Melinyel escrita por Ilisse


Capítulo 8
Capítulo 07




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Elora foi despertada por uma mão lhe sacudindo o ombro de leve. Resmungando virou para o lado e enfiou o rosto no travesseiro, recusando-se a levantar. Dormira que nem uma pedra, mas ainda estava com o corpo pesado e mais algumas horas de sono não lhe fariam mal. Emel falava algo, mas Elora recusara-se a escutar cobrindo o rosto com a coberta. Ouviu risos e sentiu sua coberta ser puxada para os pés da cama. O frio a atingiu e a menina encolheu-se resmungando.

— Elora, hora de acordar. - disse Tauriel entre risos. 

— Mas eu não quero. - Elora bufou, sentando-se desajeitadamente no colchão, e forçou-se a abrir os olhos. - O que está fazendo aqui?

— Tenho novidades. - Tauriel jogou satisfeita um conjunto de roupas no colchão. - A partir de hoje vou treinar-lhe todas as manhãs. 

— Em espadas e esse tipo de coisa? - Elora arregalou os olhos. 

— O rei acha que é uma boa forma de você... extravasar seu temperamento. 

— Aposto que sim. - Elora riu enquanto levantava-se. 

Emel encheu uma pequena bacia com água para que a menina lavasse o rosto e colocou as roupas do treino no banheiro. O traje era bem parecido com o que os guardas usavam, mas sem a armadura pesada: calças marrons, botas e o que parecia um vestido verde escuro com um colete por cima. Elora pegou uma das peças, analisando-a. O material parecia com couro, porém era mais leve e maleável. Terminou de vestir-se e voltou para o quarto, indo direto para o espelho. Ela surpreendeu-se em como o tecido aderia a pele e facilitava os movimentos, o vestido ia até as panturrilhas e abria-se como folhas conforme andava. Elora ficara mais empolgada com a ideia do treino, mas a ideia de matar alguma coisa ainda a deixava com um embrulho no estômago.

Naquele momento ela ainda não tinha ideia do que lhe esperava com seus dons, mas já sabia que não podia pensar desta forma.

Sua mãe havia lhe falado que o mal estava se preparando e um confronto não estava tão longe. Elora precisava aprender não apenas a se defender, mas matar. Afinal Orcs não pensarão duas vezes antes de atirar uma flexa em sua cabeça. E ela tinha muito o que aprender, pois tirando a velha espada enferrujada, Elora nunca havia tocado em uma arma.

A menina sentiu um tremor atravessar seu corpo. 

De repente tudo estava se tornando real demais. Seu futuro incerto, e cheio de promessas de lutas, guerras e sangue estava vindo ao seu encontro. 

Tauriel tirou-lhe de seus devaneios, já estavam atrasadas. Emel prendeu seu cabelo agilmente; ao final estava parecida com Tauriel, desta forma os fios não atrapalhariam sua visão durante o combate. 

Emel separou-se do grupo na metade do caminho e foi ajudar nas cozinhas; evitava o máximo possível qualquer tipo de luta. Assim como todo elfo, ela era habilidosa com todas as armas, mas não sentia prazer em ver ou participar de qualquer disputa do gênero.

Tauriel levou Elora à área de treinamento que ficava do lado oposto aos jardins, mas ainda podia ser visto de algumas das alas da montanha. O lugar estava movimentado e Elora ficou um pouco incomodada com os olhares que sentia sobre suas costas. Não gostava de ser o centro das atenções, principalmente quando estava prestes a demonstrar suas inexistentes habilidades de luta; agradeceu em silêncio quando Tauriel a levou para uma área afastada. 

— Já é treinada em alguma arma? - Perguntou Tauriel. Elora negou com a cabeça. - Vamos testá-la em todas para ver em qual seu instinto tem mais aptidão, em seguida partiremos para o treino em si. Começaremos com o arco.

