Outside Plans escrita por Sany


Capítulo 8
Bônus I: Peeta.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite...
Até que não demorei tanto a voltar dessa vez.
Sei que o capitulo passado foi triste e sei que muitos querem a minha cabeça, mas infelizmente era algo planejado a acontecer desde o começo.
Esse bônus é para vocês conhecerem um pouco mais do Peeta e da família dele, porque considero isso importante para o futuro do enredo.



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John Lennon disse: “A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos”. Mesmo nascendo na Itália meu pai era um admirador do trabalho do britânico, segundo ele não havia no mundo melhor banda que os Beatles. Não tenho muitas lembranças dele, ainda assim as que tenho tento não esquecer e essa frase é uma delas.

Meu pai nasceu em Ravena na região de Emília-Romanha. Ele adorava aquele lugar, adorava a Itália e sentia orgulho de sua terra natal, mas segundo ele o coração as vezes vai além do que acreditamos e passou a amar mais uma bela americana. Minha mãe estava no meio do curso de Artes em Florença quando se conheceram. Ela tinha ido passar o final de semana na pequena cidade - algo sobre conhecer os mosaicos e igrejas históricas – ele de forma muito gentil se ofereceu para mostrar os pontos turísticos a ela e as amigas. Minha mãe dizia que ele de forma muito simpática não poupou esforços para agradá-la e no fim do dia trocar os telefones foi inevitável. Então meu pai passou a visitar Florença com mais frequência e minha mãe passou a achar as viagens de trem mais encantadoras. Isso quando eles não se encontravam em Bolonha que era quase a metade do caminho para ambos. Claro que, não demorou para que os encontros casuais para falar sobre arte, - que aliás meu pai nem entendia - virasse namoro e quando o curso da minha mãe acabou ele não pensou duas vezes em tentar a vida em terras americanas. 

Meus avós tinham uma cantina que vinha de gerações, dessa forma meu avô não aprovou muito toda a historia de mudança de país já que o sonho dele era que ambos os filhos seguissem com os negócios da família, mas papai sonhava mesmo era em abrir uma padaria e trouxe esse sonho com ele enquanto minha mãe sonhava em ser reconhecida pela sua arte.  Claro que, sonhos não são fáceis já que imprevistos acontecem o tempo todo. De qualquer forma assim que chegou aqui ele conseguiu um emprego em uma padaria em Oshkosh o que era um ótimo começo, já que estava fazendo o que gostava e futuramente tentaria seu próprio negócio.

Bem, não foi exatamente isso que aconteceu, o tempo acabou trazendo novas prioridades e após o nascimento do Luca, ele achou que com dois filhos o melhor era pensar em sair do aluguel e comprar uma casa. Foi então que usou tudo que tinha e veio para Twelve Valley, onde nasci. Aqueles que o conheceram dizem que ele era uma pessoa incrível, sempre com um sorriso no rosto sem nunca deixar sua origem para trás, fazendo sempre uma mistura dos dois idiomas. Era conhecido no bairro onde morávamos como o italiano. Perla costuma dizer que aqueles foram os melhores anos da infância dela. Quando tinha cinco anos meu avô faleceu e em consequência disso minha avó ficou muito fragilizada e pediu para que meu pai voltasse. Ele era muito apegado a ela então nos mudamos para Ravena, para que papai ajudasse na cantina da família e para minha mãe tentar a sua arte por lá.

Morar na Itália foi uma boa experiência, tenho vagas lembranças da pequena cidade cheia de turistas e sem sombra de dúvida o tempo que passamos lá melhorou muito o meu italiano e o dos meus irmãos. Tirando o fato de que meu pai deixou o sonho da padaria de lado as coisas iam muito bem naquela época, mas não duraram mais do que alguns meses e pouco antes do meu aniversário de sete anos meu pai morreu. Um motorista embriagado entrou com o carro dentro do estabelecimento da família, ele estava próximo as janelas e foi atingido em cheio. E, embora ele tenha chegado consciente no hospital um estilhaço de vidro entrou em seu peito deixando o caso complicado. Ironicamente algumas coisas parecem permanecer em nossa mente e o dia em que o vi pela última vez é algo que não consigo esquecer, assim como suas palavras naquele quarto de hospital minutos antes de ir para a cirurgia.

