Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 37
Chapter 33: Família e Sangue (PARTE I)


Notas iniciais do capítulo

''And she will always hate me
No matter what I say
And there is no mistaking
The love is gone''

— James Blunt (Always Hate Me)



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ALEC VOLTURI

 

Sentia a parede fria atrás de si, embora soubesse que seu corpo estava mais rígido que a mesma. A manhã de Forks já surgia no horizonte, embora o fosse impossível de localizar os raios solares. A brisa gelada se fazia presente, assim como a sucessão de desgraças em sua existência.  

Alec suspirou, confirmando que aquele havia tornado aquele hábito humano como seu. Ele estava sentado nos degraus da escadinha da varanda, com as pernas estiradas e cruzadas, tocando a grama molhada. O smoking destruído jazia ao seu lado, e ele apenas continuava com a calça e a blusa social branca, suja e esfarrapada. Diferente das outras vezes, não fizera muita questão em vestir algo decente e que o tornasse apresentável para a sociedade depois do ocorrido da noite anterior. 

Na verdade, não fizera questão de nada. Sua cabeça estava cheia de preocupação. Muito dela. E sua vida agora estava cheia de problemas. Muito deles. As coisas haviam saído de controle, tinha que admitir. Toda vez que pensava concluiria a maldita missão que lhe fora dada, quebrava a cara. Ele havia arriscado alto demais e agora estava lidando com as consequências. 

O fato de a Evern ter sido mordida era uma delas. A morte de dezenas de pessoas e o fato de o segredo da existência dos vampiros estar quase ameaçado, também, mas, para Alec, a garota inconsciente em algum quarto da mansão Cullen era o mais importante. 

O Volturi realmente não sabia como aquilo havia acontecido. Em um segundo, estava terminando de estacionar o carro de modo que outros carros pudessem ter acesso até a garagem da mansão. No outro, o grito de Brooke ressoava pelas proximidades. Ele nunca esperaria ter encontrado a cena que encontrou: Gaz Julions agindo como um verdadeiro vampiro, mas na hora e no lugar errado. 

Os corpos das duas garotas no chão da sala e os gritos de dor da Evern evidenciavam isso. 

Alec queria que aquilo acontecesse. Contudo, não daquela forma. Não quando Gaz de repente paralisou e soltou Brooke, se afastando meio desorientado. Não quando ela caiu no chão e começou a convulsionar e o Julions percebeu o que havia feito. Não quando o recém criado se deu conta de que havia se tornado um assassino. 

Do mesmo jeito que Alec Volturi era. E ele próprio reconhecia isso. 

Os passos nada sutis fizeram o vampiro louro-acastanhado abandonar a nuvem de pensamentos caóticos. A silhueta alta e serena sentou-se ao seu lado nos degraus da varanda, permanecendo em silencio. 

 

— Espero que não se ofenda se meus pensamentos estiverem um pouco hostis, é que eu não costumo mantê-los agradáveis sempre que um leitor de mentes está por perto - disse Alec. 

 

— Você sabe que não tenho culpa. Mas, se te conforta, não estou interessado nos seus pensamentos atuais - retorquiu Edward, ignorando o comentário rude do outro. - Até porque, não preciso ter o dom de ler mentes para saber que você está preocupado com a Brooke. 

 

O Volturi ficou em silencio, imóvel. Sentia os olhos de Edward o analisando, a espera de uma confirmação ou negação. Aquilo era ridículo, principalmente pelo fato do maldito Cullen estar certo. 

 

— Como ela está? - A pergunta cuspida dele fez Edward erguer as sobrancelhas. 

 

— De alguma maneira, incrivelmente bem. O veneno da mordida de Gaz não a afetou, por isso ainda é humana e está viva. Carlisle acha que o fato de a nova espécie estar relacionado á Descendente pode tê-la tornado imune a eles, mas não sabemos até que certo ponto. Se essa teoria se aplica à nossa espécie também, apenas que... é incrível. Brooke é uma caixinha de surpresas e tanto - O Cullen calou-se e esperou pela próxima pergunta inédita, mas ao perceber que o Volturi estava se segurando, balançou a cabeça e completou: - E não, ela ainda não acordou. Carlisle cuidou dela durante a noite toda e disse que vai demorar um pouco até que ela desperte. O cansaço e o estresse fizeram o corpo dela entrar em colapso, então Brooke precisa descansar. 

 

Alec balançou a cabeça e deu de ombros ao mesmo tempo. Edward estreitou os olhos para o comportamento, formando opiniões a respeito do que via. Opiniões que ele guardou para si mesmo naquele momento. Assim, aceitou o silencio formado e contemplou a manhã fria de Forks pairando sobre o jardim da mansão. 

Alec fez o mesmo. Não deveria, pois a lista de coisas que deveria estar fazendo era grande: tomar um banho e vestir roupas decentes, limpar a bagunça dos vampiros da outra espécie e enganar as autoridades humanas, procurar novas pistas que o levassem diretamente até o Senhor das Sombras, voltar para casa. Contudo, não conseguia fazer nenhuma delas porque estava sentado na varanda dos Cullen, cansado, frustrado, preocupado e um pouco insano. 

A risada breve e divertida do leitor de mentes soou alta. 

 

— Você realmente perdeu o controle da situação, assim como realmente gosta da Brooke. 

 

— Cale a boca, Cullen, antes que alguém ouça e tire opiniões precipitadas. Ninguém perdeu o controle de nada, apenas precisamos de um novo plano - Alec rosnou, encarando Edward com os olhos estreitos em pura ofensa. 

 

— Certo, vamos dizer que seja isso. Mas não ouvi você contestando sobre a parte de gostar realmente da Brooke - replicou Edward, diminuindo o tom de voz. - Porque você gosta dela, é isto. 

 

O Volturi rosnou, irritado por ter deixado aquele tipo de comentário passar sem uma resposta e agora estar sem argumentos. Poderia mentir, mas então o maldito vampiro ao seu lado saberia. 

 

— Não sou um imbecil que se apaixona por uma humana tola, como você. Não serei esse tipo de cara. Não posso ser. 

 

Edward assentiu com a cabeça, desviando os olhos de volta para o jardim. Nos raros dias ensolarados da cidade, os raios de sol batiam diretamente nas rosas de Esme, formando um perfeito contraste entre a grama verde, o vermelho vívido das flores e o céu iluminado. Era uma vista bonita, que em dias comuns como aquele que estavam tendo, se tornava melancólica pelo tempo nublado. Edward suspirou. 

 

— Sim, você não é esse tipo de cara, Alec. E é claro que presumimos que cada um conhece a si mesmo melhor do que qualquer outro, mas deixe-me te dizer o que sei sobre você. Durante todo esse tempo que nos conhecemos, você sempre foi a pessoa com os pensamentos mais controlados que conheci. É difícil ler sua mente, até mesmo quando não está tomando cuidado para isso não acontecer. Porém, percebi que isso mudou depois que Brooke Evern apareceu. Não que agora você seja um livro aberto, porque não é, mas, quando tento ler seus pensamentos, tudo o que encontro é ela ou está relacionado a ela. Não foi sua mente que mudou, foi você. E sei que odeia essa mudança, e essa sensação inquietante que sentiu durante toda a madrugada e as perguntas frustrantes que fica se fazendo, mas não há como fugir disso. Eu tentei assim que conheci a Bella, mas não funcionou. E não vai funcionar com você. Então, fale com ela. Conte sobre essa sensação, essa que faz parecer que você a perderá a qualquer momento, e levando em consideração todas as vezes que isso literalmente quase aconteceu, você realmente deveria fazer isto. 

 

Alec soltou uma risada anasalada, exibindo um sorriso ácido e torto para o outro. 

