Os Karas - Cigarros e Moscow Mule. escrita por Alex


Capítulo 14
9. Quociente de Inteligência.


Notas iniciais do capítulo

Sem sombra de duvidas, o meu capitulo preferido até aqui! A trama caminhou muito e tem uma supresa pra uma das minhas leitoras prediletas aqui. Boa leitura. =D


ALERTA DE SPOILERS:
Esse capitulo possui Spoilers dos livros: DROGA DA OBEDIÊNCIA e DROGA DO AMOR.



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O ódio tem melhor memória do que o amor.

—Honoré de Balzac

 

 

Nicolas estacionou a viatura e observou a expressão séria de Miguel.

Ele trabalhava que nem um condenado para tirar quase dois paus por mês, o que não era péssimo mas estava longe de ser enriquecedor. Havia aprendido a lidar com bandidos e todos os tipos de pessoas ruins. O que não conseguia entender, era como Miguel por livre e espontânea vontade se arriscava nesse mundo. Era digno de admiração.

Miguel estava sério. Olhava a cada dez segundos para a carteira onde estavam os documentos que precisaria apresentar para falar com seu antigo maior inimigo. Cantarolava uma música antiga do Johnny Cash.

 

—I've had it here,Being where, Love's a small word, A part time thing…

—...A paper ring.— Nicolas completou sorrindo - Andrade adorava Johnny Cash.

 

Miguel sorriu.

 

—Escutamos muito Johnny Cash quando andávamos os cinco no fusquinha dele.

—Está pronto?

—Nunca saberei.

 

Saíram da viatura e contemplaram a estrutura a sua frente. O arquipélago de prédios. Era quase que um campo de concentração para os bandidos dos piores tipos. Miguel estivera lá dentro uma vez.

Seguiram para a entrada e demoram por volta de quarenta e cinco minutos exibindo documentos e assinando outros que comprovam que estiveram lá. Um dos guardas chama a atenção de Nicolas que se afasta.

Miguel terminou de assinar seus últimos documentos e vê Nicolas retornar para perto dele.

 

—A Partir daqui você vai sozinho. Uma policial irá te acompanhar, acredito.

 

Uma mulher se aproxima da dupla.

 

—Senhores, permitam que me apresente. - Ela diz - Sou Flávia, diretora da penitenciária de Segurança máxima.

—Muito prazer.— Miguel a comprimenta -

—É você que irá visitar o Q.I não é?

—Sim…

—Sabe que a prisão dele é perpétua e só concebemos isso devido os seus últimos três anos de bom comportamento, correto?

—Acredite, eu não gostaria de estar aqui.

—Muito bem, me siga.

Miguel se despede de Nicolas que afirma que irá esperar na viatura.

A sala de visitas era algo novo. Miguel era a primeira pessoa a se sentar naquele local. A comissária avisou-lhe que demoraria mais dez minutos para prepararem o detento.

Miguel se perguntou como estaria o rosto de Dr. Q.I depois de tantos anos. Nos anos em que ele fora diretor do colégio Elite ele tinha o porte perfeito de um verdadeiro político. Nos eventos da droga do amor entretanto, ele se disfarçava de um velho do qual fora assassino para tentar fugir do local. Era sem dúvidas, um dos homens que mais o odiava em vida. E com toda a certeza, um dos homens que mais odiava o detetive Andrade.

A porta fez um barulho e do outro lado do acrílico. Caminhando tranquilamente até o assento, vinha a figura do ilustre vilão.

Seus cabelos estavam cinzentos, cicatrizes pelo rosto e pelo pescoço. A Barba rala indicava que a fazia quando dava na telha.  Estava magro, não o tanto que estivera nos anos da droga do amor, mas magro demais para aqueles que reconheciam seu rosto.

Miguel não disse nada. Eles se encararam por um tempo. Dr Q.I parecia em dúvida sobre quem estava sentado à sua frente. Se aproximou do acrílico para ver melhor quem estava do outro lado. Quando finalmente reconheceu aqueles olhos, abriu a boca em um sinal de surpresa. Sentou-se na cadeira a sua frente e pegou o telefone que estava a seu lado direito. Esperava agora que Miguel fizesse o mesmo.

Miguel suspirou fundo e pegou o telefone. Ao ouvir aquela voz depois de tantos anos um arrepio subiu a sua espinha.

