Crônicas das terras arrasadas: O sentimento algoz escrita por Abistrato


Capítulo 6
Capítulo 6 - Jennifer Wagen




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Capítulo 6 – Jennifer Wagen 

 
 
 

— Merda! WILL! — Esmurrar uma porta de aço não parecia me levar muito longe, mas eu continuei batendo nela até perceber uma pequena janela no meio da porta. 

Olhei através dela e vi Will atirando e lutando contra homens com coletes Draugs. Ele pegou o facão na cintura de um homem que estava muito próximo, fincou-a no peito do dono e o usou como escudo. Essa era minha chance! Atirei na janela, mas o vidro era muito grosso e a bala ricocheteou. MERDA! MERDA! MERDA! Olhei de novo com dificuldade agora, a munição dele acabou. Ele caiu no chão ajoelhado. Meu Deus! Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto o chão do outro lado da porta se enchia de sangue. Então peguei minha faca e penosamente fujo.  

Em desespero, corria desajeitada, esbarrando na porta de ferro entreaberta da entrada, bati na escada do alçapão, meus olhos já não enxergavam perfeitamente com as lágrimas atrapalhando a visão. Minha respiração ofegante se misturou com os soluços do meu pranto. Um nó surgiu na minha garganta fazendo meus olhos transbordarem ainda mais, mas não podia parar agora. Depois de tanto tempo sendo a caçadora eu virei a caça. Subi a escada o mais rápido que podia e atravessei o galpão pulando os cadáveres com a sensação que todos olhavam para mim e me chamavam de assassina. Sai do galpão olhando para trás repetidamente, mas ninguém me seguia. 

Corri. Corri muito. MERDA! Eu deveria ter escutado o Will! Por que eu sou tão cabeça-dura! Eu quis afagar o meu ego e acabei matando o meu namorado! Caralho! Will, meu amor, morto, por minha culpa! Tentei enxugar minhas lágrimas, mas isso não funciona. Claro que não vai funcionar! Chorar não vai trazer o Will de volta! Filha da puta! O nó na garganta torcia ainda mais e ficava difícil respirar sem soluçar. Ele morreu porque você o botou naquela situação! Era só ficar quieta! Você ouviu tiros a vida inteira! Encaixou aquela faca milhares de vezes! Mas não foi o tiro que me assustou, foi o som do corpo batendo no chão, o som do pânico e do sofrimento de humanos. Choro ainda mais.  

Depois de alguns minutos correndo sem parar ouço um motor vindo em minha direção. Caralho! Eles estavam me seguindo. Olhei para trás para ver ao longe uma caminhonete vindo em minha direção. Eu deveria ter imaginado que eles iriam querer vir atrás de mim. Consegui distinguir um homem em pé na caçamba operando uma calibre .50, sentados nas laterais, um de cada lado, dois homens, na frente motorista e passageiro. Procurei um lugar onde me esconder ou me proteger, mas a planície onde estava não me fornecia nenhuma. A essa distância eles já devem ter me visto, não adiantaria de nada me esconder, mas estavam esperando se aproximar antes de atirar, típico de pessoas de mira ruim. 

Bem... Essa é a pior situação para um caçador: Ter que encarar a presa sem nenhuma vantagem como a surpresa ou uma armadilha. Mas... eu ainda tenho uma vantagem: a distância. Rapidamente me ajoelho empunho meu rifle e agora é a hora de escolher um alvo. A escolha óbvia era o operador da metralhadora uma vez que ela é a armas com o maior alcance e maior poder de fogo. 

Limpo a água que ainda estavam nos meus olhos prejudicando minha mira, respiro fundo, prendo a respiração, levando levemente o cano para compensar a distância e disparo. Tiro e queda. Os homens da caçamba se levantam desesperados e começam a atirar a esmo, o passageiro sai pela janela e faz o mesmo. Rápido! Não posso deixar que ninguém use a metralhadora. Disparo. Homem no chão. Respiro. Enxugo mais lágrimas. Disparo. Outro homem cai no chão. 

Droga! Estavam muito próximos. Os tiros do passageiro já me alcançam me forçando a deitar no chão para evitar virar carne moída. Felizmente ele tem que recarregar e eu aproveito a janela para colocar mais um corpo no chão. Rapidamente, eu me jogo para o lado quando o motorista tenta me atropelar. Aqueles dois anos de exploradora valeram muito a pena. Ele vira bruscamente levantando poeira. Agora sou só eu e o motorista. Ele acelera. Eu disparo, mas ele se protege atrás do painel e avança em minha direção. Ok, agora é a prova de fogo: pular uma caminhonete em movimento e matar o motorista. Vai dar certo! Eu acho... Vamos lá. 

— Pode vir... — Limpei minha face molhada com as costas do braço. 

Ele acelerou. Eu saquei meu novo revólver e joguei a mochila longe. Aproximou-se. Ainda não, vou precisar do máximo de altura. Ele estava muito rápido. Ainda não... ainda não... Lentamente me agacho. Quase em cima de mim. Agora! Pulei o mais alto que consigo enquanto ele passa por baixo de mim. Meus pés, no ápice do pulo, batem no para-brisa me jogando para a caçamba. Meus olhos estalaram enquanto eu rolava pelo teto e tentava me segurar em qualquer coisa. Felizmente minha mão esquerda encontrou barra que suportava a metralhadora. Levantei da caçamba para olhar no fundo dos olhos do filho da puta. 

O disparo quase arrancou meu braço fora, mas leva o vidro traseiro, a cabeça do motorista e boa parte do para-brisa. Ainda em velocidade o veículo andou alguns metros e parou. Tremendo de exaustão eu desci da caçamba, entrei na cabine para tirar o corpo parcialmente decapitado e pilotar de volta para o acampamento. Como tudo está cheio de sangue tornado a visibilidade difícil procuro um pano. A única coisa que acho é um de fuzil no banco do passageiro descarregado e sem o pente. O usei para quebrar o que sobrou do vidro dianteiro quando me lembrei da minha mochila voltei para buscá-la, dirigindo-me depois ao Acampamento. 

Chegando lá os portões estavam trancados e muitos militares bem armados em cima do muro. 

— Pare o veículo e identifique-se, ou vamos atirar! 

Eu parei a caminhonete em frente ao portão, tentei me levantar para sair, mas minhas pernas tremiam. Estão muito fracas. Um segundo esforço e consegui sair. Já no chão eu acenei e disse: 

— Sou eu, a Jen.... — Minha cabeça atingiu o chão. 

...________... 

Acordei no hospital, olhei em volta, estava numa maca, minhas roupas foram trocadas por outras mais leves, soro estava na minha veia e Rachel estava dormindo em uma cadeira do meu lado. Eu tentei falar alguma coisa, mas apenas sons guturais, que foram o suficiente para acordar a menina, saem da minha garganta. 

— Angel! Ela acordou — Rachel informou. 

