Sem-Coração escrita por Ju Do
Notas iniciais do capítulo
Boa leitura! =D
Capítulo 7: O Duque
— Fusos de rocas. - o Cavaleiro listava. - Maçãs. Casas feitas de comida. Tem mais algum objeto do qual eu deva manter distância?
— Corpetes. E pentes. E capas vermelhas. - a Rainha respondeu.
Os dois conversavam para que o tempo passasse. Cavalgavam em meio a montanhas gigantescas dos dois lados. A Rainha dissera que ali era a única passagem para que atravessassem a cordilheira sem ter que enfrentar meses de escaladas lutando contra a neve. Era uma estrada, que levava por uma abertura na cordilheira, e eles estavam quase em sua metade.
— Essas regras são incrivelmente específicas. Não consigo achar um padrão entre esses objetos.
— Simbolismo. - a Rainha disse, simplesmente. - Devido ao simbolismo que essas coisas têm no inconsciente coletivo, fica mais fácil focar encantamentos nelas. São vetores de magia.
— Simbolismo no inconsciente coletivo? - o Cavaleiro perguntou.
— É complicado. Eu mesma sei muito pouco sobre magia, apenas o suficiente para me proteger. Basta dizer que é mais fácil fazer encantamentos com esses objetos. Por isso, são tão perigosos.
E a conversa foi interrompida ali, porque, de uma curva na estrada, surgiram uma dúzia de cavaleiros, com lanças apontadas diretamente para eles.
— Parados!
O Cavaleiro fez menção de puxar a espada, mas a Rainha fez um gesto para que ele não o fizesse.
— Eu sei que você tem a espada mágica. - ela sussurrou. - Mas nem ela lhe defenderá de uma dúzia de homens de uma vez só.
Os homens os cercaram.
— O que querem? - a Rainha perguntou.
— Fomos informados pelo nosso senhor que viajantes passariam por esta estrada. Um rapaz e uma moça, ambos armados. Deveriam ser detidos e levados à sua presença. - o cavaleiro mais velho respondeu.
— E quem é o seu senhor? - a Rainha exigiu saber.
— O Duque da Cordilheira.
O rosto da Rainha mostrou reconhecimento.
— Virão conosco por bem? Ou deverá ser por mal?
O Cavaleiro olhou para a Rainha, buscando instruções.
— Iremos com vocês. - ela respondeu.
E então, eles foram escoltados pelos cavaleiros até um castelo que ficava à beira da estrada que atravessava as cordilheiras. Lá dentro, lhes foram dadas roupas novas e aposentos, nos quais os dois tomaram banho e descansaram. À noite, foram chamados para jantar com o Duque.
Os dois não haviam se comunicado a tarde inteira. Quando se reuniram, preparando-se para entrar na sala de jantar, o Cavaleiro desandou a fazer perguntas.
— Está tudo bem? Alguém fez algo com você?
A Rainha pareceu achar um pouco de graça.
— Não. Estou bem.
— Quem é esse Duque? Nunca tinha ouvido falar dele.
— Eu o conheço. Era duque já na época de meu pai. - ela estreitou os olhos. - Não gosto dele. Adorava intrigas reais e jogos de poder, e vivia tentando fazer com que o Rei aumentasse seu território. Para ainda estar no poder depois de eu ter perdido estas terras deve ter feito algum acordo com o Imperador.
— Um traidor, então?
— Talvez.
E, então, mandaram os dois entrarem.
Havia uma mesa grande o suficiente para 30 pessoas, na qual, naquele momento, só se sentava uma, o Duque, na cabeceira. Ele os aguardava com a mesa posta, dois pratos nos seus lados direito e esquerdo. A Rainha foi conduzida para um deles e o Cavaleiro para o outro, de modo que ficaram sentados de frente um para o outro, com o Duque entre os dois.
— Bem. Boa noite! - o homem os cumprimentou. - Que visita agradável! Como anda a minha Rainha? Faz tempo que não a vejo.
— Estou bem. - a Rainha respondeu, calmamente, como se não houvesse sido escoltada até ali por uma dúzia de homens armados e sim, convidada cortesmente para o jantar. - E o senhor?
— Muito bem. - ele virou-se para o Cavaleiro. - Agora, e você, quem é? Admito que estou curioso.
— Sou o Cavaleiro da Rainha. - o rapaz respondeu.
— Um cavaleiro... Que surpresa. Acho que não tínhamos um desde o trágico acidente com o Rei. Vamos esperar que você não siga os passos dos que vieram antes, não é?
O Cavaleiro se remexeu na cadeira, mas um olhar da Rainha o advertiu a não responder.
— Bem, e que tal começarmos o nosso jantar? - ele bateu palmas e a mesa foi servida. Havia comidas deliciosas, sendo, no todo, um banquete muito mais espetacular do que aquele que eles haviam comido na aldeia à beira da floresta, há algum tempo. Mas, se tivessem que escolher, prefeririam dez vezes o anterior.
O Duque comeu e conversou amenamente com a Rainha. Eles falavam bastante, mas não diziam absolutamente nada. Era o tipo de conversa entre nobres que o Cavaleiro achava absolutamente inútil, e ficou agradecido por não ter sido convidado a tomar parte dela. Apenas quando todos já haviam terminado de comer e a mesa já havia sido retirada foi que o Duque tocou no assunto principal.
— Bom. Imagino que agora possamos tratar de um assunto bem interessante. A passada de vocês pelas minhas terras. - ele falou, cruzando os dedos das mãos.