 

— No momento em que eu fizer isso, se torna real, leitor de mentes. E isso não pode acontecer, porque a Evern merece mais do que uma vida como a minha. Ela merece ser melhor do que eu. Ela é melhor. Então, eu não posso falar sobre algo que eu não sinto e não posso sentir. Os Volturi não se apaixonam, não amam, e eu não sou a exceção; eu não gosto da Brooke - O vampiro louro acastanhado encolheu os ombros, extremamente indiferente. - Estou indo embora em alguns dias, então é melhor esquecer a ideia romântica de que ela e eu somos uma segunda versão sua e da sua esposa e deixar que as coisas voltem ao normal. Vai ser o melhor para todos. 

 

— Exceto para vocês dois - retrucou Edward, irritado. Seu semblante havia se fechado. Suspirando, ele se levantou e olhou decepcionado para o Volturi: - A vida é sua, Alec, a escolha também. Eu esperava que você me ouvisse, mas pelo menos tentei. Só espero que não se arrependa no futuro e que não magoe a garota que está lá dentro, porque ambos sabemos que ela já tem o suficiente de mágoas para curar. 

 

Alec apertou a mandíbula, assentindo. Quando Edward o deu as costas, ele pronunciou algo: 

 

— Avise o Kian que estou indo embora. 

 

Um pigarro soou como resposta, quebrando por alguns segundos o clima tenso na atmosfera. O corpo de Kian imóvel no vão da porta entreaberta projetou-se para o lado de fora da casa. 

 

— Irei com você - decretou, já avançando alguns passos. 

 

Alec apenas soltou um grunhido impaciente e virou as costas, caminhando com passos mundanos e pesados para longe, o casaco do smoking esfarrapados balançando na mão. O Archetti despediu-se de Edward e correu atrás do Volturi, embora soubesse que ele não iria deixa-lo para trás sozinho. 

Kian alcançou Alec e se pôs lado a lado, mas não falou nada. Ambos caminharam em silencio, cada um preso em sua própria rede de pensamentos, e assim se afastaram da mansão. As ruas estavam vazias devido ao horário, e quem quer que os vissem naquele momento, os julgariam como dois jovens bêbados voltando de uma tremenda festa. Se ainda fossem humanos, talvez fosse o caso. Porém, eles nunca saberiam, porque nunca teriam a oportunidade de pagar para ver: a realidade em que viviam não tinha espaço para uma relação amigável daquele tipo; talvez em outro mundo, ou no passado, mas não no presente e muito menos no futuro. 

Porque Kian Archetti e Alec não eram mais amigos e aquilo estava muito claro. 

Os dois viraram a esquina. Um carro passou por eles, quase os atropelando, uma música country explodindo pelo rádio. O motorista sim deveria estar bêbado. 

O feiticeiro viu o exato momento em que o vampiro louro-acastanhado abriu a boca e perdeu as estribeiras. Alec vociferou uma sucessão de xingamentos e palavrões, jogou o que sobrara do smoking no asfalto e o pisoteou, disparando ameaças contra o motorista que àquela altura já não podia ser mais nem visto. Era um acesso de raiva que continuou com o Volturi chutando longe uma lixeira posicionada na calçada mais próxima. 

Sem fazer intromissão alguma, Kian foi sentou-se na calçada do outro lado, apoiou os cotovelos nas pernas e ficou a observar o Volturi esbravejando com os ares. Obviamente, havia algo de muito errado naquela cena, e ele não precisava ter estado presente no último século para ter a certeza que Alec não agia daquela forma nos melhores e piores dias. Quebrar coisas e explodir funcionava muito bem para mortais e até mesmo para vampiros, exceto aquele vampiro em específico. Desde de sempre, sabia quem Alec era. Quais eram suas reações em diversas situações e o que o movia. Ele era o lado racional deles mesmo e de Jane. Ele era calmo e não se abalava. 

Até agora. 

E, enquanto Alec olhava ao redor com as mãos na cintura, o olhar afiado e estreito, parecendo um pouco mais controlado depois de ter expurgado tudo de seu peito, Kian percebeu qual era o problema. Alec já não era mais o mesmo - nem o de um século atrás e muito menos o de seis meses antes. Alec havia mudado, assim como todas as outras pessoas envolvidas naquele mundo, e ter o conhecimento disso fez o Archetti temer. Temer que o mesmo acontecesse com si e que as coisas fugissem de seu controle e seu plano ruísse completamente. 

A aproximação do vampiro o fez balançar a cabeça e se concentrar nele. Parecendo mais irritado do que nunca, Alec sentou-se ao seu lado na calçada e ambos contemplaram a estrada vazia. 

 

— Isso é um desastre. Tudo isso - O Volturi foi o primeiro a quebrar a quietude, realizando um gesto abrangente. Seu tom era monótono, frio. - Não temos pistas suficientes que nos leve até aquele desgraçado das sombras. Metade dos jovens da cidade foram massacrados e agora a população está agitada, questionando. O prazo da minha missão está quase se esgotando. E o nosso único vínculo com o desgraçado das sombras se tornou um estripador e fugiu. 

 

— E em meio a tudo isso, temos a Brooke, o ponto mais importante - pontuou Kian. - Quando ela acordar e se der conta de tudo o que aconteceu, ficará arrasada. 

 

A mudança de expressão de Alec foi nítida, mas ele tentou disfarçar ao apoiar as mãos para trás no asfalto e apoiar o peso do corpo ali, esticando as pernas para frente e as cruzando, como se tivesse relaxado repentinamente. 

 

— Todos nesse mundo perdem pessoas importantes, Kian. 

 

— Sim, mas não são todos que conseguem seguir adiante depois disso da forma como ela seguiu - replicou o feiticeiro, olhando diretamente para o Volturi, as íris de ônix estreitas. - E foram muitas vezes que ela seguiu. Você pode não confiar em mim, muito menos gostar de mim, mas acredite quando digo que eu conheço aquela Evern. Eu a vi nascer e crescer, e sei o quão forte é e o quão quebrada já foi. Não é qualquer um que é despedaçado e se remenda para seguir adiante pelos outros. E eu sei que você também sabe disso, velho amigo. Só é muito teimoso para admitir o que sente. 

 

Alec bufou, o fitando de soslaio. 

 

— Você parece muito interessado nela. 

 

— Sim, assim como você. A diferença é que eu admito. 

 

O Volturi rosnou, o que fez o Archetti gargalhar. 

 

— Talvez você possa ter sua chance de admitir isto - O sorriso cínico de Kian acompanhou suas palavras: - Amanhã, já que é o aniversário dela. 

 

Alec o fitou fixamente, parecendo surpreso por alguns segundos. Ele chegou a abrir a boca, mas antes que algum dos dois pudessem dizer algo, o barulho de pneus derrapando na pista e se aproximando, os chamou atenção. Em meros segundos, uma Ferrari vermelha estacionou aos pés dos dois, a um centímetro de distância. A vampira loura atrás do volante buzinou, os fuzilando com os olhos escarlates por trás do retrovisor. 

Ela abaixou a janela do carro e olhou para fora, sibilando: 

— Entrem logo, idiotas. 

Os dois trocaram um olhar significativo de confusão e se levantaram, entrando no automóvel logo em seguida. Alec ocupou o banco do carona e Kian os de trás. Jane arrancou depois, pisando fundo no acelerador. O silencio recaiu no interior do carro por longos minutos, o clima desconfortável atingindo os poros dos três, até que o feiticeiro decidiu se manifestar: 

— Como nos encontrou, Janie? 

— É Jane, seu insolente - A Volturi o corrigiu, cuspindo as palavras, o fitando pelo retrovisor. - Vocês não voltaram para o apartamento e eu precisava discutir sobre algo. Então vim procura-los e tamanha foi minha surpresa quando os encontrei parecendo moradores de rua bêbados. 

