Willow Tree March - HIATUS escrita por Wanderlust


Capítulo 3
Standing around this fireplace we could sing our souls all free.


Notas iniciais do capítulo

Música: https://www.youtube.com/watch?v=e_bNPh5awsU



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I love you even though you're stray
She said, I guide the darkest of nights
And I'll take away your various lives

 

Desde a primeira vez que o professor Cornelius contou a primeira história sobre Nárnia, a pequena Catharina imaginou e sonhou com aquelas criaturas incríveis. Anões, centauros, minotauros, animais falantes entre outras inúmeras maravilhas. Cresceu querendo conhecer mais sobre os narnianos, sobre o povo que os antigos reis de Telmar expulsaram de suas próprias terras e que se tornaram apenas histórias de dormir. Entretanto ali estava ela, parada no meio de uma clareira com seu melhor amigo e futuro rei de Telmar, esperando ouvir qual seria o seu destino. O destino que os narnianos escolheram para ela.

Caspian a mantinha atrás de seu corpo numa posição protetora enquanto vários narnianos gritavam e berravam ao redor dos dois. Catharina reprimiu a vontade de sair correndo e sustentou a postura decidida; o queixo erguido, suas mãos pousavam juntas em frente ao corpo numa posição tranquila.

Um anão se aproximou, bravo.

— Tudo que está trompa prova é que eles roubaram outra coisa nossa! – deu alguns passos em direção aos telmarinos. Catherine se remexeu atrás de Caspian.

— Não roubamos nada. – contestou o príncipe. A mão de Nina apertou o braço de Caspian automaticamente quando um centauro deu alguns passos em direção aos dois.

— Não roubaram nada? Deveríamos listar tudo que os telmarinos pegaram? – sua voz era grave e pareceu tremer os ossos da garota.

— Nossa casa!

— Nossa liberdade!

— Nossas vidas!

— Vocês roubaram Nárnia!

— E acham que somos culpados pelos crimes de nossos povos? – foi a primeira vez que Nina se pronunciara. A menina deixou a proteção de Caspian e se postou ao seu lado, o coração pulando em seu peito. O anão se aproximou ainda mais deles.

— Culpados... E puníveis.

— Há! – ambos os humanos se viraram, assistindo um rato se aproximar do centro do círculo, desembainhando uma espada. O machucado no ombro de Catharina latejou. – Isso é irônico vindo de você, anão. Ou se esqueceu que seu povo lutou ao lado da Feiticeira Branca? – apontou a pequena espada para o anão.

— E faria de novo com prazer se nos livrassem desses bárbaros. – virou-se para Caspian e Catharina.

— Então temos sorte de você não poder trazê-la de volta. – uma voz levemente mais calma soou atrás dos telmarinos. Nina virou-se e se deparou com um texugo caminhando em direção a Caspian. – Ou sugere que peçamos ao dois para ficarem contra Aslan agora? - a espinha de Catharina se arrepiou com o nome do leão. Uma horda de protestos viera dos narnianos. – Vocês podem ter esquecidos, mas nós texugos lembramos bem, que Nárnia nunca ficou bem, exceto quando um Filho de Adão e uma Filha de Eva reinaram.

— Eles são telmarinos! – protestou o anão. – Por que iríamos querê-los como nossos reis?

E, mais uma vez, os narnianos gritaram em concordância.

— Porque eu posso ajudar vocês. – as palavras de Caspian foram rápidas, porém calmas. Outra comoção se iniciou.

— É uma armadilha! – um fauno gritou. Catharina franziu as sobrancelhas.

— Ao menos o escutem. – alguém gritou e Caspian, tirando proveito, voltou a falar.

— Além dessas florestas, eu sou um príncipe. – começou. Compreendendo o momento, Catharina se afastou alguns passos do amigo, orgulhosa. – O trono telmarino é meu por direito! Ajudem-me a recuperá-lo e posso trazer a paz entre nós. – girou em torno de si mesmo, tentando olhar no rosto de cada narniano presente.

— É verdade. É o momento certo. – um centauro parou ao lado de Nina. A garota arregalou os olhos e se encolheu. - Eu vigio o céu, pois a mim compete vigiar, como compete a você lembrar, texugo. – caminhou até parar em frente a Caspian, o ratinho e o anão. – Tarva, o senhor da vitória, e Alambil, a senhora da paz se uniram nos salões do firmamento. E agora, aqui, um Filho de Adão e uma Filha de Eva se apresentaram. – lançou um breve olhar a Nina que ergueu as sobrancelhas, surpresa. – Para devolver nossa liberdade.

"Wow, okay! Grande responsabilidade”, pensou a garota ao olhar para os pés.

