, Edu. Eu que sempre acordo tarde. E olha agora... — Ele olhou no relógio e então se virou para mim. — São três da tarde. Nós estamos de férias, precisamos aproveitar. Que tal irmos à praia hoje?

— Não! — Eu disse sem nem pensar. Não queria sair de casa. Não queria correr o risco de alguém da escola me ver e caçoar de mim. Ficaria em casa para sempre. Cruzei meus braços e encarei Lucas.

— Porra, eu estou aqui na sua cidade. Achei que nós íamos sair, nos divertir e você quer ficar preso em casa pra sempre só porque acredita que seus amigos riram de você. Eles não riram. Que tal perguntar para o seu namoradinho? Ele vai confirmar. — Lucas disse irritado e levantou da cama. — Acho que nele você vai acreditar.

— Lucas não força. — Eu disse seco e levantei da cama. Meu amigo era mais alto que eu, mas eu parei na frente dele e olhei para cima. Encontrei seus olhos. — Eu só estou triste. Nós temos um mês para ficarmos juntos e nos divertir.

— Já perdemos quatro dias. — Ele disse seco e então se afastou de mim. — Eu vou dar uma volta na praia. Acho que não tem risco de eu me perder, tem? Acho que não.

Ele saiu do meu quarto me deixando sozinho. Eu fiquei encarando minha porta. Ele tinha saído sem mim. Eu respirei fundo e abri minha janela. Estranhei o fato da janela de Gui estar fechada. Fechei meus olhos e respirei fundo, contei até dez e saí do meu quarto.

Eu estava sentado no balcão da cozinha tomando café da manhã quando minha mãe sentou ao meu lado. Ela ficou me encarando.

— O que foi? — Eu perguntei de boca cheia enquanto mastigava uma torrada com geleia.

— Não sei, mas sinto que você precisa desabafar sobre garotos. — Ela disse segurando o sorriso. Minha mãe sempre quis ter uma filha. Acho que para essas conversas sobre garotos, ou primeira menstruação, mas veio eu. O garoto. Porém para sorte dela eu vim bugado, só não menstruo. Eu senti vontade de rir ao pensar nisso. — O Lucas e você...

— Mãe, não! — Eu senti minhas bochechas corarem. — É claro que não. Ele e eu somos apenas amigos, nada mais que isso. Eu acho...

— Ele parece gostar mesmo de você. A forma como ele olha para você não é apenas um amigo olhando para o outro. — Fala mamãe. — É a mesma forma que você olha para Guilherme!

Eu engasguei e bati no próprio peito. Fiquei olhando a minha mãe e ela riu. Eu mordi meu lábio.

— Enfim, mas quero lhe dizer uma coisa, filho. No momento certo você vai saber que deve conversar com alguém, mas até lá eu acho que você deve repensar algumas atitudes que vem tomando. Eu sei, eu sei sim que você está com medo e muito triste pelo que aconteceu aquele dia, mas o seu amigo Lucas não tem culpa. Ele está aqui tentando ajudar você. Ele está aqui para o seu bem, e olhe só, hoje você o deixou sair sozinho. Acredito que amizade não seja isso... — Mamãe disse me olhando, ela tocou meu rosto e eu senti um nó na garganta. — Eu te amo.

Mamãe levantou e me deixou sozinho. Eu fechei o pote de geleia e fiquei olhando a geladeira, tinha perdido a fome. Ela tinha razão, eu estava sendo um filho da puta babaca e egoísta com Lucas. Eu suspirei triste. Ele havia sido sincero, se declarado apaixonado, vindo de outra cidade só para me ver. E o que eu estava fazendo? Sendo idiota, frio e distante. Passei mais tempo trocando mensagem com o Guilherme pelo celular nos últimos dias, do que conversando com meu amigo que estava dormindo ao meu lado.

Eu me senti estúpido.

Levantei e passei as mãos no cabelo, Lucas havia ido à praia.

— Mãe, eu estou indo a praia! — Eu gritei para minha mãe e esperei a resposta. Ela gritou um tudo bem abafado. Deveria estar no quarto cuidando do bebê.

