Melinyel escrita por Ilisse


Capítulo 20
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Oi! Recadinho rápido: nesse capítulo tem uma cena meio musical, então vou colocar o link para a música lá embaixo.



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O grande salão era um arco-iris reluzente de cor e brilho.

Todos exibiam orgulhosos suas túnicas raras e vestidos feitos com os melhores tecidos; jóias ornadas com pedras preciosas, habilmente confeccionadas pelos artesãos mais talentosos. Dançavam, riam e se divertiam em um prisma de glamour onírico. 

As mesas fartas com comidas e bebidas eram emolduradas por toalhas douradas e três grandes candelabros com centenas de velas iluminavam o ambiente. A música embalava até mesmo as construções em volta, escorregando sorrateiramente até o bosque.

Parada à porta, Elora observava a agitação do salão desenrolar-se sob seus olhos. 

Grupos conversando, casais dançando, amores desabrochando e uma ou duas crianças correndo por debaixo das mesas. 

Gostaria que Tauriel estivesse ali, assim poderia provocá-la a noite toda sobre comparações entre os banquetes de Rivendell e  Mirkwood. Seria divertido ver as orelhas da elfa tornarem-se vermelhas, enquanto ela repetia o discurso já muito falado sobre a reputação lendária de Mirkwood. 

Mas como Capitã da Guarda, Tauriel permanecera no palácio. Supervisionando as patrulhas e aguardando o retorno de seu rei. 

Elora ouviu as vozes de Elladan e Elrohir às suas costas e virou-se para cumprimentá-los. Quando os dois a viram pararam bruscamente.

— Minha senhora, está mais que radiante! Será a mais invejada nesta noite. - Elladan recuperou-se antes do irmão e dando um passo a frente, reverenciou-a formalmente. Elora retribuiu com um sorriso tímido.

Quando Amyna terminara de pentear-lhe os cabelos, Elora olhou-se no espelho. Não reconhecendo o reflexo que a encarava, no primeiro momento sentiu que talvez fosse demais. Nunca havia exagerado tanto e ainda tinha a tiara reluzente sobre a cabeça. Sentia-se como um farol, brilhando na noite escura. 

Quase decidiu-se por outro traje mas Amyna proibiu-lhe, dizendo que não poderia passar os anos escondendo sua beleza. Tinha que evidenciá-la, ostentá-la com orgulho. Como uma rainha faria. 

— A primeira dança é minha. - Elrohir falou, parando ao lado dos dois no portal. Antes que Elladan pudesse reclamar, o irmão pegou a mão de Elora. Conduzindo-a até o centro do salão, junto aos outros dançarinos. - Se todos não caírem de amores por você esta noite, estão cegos com certeza.

Elora riu ao rodopiar batendo palmas em volta do elfo. 

— Espero aproveitar minha noite, Elrohir. Não quero causar acidentes, principalmente se forem atrapalhar minha diversão. 

— Exuberante e cruel. - O elfo lhe lançou um sorriso torto. - Não verão o que os atingiram até estarem aos seus pés. 

— Contanto que eu consiga dançar. 

Elora piscou e o elfo a segurou de lado pela cintura, seguindo os outros casais pelo círculo de dança. Continuaram até que a música parou e os dançarinos aplaudiram os músicos. Elora batia palmas ao lado do elfo quando viu Lord Elrond chegar ao salão, seguido por Thranduil e mais três elfos. 

O tio trajava uma túnica cinza finamente bordada, enquanto Thranduil vestia uma tão negra quanto a noite.  

Elrond falava concentrado com o rei de Mirkwood, mas Thranduil não estava prestando atenção. Tinha os olhos fixados em Elora. 

No momento em que sentiu o olhar de Thranduil varrer seu corpo de cima a baixo, Elora sentiu as pernas fraquejarem. O coração palpitava como louco, fazendo sua respiração acelerar. Sentia-se febril, como se todo o calor do ambiente estivesse amontoando-se à sua volta. Os olhos azuis passeavam sem pudor por seus braços, ombros e pescoço expostos. Até pararem na tiara que ostentava trançada entre os cabelos. 

Engoliu a seco quando seus olhares se cruzaram, a ansiedade corroendo-a por dentro. Estava parada no meio dos casais reunindo-se para a próxima dança, aguardando o próximo passo do rei. Desejava ardentemente que ele caminhasse até ela e lhe tomasse nos braços.