— Será possível? Acha mesmo que poderia haver paz? – uma vozinha engraçada e levemente adorável veio de uma arvore em frente a Catharina. “Um esquilinho! Que fofo!”. – Acha mesmo? De verdade?

— Há dois dias eu não acreditava na existência de animais falantes, ou anões ou centauros. No entanto aqui estão vocês em força e número que nós telmarinos jamais poderíamos imaginar. – Catharina não percebeu, mas um sorriso orgulhoso começava a se formar em seus lábios. – Seja está trompa mágica ou não, ela nos reuniu. – ergueu o objeto nas mãos. – E juntos temos a chance de reaver o que é nosso. – terminou virando-se para o centauro.

— Se nos guiar, então meus filhos e eu... – deu uma pausa dramática, desembainhando sua espada. Outros narnianos repetiram o mesmo movimento sendo com espadas ou apenas levantando os braços. – Lhe oferecemos nossas espadas.

— E nós lhe oferecemos nossas vidas, incondicionalmente. – o ratinho fez uma breve mesura encarando Nina.

— O exército de Miraz não deve estar muito longe, Alteza. – o texugo comentou com Nina, fazendo a garota arregalar os olhos e sentir o pescoço esquentar. Caspian sorriu.

— Ah, eu não sou da realeza. – deu uma risadinha envergonhada. – Mas, de qualquer modo, vamos nos preparar. Temos que correr para reunir soldados e armas. Tenho certeza que logo estarão aqui.

>>>>>>

Algumas horas tinham se passado desde a reunião. Caspian dormia em uma cama de folhas improvisada parecida com a qual Catharina acordou. Ripchip, o ratinho, se organizou com outros de sua espécie para conseguirem armas no acampamento telmarino mais próximo. Iriam partir cedo para o Monde de Aslan. Nina estava deitada apoiada nos braços e contemplava o céu com atenção, curiosa. Tinha aprendido o básico sobre astronomia em suas aulas, mas nunca aprendido a ler as estrelas.

— Lindo, não? – assustou-se com a voz inesperada, seu braço deslizando para frente e seu corpo caindo para trás. Ergueu os olhos e encontrou o centauro que falara mais cedo sobre as estrelas. – Não quis lhe assustar, minha senhora.

— Oh, não. – se ajeitou novamente na relva. – Está tudo bem... E me chame de Catharina ou Nina, o que o senhor achar melhor. – sorriu. O centauro sorriu antes de levantar os olhos para o céu.

— Você disse que não é da realeza, mas está errada. – disse. Sua voz era calma e tinha certo tom de sabedoria. Nina juntou as sobrancelhas, confusa. – Em Nárnia, você não precisa ser nobre de sangue para ser uma rainha.

— Ah, não. – riu levemente, o centauro lhe encarou. – Eu não sou uma rainha. – Catharina assistiu um sorriso misterioso nascer nos lábios grossos da criatura. – O que foi?

— Eu não disse meu nome a senhorita.

— Verdade.

— Sou Gleenstorm, a seu dispor, minha senhora. – se reverenciou. Nina abriu um sorriso grande ao se levantar, curvando os joelhos enquanto puxava o vestido para cima em uma mesura.

— Um prazer lhe conhecer, senhor.

>>>>>>

A luz dourada do sol banhava toda a floresta, infiltrando-se pelas folhas e árvores. Catharina se viu sozinha, entretanto não sentiu medo. O ar estava leve e parecia brilhar ao seu redor em pequenas partículas de poeira. A garota levantou-se da grama fofa e percebeu que suas costas e ombro não doíam mais. Vestia um vestido diferente, creme, bordado por toda a sua extensão, um colar de duas correntes finas e prateada lhe abraçavam o pescoço suavemente. Ao longe, Nina viu a silhueta de uma mulher lhe observando. Ela era alta e seus cabelos levemente cacheados lhe batiam no meio das costas. Curiosa, a garota seguiu em direção a silhueta para se surpreender com o rosto vagamente familiar da mulher.

Seus cabelos castanhos eram sedosos e pareciam lhe emoldurar o rosto fino. Os lábios cheios e rosados se abriram num sorriso carinhoso e Catharina sentiu todo seu corpo esquentar num abraço invisível. Seu coração pulou uma batida e os olhos marejaram, seu corpo reconhecendo a mulher parada em sua frente.

— Mãe. – não foi uma pergunta. O sorriso da mulher se abriu ainda mais antes dela estender a mão para Catharina, a qual aceitou sem pensar duas vezes. O calor da mão de Amilyna era suave, como uma manta quente num dia frio.

