— Alô – A voz de Bianca respondeu durante o terceiro toque.

— Você está ocupada? – Nico retrucou num quase sussurro, apenas alto o suficiente para ser ouvido do outro lado da linha. Eram quase três da manhã e estava no escuro da bagunçada sala do apartamento que Will dividia com alguns amigos da faculdade, no canto de um velho sofá, com os joelhos dobrados perto do queixo. Vestia uma camiseta da banda Empire of the Sun que pertencia a Will, por isso ficava meio grande nele e quase cobria totalmente sua cueca boxer preta.

— Eu tenho um tempinho – Nico calculava que ela tinha acabado de acordar. - Tudo bem? Algum problema com seu príncipe americano?

— Will está dormindo. - Ele ignorou a provocação da irmã.

— Você ainda está no apartamento dele?

— Os amigos saíram da cidade para aproveitar o recesso de inverno, então...

— Sei. Não precisa me dar detalhes do que vocês andam fazendo aí. Eu realmente não preciso saber.

Nico bufou, escondendo o rosto no braço apoiado nos joelhos e falou com a voz séria:

— Sabe, eu liguei por um motivo importante.

— E o que seria?

Ele precisou de uma pausa antes de tomar fôlego e começar a dizer:

— Will me... ahn... convidou para vir morar em Nova York. Com ele. Quer dizer, você sabe que eu me formo na primavera, mas Will ainda tem uns três anos na escola de medicina e... Bem, ele me mostrou umas fotos de um apartamento pequeno perto do campus que ele está querendo alugar e começou a dizer que podíamos morar lá juntos, que eu podia me mudar depois da formatura se... se eu quisesse.

— Oh! – Foi a primeira reação de Bianca. - Tipo... Uau! Isso é... E o que você fez?

— Eu fiquei meio atordoado e falei que não sabia o que dizer... Will disse que eu não precisava dizer nada, que era só para pensar no assunto e decidir com calma... – Pensar nisso era justamente o que ele não parava de fazer desde que ouvira a proposta de Will, mas não conseguia ter calma. A ansiedade o estava matando. No momento, ele cutucava impiedosamente um rasgo no estofamento do sofá. – Quer dizer... Depois que você saiu de casa, não tem mais muita coisa que me prenda em Veneza... Além do mais, papai é americano, então não seria nenhum absurdo eu querer morar aqui, não é? E também... Os McDonald’s daqui são muito melhores que os da Itália e...

Ele foi interrompido por uma risadinha do outro lado da linha.

— Está me parecendo que você já tomou sua decisão.

Nico suspirou longamente.

— Você não acha que isso pode ser um erro? É uma grande mudança... E se... E se eu me arrepender? E se acabarmos odiando um ao outro vivendo sob o mesmo teto?

Percebendo que o irmão estava mesmo tendo uma crise, Bianca procurou assumir um tom tranquilizador e sensato:

— Tem razão, é uma grande mudança, mas isso é bom, não é? Sobre viverem sob o mesmo teto, eu apostaria que vocês aguentam. Mas se você algum dia vier a se arrepender, não vai ser o fim do mundo. Você sempre pode voltar para casa se quiser, ou escolher qualquer outro lugar para recomeçar... O mundo é grande, a vida é curta e é melhor você se arrepender de algo que fez do que de algo que deixou de fazer, esse é o meu lema.

— Você acabou de inventar isso.

— Eu não inventei. Devo ter lido em algum lugar.

Nico deixou escapar uma risadinha pelo nariz. Os dois ficaram em silêncio por uns segundos, até ele retomar:

— O que você acha que papai vai dizer? – Era outra das coisas em que vinha pensando, mas já não parecia muito preocupado.

— Bem, quando eu contei que ia sair de casa, ele só perguntou se eu ia precisar de dinheiro... Mas acho que é capaz de ele ficar satisfeito que você tenha escolhido a América. Falando nisso, acho que ele gostou do vídeo de vocês no aeroporto.

— Você mostrou aquela droga para ele?!

— Eu não mostrei, mas compartilhei em toda parte e quando comentei com ele que parecia que você estava se divertindo na América, ele disse “É, parece que sim”. Eu sei que Perséfone assistiu.

— Eu odeio você.

Bianca retrucou, com a voz sorridente:

— Eu odeio você mais, maninho.