Elora prendeu a respiração quando Thranduil deu um passo a frente e mais outro, sem desviar os olhos. Parecia ser um movimento involuntário, como se a presença dela o atraísse como um imã.

Mas Elrond despertou-o, fazendo o rei voltar a realidade e perceber aonde estava. Thranduil, embora contrariado, sentou-se ao lado de Elrond, respondendo-o em palavras curtas e impacientes.  

Elora viu a tensão em seu maxilar e seus ombros rígidos. Quando a olhou novamente havia algo a mais, mas Elora não pode lê-lo. Uma mão havia surgido em seu ombro, movimento que fez Thranduil franzir os olhos. 

— Venha prima, - Elladan lhe puxava para o local demarcado. - agora é a minha vez de causar inveja, tendo a parceira de dança mais bonita do salão. 

A menina sorriu, deixando-se levar ao som das flautas e harpas. Sentia o olhar de Thranduil às suas costas em cada passo, o que a fez sorrir mais e dançar mais. Movimentava-se para ele. 

Quando podia desviava seu olhar até ao rei, que, quando não a encarava de volta, estava preso em uma conversa monossilábica com Lord Elrond. 

— Como foi? - Elladan disse à sua esquerda. 

— O que? - Elora indagou sem prestar muita atenção. 

— A reunião com Ada. - O elfo cruzou sua frente, fazendo uma cortesia e em seguida segurando sua mão às costas. - Você não nos procurou e ele não quis falar sobre o assunto.

— Para melhor ou pior, tudo foi resolvido. Não quero falar sobre isso agora. - Elora sacudiu a mão livre. -  Tem recebido notícias de Arwen?

— Poucas. Ela se ressente com Ada e isso a distancia um pouco de tudo relacionado à sua cidade. 

— Não é um pouco extremo? 

Elladan deu de ombros, como se concordasse com a irmã. Terminam a dança sincronizados e viram-se para receber Emel e Lindir que entravam no salão de braços dados. Todos param o que estavam fazendo, erguendo suas taças em vivas ao casal. Os dois pararam próximos das janelas para receberem receberem os cumprimentos. 

Elora deixou o primo, já acompanhado, e foi ao encontro da elfa. 

Emel observa o salão com satisfação, seus preparativos estavam primorosos e tudo estava perfeito. Todos estavam se divertindo e ela não poderia estar mais feliz. Comiam, bebiam e dançavam como se este fosse o momento mais alegre de suas vidas. 

Mas a elfa não pode deixar de notar que, apesar de aproveitarem, era uma alegria contida, sofisticada. Alguns pareciam posar para pinturas imaginárias, exibindo seus melhores ângulos.

Não era como em Mirkwood, onde tudo parecia mais natural e indomável. Lá, dançavam por que queriam dançar, pura e simplesmente, não para exibirem seus encantos em rodopios perfeitos. 

Emel sabia que iria acabar se acostumando aos modos e costumes de Rivendell; mas não podia deixar de perguntar-se se algum dia um estrangeiro iria observá-la dançando e imaginar as mesmas coisas. 

Os únicos que pareciam absortos à vivacidade do salão eram os senhores de ambos os reinos. 

Rei Thranduil e Lord Elrond pareciam estar em uma discussão não muito amigável. Certamente discutiam fronteiras, comércio ou qualquer política. 

A elfa bufou. Não era o momento para embates ou desacordos, era sua festa de casamento! Havia preparado tudo para que todos a aproveitassem, inclusive eles. 

Emel olhou para Elora ao seu lado com interesse. Se havia alguém capaz que cativar todo o salão, seria ela. 

Sua senhora lhe contava aos sussurros todos os acontecimentos interessantes que ela havia perdido ao chegar elegantemente atrasada, aparentemente eram muitos. 

Emel não quis acabar com seu entusiasmo ao evidenciar que ainda não conhecia nem metade dos nomes que ela lhe falava. Então ouviu-a terminar o relato e olhou saudosa para banda. 

Soltando um suspiro disse:

— Gostaria de ouvir a melodia que Lindir tocou em um de nossos primeiros encontros... Aquela que ele estava lhe ensinando. - Então virou-se para Elora com um sorriso nos lábios, entusiasmada como se a ideia tivesse acabado de lhe ocorrer. - Porque não toca, minha senhora? - Emel fez questão de apresentar seu olhar mais esperançoso. 