— Sinto que são notícias ruins. Fale - exasperou-se Alec, ao passo que Kian resmungou. 

Jane o lançou um olhar torto, passando a toda velocidade em um cruzamento. 

— O Julions foi embora - falou Jane, com a voz distante. - Eu o encontrei, mas ele... me enganou. Usou seu dom e escapou. Demetri não consegue rastreá-lo e não há rastros que nos indique uma direção. Nós o perdemos, fim. 

Alec jogou a cabeça contra o encosto do banco e grunhiu, esfregando as mãos no rosto. O sentimento de fracasso o invadiu, o fazendo inflar as narinas e querer se jogar da janela do carro em movimento, embora soubesse que não lhe traria dano. 

— Estamos perdidos. Precisamos recorrer a algo - murmurou, abaixando as mãos do rosto. Seu olhar cruzou com o do feiticeiro pelo espelho retrovisor. Ele se virou para trás: - Você pode rastreá-lo, Archetti. Use um feitiço de localização ou algo do tipo. 

— Perdono, mas não posso fazer isso - Kian retrucou, fazendo o vampiro grunhir. 

— Como assim, não pode? Não é você mesmo que se gaba de ser um o legítimo descendente do primeiro feiticeiro ou o que diabos seja, e agora está me dizendo que não pode fazer algo tão simples? 

— Ele sempre foi egocêntrico, o que mais poderíamos esperar? - Alfinetou Jane, passando por um sinal vermelho. 

— Não se trata do meu egocentrismo. Trata-se do fato desse tipo de feitiço não ser tão simples como parece, ainda mais se for usado para encontrar Gaz Julions, visto que sua espécie é desconhecida - esclareceu Kian, enquanto afundava os dedos no banco da frente. - Em meu clã, cada feiticeiro tem sua própria especialidade. A minha é a natureza e seus elementos; fogo, ar, terra, água. Posso controla-los muito bem e invocar seres. Contudo, rastreamento é uma magia mais centrada, que envolve sangue e uma porção de magia negra, o que é proibido pelos clãs. Por isso, perdono, mas não posso localizar o Julions. 

O Volturi balançou a cabeça, parecendo entender. 

 

— Tudo bem. Mas, se você não pode, há outro feiticeiro que consiga localizar o Julions? 

 

— Sim, há. Seu nome é Edithe Chase, mas não é uma boa ideia contacta-la - A resposta de Kian estava cheia de hesitação enquanto ele encarava o vampiro, muito sério. 

 

— Por que não, se ela é a única que pode nos ajudar? 

 

— Porque ela é a única feiticeira que ainda resta, poderosa e maligna o suficiente para trabalhar junto com o Senhor das Sombras. Comprovei isso noite passada ao reconhecer os traços da magia dela naqueles humanos que atiraram em todo mundo; eles foram enfeitiçados. Essa é a especialidade de Edithe, além de localizar, o que a torna tão fantástica e perigosa. Ela é pura magia negra. 

 

— Você a conhece muito bem - Observou Jane. 

 

— Somos ex-namorados. Sabe como é, um coração partido, xingamentos, maldições lançadas - Ele deu de ombros. - Edithe sempre foi um pouco louca, mas não malvada. Talvez isso tenha mudado após ter sido expulsa da nossa linhagem de feiticeiros e ter suas marcas apagadas por praticar a magia sagrada dos antigos. Pobre Edithe. 

 

— Talvez ela queira vingança - Indagou Alec, a expressão rígida. Os mecanismos em seu cérebro já estavam trabalhando, pensando, tentando montar o quebra-cabeças com as novas peças que tinha. - De você principalmente, Archetti. Isso explicaria a aliança dela com nosso inimigo, e se for tão poderosa assim como você diz, então eles seriam o time perfeito. Todavia, são apenas suposições por hora. 

 

O carro passou por um quebra-molas, fazendo os corpos sacolejarem nos bancos ao mesmo tempo que a expressão do Archetti se fechava. 

 

— Suposições? - repetiu, descrente. - Pensa que eu estou mentindo ou inventando isto sobre Edithe, por acaso? É por que vocês ainda não conseguem confiar em mim? 

 

— Sim - Alec e Jane responderam em uníssono, levando o feiticeiro a rir amargurado. 

 

— Não pode nos culpar, Kian. Você reapareceu do nada, oferecendo ajuda, embora nós não a tenhamos pedido desde então - A melódica voz de Jane cantarolou, e pela primeira vez não tirou os olhos da estrada, embora estivesse muito consciente dos olhares sobre si e do ódio que infligia. - Você é um estranho para nós. Um nada, do mesmo jeito que era há quase um milênio atrás. Então é melhor entender de uma vez por todas, porque já está ficando um pouco patético ignorar suas tentativas fracassadas de aproximação. Você teve a sua chance para conseguir nossa confiança e a desperdiçou, e isso foi um erro. E quer saber por quê? 

 

— Porque os Volturi nunca dão uma segunda chance - Completou Alec, o olhando indiferente antes de voltar a se virar e sentar-se corretamente no banco. - Mas, se ainda quiser ser útil, pode começar a procurar sua ex-namorada e a traga até nós. Vamos a oferecer a oportunidade de um time melhor. 

 

 

BROOKE EVERN 

 

 

5 de junho de 2017. 

Sua mente projetava a data, mesmo que ela ainda estivesse dormindo profundamente, o que a fez esperar pela tradição de todos os anos. Brooke esperou pelo momento em que a porta do quarto fosse aberta e as risadas das outras duas mulheres da família Evern invadissem o lugar, assim como também esperou que Penny pulasse em sua cama e a enchesse de cócegas, com Marcy vindo atrás com um bolo solado de chocolate em mãos e uma vela de estrela no meio. Todo ano elas faziam aquilo. 

Entretanto, sabia que aquele ano seria diferente; só não imaginava a proporção da mudança. Ao invés de todas as coisas normais que sucediam anualmente, um evento anormal foi o que aconteceu. De alguma forma, naquela manhã do seu aniversário de dezoito anos, Brooke acordou em seu antigo quarto da sua antiga casa, em Denver. E de pé, uma silhueta masculina esguia mexia em seu guarda-roupas. 

 

— Kian? - Indagou Brooke, o reconhecendo assim que ele se virou e a encarou com um sorriso iluminado. 

 

— Bom dia, aniversariante. Devo cantar a música do ''Parabéns pra você? - disse ele, abandonando suas roupas e se aproximando da cama. 

 

A Evern esfregou os olhos e olhou ao redor, totalmente perdida. Tinha absoluta certeza que aquele cenário e aquelas coisas no quarto faziam parte do seu passado, só não entendia como podia ser possível. Muito menos como o feiticeiro poderia estar ali, completando a confusão mental da garota. 

 

— Estou sonhando? - questionou, empurrando os lençóis para longe e jogando as pernas para fora da cama. O chão frio em contato com seus pés descalços parecia muito real. Em seguida, completou: - Ou estou tendo um pesadelo muito real? 

 

Calmamente, Kian sentou-se na beirada da cama e balançou a cabeça, mantendo uma distância tolerante e confortável entre os dois. 

 

— A primeira opção, mais ou menos. Isto é um feitiço de projeção mental que está ligando o meu subconsciente e o seu enquanto dormimos. Funciona como um portal de comunicação entre os feiticeiros guardiões e os seus protegidos - Explicou ele, a encarando com um sorriso de lado nos lábios. - Já tivemos outros momentos assim. 

 

Uma luz se ascendeu instantaneamente na cabeça de Brooke, que passou as mãos nos cabelos e o fitou incrédula. 