— Brigada, linda — Angel levantou minha cabeça e botou uma lanterna no meu olho — Bem... Seus reflexos ainda estão bons. Viu o que dá ficar sem comer? Tudo bem, Rachel, querida, me traz a sopa — Ela subiu na maca e apoiou minha cabeça em sua perna. — Brigado, fofa, a Jenny ainda tá cansada, então não vamos estressá-la, tá? Eu acho que o Samuel tá com um novo cliente/paciente, vai dar uma ajuda pra ele, princesa — E assim Rachel foi embora — Vamos devagar, ok — Eu bebi a sopa aos poucos até recuperar totalmente meus sentidos quando noto que há alguém faltando. 

— Onde está o Will? — murmurei. 

— Desculpe, mas ele não voltou com você. 

Foi nessa afirmação que os eventos passados voltaram à minha memória como um filme acelerado, me fazendo entrar em pânico e tentar levantar, mas uma forte dor nos joelhos e uma fraqueza intensa me impediram.  

— Wow, calma ai, fodona, você tá muito fraca ainda. 

Assim que Angel disse essas palavras lágrimas começaram a rolar por minhas bochechas enquanto a cena que eu vi pelo pequeno vidro do bunker lentamente passava. Eu vi o Will lutar desesperadamente sem poder fazer nada além de assistir o amor da minha morrer. 

Mas de toda cena atroz, a única parte em que minha mente se focava em seu rosto. Era o mesmo rosto sério de quem tem tudo sobre controle que tanto me encantava quando era garota reapareceu novamente em seu último momento. Quem acharia que tem tudo sob controle quando está prestes a ser morto? Apenas quem quer morrer o que significa que ele estava disposto a morrer para me salvar. Não só estava disposto, esse era o plano dele. 

Angel se assustou com quando comecei a me desesperar aos gritos por que minha mente incessantemente me torturava com memórias do meu querido caçador como se esfregasse na minha cara aquilo que eu tinha e nunca dei o devido valor. Angel rapidamente me abraçou e sinalizou para que Samuel levasse Rachel para longe enquanto diversos pacientes se levantavam para ver o que acontecia. 

Foi nesse momento que percebi que Will não se limitava a ser meu namorado, fonte e destino de todo meu afeto, aquele que aguentou minhas grosserias durante anos com nada além de carinho, paciência e amor, mudou o rumo de sua vida para estar comigo, me defendeu mesmo quando eu era indefensável, tornou-me uma pessoa melhor e feliz. Ele também era as minhas “estribeiras”. A única coisa que me impedia de perder a sanidade e voltar a ser a antiga Jenny que batia nas pessoas por qualquer motivo. Ele era a coisa mais próxima de suporte emocional que eu já tive na vida. 

Durante vários minutos aquela Jenny forte que Rachel admirava e a Jenny encrenqueira que todos conheciam sumiram, só havia sobrado uma mulher no mais profundo pânico esperneando que Will havia morrido agarrada a uma mulher que supostamente odiava, quase arrancando meus próprios cabelos e tentando levantar para fazer algo mesmo sem ter ideia ou rumo do que fazer, mas Angel em seu abraço firme me impedia.  

A médica tentou me consolar dizendo que tudo ia ficar bem, mas eu só fui me acalmar quando me apertou mais forte e firmemente quase gritou para que eu a ouvisse sobre meus gritos: 

— A culpa não é sua, Jenny! — De fato, não era minha a culpa era do dono daquela maldita voz. 

Sem dúvidas ele era o líder daquele bando, ou seja, era o responsável pela morte do Will e de todos aqueles Draugs. Ele era responsável por acabar com minha vida e qualquer perspectiva de uma vida normal que eu tinha. Não importa quanto tempo eu leve eu iria arrumar um jeito de fazê-lo pagar e eu vou garantir que o preço seja caro, muito caro.  

Agora que eu já tinha um culpado, um alvo em minha mente eu me acalmei um pouco e meus olhos logo se cerram fantasiando como eu o puniria sem dó nem piedade quando o encontrasse. 

Assim que Angel percebeu que estava mais calma ela lentamente me soltou e começou a me servir a sopa: 

— Agora, quando você terminar de comer direito poderá levantar. Tá conseguindo mastigar? — fiz com a cabeça que sim e ela me deu um pedaço de carne — Mastiga bem... Isso... Agora engole... Beleza. Olha quem diria que um dia você ia precisar da minha ajuda — Revirei os olhos — Para mim não é nenhum prazer também, mas juramento de Hipócrates não me deixa ver você morrer. Aqui bebe um pouco de água. Tenta falar agora. 

— Vai se foder. 

— Eu também te amo, ok, vamos tentar levantar — ela passou meu braço pelo seu ombro, levantou e me botou de pé no chão — Tá firme? 

— Tô — E aos pouco ela me soltou. 

Nesse instante entraram dois militares armados. 

— Senhorita Jennifer Wagen, o coronel Dulcan exige sua presença na cabana-principal, então por fa... 

— Ei! Ela não vai a lugar algum! Ela ainda está se recuperando! — disse Angel brava — Então podem voltar a esperar lá fora! 

— As ordens do coronel são de levá-la assim que acordasse! 

— Podiam ser as ordens do próprio capeta que eu não ia a deixar ir, deu pra entender?! 

— Você está nos desacatando — ele ameaçou. 

— Eu nunca atrapalhei o trabalho de vocês e o meu trabalho é ter certeza de que ela vai ficar bem e vocês estão me atrapalhando nisso então VOCÊS parem de me desacatar por que não sei se vocês notaram isso aqui é um hospital e a não ser que algum de vocês seja médico eu sou a autoridade máxima aqui, então pode dá o fora daqui! — Eles se entre olharam e foram embora. 

— Até que você não é tão fútil quanto eu esperava — eu digo, rouca. 

— Eu sempre trato meus pacientes da melhor forma possível, gostando deles ou não. Olha, eu não sei o que você fez, mas deve ser algo muito sério porque eles estão atrás de você desde a hora que chegou aqui.  

— Digamos que foi sim, mas, sabe, eu sempre achei que você só ligava pra aparência e pra você mesma, mas eu acho que eu te levei a mal. 

— Pois é, minha vaidade custa caro, Jenny, muito caro e para sustentá-la eu tenho que ser uma boa profissional, sabe nós médicos ganhamos por paciente atendido, a boa aparência, o carinho e a preocupação é o que atrai eles a mim. Então, Jenny, não julgue uma pessoa pelos seus vícios, mas pelas suas virtudes — Angel disse séria. 

— Eu acho que eu estava muito errada sobre você, perdão. 

— Você pedindo, desculpas? Isso não é uma coisa que se vê todos os dias... Então quer dizer que você não se importa se a Rachel vier me visitar de vez em quando? — ela pergunta animada. 

— Tá bom... — disse a contragosto. Eu ainda vou me arrepender. — De vez em quando. 

— Linda! A Jenny deixou eu te transformar na maior diva do mundo! — Rachel acenou preocupada comigo enquanto observava Samuel arrancar um dente de um velho. 

— O que?! Eu não disse isso! — disse tentando me levantar, mas impedida pela minha dor. 

— Ei! Vai com calma... Eu acho que você tem coisas mais importantes pra se preocupar. Tipo como você vai dar a notícia para Rachel, eu ainda não falei nada, mas se quiser eu falo, já que tenho mais experiência.... 

— Não, eu vou contar — cortei-a. 