— E-eu? - Elora gaguejou. 

— Lindir me contou que toca muito bem.

— Ele exagera. Sei apenas uma ou duas músicas de cor. - Elora continuaria suas desculpas, mas Emel parecia realmente desapontada. Então inspirando profundamente, concordou. 

Antes que se desse conta já estava subindo os poucos degraus do palco, os músicos haviam deixado seus postos e aproveitavam do vinho e da comida servida nas mesas. 

Toda a atenção estava na menina que sentava-se em um dos bancos e posicionava com cuidado a harpa sobre um dos ombros. Elora fechou os olhos, murmurando para si que aquilo não era nada demais. Assim que começasse, todos voltariam às suas conversas e a tirariam de seu foco principal. 

Ela poderia ter dito não, mas era um pequeno preço a se pagar pela felicidade de Emel. 

Assim que abriu os olhos e iniciou as primeiras notas, seu nervosismo se dissipou. Viu Lindir estender a mão para Emel e levá-la para o centro do salão enquanto dançavam embalados por sua melodia. Sorriu satisfeita, passando sua concentração para as cordas em que dedilhava. 

Além dos noivos, ninguém mais dançava ou conversava. Assistiam ao casal e à menina meio humana, totalmente capturados. 

Thranduil deixara Elrond falando sozinho no momento em que vira Elora caminhar para o palco. Não desculpou-se ou despediu-se do Lord, apenas levantou-se e caminhou hipnotizado para mais perto. Podia ver a concentração no rosto dela, a paixão que ela colocava em cada nota. Observava-a em silêncio, oculto pelas sombras das cortinas. 

Elora soltou o ar aliviada, estava quase chegando ao fim e não havia errado nenhuma nota. Sentiu-se confiante o bastante para levantar os olhos e vislumbrar novamente Emel e Lindir dançando, ela sabia que nunca esqueceria a cena. Mas foi um vislumbre pelo canto do olho que chamou sua atenção, Thranduil estava a poucos passos de distância envolto em escuridão, mais acentuada por sua túnica preta. Observando-a com um sorriso nos lábios. 

Ela nunca o vira sorrir como naquele momento. Com tanto desprendimento de todos ao redor, tão... sincero. Elora não pode conter seus lábios e sorriu para ele também. 

Mal notou quando sua música parou e os aplausos começaram. Virou-se surpresa para cumprimentar a multidão à sua frente e descer os degraus o mais rápido que podia. No caminho, parou aonde Thranduil estava. Mas ele já havia saído. 

Não estava na mesa principal ou nos arredores, Elora varreu cada canto do salão com o olhar atento mas ele não estava à vista. 

Caminhou a passos pesados até a mesa mais próxima, servindo-se de uma generosa taça de vinho. Tomou-a de uma vez até a metade. Já estava farta disso. Uma hora estava tudo exatamente como deveria ser e na outra puff, tudo sumia. 

Um elfo de longos cabelos negros aproximou-se, elogiando-a pela performance e lhe convidando para a próxima dança. Elora aceitou com prazer, precisava livrar-se de seus pensamentos e a distração era muito bem vinda. 

Pelo que pareceram horas ela apenas deixou-se levar. A música mudava, seu par mudava... mas ela permanecia no transe de apenas movimentar-se de acordo com o ritmo, dançando e dançando. 

Parou somente quando viu-se novamente nos braços de Elladan, que a recebia com um sorriso zombeteiro no rosto. 

— Quando falou que dançaria a noite inteira não estava brincando. - Elladan disse. 

— Eu precisava disso.

— De um momento sozinha? - O primo a analisou com olhos sagazes. 

— Estou no meio de uma multidão. 

— O qual é, por muitas vezes, o local mais solitário de todos.

Elora parou. Sim, ele tinha razão. Colocou uma mão sobre o ombro dele.

— No fundo você é realmente um sentimental romântico. Por fora pode ser a imagem de um herói corajoso, mas por dentro é um poeta bem meloso.  

Elladan gargalhou, mas não chegou a contradizê-la. 

— Aonde vai? - Ele perguntou ainda rindo, enquanto Elora se afastava.

Ela não o respondeu, desaparecendo em seguida entre os tecidos coloridos dos convidados. Saindo para o jardim, afastava-se cada vez mais da agitação mas ainda conseguia ouvir o sussurro das músicas e risos. Caminhou pelo chão de pedras e através de uma ponte de madeira até chegar a uma das margens do rio ao norte. 