Tauriel lhe entregou o arco e uma flexa. Elora posicionou-se em frente a um dos alvos pintados de vermelho e armou-se enquanto tentava concentrar-se no pequeno ponto vermelho a alguns metros de distância. Aguardou alguns segundos até sentir-se confortável e atirou.

Infelizmente a flexa não passou perto do alvo. Na verdade, nem conseguiu chegar na metade do caminho já que o objeto pousou em um ângulo desajeitado no chão alguns passos a frente. 

Elora olhou para Tauriel e fez uma careta quando percebeu que a elfa tentava não rir. 

— Não tem graça. - Disse Elora. - E não é nada encorajador que uma professora ria de sua aluna. 

— Você quebrou um recorde, geralmente os iniciantes pelo menos acertam a linha azul. - Tauriel ria enquanto pegava outro arco e apontava para o alvo. - Você não esticou a corda o suficiente, e deve aproximá-la mais do rosto. Assim. - Tauriel lhe demonstrou o que dizia e disparou a flexa, que acertou direto no ponto central. - Mas voltaremos a este depois. 

A elfa riu enquanto tirava o arco de suas mãos e lhe entregava uma espada. Elora levou um momento para acostumar-se com o peso da arma; era mais leve que a velha espada de sua mãe, mas mesmo assim não conseguia equilibrar-se totalmente quando Tauriel lhe atacava. Elora era rápida, mas tauriel lhe desarmava em segundos. A elfa lhe entregou então duas adagas, as lâminas eram compridas e vazadas em desenhos  rústicos.

A menina encarou-as, depositando todas as suas esperanças nas laminas afiadas em suas mãos. Ela tinha que se dar bem com pelo menos uma arma. 

Tauriel atacou-lhe e para surpresa de ambas, Elora conseguiu se esquivar e devolver o ataque com a mão esquerda. A menina sorriu, sentia-se confortável com as Lâminas que pareciam mais serem extensões de seus braços, seu equilíbrio estava perfeito e conseguia atacá-la com as duas mãos. Tinha achado suas armas.

Tauriel começou a mostrar os movimentos de ataque e defesa, obrigando Elora a repeti-los milhares de vezes. Após algumas horas Elora sentou no chão, sem forças. Estava com os braços doloridos e faminta. Não havia comido nada substancial pela manhã e já deveria estar quase no meio do dia. Após muitas reclamações, Tauriel concordou em antecipar a pausa para o almoço. As duas seguiram para a ala próxima as cozinhas, onde longas mesas dispunham-se lado a lado. Já haviam muitos elfos comendo e Elora sentiu-se novamente desconfortável com os olhares.  

Avistaram Emel e foram sentar-se ao seu lado. 

— O que faz aqui, minha senhora? - Emel surpreendeu-se. 

— Comerei com vocês. - Elora disse como se fosse óbvio.

— Não pode, levarei seu almoço até seus aposentos. - A elfa fez menção de levantar-se e Elora parou-a colocando a mão sobre seu braço. 

Tauriel assistia a cena calada, sua atenção estava em escolher algumas frutas e colocá-las em seu prato. 

— Não é necessário. Estou muito bem aqui. 

— Mas não é certo. O rei certamente não gostará. - Emel estava divida, gostava da companhia de Elora mas não queria desobedecer as regras.

— Sua majestade não tem que dizer aonde posso ou não comer. - disse Elora encerrando o assunto. 

A menina tentava ignorar as cabeças que via olharem-na de soslaio. Emel começou a falar sobre algo que ela não prestou atenção no que era, assentia entre uma garfada e outra para que a elfa não percebesse. Logo depois outra elfa sentou-se ao lado de Emel e atraiu sua atenção em uma conversa animada sobre alguma comemoração que estava chegando. 

Elora encarou o prato e Tauriel percebeu que algo a incomodava. 

— O que há? - disse Tauriel. - Está quieta.