— Quero que me prometam que niente nesse mondo vai separar vocês. – Perla, Luca e eu estávamos lado a lado na ponta da cama do hospital e confirmamos com a cabeça, a alguns passos atrás de nós minha mãe estava chorando.

— Papà o senhor vai ficar bem, não vai? O senhor, precisa ficar bem.

— Tutto andrà bene. La vita non è facile, mas vocês precisam lutar sempre. Até mesmo quando pensarem que não conseguem mais, entenderam? E, lembrem-se “Nessun limone è così aspro che non si può fare qualcosa di simile limonata”. Então peguem o pior limone que la vita lhe der e ainda sim tentem fazer o melhor possível com ele.  - ele desviou seu olhar de nós por um instante e se virou para minha mãe. - Amore della mia vita non piangere, suo sorriso è bello e ilumina  la mia giornata. Ti amo.¹ - ela sorriu para ele que retribuiu com um sorriso fraco quando mamãe murmurou que o amava também.

O levaram para cirurgia naquele momento e ele não voltou com vida. E, foi a partir desse momento que nossa vida começou a mudar radicalmente. Minha mãe e minha avó pareciam não se entender em nada, então voltamos para Twelve Valley em meio a um conflito gingante já que vovó queria que meus irmãos e eu ficássemos e fôssemos criados onde meu pai cresceu. Por outro lado, minha mãe garantia que aquele lugar não tinha sentido sem meu pai e que o melhor éramos voltar de onde segundo ela não devíamos ter saído. Os meses que seguiram a nossa volta foram terríveis, não tínhamos mais nada aqui e com três filhos para criar sozinha ela passou a trabalhar em dois empregos para conseguir pagar as despesas e o aluguel na periferia da cidade. Dessa forma a arte ficou para trás.

Obviamente ela fez o melhor que pôde, até que o conheceu. Brutus era nosso vizinho e aparentemente um bom homem e como meu pai tinha morrido há mais de um ano não fomos contra mamãe seguir em frente, então da pior forma possível aprendi que algumas vezes as aparências enganam e meu padrasto não passava de um cretino, que bebia demais e conhecia as piores pessoas do bairro. Não sei se por medo do que ele poderia fazer ou por qualquer que seja o motivo mamãe passou quase dois anos ao lado dele tentando nos manter longe de tudo aquilo.  Tinha dez anos quando ela levou um tiro durante o que Brutus relatou a polícia ser um assalto, mas que obviamente não era já que na época ele estava com problemas com algumas pessoas.

Nessa época Perla tentou entrar em contato com nossa família na Itália, mas segundo meu tio ele não poderia cuidar dos três, então sugeriu que dois fossem morar com ele e minha vó, enquanto o outro ficaria com uma prima em Marsala. Eram mais de 18 horas de viagem de uma cidade à outra, então acabamos ficando com nosso padrasto para nos mantermos juntos.  Com 17 anos, Perla assumiu a responsabilidade de cuidar dos dois irmãos. Ela passou a trabalhar em período integral, já que mesmo morando na casa dele, Brutus não faria nada por nós. Perla deixou de ir para universidade para não nos deixar e literalmente assumiu nossa criação. E, por mais que cuidássemos um dos outros ela ficou com a maior carga de responsabilidade, e quando Luca conseguiu a bolsa de estudos em Madison, Perla e eu deixamos aquela casa e fomos morar sozinhos em um minúsculo apartamento nas redondezas. A vida nos deu um número considerável de limões azedos como diria meu pai, ainda assim tentamos sempre seguir em frente. Sempre buscando o melhor daquela situação.

 Das lembranças que tenho do meu pai as mais nítidas fora o dia em que ele se foi. Eram os pequenos momentos que passávamos juntos fazendo pão, ou melhor ele fazendo e eu atrapalhando. Então quando fiz 16 anos comecei a trabalhar na padaria do bairro, era um emprego “noturno” por assim dizer já que tinha que estar lá antes mesmo do dia amanhecer, mas que não atrapalhava meus estudos já que ia direto para o colégio.  Essa experiência só fez com que tivesse certeza do que queria para minha vida e por mais que fosse bom no basquete, por mais que pudesse ter aproveitado a chance de ir para universidade com uma bolsa de estudos, estava determinado a seguir o sonho do meu pai, mesmo que demorasse anos iria abrir minha própria padaria.