Quando olhou mais a frente e viu Thranduil parado em um gazebo de mármore branco, encarando a cachoeira desaguar entre os morros abaixo, deu um sorriso triunfante. 

Ela deu um passo a frente, e mais outro, e outro. Se ele não iria até ela, ela iria até ele. 

Queria surpreende-lo, então caminhou silenciosamente. Fazendo com que um ramo de peônias vermelhas brotasse na frente dele, quando alcançou o espaço. 

Os ramos esgueirando-se e crescendo em volta de um dos pilares à esquerda do elfo, oferecendo flores luminosas apenas para ele. 

Um meio sorriso brotou no rosto do elfo quando ergueu a mão e tocou nas pétalas carmesim. 

— Você se esgueirando para fora de uma festa. - Elora falou. - Porque não me surpreende? 

— Algumas coisas nunca mudam, mesmo com o passar dos séculos. - Thranduil virou-se para ela. 

Elora deu mais alguns passos a frente, subindo no gazebo. 

— Não está em Mirkwood, poderia aproveitar o momento e realmente desfrutar das festividades. - Disse apoiando-se no beiral e olhando para os morros abaixo. 

— Eu estou. 

Com um meio sorriso, Thranduil estendeu-lhe a mão. 

No primeiro momento Elora apenas encarou-a, sem saber muito bem o que fazer em seguida. Se ela aceitasse o convite iria dar um passo maior do que a perna, tinha certeza. Não teria mais volta.  

Mas ela merecia ter isso, não? Ao menos uma vez, ter tudo o que já desejou. 

Sim, ela poderia. 

Ao menos neste momento se permitiria não ter medo.

— Não sabia que dançava. - Disse, postergando sua decisão.

Thranduil não respondeu. Apenas ficou aguardando-a com a mão ainda estendida. Elora observou a mão do elfo, seus dedos longos e finos. 

Levantou o braço e tocou-os com as pontas de seus dedos. Deslisando a mão suavemente até que se fechasse sobre a dele. Um arrepio correu pelo seu braço quando sentiu o calor da pele do elfo pela primeira vez. Não podia acreditar que nunca antes, mesmo com tantas oportunidades, havia tocado-o. 

Ele apertou sua mão suavemente, como se quisesse ter certeza de que ela realmente estava ali. Ou para garantir que não fosse embora, Elora não tinha certeza. 

Prendeu momentaneamente a respiração quando sentiu-o abraça-la firme pela cintura. Elora pousou sua mão livre no ombro do elfo e iniciaram sua dança.

Os passos começaram lentos e calmos, acostumavam-se um com o outro não ligando para o ritmo da música do salão que lhes chegavam aos ouvidos. Elora podia sentir a respiração dele contra seu rosto, fechou os olhos na tentativa de guardar cada sensação, cada cheiro e toque na memória.

Quando abriu-os novamente viu que Thranduil a encarava, com o rosto a meros centímetros de distância. Por um momento não reconheceu o que viu nos olhos do elfo, nunca antes tinha visto algo assim ali, mas soube por fim. Não havia mais o tom distante e frio. Ele era apenas calor, quente e brilhante.

Era quase esmagador, como se dançasse com o próprio sol. 

Elora sorriu e Thranduil aumentou o ritmo. 

Quando percebeu, estavam rindo enquanto rodopiavam pelo chão de mármore. Via nele um sorriso verdadeiro, de pura alegria. 

Ela não podia tirar o riso dos lábios de tão inusitada era a cena em que estava. Imaginava se ele sentia o mesmo. 

Nem em seus sonhos mais distantes e loucos poderia desenhar um cenário desses, mas estava adorando. 

Quando seus lábios finalmente se encontraram, ficaram um pouco surpresos mas não se separaram. 

No início era apenas um encostar de lábios, como se não acreditassem que estava realmente acontecendo. Elora levantou aos mãos até pescoço do elfo, sentindo o cabelo macio entre os dedos. 

O beijo aprofundou-se um pouco mais, suavemente. Elora sentiu as mãos de Thranduil apertarem-se em sua cintura, trazendo-a mais para perto. O corpo dele agora moldava o dela.