 

— Meus sonhos com Penny e Amalie... Era você? 

 

— Você precisava de algumas direções sobre o mundo sobrenatural e algumas dicas de sobrevivência. Então presumi que as fornecer por meio de mensagens subliminares com pessoas queridas seria melhor do que me revelar repentinamente. 

 

— Ah. Sempre pensei que os sonhos com elas significassem que eu fosse louca. Ou que nunca superaria ou então que tinha alguma habilidade de me comunicar com os mortos, mas era apenas você... - A Evern deixou as palavras escaparem em um sussurro enquanto mascarava o nó em sua garganta. Após um segundo, estreitou os olhos para o feiticeiro: - Aliás, com que direito você invade os sonhos das pessoas, principalmente os meu? 

 

— É algo muito útil para a interação entre pessoas - rebateu Kian, encolhendo os ombros. 

 

— É aí que está: eu não quero interagir com você. 

 

— Curta e grossa, mas ainda assim continua sendo charmosa e a aniversariante do dia, o que nos leva ao motivo da minha ''visita''. 

 

— Meu aniversário nunca foi um evento tão importante ao ponto de um feiticeiro invadir meus sonhos para me felicitar - Brooke uniu as sobrancelhas, esperando uma explicação. - Qual o propósito disso, Archetti? 

 

Kian passou a mão pelo cabelo, bagunçando o topete de cachos perfeitos, e a olhou com aparente serenidade. 

 

— Os Cullen estão preparando uma pequena festa surpresa para você esta noite - A expressão dele era solidária, os olhos gentis ao visualizar a expressão de pânico que tomou conta das feições da morena: - Aí eu presumi que você precisaria de um aviso antes de acordar e ser tragada para toda a loucura do mundo real e das preparações de Alice Cullen. 

 

— O que eu menos preciso agora é de uma festa - suspirou Brooke, engolindo em seco ao imaginar como seria. - Sério, Kian. Não posso lidar com uma comemoração, não há nada para comemorar. 

 

— O seu aniversário, na verdade. Os Cullen pensaram que talvez a festa pudesse fazer bem á você, depois que você acordasse e... 

 

— Depois que eu acordasse e tivesse que enfrentar a realidade, onde quase fui morta mais uma vez, onde descobrimos que sempre estivemos um passo atrás do nosso inimigo, onde metade dos estudantes da Forks High Scool foram mortos e onde meu melhor amigo me atacou e foi embora? Ou a grata confirmação de que não me transformei em vampira, de qualquer espécie que seja? - Interrompeu-o Brooke, roubando-lhe as palavras. Ela soltou uma risada sem humor. - Sim, Kian, eu sei que é isso que todos eles pensaram e agradeço pela gentileza, mas eu a dispenso. Porque eu posso fazer muitas coisas, mas essa não é uma delas. 

 

— Por que não? - Indagou o feiticeiro, cruzando os braços. 

 

— Porque eu irei seguir em frente de qualquer jeito, com ou sem festa para me distrair. É o que eu faço; eu continuo. Quando Penny morreu, eu mudei de cidade e segui em frente. O mesmo aconteceu com Amalie e depois com Luke. Então agora com Gaz, quando eu acordar deste sonho estranho e tiver que enfrentar o buraco que ele deixou na minha vida. As pessoas com quem me importo tendem a morrer ou irem embora de alguma maneira e sinto que isto nunca vai parar de acontecer, então... eu continuo - Os dedos se enrolaram no lençol, o esmagando enquanto ela sentia o nó em sua garganta a sufocando, as lágrimas queimando nos olhos. - Nunca paro, nunca penso por muito tempo ou olho para trás, porque se eu fizer alguma dessas coisas, eu irei desistir. Sou a melhor filha da puta que esse mundo já teve. 

 

Kian gargalhou, comprimindo os lábios em seguida pelo momento inapropriado. Os olhos dele focaram nas lágrimas que escorriam lentamente pelas bochechas da morena e muito lentamente, ele retirou um lenço de dentro do bolso do sobretudo e o levou ao rosto dela, percorrendo o mesmo caminho que as gotas de lágrimas, as enxugando. A Evern o fitou, com uma mescla de surpresa e desconfiança. 

 

— Você é Brooke Evern, minha protegida e a melhor sobrevivente que este mundo já viu. Você é gentil e insegura. É leal até o fim com quem se importa e quando ama, ama de todo coração. Infelizmente, é péssima quando o assunto é amor próprio e está sempre preocupada em não incomodar as pessoas, o que acaba surtindo o efeito contrário. Também acredita num mundo melhor e na bondade das pessoas. Você enxerga luz até mesmo nos cantos mais escuros que existem e não faz ideia do quanto é amada. Você é um compilado de emoções caóticas, defeitos e qualidades, o que a confunde, mas o que também a faz ser exatamente do jeito que é, Caro. Sim, você continua, apesar de tudo, e é por isso que foi escolhida para salvar o mundo. Porque a Brooke que eu conheço vai contra todas as possibilidades, contra todas as previsões, apenas para salvar pessoas - Kian afastou o lenço e voltou a guarda-lo, ajeitando algumas mechas do cabelo da Evern. - Você está quebrada porque perdeu algumas pessoas e é masoquista, mas já está na hora de mudar isso ou então continuarei sendo um péssimo guardião. 

 

Brooke estreitou o olhar para ele, afastando a mão que a tocava. 

 

— Certo, você me definiu bem. Mas, eu também tenho uma definição sobre sua pessoa: presunçoso e arrogante, como se soubesse o que é perder alguém ou ser fodidamente quebrado nesse mundo de merda! 

 

Foi a vez do Archetti se afastar, levantando bruscamente da cama. 

 

— Você deveria saber que não é tão especial por sentir o que sente, Brooke - disse ele, a olhando de cima com o queixo erguido, uma incomum sombra pairando em seu rosto repentinamente sério. - Todo ser neste mundo, vivo ou não, já perdeu alguém. Já quebrou ou foi quebrado. Já perdeu mais do que ganhou. Já desistiu ou ainda está tentando. Assim como você, eu estou em todos os casos, porque eu também já fui humano. Eu já fui apenas um menino camponês que trabalhava numa vinícola no interior da Itália e morava em um vilarejo pobre e intolerante, mas que era muito feliz porque tinha um melhor amigo e a irmã gêmea dele para contar. Porém, isso foi a quase mil anos atrás e depois de tanto tempo, eu ainda lembro do que eu tinha e perdi. Eu tinha Alec e Jane ao meu lado, e agora não os tenho mais. 

 

Aquilo a chamou a atenção de Brooke, o suficiente para ignorar a maneira abrupta que o feiticeiro tinha adotado e as palavras que havia proferido. Ela queria ouvir mais. 

 

— Por que não? - questionou, diretamente, ajoelhando-se na cama para tentar ficar na mesma altura dele sem ter que se aproximar. - Desde do primeiro momento em que você e Alec se encontraram, eu soube que tinham história, mas ele nunca me disse. Então, pode me contar o que aconteceu entre vocês que o fez te tratar da maneira que o trata? Você roubou a namorada dele, por acaso? 

 

— Deus tenha piedade! Que tipo de homem acha que eu sou? Acha que sou um cafajeste? - retrucou Kian, voltando para a conduta descontraída de antes, apoiando-se na cômoda atrás de si, cruzando os braços. 

 

— Eu diria que você não é santo, mas isso não foi o que eu perguntei. O que aconteceu? 

 

O feiticeiro encolheu os ombros. 

 

— Alec e Jane acham que sou o responsável pela tragédia que aconteceu com eles antes de serem transformados em vampiros. Eles têm razão, parcialmente. Mas não completamente... 