— Eu... acho que eles não gostam de mim. Notei os olhares e alguns murmúrios quando entramos. - Elora sussurrou. - Não devem querer uma meia humana por perto. 

— Está errada, minha senhora. - disse Emel, voltando a atenção para as duas. Céus, sua audição era incrível. A outra elfa afastou-se e Emel continuou. - Todos lhe aceitaram muito bem, estão apenas curiosos. 

— Emel tem razão, não é sempre que recebemos visitas tão desafiadoras. - Tauriel riu de lado. 

Elora rolou os olhos, levando o garfo a boca. 

— Fico feliz em trazer um pouco de ar fresco à monotonia do reino. - disse sarcástica. 

— Com isso tenho que concordar. - Tauriel levantou seu suco, em brinde. - E já que está aqui, suponho que não irá para as masmorras no final das contas.

— De acordo com sua majestade não tenho serventia lá. Solta, posso diverti-lo com minhas péssimas maneiras.

Tauriel arqueou as sobrancelhas e Emel inclinou a cabeça para o lado, visivelmente confusa. 

— Vocês certamente tem conversas interessantes. - Tauriel bebericou seu suco.

— Não seria o primeiro adjetivo que vem a minha mente. - A menina disse pensativa.

— Mas ontem, o jantar... correu tudo bem? - Emel parecia ansiosa para saber o que acontecera. 

Elora ficou confusa, as duas estavam com um comportamento estranho.

— Na medida do possível, suponho que sim. - Elora ia comer outra uva quando percebeu que Emel ainda a olhava avidamente curiosa. - O que?

— Acredito que ela queira mais detalhes. - Tauriel mordiscou uma maça.

— Desculpe, minha senhora. - Emel corou. - Não quis ser intrometida, mas... foi uma grande surpresa. 

— Acredite, ninguém ficou mais surpresa que eu. O rei disse que me daria um voto de confiança e não me mandaria para uma cela; o que é engraçado e bem contraditório já que ele me deu um soro da verdade... o que não gera muita confiança da minha parte.

— Não leve para o pessoal, é uma medida padrão. - disse Tauriel, Elora assentiu.

— O que, detesto admitir, é uma excelente tática. Se não descoberta, claro. Fiquei tentada a jogar o vinho nele algumas vezes, mas no geral fui uma boa menina. - sorriu.

Elas terminaram o almoço e Elora e Tauriel voltaram ao treinamento, sob alguns protestos. 

Pelo visto Tauriel não era adepta a algumas horas de descanso após as refeições, mas Elora conseguiu um acordo para treinarem com o Arco; que pelo seu ponto de vista leigo exigiria menos esforço do que as outras armas. Após alguns minutos de teoria, Tauriel lhe entregou novamente o arco demonstrando como o mesmo pode ser usado como arma quando suas flexas acabarem. Ele possuía pontas afiadas de metal nas extremidades que lembraram facas; sem um golpe preciso não mataria o oponente, mas poderia ajudar em uma fuga. 

Um dos guardas apareceu chamando Tauriel. A elfa disse para a menina continuar treinando sua pontaria enquanto ela não voltasse. 

Elora prendeu a aljava nas costas e começou a atirar as flexas. Quanto mais errava, mas furiosa ficava. Não era possível ser tão ruim. Tudo bem que estava treinando apenas algumas horas, mas ainda não conseguira acertar sem a maior linha do alvo. 

Elora fechou os olhos, concentrando-se. Não adiantava nada resmungar, ela tinha que esforçar-se para fazer isso acontecer. Permaneceu alguns segundos parada, sentindo o vento refrescante atingir-lhe o rosto. Respirou fundo e puxou uma flexa da aljava. Abriu os olhos, posicionando-se como Tauriel lhe instruíra. Esperou o vento diminuir um pouco e atirou. 

Não pode acreditar quando vira a flexa no alvo, estava bem longe do centro mas fora a primeira vez que acertara. Quem a via comemorar poderia achar que ela havia feito um tiro impossível, tamanha era sua alegria. 

