—Kotoko, presta atenção no que está fazendo! –Gritou o instrutor.

—Certo, desculpe! –Gritei de volta.

Continuei a pegar as bolinhas no chão até que vozes familiares se fizeram presentes:

—Hey Naoki, que tal uma partida?

Eu reconheci a voz de uma antiga colega, Matsumoto era o nome dela? Minha cabeça dói enquanto discussões entre mim e a garota se passam pela minha mente, pelo que brigávamos?

—Sim, parece uma boa ideia.

Eu me viro assustada somente para dar de cara com o arrogante inteligente novamente. Seus olhos me avaliam, eu me viro rapidamente e respiro fundo, meu coração se agita como um furacão.

—Hey Naoki! –As pessoas começam a chegar próximo dele com sorrisos de felicidade.

Rapidamente há uma pequena multidão em volta de Naoki.

—Faz tempo que não te vemos! –Alguém diz.

—Vamos jogar Naoki!

Eu olho a hora no meu celular e caminho até o instrutor Sudou.

—Está se sentindo bem Kotoko? –Ele pergunta.

Eu nego com a cabeça.

—Estou meio tonta. –Digo. –Será que posso sair um pouco mais cedo hoje?

Sudou sorri, ele parece muito mais compreensivo. Coloca uma de suas mãos no meu ombro e assente com um grande sorriso.

—Descanse bem, espero que seu marido esteja cuidando muito bem de você.

Eu me viro em direção a saída contrária pela qual Naoki entrou, eu não fazia ideia do porque estava evitando Naoki, mas meu coração sempre batia descompensado quando a via e isso era o suficiente para me deixar sem ar. Eu não lembrava dele, e isso me deixava frustrada porque meu corpo reagia a ele como álcool a fogo e isso estava me enlouquecendo profundamente.

Meu celular começou a tocar como um louco e o nome de Marina piscou infinitamente na tela.

—Marina? –Atendi.

—Não querida, chapeuzinho vermelho. –Ela disse rindo.

—Pensei que fosse uma emergência. –Digo. –Houve alguma coisa?

—Sim! –Ela gritou.

—O que?

—Algo muito importante.

—Você está machucada?

—Não.

—Alguém está machucado?

—Não.

—Tem certeza que é muito importante?

Começo a caminhar em direção ao vestiário ainda com o telefone em mãos.

—Vamos ter um festival de dança na faculdade.

—Aham. –Digo. –E o que tem?

—O curso vencedor vai para uma viagem no Brasil!

—Aham.

—Isso não é ótimo? –Pergunta ela.

—Sim, é muito legal. –Digo ainda sem entender o que ela está falando.

—Para nosso curso ganhar precisamos que todos os alunos dancem...

—Aham. –Murmuro.

—Então você aceita?

—Aceita o que? –Perguntei.

—Você está prestando atenção no que estou falando? –Ela pergunta.

—Estou. –Digo. –Estou mesmo.

—Os ensaios começam amanhã, vamos acabar com as garotas da engenharia! –Ela grita animada.

Eu rio e então me dou conta do que isso significa.

—Mas Marina, eu não sei dançar! –Digo.

—Nos vemos amanhã....

—MARINA!

Marina desliga o telefone me deixando frustrada. Eu teria que me apresentar na frente de um monte de pessoas? O que? Eu estava realmente lascada, eu não era boa com público, Oh Deus! Eu já podia me ver caindo, tropeçando e levando tomates na cara.

****

Eu estava prestes a descer para tomar um copo de água quando escutei a porta da frente batendo.

—Naoki meu filho, o que foi?

Eu congelei próxima a escada, podia escutar claramente suas vozes e me senti amedrontada de continuar.

— Não foi nada. –Naoki diz.

—É sobre Kotoko? –A mãe dele pergunta.

Silêncio.

—Naoki...

—Eu sei mãe, não precisa me falar nada.

Silêncio.

—Uma das amigas de Kotoko ligou aqui em casa. –A mãe de Irie-Kun diz. –Ela me contou sobre um show de talentos que vai ter na escola, e perguntou se Kotoko podia dançar.

—Kotoko não vai participar. –Naoki diz.

—Querido, creio que você não possa decidir isso por ela.

—Ela ainda não está bem.

Silêncio.

—Filho já está na hora de aceitar. –Ela diz baixando a voz. – Kotoko não é a mesma de antes.

Eu volto rapidamente para meu quarto e deito na cama escondendo o rosto no travesseiro, porque tudo aquilo estava acontecendo comigo? Minha cabeça estava ama completa bagunça. Do lado de fora a chuva começa a cair pesada e junto com ela relâmpagos e trovoes, eu me encolho na cama amedrontada. O quarto está completamente escuro e só posso escutar os barulhos altos da tempestade que me fazem ter medo. Eu aperto meus olhos fortemente e me cubro por completo.

A porta do quarto se abre devagar, eu congelo, permaneço com os olhos fechados. Não ouço os passos lentos pelo quarto, mas sinto quando o colchão afunda a minha frente e uma grande mão quente começa a acariciar meu cabelo.

—Não tenha medo Kotoko, eu estou aqui com você. –Ele sussurra próximo a meu ouvido.

Me sinto aquecida por dentro, meu coração descompensado quase me deixa sem ar. Sinto as palmas de minha mão formigarem para toca-lo, mal posso me conter quieta, quero abraça-lo, quero senti-lo. Naoki se deita ao meu lado, ele me abraça delicadamente –tentando não me acordar imagino – e deixa um cálido beijo em minha testa.

—Quando você vai lembrar de mim Kotoko? –Ele sussurra.

Eu continuo fingindo estar dormindo, e por dentro estou fervendo. O que está acontecendo comigo? Um trovão alto faz eu me encolher e Naoki aperta seus braços em volta de mim. Ali, parada naquele instante, me sinto quente e protegida, a sensação é extremamente familiar e me faz querer continuar ali para sempre. Quero me apegar a Irie-kun, abraça-lo e nunca mais solta-lo, quero tê-lo só para mim.

Estou inquieta, mas não consigo me mexer, tenho medo de que ele possa ir embora. Decido, quero me lembrar agora, e eu tento, me forço a lembrar de seu rosto em minha memória, procuro qualquer mínima lembrança, mas não consigo, e sua imagem volta a aparecer como um vulto branco sempre me cercando.

Quando acordo pela manhã estou sozinha, o vazio faz eu me sentir solitária, mas algo aquece meu coração. Abro um grande sorriso quando vejo o lindo sol entrando pelo quarto e então pulo da cama ao olhar para o relógio da cabeceira.

—Estou atrasada! –Digo correndo para fora do quarto.