 

— Espera - Brooke o interrompeu, as sobrancelhas unidas em confusão. - Que tragédia? 

 

— Você não sabe? Nenhum dos Cullen te contou a história dos gêmeos Voturi? - Foi a vez do Archetti ficar confuso. Ao ver a negação da morena, ele suspirou: - Então acho que devo começar por aí. 

 

A Evern permaneceu atenta. 

 

— Alec, Jane e eu nos conhecemos desde a infância. Éramos vizinhos, há quase um milênio atrás. Eles moravam com os pais, um casal gentil e trabalhador, já eu morava com minha mãe e o segundo marido dela, ambos praticantes de magia negra oculta. Eu era muito novo para saber que aquilo que eles faziam era errado, mas entendia o suficiente para saber que era proibido e pagável com a morte em nosso vilarejo, por isso os ajudei a esconder tal segredo por muito tempo. Tudo ia bem, e éramos felizes; Jane, Alec e eu. O melhor trio italiano de crianças que você pode imaginar. - A voz de Kian foi se tornando mais grave a cada palavra proferida, seus olhos se fecharam enquanto sua boca continuou se movendo: - Até os dias em que meus poderes começaram a se manifestar. E eu não fui o único. Mesmo não pertencendo a uma linhagem de feiticeiros, Alec e Jane possuíam os poderes que possuem hoje em dia desde aquela época, mesmo humanos. Entretanto, diferente de mim, eles não sabiam controlar e não podiam. Jannett infligia dor sem querer quando ficava assustada. Alec desestabilizava as pessoas quando se sentia acuado. E então a população do vilarejo descobriu sobre as crianças possuídas por demônios, como eles mesmo chamavam, e decidiram acabar com elas. Em uma noite chuvosa, eles se uniram e bateram de casa em casa, arrancando crianças inocentes de seus lares até encontrarem as crianças certas. Foi na mesma noite em que minha mãe me tirou da cama e me arrastou para fora, dizendo que tínhamos que ir embora. Eu não sabia do que estava acontecendo, então me deixei ir sem fazer muitas perguntas. Só descobri que minha mãe tinha incriminado Jane e Alec para me salvar, depois. Mas já era tarde demais. 

 

Kian reabriu os olhos, e neles Brooke pode ver todo o arrependimento, toda a culpa e toda a dor que ele carregava sobre o assunto. Ele a encarou, mas não estava a enxergando de fato; parecia estar revivendo as cenas daquela época. E durante aquilo, ela se deu conta de que ele também estava quebrado - talvez não totalmente, mas já fora danificado de alguma forma. O feiticeiro já havia ruído em algum momento de sua longa vida, e ainda estava ali. 

A Evern sentiu mais empatia por ele naquele instante. 

 

— As pessoas do vilarejo mataram os pais de Alec e Jane na frente deles. Arrastaram ambos pelas ruas e rasgaram suas roupas. Fizeram uma fogueira e os amarraram juntos. Acho que machucaram Jane, que a violentaram de diversas formas. Torturaram os dois e os espancaram. Então os jogaram vivos na fogueira. Esta é a história deles. Pelo que sei, os Volturi chegaram em seguida e os resgataram, então o transformaram e eles são o que são atualmente. Eles sobreviveram, assim como eu, apesar de não termos nos encontrado até aquele dia no cemitério. Quase um milênio em que os gêmeos me odeiam e pensam que eu os abandonei para morrerem sozinhos numa fogueira, mas eu juro que tentei voltar. Eu desisti da minha família e voltei correndo para o vilarejo para ser acusado junto com os meus amigos, mas encontrei todos mortos e eles já tinham ido com os vampiros. - Kian piscou, e finalmente focalizou a morena estarrecida ao seu lado... O sorriso triste em seus lábios surgiu lentamente enquanto ele apontava o indicador para ela: - Eu disse que você não era especial pelo que sentia, Caro

 

Brooke continuou em silencio, processando toda a informação que havia acabado de ouvir. Então Alec e Jane tinham uma história, afinal. Uma que ela não conseguia imaginar a quão triste e injusta poderia ser. Uma que explicava, talvez, a origem da maldade e raiva que eles propagavam. E Kian... ela só o encarou com todo o pesar que sentiu em seu coração, reconhecendo o peso do arrependimento em seu semblante. 

Confiável ou não, ele ainda era alguém. Uma pessoa. Seu guardião. E ninguém no mundo deveria se sentir uma merda por quase mil anos. 

 

— Quando se ama alguém, você faz de tudo para proteger a pessoa, mesmo que isso machuque a si mesmo. Você voltou por eles, Kian, e eu acredito, pois eu faria a mesma coisa pela minha irmã mais nova. Porque é isso o que a família faz: protegemos um ao outro e não esperamos receber nada em troca. E falando como alguém que no momento está sozinho no mundo, eu sei como a solidão é assustadora. Então, se você demorou quase mil anos para encontrar Alec e Jane, aqueles que você considera como família, acho melhor se apressar e se acertar com eles antes que tenha que esperar mais um milênio. É o que eu também faria se fosse imortal e se Penny ainda estivesse aqui - Brooke forçou um mínimo sorriso e estendeu a mão para ele. - Me desculpe pelo presunçoso e arrogante de antes e por tudo antes disso também. Como você mesmo disse, sou um compilado de emoções caóticas. 

 

— Você diz a coisa certa nos momentos mais oportunos e tensos. Esse será o seu eterno charme, garota - murmurou Kian, apertando a mão estendida dela e balançando ambas, como se estivessem selando um pacto bem ali. - Acrescente ''sábia'' a sua definição. Agora, o que acha de ouvir a música do dia, cujo se não me engano, começa com ''parabéns para você? 

 

Brooke balançou a cabeça negativamente. 

 

— Eu acho uma péssima ideia. Prefiro ficar aqui, esperar que você saia do meu sonho e acordar de uma vez por todas antes que as coisas fiquem mais estranhas do que já estão. 

 

— Você não é muito boa em interagir com as pessoas, não é mesmo? 

 

— E você não é o tipo de pessoa que superestima o silencio. 

 

— Perdono, Caro. Mas creio que estou um pouco confuso com sua mudança rápida de humor - falou Kian, voltando-se a sentar na beira da cama, arrumando o sobretudo com elegância. - Ha dez segundos atrás pensei que estivéssemos bem. 

 

— E estamos - A Evern assentiu, voltando a jogar as pernas para fora da cama, as balançando deliberadamente. - Porém, isso não significa que eu confio em você totalmente, o que me lembra de te avisar: se estiver mentindo por alguma razão e nos ferrar, eu ferro você de volta. 

 

— E voltamos para a estaca zero. Sabe, eu estava gostando da confiança e harmonia que estávamos construindo - Kian abriu um sorriso irônico. 

 

A morena o ignorou e voltou a atenção para o quarto ao redor. Era do mesmo jeito que se lembrava. O mural de fotos na parede, o mosaico de colagens de revistas e jornais pendurado na porta, o universo que desenhara no teto aos onze anos, as almofadas no chão, as estantes de livros empoeiradas. Cada detalhe daquele sonho era mais preciso do que os de suas memórias, o que a fez se perguntar como o Archetti pudera ser tão certeiro daquele jeito. 

Então, quando voltou a encara-lo, algo emergiu de sua mente, como se estivesse em um canto esquecido no meio de tantos pensamentos e coisas que sabia. 

 

— Você nunca me contou o final da profecia - Ela disparou, parando de balançar os pés. 

 

— E você nunca me devolveu o livro que te dei - retrucou Kian, a olhando dentro dos olhos. 

 

Brooke encolheu os ombros. 

