—Bom dia Kotoko. –Cumprimentou a mãe de Irie alegremente.

Eu sorrio me sentando apressadamente e abocanhando uma torrada. Naoki está ausente e a minha frente só vejo seu irmão mais novo que mastiga lentamente seus ovos enquanto lê um jornal – tão parecido com o irmão-.

Me levanto pegando a bolsa e colocando sobre os ombros.

—Estou atrasada! –Digo. –Vou indo primeiro, até depois.

A senhora Irie está prestes a questionar algo, todavia, corro tão depressa dali que ela nem mesmo chega a pronunciar a primeira palavra. Corro para a faculdade enquanto observo animada o quanto o dia está bonito, o sol bate em meu rosto assim como a brisa fresca, o dia está tão bonito que nem mesmo parece que ontem ocorreu uma enorme tempestade, tempestade essa que me fiz abrir o mais largo dos sorrisos – não por seus trovões assustadores- mas por eu ter dormindo tão bem nos braços de Naoki.

Droga.

O que eu estava pensando? Naoki era um desconhecido, meu marido desconhecido. Mas meu coração continuava a acelerar toda vez que eu o via, e isso me deixava empolgada e assustada.

Paro assim que chego no portão da faculdades respirando com alta dificuldade, me posiciono com as mãos no joelho enquanto respiro profundamente. Assim que me recomponho continuo a andar mas paraliso assim que meus olhos se focam em um garoto alto de jaleco rodeado de garotas não tão longe de mim.

—Parece que Naoki está esquecendo você. – Diz Marina chegando de surpresa ao meu lado.

—Marina! –Diz Tomoko. – Não infernize Kotoko a essa hora do dia.

—Vocês fazem muito barulho. –Diz Keita se posicionando ao meu lado.

Eu continuo encarando Naoki a distância, ele parecia tão longe, mas ao mesmo tempo tão perto. Ele continuava conversando com o bando de garotas, mas para um pingo de alegria de minha parte, ele continha em sua face a mesma expressão de tédio que sempre carregava consigo.

—Vamos Kotoko. –Chama Keita me puxando pelo braço. – Temos aula agora.

Eu assinto afirmando e me viro para seguir meus amigos para primeira aula, meus pensamentos sempre voltando a Naoki.

****

—EU NÃO POSSO ACREDITAR NISSO! –Marina gritou estridentemente.

Meus amigos e assim como o resto da sala de enfermagem caiu na gargalhada enquanto eu me encolhia envergonhada.

—Kotoko, por que não nos contou? –Perguntou Keita. –Este é realmente um feito extraordinário.

—Eu não fazia ideia. –Digo.

—Parece que a Kotoko não é tão idiota assim. – Marina disse.

Todos riram novamente.

—Kotoko, pode fazer novamente?  -Uma de minhas colegas da sala de aula perguntou.

Eu afirmei com a cabeça.

5 – 6 – 7 – 8

Tornei a repetir a pequena coreografia que eu havia decorado tão rapidamente de um grupo coreano que eu adorava ( Miss A), os alunos da enfermagem pareciam surpresos, mas não tanto quanto eu estava por vê-los surpresos. Assim que acabei novamente eles estouraram em aplausos e assobios. Era um milagre que eu tenha conseguido acertar os passos e faze-los no ritmo correto, outro milagre maior ainda eu ter lembrado dos passos.

—É isso! –Marina disse. –Kotoko pode ser nossa arma secreta!

—Como assim? –Alguém perguntou.

—É obvio. –Marina continuou. –Todos pensam que Kotoko que é burra e idiota, nunca vão esperar que ela dança bem. – Quando todos concordam ela continua. – Podemos usa-la como uma arma surpresa e ganhar o prêmio!

—É uma boa ideia. –Disse Keita. –Mas vocês tem que falar com a Kotoko primeiro.

Os olhos de todos são direcionados pra mim, imediatamente sinto a pressão e o peso de minha resposta cair sobre meus ombros, aquilo poderia redefinir meu status para toda faculdade. Imediatamente minha mente é invadida com pequenos flashs, lapses de memória onde Naoki me chamava e tola, burra, idiota ou estúpida. Seria essa minha chance de ouro de mostrar que ele estava errado? De mostrar que eu valia a pena?

—Tudo bem. –Digo.

Meus colegas berram e aplaudem e de repente me sinto um pouco sem graça, de repente todas aquelas pessoas contam comigo para que seja um show fantástico, e sinceramente tenho medo de que não consiga alcançar suas expectativas. Minh cabeça lateja e eu fecho os olhos por alguns instantes, novos flashs, novos pequenos fragmentos de memória retornam a meu cérebro, a maioria deles de Naoki, em alguns estamos discutindo, mas rapidamente todo o cenário muda pra quando estou em seus braços. Abro meus olhos, não é hora de fantasiar com o passado, é hora de imaginar o futuro.