Eu saí de casa estava pronto a ir para a praia quando a moto de Gui parou na minha frente, ele arrancou o capacete e me olhou nos olhos. Estava sorrindo.

— Eu estava indo na sua casa, que tal irmos até a casa da Babi? Vai ter uma tarde de jogos, será legal. — Ele disse sorrindo e me estendendo o capacete.

— Eu estou indo a praia, eu preciso encontrar o Lucas. Ele saiu meio chateado comigo e...

— Cara, se ele está na praia sem você provavelmente já deve ter encontrado algo para fazer, vamos para a tarde de jogos, vai ser divertido. — Gui disse sorrindo. — Eu não aceito não como resposta. O seu amigo deve estar legal, e com certeza deve estar fazendo algo lá na praia. Vamos.

— Está bem...

Foi tudo que eu disse. Então subi na moto e Gui arrancou. Foi só depois de estar na moto que algumas ideias me ocorreram. E se Robson estiver lá? E se alguém da escola? Eu tremi. A viagem não foi longa. Babi morava perto de nós.

Ao descer da moto e arrancar meu capacete e eu perguntei para o Gui. — Ninguém da escola ou o Robson vem, né?

— Você acha mesmo que o Robson vai aparecer por aqui depois do que ele fez? Ele não é nem besta. Eu juro que o arrebento. Ele vai ficar irreconhecível se chegar perto de você. — Gui disse sorrindo e passou a mão na minha. Ele entrelaçou nossos dedos e beijou minha mão. Caminhando juntos para dentro da casa.

— Mina, seus cabelo é "da hora", seu corpão violão, meu docinho de coco, tá me deixando louco. Minha Brasília amarela tá de portas abertas, pra mode a gente se amar, pelados em Santos.

Alguém estava cantando mamonas assassinas aos berros. Eu descobri que era Lara a menina estava de costas para uma tevê cantando no karaokê. Os outros presentes estavam batendo palmas e cantando juntos.

— Você não me disse que era à tarde do karaokê. — Eu disse baixo e Guilherme sorriu sacana.

— Eu disse que era tarde de jogos, acho que karaokê também é um jogo. — Ele disse rindo.

— Jura? — Eu disse irônico. — Eu realmente achei que fosse esporte, sabe?  — Completei rindo maldoso.

— Pois você minha pitchula, me deixa legalzão, não me sinto sozinho. Você é meu chuchuzinho! Music is very good! — Todos os presentes gritaram juntos. — Oxente ai, ai, ai!

Mas comigo ela não quer se casar, na brasília amarela com roda gaúcha, ela não quer entrar. Feijão com jabá, a desgraçada não quer compartilhar. Mas ela é linda, muito mais do que linda, very, very beautiful! Você me deixa doidão! Meu docinho de coco! Music is very porreta! — Então todos os presentes gritaram em uníssono rindo. — Oxente Paraguai!

Lara parou de cantar e nos viu. Ela riu muito alto e gritou no microfone. — Eu dedico essa música para nosso casal do ano, Eduardo e Mônica. Não pera, Eduardo e Guilherme.

Ela estava bêbada, eu notei logo que ela começou a falar. Eu sorri e acenei um oi para todo mundo. Alguns eu não conhecia. Eu continuei sorrindo e a Babi veio até mim e me abraçou forte.

— Eu fico feliz que você está melhor. Nós vamos fazer você esquecer aquele ocorrido e aquele babaca. Eu não sei o que aconteceu acho que o Robson deve ter usado alguma coisa enquanto estava fora da festa. — Ela disse me encarando. — Prometo que nunca mais vai acontecer aquilo, tá bom?

Ela também estava meio bêbada, porém um pouco mais sóbria que Lara.

— Cadê aquele seu amigo? Ele não veio? — Ela perguntou procurando em volta como se Lucas com aquele tamanho pudesse se esconder atrás de mim.

— Não ele não veio. — Eu falei voltando a me sentir mal. Eu não deveria ter deixado Lucas sozinho. Eu caminhei até o sofá e me sentei ao lado de um garoto que eu não conhecia. Ele sorriu.