 

— Você mesmo disse que o livro dos Sonhos me pertencia. E também nunca me contou o final da profecia. As últimas linhas da página foram riscadas, como se quem as escreveu tivesse mudado de ideia no último segundo sobre o que tinha revelado na escrita. Todas as vezes que você citou os versos para mim, parava exatamente na parte que eu já sabia, mas sempre pareceu querer continuar. Por que? 

 

— Eu realmente não faço a mínima ideia do que está falando, Caro - Foi a vez do Archetti de encolher os ombros. 

 

— Quando uma época distante chegar, e meus descendentes não temerem mais o sol, quando impérios forem formados, e outros destruídos, um grande marco será feito em nossa história. Aquele que coopera contra o sol, assim como a noite, se levantará, e de seus filhos um exército formará. Das cinzas viemos, das cinzas retornaremos, o poder do sangue se provará e a lealdade em uma guerra de vampiros, será testada. Alguns cairão, outros recuaram, e mais alguns tentarão derrotar a grande ameaça, contudo, apenas um homem designado por esta profecia será capaz de combater fogo contra fogo. Apenas ele cravará a estaca da misericórdia... - Brooke citou as palavras, inclinando o corpo para frente de acordo com seus sussurros. - A época distante já chegou, Kian. Tudo está sendo destruído e já sabemos quem é o desgraçado culpado dessa história. A questão mais importante é: onde eu arranjo a tal da estaca da misericórdia e o que mais eu não estou sabendo dessa profecia? Porque quanto mais eu tento imaginar o que possa ser, quanto mais eu tento fazer aquele livro funcionar e me dar respostas, menos eu consigo. 

 

Os lábios do Archetti se esticaram lentamente em um sorriso enquanto ele também se aproximava lentamente. Parou a meros centímetros do corpo da morena e aproveitou para levar a mão até o rosto dela, onde afastou as mechas de cabelo e afagou a cicatriz na bochecha. Brooke estava consciente que deveria se afastar, que deveria conservar aquele parâmetro, mas enquanto observava os movimentos do feiticeiro, sentiu um arrepio esquisito na nuca, e o deixou continuar. 

 

— Sinto muito, mas teremos que descobrir isso juntos. Tudo o que eu sei, eu te disse. Nem sempre profecias são finalizadas e nem sempre precisam fazer sentido para serem cumpridas - Ele murmurou as palavras quase nos lábios da Evern, e soou muito sincero. 

 

Depois, fez menção de se afastar, mas ela o segurou pelo braço, o mantendo no lugar que estava. O movimento fez as bocas dos dois se tocarem brevemente, mas foi o suficiente para ambos sentirem.

 

— Certo. Vou acreditar que você não sabe de mais nada, mas deixe-me esclarecer algo: Se estiver mentindo, eu mato você, assim como matarei o Senhor das Sombras - Ela proferiu as palavras com indiferença e acariciou o braço dele, o soltando em seguida. - Seja um guardião melhor e procure respostas, por favor. 

 

O Archetti balançou a cabeça e se pôs de pé novamente, encarando a Evern com um misto de fascínio e divertimento. 

 

— Agora sim parece que estou olhando para a verdadeira Descendente. Feliz aniversário, querida. 

 

Brooke abriu a boca para responder, no entanto, não teve tempo nem para emitir a primeira sílaba, pois o Archetti desapareceu em um piscar de olhos. Em seguida, um clarão inundou o quarto, a cegando, e ela jogou o corpo para trás, tendo a sensação de que estava caindo em um abismo profundo onde a risada de Kian se propagava conforme a queda ia se tornando cada vez mais inevitável... 

E então ela acordou, no antigo quarto de Edward na mansão Cullen. No mundo real. 

Brooke ergueu o tronco, sentando de pernas cruzadas na cama, e respirou fundo. O suor escorria de sua testa e sua respiração estava descompassada, ao mesmo tempo que ela podia ouvir as batidas aceleradas de seu coração. Ela se beliscou, constatando que realmente estava acordada, e agradeceu internamente. Com um suspiro, olhou para a cômoda ao lado e se assustou ao ver as horas no criado mudo: já passava de meio-dia. 

Apressando-se, ela empurrou as cobertas e se pôs de pé, indo até as janelas e a porta da sacada, onde puxou as cortinas e foi surpreendida pelos raios solares que transpassavam o vidro e tocaram sua pele. Era um raro dia ensolarado em Forks. Ela sorriu, e olhou para o jardim da mansão, rindo em seguida ao ver Emmett e Renesmee se esgueirando pelas rosas, como se estivessem em um filme do James Bond, carregando balões coloridos. 

Então, a festa era verdade. Não queria nenhum ato de comemoração, mas tão pouco queria desmerecer os esforços dos Cullen e decepciona-los. Era um dilema, assim como os muitos outros que existiam em sua vida. E enquanto observava a movimentação no jardim da decoração da festa, percebeu que por mais que quisesse poupar seus sentimentos e coloca-los em primeiro lugar pela primeira vez, apenas daquela vez, não seria capaz, porque destruir os corações alheios para preservar o seu próprio, não era justo. A vida não era justa, e exatamente por isso ela decidiu levar aquilo adiante: iria comemorar seu primeiro aniversário sem Penny ou Marcy, e que Deus a ajudasse a suportar o aperto em seu coração. 

Brooke balançou a cabeça e se afastou da sacada antes que eles a vissem e se encaminhou para o banheiro, se preparando psicologicamente para o resto do dia. Ela tomou um banho gelado, apreciando a sensação de despertar; escolheu uma de suas combinações preferidas de roupa: calça jeans escura, blusa de manga longa, tênis e apostou em um lenço de cabelo florido; e parou em frente ao espelho. A imagem refletida nele era a mesma que ela via todos os dias: alguém normal. Alguém humano. Alguém com traumas e desejos. Não havia nada de especial naquela imagem, se não fosse pelo fato dela ser de alguém que ainda estava vivo, de alguém que não desistia, de uma sobrevivente. 

A Evern era alguém. Era péssima em relacionamentos e poderia até estar amaldiçoada pelo espírito da Descendente de Conde Drácula, mas ainda assim era ela. Era a garota que tinha medo do mundo real e ao mesmo tempo se atirava nele sem ressalvas por impulso, quando ficava sem escolha. Era um caos ambulante, mas estava tentando melhorar, um dia após o outro. Estava trilhando um caminho tortuoso, mas não optaria por pegar um atalho. Estava viva, e isso era muito mais do que imaginaria querer a um ano há atrás. 

 

— Garotas da sua idade não curtem muito monólogos mentais matinais - A voz masculina e familiar ecoou pelo quarto, a fazendo pular de susto. O reflexo de Edward apareceu no espelho, parado na porta com os braços cruzados. - Desculpe. E feliz aniversário. 

 

Brooke uniu as sobrancelhas, já recuperada do susto. Virou-se para trás e encarou o leitor de mentes, que adentrou o quarto sem nem esperar o convite. 

 

— Garotas da minha idade não fazem nem a metade das coisas que eu faço, principalmente ter a mente lida logo de manhã - retrucou ela, abrindo um pequeno sorriso em seguida: - E obrigada. 

 

Edward Cullen acenou com a cabeça e desviou os olhos da morena, os utilizando para explorar o seu antigo quarto. O vampiro analisou tudo, caminhando pelo espaço com os olhos semicerrados, as mãos pousadas na cintura, o cabelo cobre arrumado em um topete impecável, a camisa social azul marinho contrastando contra a palidez excessiva da pele. Aquela era a primeira vez que Edward entrava ali desde que Brooke passara a ocupar o quarto e também era a primeira vez que ele não parecia aborrecido ou mal-humorado com sua presença. 