 

—Você interrompeu a leitura do meu livro. — Ele disse em uma voz distorcida do outro lado da linha. Era uma sensação totalmente invasiva. Ele ouvia a voz da pessoa pelo telefone, e ao mesmo tempo, ela o encarava do outro lado do acrílico - Você cresceu, Miguel…

—Diretor Cardoso…— Ele disse - Estava lendo então?

—Sim. Com um ano de  bom comportamento eu ganhei o direito de pedir por alguma coisa nesse inferno. Pedi que me entregassem “Guerra e paz”. Hoje, me comporto para ter algo que ler nesse lugar. E não existe mais esse nome. Eu sou Q.I.

—Não fale como se estivesse aqui por uma injustiça, Q.I…— Miguel mantinha o tom - É um crápula. Um miserável.

 

Dr. Q.I sorriu do outro lado do acrílico.

 

—Essas foram as palavras mais gentis que ouvi aqui nos últimos três anos. Você se tornou um rapaz interessante, Miguel… como anda a sua visão do mundo?

—O que quer dizer?

—Um dia, você será como eu. Pessoas inteligentes como nós não estão aqui para salvar este mundo, estamos aqui para sangrar sobre ele.

—Sabe que tudo o que disser, pode ser usado contra você, não é verdade?

—Ah sim, eu tinha planos de sair daqui com vida… com certeza… — Ele foi sarcástico -

—Talvez seja culpa da sua visão do mundo, Q.I— Miguel disse em um tom mais firme do que o anterior - Todo esse intelecto, e ainda sim… continua sendo limitado a essa sua visão sobre os…

—Jovens? A juventude é completamente experimental. - Ele disse. O Sangue de Miguel ferveu - Você hoje é um adulto. Entende isso.

—Você falhou no fim…

—O nosso objectivo neste mundo não é o êxito, mas sim falhar continuamente, sempre com boa disposição. — Ele citou uma frase de um escritor conceituado. Dr. Q.I nunca parava de surpreender.

 

Miguel parou e suspirou fundo. Olhou para os joelhos cobertos pela calça social que vestia. Os olhos do Dr. Q.I ainda estavam do outro lado do acrílico. Não tirava os olhos de Miguel nem por um segundo que fosse.

 

—Vamos direto ao assunto— Ele disse por fim - O que o trás a este local?

—Você sabe muito bem…

—Quero ouvir da sua boca. Anda fala logo que ele morreu.

 

Miguel socou o acrílico.

 

—Cala a sua boca. Acha que não posso entrar ai e te dar uma surra?

 

Dr. Q.I não mostrou reação. Observou friamente o punho de Miguel e depois o encarou.

 

—Eu gostaria muito de te ver tentar…— Q.I disse sem reação aparente -

—Você está por trás disso, eu suponho…

 

Q.I revirou os olhos.

 

—Miguel… Eu pensava que você fosse mais esperto.— Ele disse - Eu não tenho nada a ver com essa história.

 

Ele faz uma pausa, e morde um dos dedos da mão direita.

 

—Mas eu gostaria de ter… Ver aquele gordo morrer pelas minhas mãos, me traria mais felicidade do que controlar toda essa juventude imprestável…

 

Miguel socou o acrílico mais uma vez. Q.I finalmente demonstrou emoção. Ele sorriu.

 

—Eu tenho uma pergunta pra você, Miguel… a Anos tenho guardado informações sobre Andrade… desde o dia em que ele foi escolhido para investigar o desaparecimento de alunos do colégio elite…— Q.I dizia - Você conhece realmente o seu amigo Detetive?

—Cala a boca…

—... Ele te contou sobre a vida dele? Ele não tem família… Acha mesmo que isso tudo é sinceridade dele? Como saber se ele não mentiu sobre isso?

—Cala a sua boca… Q.I…

—Você entende muito bem que o mundo dos adultos é cheio de falsidade. Até quando vai colocar uma auréola na cabeça daquele gordo detetive que teve a capacidade de te chamar de filho? Existem pessoas com motivos de sobra para odiar aquele grande filho da…

 

Dessa vez o soco no acrílico foi tão forte que surpreendeu até mesmo a direção da penitenciária. Um guarda e a diretora Flávia adentraram a sala.