— Você deve ser o Eduardo que todo mundo fala, né? — Ele perguntou e me estendeu a mão. — Eu sou o Caio, irmão da Babi. Essa é a minha namorada a Samanta.

— Oi Caio e Samanta! — Eu sorrio. — E eu não sabia que andavam falando tanto assim de mim.

— Pois falam, dizem até que você logo fará parte da família. — O Caio falou sorrindo e eu olhei sem graça para ele então olhei para Guilherme que ria do outro lado da sala com alguns amigos. Inclusive com a prima Babi.

Alguém me ofereceu uma cerveja, mas eu recusei, continuei pensando em Lucas que estava sozinho.

A tarde foi passando, e a noite caiu depressa. Estavam todos bêbados e eu era o único sóbrio, esperava que Guilherme também estivesse. Fiquei olhando para ele para notar se ele estava bebendo. Ele sorria e aparentemente estava sóbrio, porém ele era forte para bebida.

Gui pegou o microfone do karaokê e passou a escolher uma música. Ele virou-se para todo mundo e sorriu.

— Eu quero dedicar essa música para uma das pessoas mais especiais para mim. — Ele me olhou e piscou.

Os outros passaram a rir. Caio surgiu do nada ao meu lado e me deu um soco de leve no braço.

— Quando ele canta é porque o bagulho está sério. — O primo de Guilherme disse rindo.

O instrumental de uma música conhecida começou a tocar. Ele iria cantar tribalistas. Oh merda. Não podia ser.

— Você é assim um sonho pra mim, e quando eu não te vejo eu penso em você desde o amanhecer até quando eu me deito. Eu gosto de você e gosto de ficar com você, meu riso é tão feliz contigo, o meu melhor amigo é o meu amor. E a gente canta, e a gente dança, e a gente não se cansa de ser criança, da gente brincar da nossa velha infância...

Guilherme estava cantando sorrindo. Ele olhava para mim. E tinha uma voz muito bonita, nunca havia me dito que era um cantor. Eu fiquei encarando, e as pessoas ao meu lado também estavam em silêncio prestando atenção na música.

Seus olhos, meu clarão, me guiam dentro da escuridão, seus pés me abrem o caminho eu sigo e nunca me sinto só. Você é assim um sonho pra mim, quero te encher de beijos. Eu penso em você desde o amanhecer até quando eu me deito. Eu gosto de você e gosto de ficar com você, meu riso é tão feliz contigo, o meu melhor amigo é o meu amor.

— Ele canta bem, né? — Alguém perguntou, acho que foi Lara. — Eu estou me sentindo humilhada agora.

— Você é assim um sonho pra mim, você é assim...

Ele parou de cantar e todos bateram palmas, menos eu. Fiquei encarando Guilherme e ele piscou para mim. Eu levantei.

— Muito bonita! — Eu disse sorrindo.

Ele sorriu de volta.

— Mas está na hora de ir, já é noite. Eu preciso voltar...

Ele balançou a cabeça em afirmativa e nós ficamos mais um tempo nos despedindo dos nossos amigos.

 

Ele parou a moto em frente de casa e eu entreguei o capacete para ele. Minhas mãos estavam tremulas. Eu sorri sem jeito. Ele tinha cantado para mim, e essa tinha sido a coisa mais bonita que alguém tinha feito por mim. Ele me encarou.

— Aquela música, aquilo foi lindo. E foi... Eu não sei, aquela música foi para mim? — Eu perguntei sem jeito e fiquei o encarando. Ele estava sorrindo. — Eu achei linda...

— E para quem mais seria? Nenhum outro presente naquela sala tem meus pensamentos como você tem. Eu disse aquele dia, lembra? Eu estou apaixonado por você, Edu. — Gui me disse e segurou em minha cintura. Ele ainda estava sentado na moto, mas me puxou para perto.

— O que você está fazendo? — Eu perguntei baixo.

— O que já deveria ter feito há muito tempo. — Ele disse sorrindo e me beijou. Foi um beijo estranho, diferente dos que eu já tinha dado nas meninas e em Robson. Foi mais duro, mais preciso. O que isso queria dizer? Que ele me desejava mais? Eu fechei os olhos, mas não conseguia me concentrar. Levei as mãos os cabelos de Gui e puxei sem força. Eu tentei me concentrar no beijo.