 

Meses haviam se passado desde que chegara na mansão Cullen, mas a Evern ainda era capaz de lembrar do seu primeiro dia ali. Da maioria dos dias, na verdade. E enquanto esperava o leitor de mentes analisar suas coisas, percebeu que gostava de Edward, por mais careta que ele fosse. 

 

— O quarto ficou bom - disse ele, assim que se virou para olha-la. Ele estava estranhamente inquieto. 

 

— Sim, muito. - Brooke cruzou os braços, erguendo as sobrancelhas. - O que o trouxe aqui, Edward? 

 

O Cullen torceu o nariz, sabendo que suas intenções haviam sido descobertas. Passando a mão pelo cabelo, bagunçando o topete, ele abriu a boca: 

 

— Alice decidiu fazer uma festa de aniversário para você. O pessoal está lá embaixo, organizando tudo. Eu não deveria estar te contando, e não sou fofoqueiro, mas não concordo com a festa. Achei que você não iria quere-la depois... de tudo que aconteceu. Bella não gostava de festas quando nos conhecemos e houve um ano em que Alice organizou uma para ela. Acredite, foi um desastre. Você é gentil demais para recusar a festa, mas eu creio que qualquer pessoa deve estar nos lugares que a deixem confortável, não o contrário. Eu só... vir aqui era o certo a se fazer. 

 

Brooke esboçou um pequeno sorriso, o portal dos sonhos de comunicação com Kian voltando em sua mente. 

 

— Isso foi bem legal da sua parte, Edward. Eu agradeço, mas posso fazer isso. Por sua família, posso encarar uma festa de aniversário... depois do que aconteceu. 

 

— Você é boa demais para o seu próprio bem - Os cantos dos lábios de Edward se esticaram em um sutil sorriso. - Vamos fazer isso, então. Finja surpresa e sobreviva até o final. Você está bem? 

 

— Estou. 

 

— Certo. Estou indo agora, mas se Alice perguntar, eu nunca estive aqui. 

 

A Evern apenas balançou a cabeça, o observando virar as costas em seguida e caminhar até a porta do quarto com graciosidade. Porém, antes do leitor de mentes alcançar a saída, um vendaval de pensamentos surgiu em sua mente e antes que pudesse controlar, as palavras encheram sua boca: 

 

— E Gaz? 

 

Edward parou e virou para trás, antes mesmo da expressão de pena desaparecer de seu rosto. Brooke sabia que a resposta seria dolorosa, assim como a pergunta dela tivera sido também. Evitara tocar no assunto com Kian, mas, ali naquele momento, sentia que não podia evitar. As feridas em seu pescoço causadas pelas presas de seu melhor amigo ainda latejavam, e as lembranças manchadas em vermelho da noite passada a assombravam, mas não mais do que a falta de informação de Gaz Julions. 

 

— Ele foi embora. Nós os procuramos, mas não conseguimos encontrá-lo. Tão pouco Demetri. Ele também não está nos limites da cidade, o que nos leva a crer que Gaz foi para bem longe - A voz de Edward desceu algumas oitavas, coberta de cuidado enquanto ele tentava camuflar a pena escondida em seu olhar: - Se serve de alguma coisa, era nítido que Gaz sentia muito pelo que fez quando o separamos de você. 

 

— Eu também sinto - Brooke arranhou a garganta, sentindo os olhos queimarem. Mas ela se recusava a chorar, estava cansada daquilo. Seu olhar manteve-se firme ao olhar para o Cullen. - Vocês não vão parar de procurar ele, vão? 

 

Edward balançou a cabeça, suspirando longamente. 

 

— Não mesmo. 

 

— Obrigada. E, Edward... há alguma chance de você me dar a chave do chalé para que eu possa me refugiar durante a tarde? 

 

— Desde que você não diga nada a Alice - disse ele, enfiando a mão no bolso dos jeans e puxando um chaveiro com uma chave dourada. - Eu realmente tenho medo daquela anã quando o assunto é festas de casamento e de aniversário. 

 

O Cullen jogou a chave na direção da Evern, que a pegou no ar e sorriu o agradecendo. Ela o esperou sair para respirar fundo, se recusando a deixar que as emoções tomassem conta, porque doía. Doía saber que seu melhor amigo tinha partido e doía ainda mais tentar não guardar mágoas por isso.  

 Brooke balançou a cabeça, apertando a chave entre os dedos, o metal frio pressionando sua pele. Sem perder tempo, se deslocou pelo quarto, arrastando o livro que escondia debaixo da cama. Segundos depois, já estava deixando o quarto e avançando pelo segundo andar da mansão, nas pontas dos pés, tentando não ser vista. Se esgueirar até a saída da casa foi uma tarefa fácil, e ela sabia que era apenas pelo simples fato de os vampiros daquele lugar estarem ocupados com outras coisas que não a incluíam no presente momento. Então, chegar até o chalé de Edward e Bella não demorou nem dez minutos.  

 O chalé era adorável e confortável. Assim que o adentrou, Brooke empurrou as cortinas e abriu as janelas da sala de estar, deixando a luz do sol se espalhar pelo comodo. A sala não era muito grande, mas espaçosa o suficiente para uma pequena família aproveitar uma tarde de filmes juntos. Ela nem cogitou acender a lareira, mas sentou-se mesmo assim de frente, no tapete felpudo. O silencio era reconfortante, assim como a paz que a tranquilidade trazia. Os olhos da desceram para o pesado livro de capa de couro em seu colo, e ela lembrou-se do porque o trouxera junto. Ela o abriu, folheando as páginas amareladas pelo tempo, passando os olhos atentamente por cada uma, tentando notar algo que não notara nas outras vezes que lera cada palavra escrita naquele livro. 

 Contudo, não havia nada. Nada que já não tivesse acontecido ou que tivesse visto em seus sonhos estranhamente proféticos. Todos eles estavam narrados ali: a noite que conhecera a existência dos vampiros, a morte de Amalie, e até mesmo a carnificina mais recente do baile dos anos vinte. Brooke não sabia como aquilo era possível, mas sabia que os segredos e anotações do primeiro vampiro da história deveriam estar escritos naquele livro velho, não os acontecimentos trágicos de sua vida.  

''O livro é único, e capaz de mudar todas as convicções de nossa espécie, e quando as convicções de um povo são mudadas ou abaladas, confrontos se formam, guerras explodem e o caos se alastra''; Brooke recordava das palavras de Alec no dia em que encontraram o livro dos Sonhos e sabia que eram verdadeiras.

Assim como sabia que ninguém, nenhum vampiro, espécie sobrenatural ou humano qualquer se importava com os acontecimentos trágicos de sua vida ou com todas as pessoas que ela havia perdido. O mundo era movido por ambições e espreitado por guerras. Soldados seguiam ordens e morriam em combate. Brooke Evern não podia ser uma líder, muito menos ordenar mortes.  

Então, ela não entendia o motivo de ser ela a pessoa quem cumpriria a profecia daquele livro. Não entendia o porquê, dentre sete bilhões de humanos na Terra, ela havia sido a escolhida para descender de Conde Drácula e ser puxada para aquele estranho mundo sobrenatural de mortes e ganhos. Não era justo.  

Um suspiro lhe escapou e Brooke terminou de folhear o livro. Não havia nada de novo, o que a deixou frustrada. Ela alongou o pescoço, o ouvindo estalar, e fechou o livro, o deixando de lado. Em seguida, caiu com as costas contra o tapete felpudo, encarando o teto do chalé, tentando esvaziar a mente. Ela desistiu um minuto depois e fechou os olhos, começando a cantarolar uma canção de ninar que sua mãe cantava para ela quando criança.  

 

O dia já vem amanhecendo 

Oh, pequenina 

A alegria já vai se esmaecendo... 