Elora teve a impressão de ver alguém na sacada dois andares acima, mas quando olhou novamente não havia ninguém. 

Devia estar ficando paranoica.

 

.o0o. 

 

Após o banho parecia que seus músculos doíam ainda mais e duvidou sinceramente que tivesse forças para repetir o treino amanhã. 

Elora parou de pentear o cabelo quando ouviu uma leve batida na porta. Emel apareceu com um livro grande nas mãos.

— Disse que gostaria de ler alguma coisa, minha senhora. - Emel lhe estendeu o objeto. - Está meio gasto, já o tenho há algum tempo... mas está na sua língua. 

— Muito obrigado! - Elora folheou o livro ansiosa.  A capa azul estava puída e tinha as páginas amareladas, mas os desenhos pintados a mão que decoravam algumas passagens ainda estavam brilhantes e vívidos.

— São algumas das histórias do nosso povo, mas alguns capítulos falam sobre os Valar. Talvez ajude na sua busca.

— Tenho certeza que ajudará, obrigado novamente. Lhe devolverei assim que terminar. 

Elora sorriu com o ânimo renovado, levantou-se ajeitando o vestido amarelo claro e andou a passos largos até a porta.

— Minha senhora, aonde vai? 

— Para a biblioteca. 

— Levarei seu chá para lá então.

Elora assentiu e partiu para o corredor.

Ao chegou à biblioteca, foi diretamente para as poltronas; não estava escondendo-se desta vez então não precisava temer a cada passo que dava. Sentou-se confortavelmente na poltrona; era enorme e Elora pôde aconchegar-se com as pernas dobradas sobre o assento. O fogo estava crepitando à sua frente dando ao ambiente uma luminosidade agradável. Começou a folhear as páginas; o primeiro capítulo  descrevia a chegada dos elfos à terra média na primeira era e as três famílias Eldar - Vanyar, Noldor e Teleri que iniciaram a grande marcha para o oeste. Quanto mais lia, mas sua curiosidade aumentava. 

Ela desviou os olhos do livro quando viu de soslaio uma sombra aparecer. Se o rei ficara surpreso com sua presença, ele não demonstrou.

Thranduil lhe acenou de leve com a cabeça quando Elora levantou-se para saudá-lo, e caminhou em silêncio até sentar-se no sofá no fundo da sala. Ele começou sua leitura, ignorando a presença da menina. Ela deveria retirar-se? Elora ficou confusa por um momento, permanecendo em pé sem saber muito o que fazer quando ele a encarou.

— Gostaria que eu me retirasse, majestade? - disse Elora.

— Está fugindo do meu mau-humor? - Ele ainda não a encarava.

— Apenas acho que talvez prefira desfrutar de seu tempo livre em paz. 

— Não deve presumir muitas coisas a meu respeito. 

Elora permanecia em pé. O que isso queria dizer? Ela deveria ficar ou ir embora? Por que ele não podia falar claramente o que queria como qualquer pessoa normal?

— Pode ficar. - ele disse por fim, após alguns segundos de silêncio. 

Elora sentou-se novamente, mais encolhida do que antes. Voltou a ler as páginas gastas, mas não tinha a mesma concentração. 

Sentia a presença dele às suas costas e tinha que reprimir a vontade de virar a cabeça a cada instante. Imaginava que tipo de livro Thranduil estava lendo quando Emel entrou em seu campo de  visão colocando a bandeja com o chá fumegante ao seu lado. 

Ela reverenciou Thranduil, perguntando o que poderia trazer para ele e saiu silenciosamente após a negativa do mesmo. 

Elora percebeu o leve sorriso que Emel tinha no rosto enquanto a elfa se retirava da sala.

