Lamentar  

Manifestar dor, chorar, prantear. Afligir-se, magoar-se.

Olhava entediada, através do vidro da janela, a chuva que caia cada vez mais intensa. Tudo estaria perfeito se não soubesse que seu amado estava ocupado demais para ouvi-la, sua companheira de quarto não estava ali ou não tivesse que aturar uma loira insuportável que não parava de tagarelar. Comparado a voz de Ino, o barulho dos trovões era milhares de vezes melhor. Tudo bem, nada estava perfeito. Olhou para a garota que permanecia falando coisas inúteis e aleatórias. 

- Me diga, porque mesmo você está aqui? Brigou com a Karin? – Perguntou, já não aguentando mais ouvir aquela voz.

- Parei de falar com ela. Não quero ser contada como cúmplice dela, se não meu Sasuke jamais olharia para mim. - Ino respondeu, indiferente.

- Seu?

- Sim, meu. E estou aqui para lhe fazer companhia, oras. Parece que Sasuke-kun te abandonou. Então preciso ficar aqui.

- Se você está aqui, é porque ele te abandonou também. – Sakura rebateu.

- Claro que não!

- Claro que sim, sua porca!

- Cale a boca, sua tes... – Ino parou de falar assim que a luz acabou.

Gritos histéricos passaram a ecoar pelos corredores, misturando-se com os das duas garotas.

- SILÊNCIO! – Uma voz autoritária pronunciou em um tom absurdamente alto. Todas as garotas daquele andar abriram suas devidas portas e andaram até a inspetora. Somente uma vela, que a mesma segurava, iluminava o local. – Parece que graças à tempestade alguns prédios acabaram sem luz. Então mantenham a calma, a não ser que me queiram estressada.

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Sua cabeça doía cada vez mais com todos aqueles pensamentos. Não sabia mais o que fazer. Olhou para a garota mais uma vez. Seu pensamento mais perturbador era olhá-la e ver que parecia estar morta, se não fosse pelos vestígios de sua respiração tranquila. Os clarões de relâmpagos, que rasgavam o céu, iluminavam o quarto, apesar das janelas parcialmente fechadas. Os trovões, ecoando ao longe, pareciam chegar cada vez mais perto, enquanto a chuva desabava com força sobre o telhado. Fazia algum tempo que a energia havia acabado no local e uma gentil enfermeira trouxe uma vela para iluminar o pequeno quarto onde a garota descansava. A cada estrondo, Hinata parecia respirar com mais dificuldade. Contorcia-se entre os lençóis e seu rosto suava. Sasuke levantou no mesmo instante, indo em sua direção. Colocou uma das mãos sobre a testa quente da menina, quente o suficiente para ter certeza que ela estava com febre. Aproximou-se um pouco, e a respiração de Hinata se tornava mais lenta e calma.

- Sasuke...- Entreabriu os lábios para pronunciar seu nome. De alguma forma, sabia que era ele. Ao ouvir a voz da garota ele – automaticamente – tirou a mãos de sua testa e deu um passo para trás.

- Hinata... – Ele a chamou.

A morena apertou os olhos com força, antes de abri-los lentamente. Já estava mais calma e o barulho os trovões, incrivelmente, passava despercebido. Um risco em seus pequenos lábios formou um singelo sorriso e seus olhos abriram, passando a encarar o menino. No rosto pálido, as bochechas agora coravam, lhe dando mais ‘vida’.

- O q-que... – Ela começou a perguntar, mas as luzes acenderam, obrigando-a a fechar os olhos novamente.

- Parece que a energia voltou. – Explicou, colocando as mãos no bolso e voltando a sua postura séria.

- Olá. – A enfermeira disse, após entrar no cômodo sem se importar em bater na porta. – Acho melhor você ir agora, Uchiha-san. Está tarde.

- Claro. – Disse e afirmou com a cabeça. Olhou para Hinata e lhe lançou um sorriso. – Boa noite.

- Boa noite, Sasuke-kun. – Respondeu, antes que ele saísse com a enfermeira e fechasse a porta.