O sol vem se levantando por trás da colina 

levando embora as pistas..

Uma para a minha menina 

Os corvos levantam voo. 

Não deixe que eles saibam... Não deixe que eles saibam... 

Uma para a minha menina 

O inimigo ao lado, vestido de amigo 

Sempre do lado oposto da história 

Amaldiçoado a viver nas sombras como o Senhor delas 

Que carrega a arma de vida 

Uma para a minha menina 

Duas para o inimigo 

Vestido de amigo... 

 

Brooke ofegou, reabrindo os olhos. O teto do chalé entrou em foco, assim como todos os pensamentos dentro de sua cabeça. Como não percebera antes? A pista mais importante estava o tempo todo na letra da música que ouvia desde criança. O inimigo que estava ao seu lado, sempre do lado oposto, carregando a arma, ou melhor dizendo, a espada da profecia. Todas as pistas apontavam para alguém que a conhecia, desde sempre, como ele. Então, por uma fração de segundos, tudo ficou suspenso ao seu redor enquanto as peças do quebra-cabeça iam se encaixando e o enigma ia se desenrolando diante de seus olhos.  

Por um momento, ela pensou que fosse desmaiar, mas já estava caída no chão. Então não se preocupou em externar a descoberta, sentindo todo o sangue em seu corpo sumir: 

— Kian é o Senhor das Sombras. 

 

*** 

 

Brooke permaneceu petrificada, sentindo-se oca e atônita. Para ela, a descoberta não fazia sentido, mas, de repente, um leque se abriu e os fatos determinantes sobre aquilo, foram jogados em sua frente.  

Kian Archetti surgira do nada, alegando profecias, como se fosse o salvador. As intenções dele nunca foram totalmente claras, além de nunca ter passado a confiança necessária. Ele sabia sobre tudo e todos, e desde que chegara, as coisas haviam se complicado, mais ciladas caídas e mortes se arrastando pela cidade. E era poderoso, isso era inegável. Porém... Ele os ajudara, todas as vezes. E foram todas essas vezes que o descartaram como suspeito após um longo período, o transformando como aliado aos olhos dos Cullen e Volturi. 

E até mesmo para Brooke, em algum momento de sandice.  

Mas, agora, tudo estava em foco. Todas as frases pontuadas dele, sugestivas, sinais disfarçados e áurea misteriosa. Tudo aquilo formava o conjunto do vilão perfeito, do lobo em pele de cordeiro. E Kian Archetti era tudo isso, porque ele era o Senhor das Sombras.  

O inimigo ao lado, vestido de amigo 

Sempre do lado oposto da história 

Amaldiçoado a viver nas sombras como o Senhor delas 

Que carrega a arma de vida 
 

Era ele, não era? 

A porta de entrada do chalé bateu, fazendo o coração da morena quase saltar pela garganta enquanto ela se colocava de pé num pulo e se virava, esperando encontrar o feiticeiro pronto para matá-la por ter descoberto seu segredinho sujo. Entretanto, não foi o rosto sombrio de Kian que encontrou, e sim, o sorridente de Renesmee, sendo acompanhada por Alice. As duas adentraram o chalé, caixas e sacolas nas mãos, e deixaram os sorrisos morrerem assim que fitaram a Evern imóvel no centro da sala, os olhos arregalados e marejados.  

 

— Ei, Broo. Você está bem? - Questionou a híbrida, largando a caixa no sofá e se aproximando com a testa vincada em preocupação. 

 

Brooke respirou aliviada, sentindo o nó na garganta desatar aos poucos. Lívida, só percebeu que suas mãos tremiam quando Renesmee tentou toma-las entre as delas.  

 

— Vocês me assustaram - murmurou, forçando um sorriso amarelo e empurrando discretamente com o pé o livro dos sonhos para debaixo do sofá. - Mas eu estou bem. 
 

 

Renesmee manteve a preocupação, mas a aproximação saltitante de Alice a impediu de insistir no assunto.  
 

— Não foi nossa intenção assustar a aniversariante do dia — Cantarolou a vampira, abrindo os braços e puxando a Evern para um abraço terno e breve. Em seguida, balançou as sacolas animadamente: — Feliz aniversário de dezoito!  
 

— Vocês lembraram — dissimulou Brooke, diante do olhar afiado da vidente, resistindo ao impulso de implorar para cancelarem a festa surpresa, porém, isso a entregaria. Ela apontou para as sacolas: — É para mim?  
 

Alice balançou a cabeça, batendo palminhas. 
 

— Com certeza, querida. Mas não é o seu presente oficial, apenas algumas coisas para você se preparar para a... noite — A Cullen deu de ombros e apontou o indicador para a caixa decorada com uma fita pousada no sofá, piscando os olhos dourados. — Você amará o vestido, vai por mim. 
 
 

Forçando um sorriso, a Evern olhou desesperada para a ruiva parada ao seu lado, um pedido de socorro silencioso no olhar. 

 

— É uma guerra perdida, acredite — murmurou Renesmee, penalizada.  
 
 

Então, Brooke soube que não tinha jeito de ir contra Alice. Daquele modo, não demorou muito e logo já estava sendo arrastada para o quarto da ruiva, tentando não transparecer a aflição das dúvidas que sentia em relação à Kian e ao que tinha descoberto. Por hora, guardaria aquilo para si e esperaria até estar cara-a-cara com o feiticeiro. 

O confrontaria àquela noite. E se fosse verdade sobre ele ser o Senhor das Sombras, então todos teriam dois motivos para celebrar: seu aniversário e a morte de seu inimigo. 

Porque ela o mataria. 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Olá, amores!

Antes de tudo, eu espero que todos estejam bem. Da última vez em que estive escrevendo uma nota final, eu sequer poderia imaginar como o mundo estaria atualmente, por isso realmente desejo que todos estejam sendo cuidadosos e mantendo a quarentena.

Hoje, em especial, não vim apenas para falar sobre o capítulo ou me desculpar pelo atraso, não. Vim fazer as duas coisas e completar com um desabafo extremamente sincero. Como todos sabem, eu atraso muito nas postagens, ás vezes meses passam e não consigo atualizar a fanfiction ou dar sinais de vida, é um fato. Mas, não é apenas com os capítulos que isso acontece. Ultimamente as coisas tem sido muito difíceis, assim como a vida, tanto para mim quanto para todos. Há mais de quatro anos eu escrevo, e eu realmente amo isso, mas no momento, não consigo mais fazer da mesma forma que antes.E eu tento, tanto, e na maioria das vezes não consigo ficar satisfeita. Mas eu continuo tentando, e continuo falhando, mas tudo bem.

Acho que não estou na minha melhor fase agora e depois que a quarentena começou, as coisas só pioraram. Sei que há muitas outras pessoas sentindo o mesmo ou pior, e é por isso que resolvi dar um tempo. Talvez eu demore mais do que seis meses para aparecer, talvez seis dias, ou talvez nunca mais. A única coisa que sei, de verdade, é que preciso fazer isso, então, sinto muito. Espero que compreendam e que estejam aqui quando eu voltar, mas se não estiverem, eu vou entender.

Sobre o capítulo: Eu esperei muito pelos acontecimentos dele. Finalmente, o vilão da história foi revelado. Ou será que não? Eu vi comentários apostando em Kian desde do primeiro momento em que ele apareceu e agora temos a constatação. A relação dele com Brooke também é uma das coisas que mais gostei de criar, tanto como a de Broolec *_*

E para quem gosta de curiosidades, aqui vai uma: A data do aniversário de Brooke é um dia antes do meu e da minha irmã gêmea. (oi, J. K. Rowling).

Acho que é isso. Esperem pela segunda parte, ou não.

Amo vocês.



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