A tarde passou rapidamente, com o tempo Elora esquecera a presença do rei e voltou à sua leitura. Já estava com as pernas dormentes de ficar horas na mesma posição quando Emel retornou à biblioteca avisando que estava na hora de trocar-se para o jantar. A menina olhou para trás, mas Thranduil não estava mais lá. Ele esgueirou-se tão silenciosamente para fora do cômodo que Elora nem se dera conta. 

Elora encontrava-se no mesmo dilema da noite anterior. Emel tentava empurar-lhe um vestido pomposo e totalmente exagerado, o qual a menina negava veemente. Emel sempre tentava trazer seu lado lady a tona, mesmo que seja mínimo, mas ela já estava exagerando. 

Diferente da noite anterior, o jantar foi silencioso. Embaraçoso até. 

Elora preferia discutir com Thranduil do que dividir o espaço em silêncio enquanto ficava observando os detalhes da toalha de mesa. Encarava a situação meio desconfiada, aquilo também poderia ser uma espécie de teste; devido aos últimos acontecimentos, Elora esperava este tipo de coisa dele. 

A convivência estava afetando seu juízo e seu limite entre o certo, o errado e o duvidoso. 

Era difícil admitir, mas no fundo ela estava com certa empolgação, Elora gostava de desafios. Thranduil era sem dúvidas inescrupuloso, mas ele também era muito inteligente. E ela queria ter o gosto de vencê-lo em seu próprio jogo. 

Antes de retornar ao seu quarto ela desceu os pequenos degraus e andou até a margem do lago que Estava sereno esta noite, via seu reflexo sem nenhuma dificuldade na água cristalina. A menina franziu o cenho quando olhou para seus pés e percebeu a grama à sua volta, ainda estava rala mas havia crescido alguns bons centímetros desde ontem. Nunca havia visto isso antes, mas ali era um reino élfico, não deveria ficar tão surpresa com estes eventos.  Elora abaixou-se, pegando um pouco de água com as mãos e regando o espaço a sua volta. Ali podia ser um pouco mágico, mas ela também poderia dar uma ajudinha. 

Assim como no dia anterior, Emel a acordara antes do horário normal. Infelizmente isso seria um hábito, devido à seus treinamentos com Tauriel. O mesmo se repetiu nos dois dias seguintes. Sua rotina diária estava estabelecida, e para o espanto de Elora, ela estava muito a vontade. 

Sentia-se mais disposta pela manhã e seu treinamento estava evoluindo; ainda não conseguia derrotar Tauriel, no entanto demorava mais tempo até ser desarmada. O que era uma vitória. Herenvar também tornou-se presença constante no treinamento com o arco. À tarde o cansaço a alcançava e Elora se refugiava no calor da biblioteca; e para seu espanto Thranduil aparecia todos os dias. 

Não sentia mais o nervosismo ou a desconfiança de antes. 

Os dois aceitavam e estavam acostumando-se com a presença do outro; achando até um pouco reconfortante. 

 

.o0o. 

 

Já era a segunda vez que Elora virava-se para encarar o corredor de estantes às suas costas. Ela batia inquieta o dedo na capa do livro fechado em seu colo, sentindo-se estúpida. Deveria estar prestando atenção em sua leitura, na pesquisa sobre seus supostos poderes, e não reparando se Thranduil estava ou não no cômodo. Ele tinha coisas mais urgentes e importantes a fazer. Provavelmente estaria drogando algum pobre visitante desavisado em algum canto do palácio. 

Elora revirou os olhos. Sim, não deveria esquecer-se deste pequeno detalhe. 

Apesar de achar a ideia inteligente ela não poderia perdoá-lo tão facilmente, pelo menos não antes de lhe devolver o favor de alguma forma.

A menina deu um pulo, assustada quando um dos guardas chamou seu nome. 

— Perdão, minha senhora, não pretendia assustá-la. 

— Tudo bem, eu estava distraída. - Elora colocou o livro sobre a mesa ao seu lado.

— Sua presença é solicitada imediatamente nos grandes salões.

