Preocupação
Inquietação, apreensão. Idéia fixa que perturba a mente.

Hinata’s POV
Passei as semanas anteriores um pouco confusa. Dediquei metade, ou mais, do que já havia vivido amando a mesma pessoa, admirando a mesma pessoa. A qual jamais sequer olhou para mim como alguém além de uma simples amiga. Mas agora... Tudo estava confuso. Já não dedicava todo meu tempo pensando nele, não ficava todo o tempo procurando saber o que ele fazia. Já estava se tornando difícil acreditar que aquele amor não correspondido teria algum futuro. Mas não era por parte dele que eu estava confusa, era por mim. Já fazia algum tempo que as perguntas de Sakura, curiosidades de Ino e ameaças de Karin se tornaram mais freqüentes. E estava cada vez mais complicado esconder aquilo delas. Nunca fui boa quando o assunto é mentira. Mas depois que passei a ‘conversar’, ‘treinar’ e me ‘encontrar’ escondido com Sasuke... As mentiras passaram a ser mais do que necessárias. Talvez eu pudesse me acostumar a mentir, não é? Não só para o bem dele, mas para o meu também. Tudo parecia bem, normal... Mas, não podia acontecer, eu não queria sofrer novamente. Passei tantos anos apaixonada por Naruto e não sendo correspondia... Não poderia admitir sofrer novamente, mas agora... Por amar Sasuke. “Não posso, não quero.” Pelo menos, era o que eu tentava me convencer.

Sasuke’s POV
Talvez Itachi tenha razão. Eu devo ter perdido meu sexto sentido, se é que cheguei a ter um algum dia. Nem mesmo Naruto sabia o que acontecia, mas não sabia por ser um idiota e não perceber o que acontecia ao redor... Já que foram inúmeras às vezes em que me viu no auditório com Hinata. Ainda não conseguia entender o por quê de Itachi ter descoberto tudo e não ter espalhado pelos quatro cantos da escola. Talvez fosse algo inútil, relevante e nada importante o suficiente para virar fofoca... Ou apenas estivesse fazendo algo tão errado e ele esperasse que eu realmente acabasse mal no final. Ou ele só esteja preocupado pelo irmão estar louco... Tudo bem, isto não poderia ser. Mas não importava, de qualquer forma. Em momento algum fui alguém que se esforçaria para aprender algo como tocar piano, jamais pensei que iria voltar a sorrir e nunca pensei... Que gostaria de passar tanto tempo com a mesma pessoa. Passei tanto tempo acostumado com a escuridão, não conseguia acreditar que podia me libertar da escuridão apenas olhando para seus olhos perolados. Eu não queria admitir, eu não podia admitir. Seria ela quem me tiraria de toda solidão... E estava cada vez mais difícil ficar longe dela.

~

- Sa-Sasuke-kun! – Chamou sua atenção, usando o recente e admirado sufixo “kun” – Está prestando atenção?

- Hãn? Claro. – Afirmou, desviando o olhar dela para observar o grande piano, pousando as mãos sobre ele e depois tocando em algumas das teclas que ressoaram ao que a Hyuuga havia tocado anteriormente.

- Muito Bom... – Disse, diminuindo o tom até chegar o final da pequena frase. O celular tocava em harmonia o sinal, o que indicava o fim do intervalo. Este é o momento que vinha se repetindo durante essas semanas: Sasuke voltaria ao seu modo frio e obscuro e iria para o clube de basquete enquanto Hinata permaneceria ali, à espera da aula de música e nos inacabáveis interrogatórios de Sakura.

- Até mais. – O moreno disse como de costume e sorriu. Sorriso que foi se desmanchando na medida em que se levantava e se distanciava dela, indo em direção à porta.

- Até mais, Sasuke-kun... – Disse em um tom baixo e tristonho, antes dele sair e fechar a porta atrás de si. De alguma forma aquilo conseguiu fazer com que ele sorrisse novamente. Não ficou feliz pela tristeza dela, mas porque aquilo – de algum modo – significava que a companhia dele a agradava.

- Te achei! – Naruto gritou, tirando o capitão de seus devaneios.
- Porque, ao invés de ficar me perturbando, não vai procurar Sakura? - Perguntou, sem parar de andar em direção ao campo.

- Porque a Sakura-chan não é capitã do time e nem está atrasada. Ei, ei. Porque a Sakura-chan não é do time? – Questionou emburrado, enquanto seguia o moreno.

- Porque nós somos um time de basquete masculino. Até que você comprove que a Sakura não é mulher, não podemos botá-la no time. – Respondeu um tanto irônico.

- Teme!

- Idiota. – Disse, antes de abrir a grande porta e entrar na quadra de basquete.

~

Continuou sentada ali, em frente ao piano. E não demorou muito para que sua cabeça começasse a doer. Já fazia algum tempo que este tipo de coisa acontecia. Tudo ao seu redor parecia girar.