— Bem... boa sorte então, Jenny — Angel arfou preocupada e cansada. 

Depois de algumas horas deitada, recebendo soro e sendo servida sopa e carne por Rachel, Angel pediu para que me levantasse sozinha dessa vez. Consegui e então recebi alta. Rachel saiu comigo segurando minha mão e rapidamente os dois militares que esperavam na porta me escoltaram até a cabana principal.  

— Jenny, cadê o Will? — Ela falou preocupada. Lágrimas encheram meus olhos. Até agora eu estava tão consumida pelo ódio que nem se quer pensei na Rachel e como eu daria essa notícia a uma menina de 12 anos? Não posso ser direta nem inventar uma história. E agora? 

— Rachel... — me ajoelhei fazendo os soldados pararem e passo a mão em seu cabelo. Tento segurar as lágrimas, mas é inútil. 

— Jenny, me diz que ele está bem, por favor! — Ela começa a chorar descrente, então a abraço — Me diz que ele vai voltar! Por favor... — o choro atingiu seu clímax molhando minhas costas por inteiro, gota por gota. Então a abraço mais forte. 

— Há muito, muito tempo atrás uma cidade estava para ser atacada por um exército. Então um homem ficou na única ponte que dava acesso à cidade, sozinho esperando os inimigos. As pessoas diziam que ele era louco e acabaria morto por tentar enfrentar um exército sozinho. Eis que um amigo seu foi tentar convencê-lo de desistir desse ato suicida, mas ele respondeu: “Não existe melhor maneira de morrer do que lutando por aquilo que se ama”. Ele salvou sua cidade. Foi desse jeito que Will se foi, protegendo o que ele amava — Rachel chorou mais e mais, mas quando parou saiu do meu abraço lentamente. 

— Então Will morreu como um herói? — ela dizia com os olhos inchados e ainda soluçando. 

— Sim, querida. — Ela me deu a mão novamente e seguimos nosso caminho. — Pelo menos o meu. 

Dentro da cabana, os soldados me levaram ao escritório onde o coronel Dulcan e outros militares de alta patente estavam analisando um mapa enorme. Ao abrir a porta eu disse para Rachel me esperar lá fora. Enquanto todas as cabeças dentro da sala se viravam para me ver decidi cumprimentar os cavalheiros: 

— Boa tarde, senhores. 

— Finalmente a senhorita decidiu se juntar a nós, senhorita Jennifer — disse o coronel. 

— Eu não tive muita escolha. — Deus, ele é irritante.  

— Nós estamos discutindo acerca das investidas contra os Draugs que estão acontecendo e quão hostis podem ser contra o Acampamento. Nós já ouvimos o relatório de Marcus e Emily, mas tu és a única que viu de fato o que está acontecendo, então, por favor, senhorita, nos mostre no mapa o local e conte sua história. 

Eu comecei a contando os eventos desde manhã até quando desmaiei. Todos ouviam prestando toda a atenção que podiam e tentando formular hipóteses e teorias sobre o que de fato estava acontecendo. Foi então que eu percebi que seja lá quem ia para norte eram os assassinos responsáveis pela morte de Will. Eles não podiam correr o risco de ficar impunes. Quando terminei de falar minha garganta dava nós e eu lutavam contra as lágrimas numa mistura de tristeza e raiva. 

— Meus pêsames, senhorita. — disse coronel Dulcan e todos os militares da sala fizeram um momento de silêncio — Existe algo na sua história e na história de Marcus e Emily que não bate com nossos registros. De acordo com vocês as áreas apontadas são campos de Draugs, mas nos nossos mapas essas áreas são colônias, fazendas e vilas. 

— Mas eu vi não tem como eles terem feito todas aquelas pichações durante a batalha fora que todos os corpos eram de Draugs, não havia nenhum outro corpo.  

— Bem, dado à falta de ação nas últimas duas décadas nosso mapa não está exatamente atualizado, Major, qual foi a última vez que atualizamos nosso mapa? 

— Há onze anos nas áreas mais afastadas e a um nas áreas intermediárias e um mês nas proximidades — respondeu o major. 

— Esse mapa está muito desatualizado em qualquer que seja a área. Pode ser os Draugs tenham se apoderado do local e depois foram atacados. — eu disse.  

— Tem razão. Major, a partir de hoje nossas reuniões com os exploradores serão mais frequentes e vamos preparar nossas equipes de reconhecimento pra atualizar o mapa no mínimo a cada semana num raio de 50 quilômetros — respondeu o coronel bravo. 

— Nós precisamos saber quem é que está por trás disso, para saber com quem estamos lidando. 

— Sem dúvida, mas mandar uma equipe de reconhecimento pode ser visto como uma ameaça se forem descobertos e não queremos isso. Isso supondo que eles acertem o lugar de primeira, caso contrário podemos comprar briga com quem não tem nada a ver com isso.  

— Ok! Eu vou atrás deles! 

— Muito corajosa, Jennifer, mas não vamos fazer isso. 

— Como assim não? — Alterei minha voz. 

— Eu te conheço a muito tempo, Senhorita Jennifer, e eu sei que tu não estás nem um pouco preocupada em nos ajudar a única coisa que queres é matar qualquer um que aches que seja responsável.  

— Ele era o meu marido! Eu tenho o direito de vingá-lo! — berrei batendo contra a mesa — Então eu vou com ou sem sua permissão! 

O Coronel pôs a mão contra o rosto enquanto observava desapontado o mapa que eu sem querer havia rasgado: 

— Prendam-na. — Fiquei desnorteada. 

Eu não sabia como agir. Se Will estivesse aqui ele me tiraria dessa situação e conseguiria o que eu queria, mas se estivesse eu não precisaria sair do acampamento, eu não precisaria sentir tanta dor nem tanta humilhação. Quando vi os dois guardas vindo em minha direção tentei correr, porém um deles logo segurou meu braço e instintivamente eu soquei seu rosto com toda a minha força que não foi suficiente para me libertar. Com o segundo eu não cometi tal erro e o chutei entre as pernas o fazendo cair no chão com a dor, mas logo estaria com ele imobilizada. 

Com o primeiro guarda em cima de mim eu ainda gritava e esperneava me debatendo: 

— Dulcan, seu velho filho da puta! Me solta! Você não passa de um desgraçado egoísta que nunca amou ninguém além de você mesmo e do seu poder! Se não você saberia como eu me sinto e me deixaria ir! Você não passa de uma fraude senil... — Foi quando lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto — Eu não sei viver sem o Will! — um tiro ecoou pela sala me calando. 