Quando seus lábios separaram-se em busca de ar, seus corpos não se moveram. Encaravam-se com um desejo puro e brutal nos olhos e um mundo de palavras correndo entre eles. 

Elora correu os dedos pelo comprimento dos fios pálidos de Thranduil. Em seguida seu rosto, sua bochecha e seus lábios. Até pousar as mãos eu seu peito, sentindo o coração bater rápido contra sua palma. Foi reconfortante saber que ela o afetava tanto quanto ele à ela. 

Thranduil poderia embriagar-se no cheiro dela. Tão doce, tão quente. 

As mãos de Elora deslizavam por sua pele deixando um rastro de calor em brasa. Desejava-a mais que tudo, queria sentir o sabor novamente em seus lábios. Tê-la totalmente para si.

Mas iria esperar por ela, aguardaria sua decisão. Passara os últimos dias com um único pensamento na cabeça: O que faria se ela de fato não escolhesse o caminho dos elfos? 

Desde que notara seus sentimentos por Elora, buscou aproximar-se aos poucos. Medindo se a atração era recíproca. Cortejava-a lentamente com a ideia de que teria muitos anos para convencê-la de ele poderia fazê-la feliz, mesmo com todos os seus defeitos. 

Quando ouviu-a dizer que não queria a imortalidade sentiu o chão desaparecer sob seus pés. 

A declaração tirou toda sua razão, Thranduil não poderia perder o coração novamente, não suportaria. O desespero e angústia o levaram a falar coisas das quais se arrependeu amargamente ao ver a decepção no rosto dela.  

Não suportou ficar por perto e ver o olhar novamente em seu rosto, então afastou-se. O que lhe feriu ainda mais profundamente. Não conseguia pensar claramente sabendo que a havia desapontado. 

Após desculpar-se na noite passada pensou em como poderia aproximar-se, traçou planos e objetivos concretos. Formas de abordar o assunto delicadamente. Mas tudo se perdeu no momento em que a viu quando entrou no banquete, sua mente esvaziou-se. Preenchendo-se em seguida somente com seu sorriso. 

Elora inclinou-se, fechando os olhos. Precisava de mais, não era o suficiente. Talvez nunca fosse. E quando seus lábios se encontraram novamente, foi diferente. Mais urgente e forte. Estavam sedentos um pelo outro. 

Elora passou os braços pelo pescoço do elfo, abraçando-o. Sentia seu peito pressionado contra o dele, o desejo dos dois, guardado a tanto tempo, consumindo-os ardentemente. O coração martelava freneticamente em seu peito e o ar saiu de seus pulmões. Estava perdendo-se nele, e não se importava nem um pouco.

— Venha comigo, volte para a Mirkwood. - Thranduil separou-os, encostando a testa na de Elora. 

Elora queria com todas as suas forças dizer sim. Em sua mente gritava: SIM! SIM! SIM! Mas suas palavras foram como água fria, trazendo-a de volta a realidade. 

O amava e queria ficar com ele mais que tudo, mas sempre que pensava em segui-lo sem olhar para trás lembrava de seus pais. 

Sua mãe havia aberto mão de seus poderes para fugir com seu pai, e eles pagaram por isso. Morreram nas mãos dos servos de Sauron porque desistiram de suas forças para ficarem juntos. Elros havia perdido seu exército e Berenna não tinha mais a bênção de seu Valar. 

Thranduil tinha sua esposa, mesmo que ela agora habitasse os salões de Mandos, ainda poderia reencarnar se Námo julgasse assim, e Elora estava presa a outro destino. 

Pelo menos tiveram este momento. Uma lembrança especial para levarem por toda vida.

Elora fechou os olhos, afastando-se dele. Arrepiou-se quando um vento frio atingiu-a, agora que estava longe dos braços dele. 

— Eu não posso. - Disse quase em um sussurro, sem coragem de encará-lo nos olhos. Ela pediu silenciosamente que Thranduil não lhe perguntasse novamente. Do contrário não teria forças para recusá-lo mais uma vez. 

O elfo permaneceu a alguns passos de distância, tentando compreender as emoções que passavam pelo rosto à sua frente. Eram tantas que não conseguiu assimilar todas. Raiva, ressentimento, convicção, desejo, solidão. 

Queria aproximar-se novamente, segurá-la nos braços para que lhe olhasse diretamente, pedir-lhe que reconsiderasse. Mas quando deu um passo a frente e viu-a recuar, percebeu que era tarde demais. 