 

—Miguel… Afaste-se do acrílico. - Ela disse -

 

Dr. Q.I permanecia imóvel com uma expressão cínica. Virou levemente o rosto e os olhos na direção da mão de Miguel que manchou um pouco o acrílico com sangue.

 

Miguel perante a raiva se senta e respira fundo. Olha para a diretora e o guarda e em seguida observa Dr. Q.I que volta a pegar o telefone.

 

—Estou bem…— Disse Miguel - Não… Não vai acontecer de novo.

 

Eles saem da sala.

 

Miguel respirava fundo, embora as palavras dele não terem saído ainda de sua mente.

 

Q.I volta a falar.

 

—Você tem raiva de mim, por saber que tudo o que eu disse é verdade…

 

Miguel não dizia nada, apenas escutava.

 

—Seu querido detetive Andrade nunca lhe disse o que ele fora no passado, não é? Ninguém é santo… muito menos um herói como você e a mídia disseram. As notícias chegam até aqui também, Miguel. Andrade receberá até mesmo uma medalha da filha do ex-presidente dos estados unidos… que patético.

 

Ignorando totalmente a raiva que sentia, Miguel perguntou.

 

—O Laudo... O Laudo médico do Andrade...desapareceu… eu sei que foi você.

 

Q.I sorriu

.

—De fato, fui eu…

 

Miguel se pôs de pé.

 

—Ora, então vá para o inferno, Q.I! Você disse que não estava envolvido nisso, o que foi? Está jogando comigo? - Miguel gritou pelo telefone -

—Eu não estou envolvido nisso, só que entenda… Eu não controlo a minha curiosidade. - Ele dizia - Meus últimos capangas morreram por essa informação. Eu queria saber como o meu algoz morreu. E depois que descobri, mandei que ele guardasse com um conhecido.

—Admita de uma vez que foi você…

—Ah, mas que tedioso. Eu já disse. Não estou envolvido na morte. No desaparecimento do Laudo eu confesso. Esses capangas já estão mortos, de qualquer maneira…

—O que quer dizer?

 

A expressão do Dr. Q.I pareceu triste por um breve momento.

 

—Tem muita gente que me odeia aqui dentro, sabia? Meus últimos aliados me deram de presente de despedida essa informação, sobre como o Andrade morreu. Estou com meus dias contados aqui dentro, rapaz...

Q.I mostra as cicatrizes através do acrílico.

—... Existem milhares de pessoas inteligentes que não estão nos livros. Uma delas disse uma frase: “Qualquer coisa é pretexto para quem tem segundas intenções”.

 

Miguel o observou. A raiva que o cegava era grande, mas dentro de si, em um lugar, houve espaço para sentir pena daquele homem.

 

—Você… você disse saber sobre coisas do passado do Andrade que eu não sei… o que são?

—Isso, você não ouvirá de minha boca. Considere isso, o meu último triunfo. A anos esperava usar está informação, mas agora, pouco importa. Dizem que para as mentiras se tornem verdades, basta que acreditemos nelas…

 

Ele mordeu o outro dedo.

 

—Se quiser encontrar o Laudo, um dos meus capangas vive na periferia de São Paulo, aquele lugar onde filhinhos de papai como você e seus amigos jamais colocaram o pé.

 

Miguel se levantou. Ainda antes de sair, ele voltou uma vez mais e, de pé, colocou o telefone perto do ouvido.

 

—Volte para o começo, Miguel… Essa é a minha última palavra. E não se preocupe, direi ao Andrade que você o defende até o fim. Até o fim dessa semana, eu e ele estaremos conversando nas areias da praia do inferno.

—|-

—Hey, Miguel… tudo bem? - Nicolas tinha um saquinho de pipocas na mão — Vamos almoçar? é por minha conta…

 

Miguel pegou uma pedra no chão e atirou para longe em meio a tanta raiva que sentia. Gritou para os céus de raiva. O Sangue ainda estava quente.

 

—Está tudo bem?

—Nicolas, vamos almoçar sim… Mas antes, liga pro Calú e pro Chumbinho. Se quiser, liga pra Magri, Peggy e Crânio também e avise onde vamos.

—Onde nós iremos?

—Buscar aquele Laudo.





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Notas finais do capítulo

Ação garantida para os próximos capitulos dessa trama! Obrigado e até a proxima!
(Espero que a Flávia tenha gostado da pequena surpresa)
Até a proxima.



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