Tentei olhar pra cima e lá estava o Coronel apontando seu antigo, mas brilhante revólver para mim. Eu deveria ter ficado com medo, mas minha raiva não dava espaço para nenhum outro sentimento então eu cuspi em sua bota e logo o guardo pisou em meu rosto para que não levantasse a cabeça. Foi quando o velho respondeu enquanto displicentemente limpava o bico da bota na minha camisa: 

— Tu estás ainda mais irritante do que quando era adolescente. — Eu me debati e urrei ainda mais enfurecida por descobrir que ele já vinha me observado e provavelmente me prejudicando desde aquela época sem ter a coragem de falar para mim. — É incrível como tu tens o dom de me criar problemas, até parece que você se esforça pra isso. — O desgraçado ficou em silêncio por algum tempo enquanto um de seus cachorros de colo sussurrava em seu ouvido coisas que não pude entender então se agachou um pouco para me olhar nos olhos e voltou a falar com aquele tom de sarcasmo que me revoltava e enojava ao mesmo tempo: — Depois de todas as vezes que eu fiz vista grossa para as confusões que tu se metias. Sabe, eu tive muitas oportunidades de ter te executado, muitas eu devia ter te executado, mas eu relevava seus erros, tens ideia do porquê? Eu tinha dó e me sentia responsável pela morte de seus pais eles eram os melhores cartógrafos que eu tinha. — Automaticamente parei de tentar resistir e, com a respiração ofegante, eu comecei a prestar atenção no que ele falava — Sim, eu os mandei para juntar informações num caso muito parecido com o que tu contaste e com o que Marcus e Emily relataram quando encontraram a pequena Rachel quando eles sumiram. — Eu sempre soube que essa maldita múmia megalomaníaca era a responsável pela morte deles, mas nunca esperava que fosse sobre isso. Eu voltei a resistir ainda mais revoltada — Eles eram exploradores realmente excelentes, sempre traziam informações valiosas sobre os Draugs quando os mandava em alguma missão.  Exatamente, isso não é a primeira vez que isso acontece, mas a única diferença é que quem fazia isso antes eram os Draugs, depois eles pararam e agora são outras pessoas caçando eles. Pelo exemplo do seus pais e da equipe de exploradores deles eu sei que esse novo grupo é mais perigoso além norte para descobrir quem é o responsável. E como eu não posso tolerar tu causando problemas, agindo com uma adolescente mimada e violenta, eu vou aproveitar para matar dois gaugas com uma pedrada só te dando a oportunidade de vingar não só seu namorado, mas seus pais também. Então tu farás tudo que eu disser: tu irás atrás deles e irás me passar todas as informações por esse dispositivo. — ele me mostrou um aparelho cheio de teclas e uma longa antena — Entendido?  

O guarda tirou a bota do meu rosto para que eu respondesse: 

—  Por que você nunca me disse isso? Por que nunca falou isso para ninguém, seu velho imbecil?! — Esperneei mais uma vez. 

— Para evitar que coisas assim ocorressem... eu estou cansado de falar com ela desmaiem-na e a levem para casa, digam para a garota que a pressão dela caiu e que com descanso ela vai melhorar. — O guarda apesar na minha resistência para me soltar começou a me estrangular — Alias, Senhorita Jennifer, eu aproveitaria esses últimos momentos com a pequena Rachel e prepararia uma despedida por que essa viagem será só de ida. — Foi quando perdi a consciência. 

..._____________... 

Assim que acordei na manhã seguinte Rachel estava muito preocupada comigo e me trouxe uma tigela com uma sopa de carne que ela disse ter sido entregue pela baixinha loira que a encontrou. Sem dúvidas era Emily que queria conversar comigo, mas me encontrou incapacitada. Ela sempre foi uma ótima amiga que se preocupava comigo não importava a situação e eu tinha um carinho especial por ela. 

Logo fomos para a casa de Emily e Marcus, onde eu pretendia deixar a pequena sob os cuidados de minha amiga até eu voltar ou, neste caso, em definitivo. Eu não queria deixá-la sozinha, pois eu sei como o mundo pode ser cruel para uma menina sozinha. Depois de explicar a situação para Emily, que aceitou meu pedido em nome dos bons tempos de exploradora, Rachel chorava enquanto nos ouvia conversando. 

— Eu não quero ficar com a Emily! Eu quero ficar com você! — dizia Rachel na porta da casa de Marcus e Emily enquanto esta última esperava as despedidas finais — Eu não quero perder mais uma pessoa que eu amo!  

— Rachel, me escuta. — Eu a segurei pelos braços. — Eu vou voltar pra você! Olha, às vezes pessoas fazem coisas horríveis para alguém que nós amamos muito e, por essas pessoas, nós precisamos defender suas memórias uma vez que elas já não podem mais, retribuindo o dano àquele que o causou, isso se chama “justiça”, Rachel. 

— Isso é muito perigoso, Jenny! Mas as chances de você voltar são baixas!  

— Ei! Até parece que você tá falando com uma qualquer! Eu ainda não sou uma lenda como você, mas eu sei me cuidar, viu! — disse brincalhona — E a Emily vai cuidar muito bem de você enquanto eu estiver fora! 

— É verdade! Eu posso te ensinar a dançar se você quiser! Sabia que sua mãe aqui era a maior dançarina? — disse Emily numa tentativa de animar a menina. 

— Sério? — perguntou Rachel impressionada, eu respondi com um balançar de cabeça. 

— Sério! Nós tínhamos nossa própria dupla de dança, mas ai ela saiu... Ei! Quer ser minha nova parceira de dança? — animou-a Emily 

— Quero! — Pulou Rachel. 

— Eu tô vendo que vocês meninas vão se divertir muito, bem eu tenho que ir, tchau linda — Beijei e abracei Rachel. — Seja uma boa menina, tá? — Ela concordou com lágrimas em suas bochechas. 

Percebendo em meu rosto como eu me esforçava para segurar meu choro e manter minha voz firme, Marcus levou a menina para conhecer o interior da casa e distraí-la. Logo Emily me convidou para sentar e me abraçou apoiando minha cabeça sobre seu ombro e afagando meu cabelo: 

— Não precisa segurar mais Jenny... — Então soltei minhas lágrimas e solucei silenciosamente molhando sua roupa. — Eu não consigo nem imaginar o quanto você está sofrendo, mas você tem certeza que sair assim é a melhor coisa? Não é melhor você esperar a cabeça esfriar? 

— Não, Eu tenho que ir. Aquele velho maluco me expulsou do acampamento, não que ele não tenha razão... 

— Como assim ele tem razão? — Ela me olhou me estranhando. 

— Ele me expulsou porque eu sou uma ameaça para as pessoas e é verdade. 

— Você pode até ser um pouco nervosa e inconsequente, mas está longe de ser uma ameaça. 

— O Will morreu por minha causa! — Levantei a voz assustando Emily que se afastou. — Viu! Até você tem medo de mim agora! 

— Eu não tô entendendo, o que aconteceu? 

Para mim foi extremamente doloroso reviver aqueles momentos, mas contei tudo para Emily que pacientemente ouviu todos os detalhes apesar da minha dificuldade de falar. Falei de como foi burra ao arrastá-lo para aquela situação apesar de seus protestos, prepotente em tentar enfrenta-los e desastrada em deixar minha faca cair. Entretanto nenhuma parte eu sofri mais do que quando Will fechou aquela porta salvando minha vida. 

Eu queria ter sido uma boa namorada e o ouvido quando ele tinha razão ou ter a coragem de ter ido na frente e ficado para trás por ele. Eu não sabia mais como agir sem ele para me corrigir e policiar. Quem ia buscar Rachel nas aulas quando eu estivesse exausta? E quem ia esfolar os animais e salgar a carne impecavelmente em tempo recorde se não ele? Aquele coronel senil talvez havia pensado nisso quando decidiu me expulsar. Eu era inútil agora. Nem mesmo a calma eu consegui manter sem ele. 