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Já não chovia mais, o céu estava claro e limpo como se não tivesse chovido no dia anterior. Haviam lhe contado que Hinata já voltaria a assistir às aulas, sem muitos problemas. Mas não a procurou em momento algum. Passaram-se os três primeiros tempos, o recreio. E mesmo assim, não falou com ela. Nem mesmo um “Oi”. “Aonde você se meteu agora?” Ele começou a se perguntar. - Sasuke-kun! – A ruiva, que corria em sua direção com os olhos brilhantes, gritou e tirou sua atenção. Ele parou de andar quando a mesma postou-se a sua frente, atrapalhando sua passagem. Sequer a encarou, apenas aguardou o momento que ela sairia da sua frente. Sentia vontade de esmagá-la, cortá-la em cubos ou espremer sua cabeça na parede até fazer um suco, não que alguém tivesse coragem ou vontade de beber um Suco de Karin. Surpreendeu-se com tamanha ousadia quando a garota se atreveu a erguer uma das mãos até sua bochecha. A menina quem ficou mais surpreendida quando um tapa atingiu sua mão, impedindo que seus seus dedos tocassem a pele do garoto que dizia amar.

- Suma daqui. – Foi o que se limitou a dizer, antes de dar uma pequena volta para continuar seu caminho. Queria chamá-la de coisas como “Maldita” para baixo, queria machucá-la muito mais do que com um simples tapa na mão. Mas tinha que se controlar. Pelo menos, por enquanto. Voltou a andar em direção à sala, e o que menos queria aconteceu.

- O que houve? Está bravo por causa daquela coisinha? – A ruiva indagou. Ela estava o seguindo, agora, coisa que o deixou mais irritado ainda.

- De quem você esta falando? – Parou de andar mais uma vez, contendo-se para não matá-la ali mesmo.

- Olha... Eu só fiz o que muitas outras queriam fazer. Se não fosse eu, cedo ou tarde alguma das suas ‘fãs’ iria fazer isso. – Ela disse. Apenas confirmando o que ele já esperava. Era tudo culpa dele, ele sabia.

- Eu disse para você sumir. – A expulsou, com a voz mais furiosa possível e voltou a andar. Seus passos mais longos e acelerados.

Logo chegou ao corredor que levava até a sala de aula, e lá estava ela. A menina abriu um sorriso quando o viu aproximar-se, desviando o olhar em um ato tímido e não conseguiu evitar que suas bochechas corassem, como de costume. Ela devia estar confusa já que não treinaram piano no intervalo ou não se encontraram nas aulas anteriores. Não queria fazer aquilo, não podia fazer aquilo. Mas o fez.

- Sa... – Hinata começou a dizer, mas não se deu ao trabalho de continuar quando ele passou a sua frente e entrou na sala, sem olhar para ela nem mesmo por um segundo. Por pouco não deixou que os livros caíssem no chão. Ficou parada algum tempo, apenas tentando entender porque ele havia feito aquilo. O que estava acontecendo afinal?

Entrou na sala e sentou no mesmo lugar de sempre. Ao lado de Sakura. Sua expressão de ‘poucos amigos’ não agradou nem um pouco Hinata. Se já não bastasse Sasuke, Sakura também estava com raiva dela? Será que Kiba e Shino também a odiavam? As últimas aulas passaram lentamente ao seu ver. Mas assim que o sinal tocou, andou o mais depressa possível para o quarto. Tentou expulsar da mente o pensamento que mesmo assim não teria paz o suficiente, já que não demoraria tanto para Sakura ir até lá. Ficou sentada na cama, abraçando seu travesseiro. E depois de um curto período, a dona dos cabelos róseos entrou no quarto.

- Hinata! – A chamou, sem evitar a preocupação. Hinata levantou a cabeça, deixando que a 'amiga' visse seu estado. Os olhos já estavam vermelhos e inchados, e as lágrimas ainda rolavam pelo seu rosto. – O que...?

- O... O que... O que eu fiz de errado, Sakura-chan? – Perguntou entre as lágrimas, abaixando a cabeça mais uma vez, aos prantos.

- Por que está chorando? – Indagou novamente, sentando-se ao lado dela.