Durante a batalha de Manhattan, Will tinha descido do Monte Olimpo para tentar resgatar mais feridos quando presenciou a chegada do garoto de armadura negra que fez o exército inimigo recuar para sua passagem. Depois dele vieram os próprios rei e rainha do Mundo Inferior e a deusa Deméter, acompanhados de um imenso exército de milhares de mortos. Foi uma das coisas mais impressionantes que Will viu na vida, e o fez sentir um sopro quente de esperança mesmo diante do caos estabelecido e da dor recente da perda de um irmão.

Mas ele não tinha tempo para perder observando os combates. Havia serviço a fazer. Tudo estava um completo caos e ficou ainda pior quando as barreiras mágicas da cidade foram derrubadas, fazendo Nova York despertar no terror da batalha.

Will procurava afastar do tumulto os feridos aos quais conseguia chegar ao mesmo tempo em que gritava para mortais se afastarem. As flechas que levara para se defender tinham acabado. Procurava ser muito cuidadoso, mas quando se preparava para carregar uma caçadora de Ártemis inconsciente, percebeu um movimento rápido e um barulho às suas costas. Quando se virou só viu a poeira que era tudo que restava do monstro que tentara atacá-lo. O garoto da armadura negra estava ali com a espada ainda posicionada em ataque, um brilho mortal visível nos olhos por trás do capacete de caveira que usava. Ele se virou para enfrentar duas dracaena que se aproximavam, Will cuidou de se afastar enquanto elas eram transformadas em poeira também.

Depois da vitória do Olimpo, vários dias de muito o que fazer na enfermaria do acampamento se seguiram. Uma manhã, quando Will deixou o lugar para tomar café sentiu como se fosse a primeira vez que via a luz do sol em anos.

Ele parou na entrada do pavilhão de refeições, àquela hora com pouca gente, e seus olhos logo repousaram sobre a figura de roupas pretas sentada de pernas cruzadas num canto, diante do muro de contenção. Por algum motivo, o coração de Will deu um salto com a perspectiva de se aproximar do filho de Hades. Durante aqueles dias, ele ouvira muitas histórias sobre Nico di Angelo, e mesmo as mais assustadoras só fizeram aumentar um certo fascínio que a imagem dele lhe provocava.

Will empilhou uns croissants num prato e pegou um copo de suco de laranja, apressado, antes de se dirigir para aquele canto, onde se sentou despretensiosamente a pouca distância do outro, que não pareceu notar sua presença até Will cumprimentar depois de um pigarro:

— Oi.

Nico voltou-se para ele, os olhos escuros pareceram reconhecer Will, que se apresentou:

— Will Solace, filho de Apolo.

O outro assentiu levemente e disse:

— Nico di Angelo...

— Sim, eu já ouvi falar de você... Quer dizer... Ahn... O que quero dizer é que acho que não pude agradecer devidamente pela ajuda na batalha... É meio louco imaginar que se você não tivesse aparecido naquele momento, eu estaria... - Will baixou os olhos. Falar em morte ainda era muito doloroso depois de todas as perdas.

— Não precisa agradecer – foi a resposta de Nico, que revirava pedaços de torrada no próprio prato com a mão em que usava um anel prateado de caveira.

— Acho... Que vai gostar de saber que a caçadora que me ajudou a salvar se recuperou bem.

Nico mais uma vez pousou os olhos em Will antes de novamente desviá-los, assumindo uma expressão distante e melancólica.

— É... É bom saber...

Will se perguntou o que tinha dito de errado. Nico ficou em silêncio. Will pensou freneticamente em como prosseguir. Por fim, decidiu-se por algo que parecia bem ameno e seguro:

— É verdade mesmo que você foi trazido para cá pela primeira vez na carruagem do sol de Apolo?

Will observava o perfil de Nico e viu claramente o canto de sua boca se esticar com o início de um sorriso, era um sorriso que de alguma forma se misturava à expressão tristonha de antes, como se ele estivesse se lembrando de algo muito bom que nunca mais voltaria, mas fez Will sentir que tinha feito alguma coisa certa, aí o sorriso se desfez de repente, a expressão do filho de Hades se fechou como um dia de tempestade. Ele baixou os olhos e resmungou:

— Eu tenho que ir.

— O-o... quê? Por quê?

Nico se levantou e deixou o prato com os pedaços de torrada na bancada de despejo.

— Desculpe, eu... apenas tenho que ir.

Antes que Will tivesse a chance de dizer mais alguma coisa, ele deu um passo na direção da sombra produzida por uma das colunas do pavilhão e simplesmente desapareceu como se a sombra fosse um tipo de portal.

Willl ficou ali parado encarando a mancha negra que engolira Nico por um tempo, atônito. De repente, toda a empolgação que tomara conta dele desapareceu, deixando apenas o cansaço. Ele não tinha mais nem fome. Com um suspiro, deixou o prato com os croissants intocados ao lado do de Nico, resolvendo ir para o chalé 7 tentar dormir um pouco.

— Bom dia, Will.

Percy e Annabeth passaram por ele, sorrindo, indo se sentar no muro, lado a lado, de frente para o mar.

— Bom dia – Will respondeu procurando dar um sorriso que deve ter saído meio amarelo e seguindo seu caminho ainda tentando entender o que tinha sido aquilo com o filho de Hades, desejando tê-lo ouvido falar sobre o que o fizera sorrir.