- Ei Hyuuga! – A voz ecoou na sua cabeça, parecia furiosa. Fechou os olhos com força e tampou os ouvido para abafar qualquer som que pudesse atormentá-la. – Olhe para mim! – A mesma voz ordenou. Então Hinata sentiu seu braço ser puxado, enquanto as grandes unhas da mão feminina permaneciam encravadas na pele da Hyuuga. Logo seu corpo foi levantado e a mulher a jogou bruscamente contra a parede.

- K-Karin...? – Perguntou confusa. Sua visão estava embaçada, mas conseguiu reconhecer a silhueta da ruiva. – O que vo...

- Eu vi o meu Sasuke sair daqui! – A garota afirmou erguendo a mão, que pareceu se encaixar perfeitamente no pescoço da morena. Levantou-a um pouco, até que seus pés não tocassem mais o chão, apertando o pescoço da mesma.

- E-Eu... – Tentou pronunciar algumas palavras, mas se tornava cada vez mais impossível respirar ou raciocinar. Levantou as mãos colocando-as sobre as da ruiva que a enforcava e tentou se soltar, em vão. – Ka...Rin... – Disse com uma voz suplicante e com algumas falhas.

- Hinata! – Ouviu a voz conhecida de Sakura a chamar, sumindo lentamente em sua mente confusa. Não conseguia mais diferenciar o que acontecia ao seu redor, sua visão estava ainda pior, não saberia colocar em palavras o que sentia naquele momento. Apenas fechou os olhos e “perdeu a consciência” alguns segundos depois.

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Pegou uma flecha qualquer, a posicionou no centro do arco, como um ato automático e de costume, sem tirar os olhos do alvo. Estava pensativo, tentava entender porque Hinata não havia chegado para aula ainda. Ela jamais havia faltado uma, a não ser na pior das hipóteses. “O que houve... Hinata?” Pensou confuso. Odiava quando se sentia confuso ou preocupado, não era algo de seu feitio. Sentia-se um idiota quando isto acontecia. Mas quando ela estava por perto esquecia-se de tudo aquilo e de qualquer outro problema que tivesse.

- Neji! Neji! – Sakura gritou, indo em direção a área de treinamento onde ambos estavam.

- Uhm...? – O Hyuuga abaixou o arco e olhou para ela que corria até ele com uma expressão desesperada e urgente.

- A Hinata! Parece que a Karin brigou com ela! – Começou a dizer para Neji. Sasuke já havia jogado o arco em um canto qualquer quando a ouviu dizer “Hinata” em seu tom desamparado. Ele já dava alguns passos acelerados, saindo dali. – Ei, Sasuke-kun! Preciso falar com...

Já era tarde, o Uchiha agora corria em direção ao grande prédio onde se localizava a enfermaria. Local onde tinha praticamente tudo para que não fosse necessária a saída dos alunos da instituição. Entrou e correu até a pequena recepção, onde uma mulher loira e de aparência jovem o encarou sorridente. O rosto da mesma corou ao ver quem estava a sua frente, seus lábios se entreabriram reforçando sua expressão tímida e envergonhada.

- Posso lhe ajudar? – Ofereceu, com a voz excessivamente melosa. Coisa que fez o estômago de Sasuke embrulhar.

- Hyuuga Hinata. Onde está? – Perguntou, tentando não deixar transparecer a preocupação e manter a postura séria.

- Está está... – Começou a dizer lentamente, enquanto digitava algo no teclado e observava o grande e – aparentemente – antigo monitor. Não se esforçou para esconder a mágoa por ele procurar outra mulher ao invés dela.

“Irritante” Ele pensou, antes de se pronunciar.

- Acho que se eu tivesse procurado ela de quarto em quarto já a teria encontrado. – Afirmou irônico e aborrecido por toda aquela ‘lerdeza’.

- O último quarto à direita. – Ela informou temerosa, apontando para um dos corredores. Sasuke limitou-se a assentir com a cabeça e andar, um pouco apressado, até o quarto indicado pela mulher. Bateu de leve na porta, mesmo sabendo que não viria uma resposta. Entrou e fechou a porta atrás de si.

- Hinata... – Pronunciou seu nome baixa e lentamente, enquanto encarava o rosto pálido da menina. A garota usava apenas um simples e humilde vestido branco, semelhante a uma ‘camisola’ sem muitos detalhes. Em seu pescoço ainda eram visíveis as marcas vermelhas dos dedos bruscos de Karin. Em seus braços ataduras escondiam possíveis machucados. Ela parecia mais frágil que o normal, mais carente de proteção que nunca. Amaldiçoava-se inúmeras vezes seguidas, tendo certeza que o estado dela era sua culpa. Se Karin havia provocado aquilo à Hyuuga... Era – definitivamente – culpa dele.