Elora ouviu o som do seu coração despedaçando no peito quando, com os olhos vazios, Thranduil virou as costas e saiu. Desaparecendo entre as sombras. Elora deixou-se cair no chão, incapaz de conseguir sustentar as pernas. Permaneceu imóvel, sem conseguir emitir qualquer som enquanto sentia as lágrimas correrem livres por suas bochechas.   

Estava morta por dentro. 

Fechou os olhos agarrando-se com todas as forças à lembrança dos momentos felizes daquela noite. Pelo menos ninguém poderia lhe tirar isso. 

Encarou as mãos, já frias pelo vento, sentindo uma sensação estranha percorrer suas veias. Uma sensação conhecida, um vazio congelante sem qualquer partícula de esperança. Era o que sentia movimentar-se dentro do peito quando estava presa em Erebor.

Levou a mão a bochecha molhada quando algo jogado pelo vento prendeu-se em seu rosto. O pânico a invadiu como uma onda, quando percebeu o que era e olhou ao seu redor. As flores recém criadas eram agora apenas pedaços sem vida, enegrecidos e ressecados, assim como todo o verde ao seu redor. 

Desde a grama às árvores em um raio de dez metros, tudo estava morto. Sua tristeza tirara a vida delas. 

Elora levantou-se cambaleante. Tentou pegar um punhado de pétalas nas mãos mas assim que as tocou, viraram cinzas. Olhou horrorizada para a fuligem que agora manchava seus dedos. 

Saiu em disparada para os estábulos, precisava afastar-se dali. Retirou o vestido pesado ficando apenas com o mais fino de baixo, desamarrou o cabelo e colocou a tiara sobre os tecidos. Não suportaria olhar para ela novamente. 

Selou Randír e saiu para dentro da escuridão do bosque. 

 

.o0o.

Quando convenceu-se a voltar, o sol já estava alto no céu. 

Não vira as horas passando, não vira muita coisa depois que correu para entre as árvores. Ela e Randír apenas correram e correram, sem qualquer rumo. 

Ao entrar em sua vivenda foi recepcionada por Amyna que arrumava alguns vestidos sobre o sofá. A elfa encarou-a com curiosidade mas não fez nenhuma pergunta a respeito. 

— Onde estão todos? - Elora reuniu forças para falar. Havia percebido a falta dos cavalos de Thranduil nos estábulos. 

— Diz os emissários de Mirkwood? - A elfa indagou e Elora assentiu, sentando-se na beirada da cama. - Todos partiram mais cedo nesta manhã. 

Elora sentiu o estômago embrulhar. Tinha esperança de vê-lo pelo menos mais uma vez.

— Amyna, poderia se retirar por favor? - Elora falou fitando o vazio à sua frente. 

— Aconteceu alguma coisa, minha senhora? - A elfa encarou-a preocupada. 

— Eu só quero ficar sozinha. 


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Notas finais do capítulo

Em primeiro lugar peço desculpas se o texto está com algum erro gritante. Acabei de revisá-lo agora e estou com um pouco de sono, então é capaz de ter passado alguma coisa.
Em segundo, sobre a demora para a atualização (se eu já falei sobre isso aqui, desculpem-me. Estou postando essa fic em três sites então não sei bem o que já falei aonde). Sinto muito por fazer vocês esperarem, eu vejo seus comentários ansiosos pelos próximos capítulos e fico na vontade de postar logo, mas nem sempre eu tenho tempo de escrever. Ou, como foi o caso nesse, eu sei aonde quero chegar mas ainda não descobri o caminho.
Gosto de escrever e ler novamente depois de um ou dois dias pra ter certeza que o capítulo está de acordo com a história, os diálogos, pensamentos e afins. Eu sei como é angustiante (também sou leitora), mas como autora prefiro escrever com calma e publicar algo que me orgulhe do que apressar as coisas e acabar deixando algo para trás.
Eu vou sim concluir a história, que já está entrando nos desdobramentos do final, mas não sei quando sai o próximo.

Espero que curtam esse e que continuem lendo, mesmo se já estiverem bem velhinhos quando o epílogo chegar.
Obrigada pelo carinho, de coração.

Link: https://www.youtube.com/watch?v=F3QyOOadGHA&index=74&list=PL6FuIbxc7fanp4IyIGFy8wTdRdXvKiV5y&t=0s



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