O que não imaginava era que no meu último ano no colégio minha avó deixaria em seu testamento parte do que era dela para nós. Obviamente minha parte foi usada assim como o empréstimo que consegui no banco para iniciar minha micro padaria. Muitos diziam que era loucura, não foi nada muito elaborado. Eu simplesmente peguei o que tinha e me atolei em dívidas e arrisquei. Não foi nada fácil, na época trabalhei em dobro e só tenho a agradecer a Perla que me ajudou demais e a Prim. Minha melhor amiga, mesmo grávida trabalhou comigo sempre dando apoio e ajudando como podia.

Foram preciso quase oito anos para quitar minha dívida com o banco, recuperar o investimento e ter lucro suficiente para enfim poder deixar tudo do jeito que queria. A Fratelli não era nenhuma grande padaria, ainda assim tinha orgulho em dizer que éramos uma das mais procuradas na região.

Tudo estava indo muito bem nos negócios e minha vida pessoal embora fosse ligeiramente bagunçada estava nas palavras do meu irmão aceitável. Mesmo trabalhando durante o ensino médio nunca deixei de aproveitar essa fase da minha vida. Confesso que fui muito namorador e festeiro - perdi a conta de quantas vezes virei a noite por ter que ir trabalhar depois de uma festa – então admito que durante esse período não cheguei a ter qualquer relacionamento sério e as únicas meninas constantes na minha vida eram Prim e Annie. Uma por ser minha melhor amiga desde que voltei a morar na cidade e a outra por ser namorada do meu melhor amigo. Por mais que andássemos juntos ou com outros alunos, nós quatro éramos inseparáveis. Logo depois da formatura estava preocupado demais com a padaria e com a gravidez da Prim para pensar em namoro, detesto admitir mais estava sozinho há um longo tempo quando Katniss e eu dormimos juntos.

Katniss Everdeen, a garota menos sociável do colégio e também irmã da minha melhor amiga. Conhecia a morena desde que voltei da Itália sempre estudiosa e fechada, não entendo o porquê aparentava não ir com a minha cara. Quando conheci Prim fiquei surpreso ao saber que as duas eram irmãs já que eram diferentes em tudo, ainda assim enquanto minha amizade com a mais nova crescia Katniss parecia gostar menos ainda de mim. Até que passei a não me importar com isso. Sempre admiti que ela tinha uma beleza singular, mas nunca tentei nada com ela, verdade seja dita nem mesmo uma amizade, ainda assim naquela noite algo incontrolável aconteceu conosco. Não acredito muito nessa história de química entre duas pessoas, contudo assim que nos beijamos foi como perder o controle e eu nunca tinha desejado tanto alguém quanto naquele momento.

Acordar sozinho depois de uma noite como a que tivemos não é o que esperava e saber que ela havia pegado o primeiro voo naquele dia não ajudou em nada. Porém, saber que me detestava tanto a ponto de considerar aquele momento como o maior erro da vida dela, me fez me sentir mal. E, a partir daquele dia as coisas entre nós conseguiram ficar ainda mais estranhas do que antes. Prim sempre considerou nossas brigas como algo do tipo amor reprimido e eu costumava rir dessa suposição. Minha amiga sempre via o melhor das pessoas e obviamente considerava a irmã como a melhor pessoa do mundo – e não duvido que seja, pelo menos para ela e meus sobrinhos –, mas pensar em duas pessoas tão diferentes como nós, juntos era surreal demais. Depois dela vieram outras pessoas, mas apenas Lizzie conseguiu fazer com que sentisse que valia a pena ter algo mais sério, mas claro que o destino parecia estar zombando de mim já que ela precisou ir embora.

— Você está bem? – a morena perguntou me tirando dos meus pensamentos. – Parece aéreo.

— Estou, só um pouco cansado acho. – observei-a e por um momento. Rachel era linda e amava aventuras. Escalar montanhas, saltar de paraquedas eram parte do seu cotidiano e o que quer que tivéssemos ia além do sexo casual. De certa forma éramos amigos e sinceros um com o outro. – Você se importa se eu for para casa hoje? – ela deslizou o corpo um pouco para frente e virou ficando de frente para mim sem se importar com a água que derramou no piso.

— Sabe que eu adoraria que passasse a noite, mas você parece estar em outro lugar hoje então não, eu não me importo.