— Ficaríamos honrados se o senhor pudesse nos conceder alguns suprimentos para que continuássemos nossa viagem. - a Rainha falou. - Seria de extrema ajuda.
O Duque riu brevemente.
— Minha cara senhora. Eu ficaria encantado de ajudá-la, se não fosse um pequeno probleminha... A senhora está seguindo em direção ao homem que, atualmente é meu Imperador, que aumentou meus domínios consideravelmente, e eu presumo que a senhora não faz essa viagem com intenções das mais amigáveis.
— Ela é sua Rainha. - o Cavaleiro falou, antes que pudesse se conter. - Você lhe deve lealdade.
Um olhar da jovem o informou de que não deveria ter falado aquilo. Mas ele estava começando a ficar impaciente com aquela farsa de nobres educados.
— Ah, meu caro rapaz. Mas você parece não entender. Ela não é mais minha Rainha. Não desde que cedeu o que me cabia de território ao Imperador. Agora, eu devo lealdade a ele. E essa lealdade implica que eu deveria algemá-la e entregá-la em uma bandeja para ele.
O Cavaleiro se ergueu.
— Gostaria de vê-lo tentar.
— Pare com isso. - a Rainha sibilou, alarmada, ao mesmo tempo que a guarda do Duque se ergueu e puxou as espadas. Engolindo a raiva, o Cavaleiro se sentou.
— Ora, ora, vejo que conseguiu um ótimo cãozinho de guarda. - o Duque comentou, olhando de soslaio para o Cavaleiro. - Mas deve ensiná-lo a não latir enquanto os adultos estão conversando.
O rapaz conteve a vontade de esmurrar o Duque e contentou-se em fechar os punhos por baixo da mesa.
— Ele é o mais leal Cavaleiro que eu poderia ter. - a Rainha frisou, calmamente. O Duque ergueu os braços em derrota.
— Tudo bem. Compreendo do que está me acusando. Mas, minha cara senhora, o que sugere que eu faça? Se não entregar a senhora e seu Cavaleiro ao Imperador, ele claramente considerará isso traição. O que eu ganharia deixando-a a passar?
— Minha gratidão. - ela falou, olhando-o significativamente.
— Ah... E no que exatamente essa gratidão consistiria, em termos... Hmn... Materiais?
— Aumento de terreno. 30%.
O Duque riu.
— Quero pelo menos o dobro.
— Só posso dar 30%.
— 70% de aumento.
— Quarenta.
— Fechamos em cinquenta, então?
A Rainha pareceu considerar.
— Quarenta.
O Duque pensou, enquanto o Cavaleiro observava aquela troca de propostas, furioso.
— Bom, poderia ser... Mas, considerando os riscos que estou correndo por causa disso... Acho que deveria cobrar um favorzinho a mais.
— O que propõe?
— Tenho um... problema em meu território. Acho que a senhora, como Rainha, poderia se interessar em resolvê-lo. Afinal, seria seu dever como governante, de qualquer jeito.
— Que tipo de problema?
— Ah, uma fera por aqui... Não acho que deva ser muito problemático de se resolver. Se aceitar minha proposta, lhes direi amanhã por onde começar.
A Rainha ponderou.
— Temos um acordo, então.
— Mas que ótimo! Acho que, com isso, encerramos nossa noite. Afinal, a senhora e seu Cavaleiro precisam descansar para me ajudar com meu problema, não? - e, com aquilo, ele bateu palmas e se levantou. - Sugiro que se recolham em seus aposentos.
E, com isso, eles saíram da sala. Assim que o Duque se encontrou fora do alcance da audição, o Cavaleiro explodiu.
— Aquele... - e soltou um jorro de palavrões que fez a Rainha erguer uma das sobrancelhas para ele. - Como você consegue suportá-lo? Fazendo acordos, cobrando para fazer o que deveria ser o dever dele e, você... Negociou com ele, deveria ter deixado eu esmurrá-lo...
Ele desabafou por mais alguns momentos, enquanto a jovem o observava, até parar, ofegante.
— Também não gosto muito disso. Mas estamos nas mãos dele neste exato momento. A única razão pela qual não mandou nos matarem na estrada mesmo era porque poderia se espalhar a notícia de que ele havia mandado matar a Rainha e, com isso, o povo poderia se revoltar. Temos que tomar cuidado. Ele quem dita as regras do jogo. Nós só podemos escolher fazer a jogada mais esperta.
— Ele... Se ele me chamar de cãozinho mais uma vez eu vou...
— Você não é um cachorrinho. - a Rainha falou, colocando uma mão no braço dele. - É meu Cavaleiro, e tem muito mais coragem e honra que o Duque. Lembre-se disso e mantenha a compostura. Você é um homem muito melhor que ele.
E, com aquilo, ela deu boa noite e seguiu para seus aposentos. O Cavaleiro ainda aguardou um momento, deixando as palavras da Rainha afundarem em sua mente. Ela não fazia muitos elogios. Sentindo-se estranhamente confortado e satisfeito, ele voltou para o seu quarto e dormiu.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Hey! Olá novamente!
Obrigada por lerem mais esse capítulo. Aqui vocês conhecem o Duque, que deve ser o personagem que eu mais odeio nessa história toda XD. Espero que tenham gostado de ler. Têm dúvidas? Críticas? Elogios? Todos serão bem-vindos. No mais, espero vocês de volta no próximo capítulo! o/