De Janeiro a Janeiro escrita por Arii Vitória


Capítulo 4
Capítulo 3 "O garoto, o violão e os amigos"


Notas iniciais do capítulo

Heeey serumaninhos, tudo bom?
Então, dessa vez eu trouxe pra vocês a história do Samuca, vou dizer, estou adorando escrever sobre ele e espero que vocês gostem de ler.
Pra quem estava achando que a história era só BiDu, bom, não é bem assim, mas logo perceberão que tudo girará um pouco em torno de BiDu.
Enfim, vamos ao capítulo!



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Narrado por Samuca

Tirei minha mochila preta dos ombros e coloquei-a no chão, perto dos meus pés, ao lado dela, apoiei a caixa dura e surrada de couro onde trazia meu violão. Respirei fundo, mas antes de qualquer coisa, meu olhar foi atraído por aquela árvore. Eu nunca havia parado para reparar naquela árvore cheia de flores -que eu não fazia a mínima ideia do nome- que tinham um tom amarelado, ao lado do portão daquele prédio que parecia tão importante, onde homens engravatados entravam e saiam sem parar, mas naquele dia, por algum motivo, eu parei para observar a árvore.

Aquilo me fez pensar na quantidade de coisas que passarmos perto e não reparamos, na quantidade de coisas que acontece conosco e simplesmente não damos valor, como se vivêssemos no automático.

Talvez tenha sido no automático quando briguei com meu pai pela última vez aos dezesseis anos e decidir sair de casa e vir morar e estudar aqui com meu irmão. Talvez tenha sido no automático quando meu irmão se mudou e eu tive que dar conta de tudo sozinho e então, mesmo sendo tão tímido, começar a tocar violão nas tardes de dias de semana no meio da praça. Mas não, com certeza não foi no automático quando fui aceito no colégio THS, e meus apelidos mudaram de “garoto que fugiu de casa” para “nerd”.

Eu não era muito bom em fazer amigos, mas foi bem fácil me socializar com Binho e Rafa, que logo me contaram que também moravam sozinhos, tinham um apartamento e que se eu quisesse, eu podia ir morar com eles. Entretanto, com certeza foi no automático quando eles, de um dia para outro, se tornaram meus melhores amigos.

Logo tirei minha atenção da árvore de flores amarelas e todos as lembranças que apareceram junto com ela, e olhei para os lados, observando o lugar que eu havia escolhido para me apresentar nos próximos meses. Era tão movimentado que muita gente passava sem notar o garoto alto e magro, o desengonçado de óculos no meio da calçada, havia outros artistas ali então, como eu iria fazer com que eles me notassem naquele dia?

Retirei o instrumento da caixa, passando a correia do violão pelos ombros e afinando as cordas. Logo veio na cabeça o jeito perfeito de ganhar atenção.

Comecei a tocar lentamente nas cordas.

Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou. Mas tenho muito tempo. Temos todo o tempo do mundo. Todos os dias antes de dormir, lembro e esqueço como foi o dia, sempre em frente, não temos tempo a perder.

Legião Urbana combinava com o dia.

Logo começaram a colocar moedas em meu pote e eu acenava e sorria em agradecimento, sem parar de cantar.

Fechei os olhos por um momento, deixando-me levar pela música, mas quando os abri novamente, pude perceber uma menina conhecida. Ela me observava de longe.

Era aquela líder de torcida do colégio que andava com a Bia, qual era mesmo seu nome... Ah, sim, Viviane!

Ela sorriu para mim, e eu cantei mais alto. A garota era de uma turma diferente da minha, mas eu conseguia me lembrar dela em algum jogo de futebol do colégio.

Ela murmurou uma parte da música junto comigo, mas em seguida, foi embora, antes mesmo que a música acabasse, e logo que ela acabou, eu pude ver que a garota andava em direção ao prédio enorme, bem do lado da árvore com flores amarelas que eu havia reparado mais cedo. Ela entrou no prédio, e então um garoto entrou na minha frente, impedindo-me de continuar vendo-a.

—Não vai tocar mais nada? –perguntou o menino que parecia ter no máximo 13 anos de idade e tinha uma coca na mão.

—Alguma sugestão? –perguntei, voltando ao meu mundo real, o mundo em que eu precisava ganhar dinheiro para ir á uma boa faculdade...

(...)

—Samuca... Samuca, SAMUCA TERRA CHAMANDO! –Binho gritou, mas eu estava distraído demais, acabava de chegar em casa e me jogar no sofá.

—O que é? –perguntei.

—Você vai ao jogo, certo?

—É provável. –respondi sem ter certeza, eu precisava bater minha meta do mês na praça com meu violão, nem que fosse preciso fazer isso até nos domingos. 

—O próximo jogo é no domingo e eu vou convidar uma líder de torcida gatinha pra sair comigo depois dele...

—Você passa o jogo inteiro no banco, o que te faz pensar que uma delas sairia com você? –eu perguntei a Binho, que estava assistindo algum anime na televisão, mas logo levantou-se. 

—Eu pelo menos estou no time, já você... –ele falou me zoando. 

—Eu não sei jogar futebol, e mesmo que soubesse, eu já tenho minha vocação, eu gosto mesmo é de música!

—Estrelas do rock também costumam namorar muitas meninas, mas jogadores de futebol são os maiores pegadores, você sabe, lembra como o Duda era antes de começar a namorar sério?

—Claro, ele e o Rafa costumavam ser amigos...

—Mas, diz aí, eu estou bem? –ele perguntou, usava uma camisa e uma blusa xadrez por cima, e tinha uma faixa na cabeça.

Rafa entrou pela porta de casa nesse mesmo instante.

—Se for pra levar um fora tá ótimo! –ele respondeu por mim.

—Quer saber, eu acho que não vou á esse jogo.

—Ah, vamos! –Rafa pediu.

—Mas mudando de assunto, como foi hoje? Alguma novidade? –Binho me perguntou, voltando a olhar para a tevê.

Pensei em contar para ele sobre a garota da escola, mas decidi guardar para mim, afinal, não era nada demais.

—Um garotinho tentou me ensinar a cantar a playlist dele, que na verdade só tinha funk e uma música do Gavin Degraw, que eu até queria cantar, mas ele não queria aquela não.

—Como a história termina? –o caçula do grupo voltou a perguntar.

—Ah, ele saiu batendo o pé e dizendo que eu não merecia nem um centavo se não sabia cantar Malandramente... Algo me disse que ele iria ir beber mais uma Coca de tão irritado que ficou.

—Devia ser irmão do Rafa. –Binho brincou e rimos.

—E o seu irmão acabou de me parar na rua, ele queria que eu arrumasse uma namorada pra você, disse que você já estava encalhado á dois anos.

Gargalhei. No fim das contas, era muito divertido morar com aqueles dois.


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Notas finais do capítulo

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