— Mas você não acha que o Will queria que você ficasse aqui segura cuidando da Rachel?  

— É claro que ele queria, mas agora eu já fui expulsa! Eu fiquei nervosa, bati nuns militares e falei um monte de merda pro Coronel durante a reunião e agora não tem outro jeito. 

— Por que você não vai lá e pede desculpas... 

— Eu não vou! Não é justo deixar quem matou o Will impune fazendo o mesmo com outras pessoas! 

— Então é isso... — Emily suspirou e pôs a mão em seu rosto — Olha, eu vou falar como amiga, eu compreendo esse seu ódio, mas não é certo você abandonar sua vida como se ela tivesse acabado? 

— E como ela não acabou? Eu sou o rosto dos caçadores e não consigo se quer esfolar e salgar um animal! — eu berrei desesperada — Eu sou uma mãe que não consegue se quer acordar na hora certa de manhã nem pra trabalhar! 

— Era o Will que te acordava? — Emily parecia impressionada. 

— Era! Eu devia ter aprendido quando meus pais me ensinaram, mas eu era uma criança revoltada e não aprendi, quando minha irmã tentou me ensinar eu fui orgulhosa e não aprendi e com o William eu... eu me acomodei... Ele era tão bom namorado, eu queria... Ter sido uma pessoa melhor enquanto ele estava vivo. 

— Mas você ainda pode aprender, eu posso... 

— Agora não adianta mais! — bruscamente a interrompi — Só tem uma única coisa que eu sei fazer nessa vida, Emily, que é matar e eu vou por isso em bom uso. 

— Jenny, honestamente — ela olhou em meus olhos — quem você acha que está enganando? Pelo que falou você não engana nem a você mesma. Me passa a impressão de que você sabe o que precisa mudar, mas não quer e está disposta a jogar tudo pro alto por causa disso. Não me leve a mal, vai ser um prazer cuidar da Rachel pra você, mas você está realmente disposta a deixá-la para aliviar seu ódio... 

— É muito fácil pra você falar isso! Eu queria ver se fosse com o Marcus! Aí você entenderia como essa merda de vidinha de casal feliz que vocês pintam ia desmoronar! — Quando voltei a mim percebi uma Emily assustada e distante de mim. A posição do meu corpo era ofensiva arqueada contra ela e minha face de narinas eriçadas, testa franzida e dentes amostra. Eu sentia muita vergonha de ter feito isso contra Emily. — Me... Me des... 

— Você nunca fez essa cara pra mim... — Ela se levantou — Eu te ajudei como pude, agora é por sua conta — Ela abriu a porta para entrar em casa, mas hesitou — Mas não esquece do que eu falei — Ela disse com um sorriso despontado e claramente chateado para não dizer triste antes de fechar a porta me deixando para trás sentada na soleira da casa abandonada.  

... _________... 

Tendo já cumprido meu dever de achar um responsável para cuidar Rachel eu posso ir ver como aquele velho nojento tinha preparado meu ostracismo. Eu realmente espero que ele tenha preparado algo que não se resuma aquele aparelho antigo cujo nome, depois descobri, era um rádio. Provavelmente ele não poderá me deixar ir de mãos abanado a final de contas ninguém sabe que eu sou uma inútil sem o Will e pegaria muito mal se ele simplesmente expulsasse a cara dos caçadores sem uma justificativa aceitável que sem dúvidas seria acompanhada de alguns agrados, não por mim, mas pela imagem de Dulcan.  

Quando cheguei à cabana-principal procurei pelo Coronel, mas um de seus subordinados me disse que ele me esperava na oficina mecânica e se ofereceu para me acompanhar até lá. Mesmo eu não sabendo o caminho para lá eu recusei, não estava com cabeça para ter ninguém perto de mim especialmente um militar.  

O velho me esperava enquanto olhava um dos mecânicos, do qual eu só conseguia ver os pés, trabalhar na caminhonete que trouxe comigo há dois dias. Sua mera imagem já me desgostava, mas foi quando ele olhou para mim  

— Senhorita Jennifer, ainda bem que você chegou, o veículo que você usará está quase pronto. 

— Essa é a minha caminhonete, seu velho arrogante. 

— Bem, eu paguei todo o conserto então ele é meu, mas eu vou dar para você como presente de despedia — Ele disse com seu cinismo irritante. 

— Ah! Obrigada... Pelo menos você deixou minha calibre 50 no lugar — Alivio de não perder algo é um sentimento tão forte — Ok, o que você fez na minha máquina? 

— Deixe que o nosso mecânico explicará. Gabriel, venha aqui. 

— Calma aí... Tá, acabei! — De baixo da minha caminhonete surgiu um jovem bastante agitado e feliz com poucos traços asiáticos, quase do meu tamanho e quase tão magro quanto eu, cabelo encaracolado e o rosto e as mãos todas sujas de graxa como seu macacão azul— Eh... Oi! Eu não vou apertar sua mão porque...  

— Tá, já entendi, sem problema — concordei com minha cara de bosta completamente exausta pela conversa com Emily. 

— Enfim... — O mecânico percebeu minha desanimação, mas seguiu sem se abalar — Eu fiz o seguinte: tirei os dois corpos da caçamba e dei uma boa limpada no sangue, costurei todos os rasgos do banco, eu não consegui achar um vidro traseiro então eu tirei o quebrado, eu troquei o para-brisa... 

— Como você achou um? — desconfiei. 

— Na verdade, não, essa é uma Toyota, costumavam ser muito comuns antes da guerra por serem baratos e eficientes. Bem... Onde eu tava? — Ele coçou o cabelo. — Ah! Sim! Eu também tive que trocar a barra de direção que tava quase arrebentando, você acredita que alguém conseguiu acertar uma bala ali? 

— Nossa... Nem imagino como... — Eu me fingi de impressionada. 

— Bem, é isso que acontece quando esses trouxas usam projéteis enjaquetados. Deus... Quando eles vão aprender que esse tipo de munição é pra atravessar paredes e não pra usar dentro de um veículo?! — Eu arfei irritada com esse comentário, pois eu só usava esse tipo de bala para caçar caso contrário as cozinheiras vinham reclamar que alguém podia quebrar o dente quando Will esquecia de tirar as balas dos meus pedaços de carne — Foi você, não foi?  

— Fui... — Eu o fuzilei com os olhos impaciente.  

— Pois é... — Ele se perdeu nos pensamentos por alguns segundos amedrontado não só pela minha face, mas também intimidado pelo meu tamanho, depois voltou falando uma série de ajustes e consertos em peças cujos nomes eu nunca ouvido falar chegando a me deixar tonta com uma enxurrada de informações. As únicas coisas que eu entendi foi que ele havia instalado uma grade no para-choque, um para-brisa novo, pneus sólidos, uma chapa protetora na metralhadora .50, um baú de madeira na caçamba e revistas no guarda luva. 