A mais velha guiou Catharina em meio as árvores. O contraste do dourado com o verde era magnifico e Catharina desejou que tudo aquilo fosse real. A paisagem maravilhosa, a companhia da mãe que nunca tinha chegado a conhecer, o sentimento de sentir-se completa. Depois de alguns minutos caminhando em meio a relva baixa e troncos de arvores brilhantes, a garota conseguiu ouvir o som de água corrente e Amilyna lhe apertou a mão suavemente. Ela não falava, mas sua presença era forte e poderosa. Depois de mais alguns metros à frente, as duas saiam da margem da floresta e encontraram um bonito e cristalino rio a frente. A luz dourada do sol refletida na água deixava a vista ainda mais mágica. Pela visão periférica, Catharina conseguiu captar a imagem familiar de um homem se aproximando, a luz dourada abraçando seu corpo. Um ofego saiu de seus lábios ao que o homem parou a poucos centímetros de distância.

As poucas e borradas memorias que tinha do homem lhe tiraram as dúvidas. Os olhos verdes expressivos, os cabelos castanhos batendo no queixo e o sorriso caloroso. Sentiu como se seu coração fosse explodir de tanta felicidade.

Amilyna soltou sua mão e postou-se ao lado do homem. Catharina sorriu para os dois segundos antes de estar no abraço de ambos. Era um sentimento bom e indescritível estar nos braços de seus pais pela primeira vez. O braço comprido e forte de Hector abraçou o corpo de Catharina com força, lhe trazendo um sentimento de saudades. O toque de seu pai lhe foi tirado tão cedo.

Os três caminharam até ficarem a poucos metros da margue do rio e se sentaram ali. Ficaram ali por algum tempo sem dizerem nada, apenas apreciando a presença um do outro. Catharina tinha a cabeça deitada no colo de sua mãe enquanto a mulher lhe trançava algumas mechas de cabelo, enfeitando-as com pequenas florzinhas brancas. Ao lado das duas, Hector observava as duas mulheres de sua vida com um sorriso caracteristicamente caloroso. Parecia que horas tinham se passado, mas o dourado do sol não tinha se transformado em rosa ou roxa, continuava ali, dourado, mágico.

Catharina não soube dizer se tinha passado horas ou minutos, até que seu pai se levantou e dirigiu-se até a margem do rio. Amilyna parou de acariciar os cabelos da filha e fez menção de se levantar, fazendo Catharina sair de seu colo. Já em pé, Amilyna estendeu a mão para a mais nova e a trouxe até onde Hector estava agachado, uma coroa de flores vermelhas nas mãos grandes.

Catharina não soube porque, mas se ajoelhou no chão para que seu pai lhe coloca-se a coroa de flores entre os cabelos, levantando-se em seguida com sua ajuda. A garota virou-se para a mãe e a mulher sorriu, emocionada, antes de virar-se para o rio e encarar seu reflexo na água corrente e cristalina. Catharina franziu as sobrancelhas ao ver seu pai fazer o mesmo; com passos hesitantes a garota aproximou-se da margem do rio e olhou seu reflexo na água, se assustando com a imagem.

Era uma Catharina com o semblante mais maduro, os olhos castanhos com um brilho decido e confiante. Estava com os cabelos anormalmente lisos, sem nenhuma trança, escorridos pelos ombros e colo nus. Uma coroa dourada e brilhante, de aparência pesada, repousava em sua cabeça como se fosse uma extensão de seu corpo, como ela tivesse nascida para usar tal acessório. O vestido creme, simples, desaparecerá e em seu lugar um lindo e volumoso vestido dourado e vermelho se encontrava em seu corpo. Estava magnifica. Foi quando percebeu o reflexo dos pais ao seu lado. Amilyna tinha os cabelos presos num coque simples e várias flores de cores diferente lhe enfeitavam os cachos, um vestido verde, brilhante, lhe contornava o corpo; Hector estava ao seu lado e usava seu antigo uniforme de general, os cabelos compridos penteados para trás e os olhos verdes sendo realçados pelo vestido da esposa. Aos poucos a imagem dos dois foram desaparecendo a medida que a correnteza aumentava, deixando apenas a imagem trêmula de Catharina.

Um rugido alto sacudiu seus ossos e a garota se virou para a floresta atrás de si, entretanto a luz dourada lhe cegou os olhos, a obrigando a fecha-los. Quando os abriu novamente, encontrou-se em uma nova floresta, porém não havia luz dourada ou uma brisa fresca. Estava escuro, amanhecendo, e ela sentia seu corpo frio. Virou o rosto para o lado oposto e encontrou o corpo adormecido de Caspian a seu lado.


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