Ele parou dando mordida nos meus lábios e me encarou. — Acho melhor você entrar os seus pais vão ficar preocupados. — Ele disse sorrindo então me roubou um beijo. Esse foi melhor, mas rápido. — Eu te vejo amanhã, quero te dar outros beijos...

Ele partiu com a moto e eu entrei.

Não tinha ninguém na sala. A televisão desligada e a casa silenciosa. Eu fui direto para o quarto e entrei. Lucas estava sentado na cama arrumando sua mala e sua mochila. Eu olhei confuso e encostei-me à porta.

— Lucas?

Ele se virou para mim. Estava sério, porém sereno. Talvez triste. Não sabia, não consegui identificar.  Eu fiquei encarando.

— O que está fazendo? — Eu perguntei baixo.

— Estou arrumando as minhas coisas. E que bom que você chegou... — Ele olhou no relógio do pulso. Eu estava reparando que aquilo era um hábito que ele tinha. — Cedo! Assim eu posso ir embora ainda hoje.

— O que? Você não pode ir embora! — Eu disse um pouco mais alto e caminhei até ele.

— Por que não? Eu sou prisioneiro aqui? — Ele perguntou e se forçou a sorrir. Eu vi que era forçado, meu amigo não sorria daquela maneira. — Qual foi? Não venha me dizer que você se importa.

Eu fiquei em silêncio.

— Eu estraguei nossa amizade. Foi um erro ter vindo aqui. Nós só funcionamos pela internet. E agora acho que nem mais isso. — Lucas disse prendendo os cabelos longos em um coque.

— O que? Não por que está dizendo isso? — Eu perguntei sentindo minha pulsação subir.

— Eu não quero conversar, acho que você tem coisas mais importantes para conversar com o Guilherme. Não pode sair comigo, que vim até essa droga de cidade só por você. Porém com o cara perfeito você tem tempo, vontade e sei lá mais o que? Então faça isso, tire o seu celular do bolso e envie mensagens e mensagens para ele enquanto eu assisto o Disney Channel. — Ele falou sério.

 Eu senti um soco na boca do estomago. Ele estava... Eu era mesmo um idiota. Eu fiquei quieto encarando o meu amigo. Os traços bonitos. Os cabelos loiros. O rosto que eu sempre via na tela do computador. O amigo que mesmo quando eu ligava às três da manhã tinha tempo para falar comigo. Claro que ele me xingava, ou dormia na linha, mas nunca, nunca disse estar ocupado ou triste para mim. Lucas assim como eu, sempre foi meio antissocial, e mesmo assim teve coragem de vir para outra cidade só para conhecer um babaca. Eu!

— Você não pode ir... — Eu disse baixinho.

— Por que não, Eduardo? Eu não tenho nada a ganhar aqui. — Ele falou triste. A dor cortando sua frase.

— Não pode ir porque preciso de você. Eu quero estar com você. Eu estive mal nos últimos dias. E hoje eu estava indo encontrar você e o Gui apareceu e...

— É sempre esse garoto, Eduardo. Você não percebeu que desde que cheguei tudo que a gente fez foi discutir? Nós não tivemos uma conversa decente sem brigar ou falar desse cara. Nós não funcionamos pessoalmente, entenda isso. — Lucas falou alto. Estava começando a se exaltar.

Eu senti as lágrimas descerem por meu rosto.

— Eu sou todo errado, mas eu vou melhorar. Você é o meu melhor amigo! — Eu disse.

Ele sorriu.

— Eu achei que era. — Falou seco.

— Você é mais que isso... — Eu disse sentindo a adrenalina começar a pulsar em meu corpo.

— Claro sou um irmão... — Lucas falou e me encarou.

— Não! — Eu disse e levei as mãos para o seu rosto. Eu me joguei para ele e tomei sua boca com a minha. Lucas tinha lábios macios. Eu não sabia o que estava fazendo, mas não podia deixa-lo ir.  


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