— Muito bem... Obrigada, Gabriel... Você pensou em tudo... — Fingi-me impressionada. 

— Magina, pode me chamar de Gabi — De repente ele olha para trás de mim e fala enquanto abre os braços  e um grande sorriso que me deixa confusa — LINE! 

— GABIZINHO!!! — E surgiu uma Aline atrás de mim. Eu ficaria impressionado por ver a Aline namorando um mecânico, mas, na realidade a única cosa que senti foi uma nostalgia triste... Enquanto eles ficavam dando bitoquinha um no outro sem se pegarem de fato, o Coronel Dulcan me chamou para ir vermos o meu equipamento. 

Há não muitos metros dali estava meu pior pesadelo em uma mesa dobrável. A pior escolha de pessoa para me apresentar qualquer coisa, na verdade a pior pessoa para deixar perto de mim, ou a melhor, se a intensão for fazer uma bomba atômica passar vergonha. Era o puto do Carl, sabe o namorado da Angel, aquele insistia que ele era o melhor atirador do acampamento, então... Sabe eu poderia estar errada sobre a Angel, mas todo mundo sabia que ele era o cara mais desprezível da face da terra sempre querendo ser o melhor em tudo e fazendo questão de se mostrar para os outros, não se deixe enganar pelo seu porte musculoso, sua cara de boa-pinta ou seu bom-papo, por que se você cair na dele se prepare para uma foda e um coração partido. Sabe... Agora eu tenho até dó da Angel, mal ela sabe o tamanho dos chifres ele pôs na testa dela, grandes o suficiente para fazer um demônio das cavernas ficar encabulado, bem que eu acho que ela sabe, mas não vai largar o cara mais bonito da região porque o que vale no final das contas para ela é fazer o casal mais bonito da festa. 

— Ora, ora, se não é a... — Ele começou com sua cara maliciosa, egocêntrica e sarcástica. 

— Cala boca, Carl e seja rápido, eu não quero ter que olhar pra sua cara mais do que eu preciso. 

No quite de sobrevivência dele havia uma mochila com mapa, bússola, 15 metros de corda, fósforos, um canivete, uma lanterna com 2 pilhas, um cantil com água, uma pá dobrável e uma blusa.  Entres as roupas haviam coturnos militares beges e Druags pretos, uma calça camuflada bege e um bermudão, regata bege, um colete a prova de balas tático e um Draug, joelheiras, cotoveleiras, luvas sem dedos camufladas, boné um óculos escuros e elástico de cabelo tudo em bege. Entre as Armas tínhamos uma escopeta Remington 870 e o rifle de assalto AK-47. Para as minhas armas eu ganhei uma mira vezes 20 para meu fuzil, um silenciador para minha pistola e coldres para todas elas. Tudo esse pacote, diga-se de passagem, muito bem feito, foi apresentado enquanto Carl me caçoava, principalmente da minha mira, se deliciando de torturar minha pequena e debilitada paciência, sabendo que na presença o Coronel eu teria que resistir aos seus insultos. 

— Vai se fuder, Carl! Pelo menos eu não preciso de uma mira 20 vezes pra acertar alguma coisa! 

— Pelo menos eu não precisei sumir com a minha irmã pra conseguir uma bosta de fuzil! — Fúria: foi o que eu senti quando acertei a cabeça dele com a escopeta. Uma fúria tão poderosa quanto breve. Meus olhos se estalaram impressionados com a fala dele. Na verdade assustados.  

— Jennifer! Pare com esse disparate de uma vez por todas! — ordenou o Coronel. 

— Não, tudo bem, eu tô bem — disse Carl — Nossa doeu — sussurrou. 

— Não tem problema eu vou acabar com sua dor. — Eu segurava a escopeta com uma única mão e não conseguia tirar o ódio, que me fazia expor meus dentes, do rosto. Eu não ia ficar feliz enquanto a cabeça dele não simplesmente deixasse de existir por me acusar contra minha própria irmã. Eu nunca quis ver alguém morto tanto na vida e essa era minha chance, já até podia imaginar a chuva de sangue e miolos, mas a escopeta só fez click. 

— Você realmente achou que eu ia deixar alguma arma carregada e dar pra você enquanto eu estou por perto? — ele sorriu sarcástico — Você é mais burra do que eu pensava. 

— Realmente seria um desperdício gastar um cartucho tão bom com um imprestável como você, mas se você falar da minha irmã de novo eu, não vou segurar o meu braço, deu pra entender? 

— Jennifer, acalma-te! Tu sabes qual é a punição para um atentado contra um militar! — O coronel foi enfático. — E Carl, limite-se ao seu trabalho. 

— Bem... ignorando esse ato irracional e bárbaro eu acho que eu pensei em tudo. Não tem situação que você entre que isso não possa resolver, a não ser que você decida escalar uma montanha ou mergulhar em uma fossa. Oh... quase ia esquecendo aqui tem um silenciador para sua pistola e uma mira telescópica 20 vezes pro seu fuzil. Agora sim, acabou – Seu tom de superior sabe tudo tá me enlouquecendo, ok respira fundo, vai ter muita gente pra eu descarregar o ódio depois..., mas se seu não posso acabar com ele, eu vou acabar com a reputação dele! 

— Tá faltando uma coisa... 

— O quê? — Ele olhou assustado. 

— Tá faltando a sua Barret .50! 

— Há! Há! Há! Desculpa-me, mas mesmo que tivéssemos barrets sobrando eu não daria por que elas são só para atiradores de elite. De ELITE, deu pra entender? Coisa que você não é! — Agora é guerra! 

— É muito fácil se esconder atrás de um título não é, Carl? Todo mundo sabe que eu sou a melhor atiradora do acampamento. 

— A única coisa que você sabe fazer são alguns truques de circo! Você não é uma atiradora de verdade — Disse Carl depois de uma risada escrachada. 

— Ok, Eu e você uma disputa de distância, se eu ganhar eu quero a sua Barret, se você ganhar eu declaro publicamente que você é o melhor atirador do acamamento. 

— Fechado! 

...__________... 

— Ok, as regras são simples — disse o coronel — Nessa planície existem um par de latinhas de pêssego em conserva, que estão pintadas de branco e em cima de suportes, de 200 em 200 metros. Vocês revezarão os tiros, se um errar na mesma faixa que o outro, perde, sem os dois errarem numa faixa vamos para a próxima, se continuarem errando é um empate. Para ser justo os dois usarão o mesmo tipo de fuzil duas M40A5 calibres 30-06. Podem escolher suas armas. 

Eu peguei o rifle que estava mais perto de Carl e me posicionei numa área demarcada que era um pouco mais alta que o chão me ajoelhando e pondo o fuzil em sacos de areia. Quando estávamos prontos Carl disse: 

— Primeiro as damas — Sarcástico. Ele sabia que os primeiros tiros são sempre os piores, então se eu errar ele já saberá o que não fazer. 

— ‘Brigada... piff — Ok, vamos lá. Chupo meu dedo e o ponho ao alto, o vento está para a direita e não muito forte, acerto a mira, prendo a respiração elevo bem pouco o cano e boto um quarto de milímetro para a esquerda e disparo. O som de metal contra metal é música para meus ouvidos — Vamo’ lá, Carl, faz melhor. 