— Acho que estou um pouco nostálgico. – comentei saindo da banheira e pegando uma das toalhas. Estava com uma sensação estranha no peito embora não soubesse o que era.

— Você podia viajar comigo no próximo mês. – estava terminando de calçar o sapato quanto a vi recostada na porta do banheiro. – E, antes que ache uma desculpa, seria apenas alguns dias. Você merece férias e acho que um pouco de aventura lhe faria bem. – sorri e coloquei a camiseta antes de me aproximar dela e a abraçar.

— Vamos ver, prometo pensar.

— Você disse isso das outras vezes. Vamos lá, a padaria pode sobreviver sem você um pouco. Sei que vai gostar, você adora acampar com sua família. – talvez um tempo de folga fosse uma boa ideia, ainda assim não era algo que poderia responder de imediato.

— Durante a semana eu dou uma resposta definitiva. – prometi beijando seus lábios com carinho. Ela me acompanhou até a porta e segui direto para casa.

Assim que entrei a primeira coisa que vi foi a luz da secretária eletrônica piscando indicando que havia um recado.

— Ei fratellino vai fazer o que nesse fim de semana?  Se estiver livre o que acha de me ajudar a terminar com a pintura da cerca de casa? Prim está cobrando há um tempo e você sabe como sou péssimo com isso. Ah, e só para lembrar, você prometeu a ela que iria me ajudar.— ri ao lembrar que Luca estava enrolando há semanas para pintar a cerca dos fundos da casa. Então minha amiga tinha me escalado para ajuda-lo.  — Prim e eu vamos naquele jantar da empresa em Oshkosh, as crianças vão dormir na Perla essa noite. Então me ligue ou vem em casa amanhã.

Olhei o horário e resolvi que ligaria para ele no dia seguinte. Pegar no sono não foi fácil, aquela sensação estranha não ia embora e acabei rolando de um lado para o outro por horas. Estava quase pegando no sono quando o telefone tocou.  E, naquele momento soube que não era boa coisa. Assim que desliguei o telefone fui o mais rápido possível para o hospital onde quase não se tinha notícias. E, foi apenas alguns minutos após a chegada da minha irmã que nos informaram que Luca não tinha resistido.

Meu mundo girou naquele momento, saber que não o veria mais parecia surreal demais, sem sentido nenhum. O estado clínico da Prim não era um dos melhores e eles haviam a levado para cirurgia, então fico ali na sala de espera sem rumo abraçado a Perla sem saber direito o que fazer até que Marvel chegou e a levou para casa. Pouco mais de duas horas depois soube que minha melhor amiga não aguentou a cirurgia e naquele momento senti como se me tirassem o chão. Não fazia o menor sentido, eu os tinha visto no dia anterior. Luca havia me ligado há algumas horas e agora não haveria mais cerca a pintar naquele sábado. Eu não os veria sorrir um para o outro com carinho. Não iria ouvir suas discussões bobas ou implicar com eles. Não teria mais jogos para ver com meu irmão ou os momentos deitado no gramado olhando o céu com minha melhor amiga.   

Abaixei a cabeça por um momento tentando assimilar alguma coisa, pedindo aos céus que aquilo fosse um engano. Ouvi passos apresados no piso, mas não liguei.

— O que aconteceu? – reconheci a voz e levantei a cabeça olhando Katniss por um instante sem saber como dizer, o que tinha que dizer. – Não!

— Eu sinto muito Katniss.

 

 

 

 

¹- Tudo vai ficar bem. A vida não é fácil, mas vocês precisam lutar sempre. Até mesmo quando pensarem que não conseguem mais entenderam? E lembrem-se “Não há limão tão azedo que não se possa fazer algo parecido com uma limonada” Então peguem o pior limão que a vida lhe der e ainda sim tentem fazer o melhor possível com ele. — ele desviou seu olhar de nos por um instante e se virou para minha mãe. – Amor da minha vida não chora, seu sorriso é lindo e ilumina  meu dia. Amo você.


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Notas finais do capítulo

É isso, apesar de triste espero que vocês tenham gostado.
A frase dita pelo pai do Peeta sobre os limões é de uma serie muito legal que a Gabi me indicou e acabei gostando muito e se chama This is Us.
Uma ótima semana a todos.
Beijos