Elora assentiu, levantando-se. O guarda saiu a passos largos e a menina alisou o vestido antes de começar a andar. 

Durante o trajeto tentou imaginar o que requeria sua presença perante o trono, certamente não havia feito nada de errado. Estava se comportando perfeitamente bem, para sua própria surpresa até. Talvez fosse algum mensageiro de Elrond, adoraria ter notícias do tio.

Enquanto aproximava-se, Elora pode perceber a figura sentada ao trono. Thranduil estava com sua coroa novamente. Elora tinha até se desacostumado a vê-la, já que nos últimos dias sempre que o via  ele não usava estes adornos. A menina parou a sua frente e reverenciou-o, ia perguntar do que se tratava a convocação quando dois guardas aproximaram-se acompanhados de outras três silhuetas; humanos, ela logo percebeu. Elora deu um passo para o lado, deixando a visão do trono livre para os convidados.

Dois homens e uma menina que deveria ter quase sua idade. O homem mais velho aproximou-se fazendo uma reverência a contra gosto, era baixinho e rechonchudo. Elora reconheceu-o, já o havia visto saindo de uma reunião com Thranduil antes; e ele não saíra muito satisfeito. 

O outro homem e a menina aproximaram-se em seguida, repetindo o gesto. Os dois eram parecidos e Elora chutaria que eram pai e filha; ele tinha uma aparência rústica, os cabelos estavam meio presos indo até os ombros e sua barba lhe dava um charme diferente. Ele tinha um rosto bonito, não dava para negar. A menina estava tão maravilhada com o local quanto Elora na primeira vez que vira os grandes salões, ela olhava disfarçadamente para todos os lados.

Thranduil levantou-se, descendo os degraus até parar ao lado de Elora. 

— Bard, fico contente que tenha aceitado meu convite. - O elfo tinha um olhar que Elora já conhecia. Estava sempre presente quando o rei conseguia o que queria. 

— Era o único modo de vossa majestade aceitar tratar de nossas negociações. - Bard desviou os olhos para Elora e cumprimentou-a com um aceno de cabeça. - É uma surpresa encontrar uma humana em Mirkwood.

— Elora é uma convidada. - Thranduil não desviou os olhos do homem a sua frente enquanto falava. 

— É um prazer conhecê-la, senhorita. - disse Bard.

— Digo o mesmo, meu senhor. 

Elora já havia ouvido histórias sobre a batalha dos cinco exércitos e sabia que Bard era o grande arqueiro que derrotara o último dragão. Mas não imaginava-o desta forma, tão jovem e charmoso. Ele agora governava Valle, usando sua parte do tesouro anão para reconstruir a cidade de seus antepassados. 

Apesar de contente por conhecer os novos visitantes, Elora não deixava de se perguntar porque o rei havia chamado-a. 

— Esta é minha filha, Sigrid. - Disse Bard enquanto a menina parava ao seu lado. 

— Vossa Majestade. Senhorita. - Sigrid reverenciou Thranduil e deu um sorriso para Elora, que lhe retribui. 

— E creio que já conheça Tiberius, - Bard disse ironicamente, - um de nossos negociadores.

— Sim. Creio que ele já esteve em meu reino antes. - Thranduil disse irônico. - Ainda temos algumas horas antes do jantar para avaliarmos os primeiros pontos do nosso acordo.

— Gostaria de conhecer o reino, Sigrid? - Disse Elora. Ela sabia que qualquer reunião com Thranduil poderia ser desgastante e bem longa. Não queria que a pobre menina tivesse que participar. 

— Adoraria, minha senhora. - Sigrid sorriu, aliviada. 

As duas despediram-se silenciosamente do grupo e afastaram-se lado a lado. 