A disputa se acirrava e uma a uma, derrubamos todas as latas até a linha dos mil metros. 

— Essa última sua foi por pouco, hein! Vê se não se desconcentra dessa vez. Eu quero chegar pelo menos a 1400 metros antes de chamar isso de desafio. 

— Cala a boca, Carl! — Meu joelho doía muito! Nunca fiquei nessa posição por tanto tempo! Ok, calma, dor é só uma coisa da minha cabeça. 

Respiro fundo, repito tudo de novo com cinco vezes a cautela de antes, qualquer tremor, até as batidas do meu coração podem me fazer errar a essa distância. Mais uma lata atinge o chão, mas infelizmente Carl faz o mesmo. Olho para ele numa esperança de que ele esteja sofrendo a mesma dor que eu estou, mas ele está usando joelheiras. Deus, esse puto, pensa em tudo mesmo! Ok, não posso levantar, ainda tenho que provar que sou melhor que ele. 

— Bem, agora sim, as coisas vão começar a ficar interessantes. Seu turno, gata. 

— Babaca. — grunhi. 

Mil e quatrocentos metros. Essa é a próxima distância e provavelmente a última. Meus joelhos já estão pedindo independência do meu corpo, uma pressão atinge meu tronco como se estivesse com um peso no meu peito.  

— Já faz três minutos que você está mirando. Vamos, eu não tenho o dia todo. — Irritantemente me desconcentrava, não que poderia esperar alo diferente de alguém sujo e baixo como ele era. 

— Cala a boca, CARL! 

— Ela pode demorar o quanto quiser — disse o Coronel. 

Eu disparo e depois de um segundo e meio não escuto o som de metal com metal. Esse é o anúncio que eu errei. Não é possível! Deve ter sido o vento! O Carl jamais vai acertar! Essa arma não foi projetada pra ter precisão a essas distâncias! Revoltosamente Carl acerta. 

— Vitória limpa — disse o Coronel — Agora está claro de quem é o título. — O orgulho arrogante nos rostos de ambos era evidente, mas eu, como se pode esperar, não sou uma boa perdedora: 

— Como você conseguiu acertar? Você sabe que eu sempre fui melhor que você! Eu ganhei das últimas duas vezes. Isso foi sorte! Essa arma não tem precisão a essa distância — Sem tirar o olho da mira ele dispara novamente derrubando o meu alvo, seguido mais outro disparo e dois segundos depois o som da vitória indubitável chega com a derrubada do alvo a mil e seiscentos metros — Como isso é possível? — Digo impressionada, mas impotente ao mesmo tempo.  

— Você é uma boa atiradora sim, Jenny, mas você se acomodou quando foi para os caçadores, ficou mole, enquanto eu fui para os militares para treinar, sacrificar meu sossego, para acertar mais longe. Treinei com os melhores equipamentos, os melhores professores. Você acha que eu não notei o seu sofrimento de ficar ajoelhada, eu já sabia que ia doer na hora que você ajoelhou a primeira vez por que eu faço isso o dia inteiro. Você tem um dom sim, mas o dom nunca vai ganhar da técnica. 

— Seu bosta... — Ele tinha razão. Eu estava desolada. 

..._________... 

Quando eu estava prestes a ir embora Gabriel trouxe minha caminhonete para o portão norte onde basicamente o acampamento inteiro estava para ver quem seria a louca que ia querer se aventurar nas terras arrasadas sozinha. 

— Aqui está sua máquina, eu também botei pneus maciços pra não ter problema com gente atirando no seu pneu, armadilhas ou campos esburacados. — Quando eu ia entrar na caminhonete ele sacou uma bolsa cheia de tintas spray e disse: — Reza a lenda que as armas e o cavalo de um cavaleiro solitário merecem nomes. Eu não botava muita fé naquilo e ele percebeu que eu estava ainda mais abalada do que quando o conheci, mas envergonhada por essa impressão decidi não contrária-lo: 

— Mas eu não sei que nome eu vou dar, deixe-me pensar — Então peguei a tinta rosa-choque e nomeie minha caminhonete “Woman O’War”. 

— De onde você tirou esse nome? — Gabriel perguntou. 

— Bem, antigamente as grandes fragatas de guerra eram chamadas de Man O’War. 

— Ah... entendi... Eu tenho uma maquininha para desgastar metal aqui, eu posso botar nomes nas suas armas — ele sacou uma bateria de carro ligada a uma pequena máquina e sentou na caçamba aberta. 

— Legal... por que não? — Então entreguei minhas armas para ele.  

— Ok, a primeira é a S&W 500 qual será o nome dela? 

— Essa é fácil: Valquíria. — E ele escreveu no cano com letras desenhadas. 

Desenhando letras cursivas com uma caligrafia digna de cartões de festas de ricos, Gabriel e eu demos nomes a todas as minhas novas armas. Minha AK foi batizada de “Esperança”, pois é a última a morrer. A pistola silenciada recebeu o nome de “Come Quieta” por motivos óbvios, já minha nova escopeta chamada de “BFF” se referia a um ditado dos caçadores de que a melhor amiga do caçador não era o cão e sim uma escopeta algo que Will e eu nunca concordamos. 

Enquanto ele desenhava eu notei o quanto ele estava preocupado comigo, mas sem nunca tirar seu sorriso ou animação do rosto. Apesar de ser um estranho, ele havia vindo até mim com a melhor das intensões para decorar minhas armas o que melhorou um pouco meu humor melancólico e deprimido. Enquanto ele com o máximo de sua dedicação embelezava meu revólver pude sentir um pequeno sorriso surgir em minha face. Não me era mais um mistério o porquê Aline ficaria com um mecânico: era por que este mecânico era uma boa pessoa. Me era muito estranho conhecer um estranho que, apesar ter acabado de me conhecer, seria tão legal comigo em troca de nada... Me parecia impossível... Irracional ao menos, mas aparentemente Gabriel era exceção à regra. Uma regra de regeu minha vida por muitos anos... a do egoísmo. 

— Ok, agora só falta o seu fuzil. 

— Não! Não! Meu fuzil já tem um nome da época dos meus ancestrais. 

— Qual? Calma achei, nossa foi feito à faca mesmo — ele olhava impressionado para o lado do fuzil onde as inscrições estavam — “Herrenvolk”? O que isso significa? 

— Eu não sei... Não tive tempo de aprender alemão. Um dia eu descubro. — Nesse momento uma mulher de meia idade, cabelo que um dia foi preto encaracolado e muito mal-encarada saiu do meio da multidão empurrando quem estava em seu caminho e disse: 

— Hey, Jennifer! Você é a namorada do Will, né?  

A minha opinião sobre ela era um tanto quanto benevolente se posta em comparação com sua péssima reputação. A maioria das pessoas do Acampamento ou tinham medo ou raiva dela, o que era compreensível, já que sua personalidade e suas atitudes cultivavam a antipatia de qualquer um. Mesmo assim, ela nunca se importou com isso, aliás, nunca se importou com nada além de seu precioso acervo. 

— Ah! Bella é você! Sou, sim, mas por que você tá com essa cara? 

— Ainda bem, porque já faz 3 dias que ele não passa pra devolver dois livros que ele pegou comigo lá na biblioteca, fala pra ele me devolver hoje! — fiquei sem palavras. 

— Isa... O Will está morto — disse Gabriel inconformado — como você não sabe e me fala isso? 

— Não, meu Deus... Não pode ser... — ela estava muito assustada e de repente entrou em fúria — Aquele era um Jacques Le Goff! Você sabe quão difícil foi conseguir aquele livro?! Sabe quão raro ele é?! Eu nem ligo pro de Roma, tenho mais dois dele, mas o Le Goff capa dura não... — o pânico dela voltou, então me pegou pelo colarinho e me abaixou para me olhar nos olhos — Eu não me importo se seu namorado tá no colo do capeta ou não, você VAI achar aquele livro e VAI devolver para mim! — A multidão fica em silêncio com o som do estalo que ecoa por todo o acampamento. 

Como essa puta bota um livro acima da vida de uma pessoa e fala isso na cara de quem a amava? Como ela tem tanta ousadia?! Os anos sem sair daquela biblioteca, com a mente em nada além de livro devem ter enlouquecido Bella. Quando ela vira o rosto marcado pela minha mão, eu saco Valquíria e aponto para ela puxando o cão. 

— Você é louca?! Eu não ligo pra bosta do seu livro! Eu estou saindo para salvar o seu couro e de todo mundo aqui de uma ameaça que o matou, o homem que eu amava, e você vem xingar ele e mandar eu buscar a merda do seu livro?! Você não tem o mínimo de respeito?! — lentamente puxo o gatilho que estava mais pesado do que o normal não deixando o cão descer. 

A princípio as pessoas ficaram quietas assustadas, mas logo começaram a dizer coisas como: “vai cutucar gauga com vara curta”, “ela também pediu, né?”, “Eu nunca gostei daquela velha carquenta” e “Foi merecido”.  

— Ouououou... Calma, Jenny, não vai fazer nada do que você vá se arrepender — diz Gabriel se aproximando lentamente e tirando Valquíria da minha mão. Isa se levanta só para voltar para o chão com um soco dessa vez. 

— Eu só não te mato agora, Bella, pelos tempos quando eu era pequena e você me deixava ficar na biblioteca lendo com a minha Irmã. Agora você quer uma dica? Sai daquela biblioteca, interage com as pessoas para ver se fica sabendo das coisas e aprende a não falar bosta. Você pode saber mais do que todo mundo aqui, mas você não tem ideia do que acontece ao seu redor — E assim eu dou as costas para poder entrar na Woman O’War. 

Assim que entro em meu veículo noto a Valquíria e o rádio ao meu lado no banco, o portão começa a abrir lentamente e minhas mãos tremem no volante aterrorizados. Eu nunca me senti tão impotente em toda minha vida enquanto encarava a vastidão das terras arrasadas que se estendiam para além horizonte. Um dia eu achei que poderia facilmente domar as terras arrasadas, mas nesse dia eu tinha Will comigo. Agora sou só eu contra a vastidão e seja lá o que vive nela. Então Carl apareceu para cobrar a aposta que eu estou devendo me entregando um megafone quando toda a multidão se aquieta para me ouvir falar. Aquilo: 

— O coronel disse para garantir que você soe como uma mártir. É bom para a reputação. — Carl me notificou sussurrando. 

— Só se for pra dele — respondi, nervosa, arrancando o megafone da mão dele. 

— Como se alguém se importasse com a sua. 

Irritada, saí pela janela e disse: 

— Algumas pessoas traçam círculos em torno de si próprias, outras, em torno de suas famílias, outras ainda, entorno de suas nações. — Tirei de um filme, sim ou com certeza? — Eu estarei circulando o Acampamento no momento que cruzar esse portão para enfrentar uma possível ameaça desconhecida. — Eu respirei fundo. Era um discurso lindo, mas era mentira. Eu não estava saindo pelo Acampamento. Eu havia sido expulsa para um ostracismo até minha morte, que não estaria muito distante. Porém, para mim, eu estava saindo pelo Will. — Eu gostaria de me despedir de todos, mas especialmente da minha filha, Rachel, que é a filha que eu nunca tive, mas sempre quis. — Algo nessa frase aumenta ainda mais minha insegurança. — Mesmo sem saber. Coronel, você ouviu, ela é MINHA filha! Se eu não voltar em 6 meses tudo o que é meu é herança dela! — Dito isso não tenho mais o que falar, mas Carl me cutuca — além do fato que Carl é o melhor atirador do acampamento — eu falo bem rápido e baixo morrendo de ódio, predominantemente por que era a cereja do bolo da humilhação que foi essa farsa de despedida. Eu nunca havia me sentido tão patética e impotente do que agora. 

Quando ia voltar para dentro eu vejo uma Rachel com olhos molhados, mas segurando o choro nos ombros de Marcus acima da multidão. Eu a olho lembrando que ela precisava de alguém forte para protegê-la, mas, mesmo sabendo que Marcus e Emily estavam aptos para o papel, meu coração se apertou. Levemente bati duas vezes no peito de tal maneira que Rachel soubesse que era para ela e sussurrei para que ela lesse meus lábios 

— Seja forte. 

E às lágrimas eu atravessei o portão com a Woman O’War. Era como se eu estivesse abandonando Rachel, e, de certa forma estava. Porém minhas lágrimas só duraram até eu olhar para Valquíria e o rádio que estavam ao meu lado me lembrando de Will e toda a fúria que despejaria sobre os assassinos do meu amado. Mas dessa vez foi uma melancolia culposa que tomou o lugar do meu ódio, por mais que sempre fosse o contrário. Eu lembrava do que Emily, Carl e, principalmente, Dulcan haviam dito para mim, mas dessa vez diferente dos momentos eu não tinha raiva, mas sim tristeza por mim mesma. Todos eles estavam certos sobre mim, eu sempre me acomodei em fazer o errado, o mais fácil, seja em viver impune, ou atirar, ou mesmo em fazer as coisas sem pensar. Tudo isso me trouxe a este momento, onde meu amado está morto e eu inútil sem mesmo expectativa de vingá-lo... Mas mesmo assim eu farei ou morrerei tentando, pois será muito melhor encontrá-lo no pós vida do que viver no mesmo mundo que seus assassinos. 

Nos meus últimos momentos vendo o Acampamento pelo retrovisor, eu já estava decidida que faria todo o necessário para vingar Will, pois minhas mãos já não tremiam, meus olhos já não choravam e a única coisa que preenchia meu peito era o ódio e a inconsequência de quem não tem nada a perder. Talvez esses meus vícios me fizeram perder tudo aquilo em que sempre me apoiei para viver.  

Em meio a esses pensamentos deprimentes eu também me lembrei da Isa e algo capturou minha atenção: será que a Valquíria sabe quem matar? Talvez ela só estivesse emperrada, mas eu tinha dado manutenção há não mais de 2 dias. Aquilo foi escolha ou piedade da Valquíria? Não, ela era só uma arma... A não ser que... 

— Dakota!... — Cerrei os dentes, furiosa. 


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