Antes de saírem do campo de visão, Elora olhou para o elfo que a encarava de volta com uma expressão satisfeita no rosto. Elora percebeu então que era exatamente por isso que Thranduil a chamara ao salão, para ocupar a nova humana enquanto ele importunava o senhor de Valle. Elora reprimiu uma risada, que homem ardiloso! Mas ficou satisfeita por ter compreendido seus pensamentos sem que ele lhe falasse. Assim, poderia começar a antecipar seus movimentos. 

— Obrigada pelo convite. - Disse Sigrid enquanto caminhavam pelo salão de banquetes. 

— Por nada. Achei que gostaria mais de conhecer o misterioso reino de Mirkwood do que escutá-los argumentando a tarde toda. Sei que eu preferiria. - Ela lhe confidenciou.

— Sim. Papai não queria trazer-me, disse que seria uma visita rápida para tratar de comércio, mas lhe disse que não o perdoaria se não me trouxesse. 

— Uma boa chantagem emocional tem seu valor. 

— Eu diria que sim. - As duas riram.

Dois guardas apareceram no corredor e as cumprimentaram antes de continuarem o caminho. Elora percebeu que Sigrid corara e tinha um sorriso bobo no rosto. A mesma ficou ainda mais vermelha quando percebeu que Elora havia visto. 

— Eles são tão belos, não? - Sigrid aproximou-se quase murmurando. - Depois de ver um elfo, como posso me apaixonar por um homem comum?

— Não mandamos no coração. Se o seu verdadeiro amor for um homem comum, como diz, aos seus olhos ele será o mais belo de todos. 

— Espero sinceramente que sim. 

— Já havia visto algum elfo antes? - disse Elora. 

— Sim! Dois na verdade... Tauriel nos ajudou quando o dragão atacou a cidade do lago, não teríamos escapado sem sua ajuda. E havia outro com ela, tinha um nome engraçado. - Ela disse pensativa. 

— Tauriel deve estar no campo de treinamento. Gostaria de vê-la? 

— Gostaria, sim. Nunca consegui agradecê-la propriamente por ter-nos ajudado. 

Elora a guiou até a área de treinamento e logo a avistou. 

Tauriel falava com outras duas elfas de cabelos castanhos. Sigrid aguardou próxima a entrada enquanto Elora foi chamá-la. Viu Herenvar ao longe ainda treinando com o arco; ele tinha determinação, não poderia negar. 

Tauriel acompanhou-as até o jardim, onde sentaram-se em algumas almofadas e ficaram conversando até que Emel apareceu avisando que Elora deveria preparar-se para o jantar. Tauriel despediu-se, passaria a noite rondando a floresta novamente e tinha que preparar-se. Emel e Elora acompanharam Sigrid até seu quarto; Elora gostara de conhecer a menina, era bom ter outra humana por perto. Parecia que eras haviam se passado desde que tivera uma conversa com alguém além de elfos. 

Como Sigrid não havia trazido muita bagagem, Elora lhe emprestou um vestido rosa pálido de mangas compridas com pequenos brilhos espalhados pelo tecido. Combinaria perfeitamente com a menina. 

Emel levou o vestido e quando retornou alguns minutos depois, Elora já estava vestida com um modelo que a fez rolar os olhos. Era simples e delicado em renda branca com meias mangas. A elfa desistiu de persuadi-la a trocá-lo e ambas encaminharam-se para o quarto da convidada. 

A cada passo que dava Elora tinha certeza que precisaria de muito vinho depois deste jantar. 

Bard parecia ser um pouco temperamental e Thranduil não ligava muito em ser cortês com suas visitas, então teria que agir como a apaziguadora da noite; o que não era nada bom já que ela própria não possuía muito trejeito para a etiqueta. Mas ela se esforçaria, não poderia deixar que o mal humor do rei acabasse com o passeio de Sigrid ou com as negociações que beneficiariam o povo da floresta.


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Notas finais do capítulo

Como prometido! :)
Tive que cortar o capítulo no meio porque já estava muito comprido, mas acho que o final ficou aceitável. kkkk'



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