Roots escrita por G Aqui


Capítulo 12
Capítulo 11 - The Phoenix


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!

Como de costume eu acabei me enrolando e esse capítulo não saiu em agosto e a surpresa de aniversário também não.

Porém, não fiquem tristes que ela ainda vem. E em forma de crossover. Nas notas do próximo capítulo dou mais detalhes xD.

Bom, sem mais delongas, as músicas do capítulo são:

"Girl (instrumental - tem no youtube)" do Salvia Palth

e "The Phoenix" do Twin Pumpkin, que inclusive é uma bandinha de rock nacional (embora eles cantem em inglês) super incrível. Quem me recomendou foi a Dragoncat_Queen e eu estou repassando pq as produções br devem ser enaltecidas.

Se encontrarem algum erro é pq o capítulo ainda não foi revisado, logo arrumaremos tudo.

A pedido do meu princeso que fez aniversário esses dias, deixo minha dedicatória: te amo Luiz ♥ obrigada por ser o melhor filho de Hades que a gente respeita.

Enfim.

Sem mais delongas, fiquem com o capítulo.

Até as notas finais e boa leitura ♥



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O sol nem havia saído e eu já estava no topo da

parede de escalada.

Era calmo ali. Tanto por estar longe das outras pessoas quanto

para a minha mente, naquele momento em total confusão.

Precisava de um tempo para pensar.

Não sabia o que fazer depois do sonho – ou visão do passado que

havia tido.

Precisava falar com a Bárbara, óbvio. O problema era como faria

isso.

Meus músculos pulsavam, levemente doloridos, em consequência da

semana pesada de treinos.

Admito, desde a minha volta para o acampamento não treinava tão

firme como de costume.

Muita coisa aconteceu nas últimas semanas e, cada dia mais, sinto

que aquela pessoa que eu era antes do início das férias está morrendo dentro de

mim.

O sol agora já chegava na metade da parede. E eu, permanecia na

sombra. Uma brisa gélida da manhã vez ou outra me arrepiava.

Um pássaro solitário voava no céu, talvez perdido de seu grupo.

Como estaria o mundo lá fora? Os mortais, os acidentes e mortes? Como estaria

minha família?

Senti saudades da minha mãe. Parecia que aquela despedida fora há

séculos.

“Tente ficar viva” Ela havia dito.

Depois da loucura que pretendia fazer, quais chances tinha de não

morrer? E, além de mim, como ficariam meus amigos? E suas famílias, caso

acontecesse alguma coisa?

De certa forma, me sentia culpada. Mesmo que ninguém houvesse os

obrigado a me seguir, eu estava no comando da missão. Se algo acontecesse,

teria minha parcela de culpa.

Mesmo não obrigados, todos costumamos tomar decisões precipitadas

em momentos de crise.

Sorri. Apesar de tudo, caso morresse, seria uma morte digna. Tanto

como meio-sangue quanto mortal.

Me manter focada no porquê da minha decisão de sair. Precisava

disso para não voltar atrás.

Não viveria numa ditadura por conta de uma ou duas pessoas que

decidiram usar seu poder para nos colocar medo.

Mesmo sendo pessoas perigosas o suficiente para desestabilizar os

olimpianos e colocar o acampamento em alerta total, não ficaria parada.

A mínima chance para mudar essa situação agarraria com unhas e

dentes, alguém tem que fazer alguma coisa!

Pelas vidas inocentes que estão em risco e por aqueles que já

foram afetados.

E se meus amigos estão dispostos a sacrificar suas vidas para as

outras, então lutaremos todos juntos.

Peguei meu colar pelo pingente. Um presente de Melissa.

Faria isso por ela também.

Merecia justiça pela morte que tivera.

Ao menos tive chance de salvá-la, então faria com que sua vida não

fosse em vão.

A lembrança de seu semblante sereno e o som de seu riso gostoso

sempre me acalmavam dos piores pensamentos.

A verdade é que eu nunca fui uma pessoa de fé, ou igreja ou crença.

Levando em conta a realidade que cresci, tudo aquilo que vivi,

ouvi e vi, é difícil acreditar em um deus sem nenhuma imperfeição e que tenha a

solução de todos os problemas da humanidade apenas com um estalar de dedos.

Alguém com tanto poder e bondade não deixaria o mundo chegar ao

ponto que chegou, cheio de crueldade e injustiça.

Esse alguém é perfeito demais para existir.

Não acredito nesse deus supostamente perfeito e em nenhuma outra

história que tenha alguém tão perfeito com todas as soluções na manga.

Não faz sentido. Se existisse alguém assim, essa pessoa já teria

vindo há séculos e viveríamos num paraíso.

Para mim não passa de uma mera história criada pelo ser humano, um

exemplo de onde a nossa criatividade pode chegar quando precisamos de algo que

represente nossa esperança e nos impeça de desistir.

E não, eu não excluo a possibilidade desse cara existir. É muito

provável até que ele exista, mas não acho que seja da forma com que as pessoas

aqui imaginam.

E, não me levem a mal, eu não vejo nenhum problema em quem

acredita nessa imagem de perfeição e não tenho direito de julgar a fé dos

outros, só não funciona comigo.

No meu caso, costumo a me apegar àquilo que é completamente

humano. Às pessoas, o amor, à esperança que isso me traz. Se eu cheguei aqui é

por quem esteve comigo desde sempre, então não tenho motivos para necessitar de

um grande salvador. Minha família e meus amigos são mais do que suficientes.

Isso que me dá esperança. Se estou onde estou hoje, é por quem

desde sempre me apoiou.

Uma dívida eterna.

O motivo pelo qual eu vivo.

— Cecília! — Alguém me chamou lá de baixo.

Não havia percebido o passar dos minutos até sentir o sol

esquentando minha pele e fazendo-a brilhar.

Tirei todos os equipamentos de segurança e, num pulo calculado,

cheguei ao chão.

Era Apolo quem me chamara. Limpei a grama das mãos antes de lhe

dar um abraço de bom dia.

Seu gesto parecia urgente, o que me deixou em alerta.

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei me separando dele.

— Eu estava preocupado. Quando acordei com a explosão você não

estava no chalé. Ninguém conseguiu vir te procurar antes, então o fiz o mais

rápido possível.

— Espera, do que você está falando? Que explosão? — Ele me olhou incrédulo.

— Você não ouviu? — Discordei com a cabeça. — Deuses… Vem comigo.

Dito isso, começamos a correr em direção aos chalés.

***

Quando chegamos a confusão principal já parecia ter se dissipado.

Alguns semideuses ainda estavam por ali. A maioria, reconheci

serem meus irmãos.

Senhor D. e Quíron conversavam com um garoto que eu nunca havia

visto antes no acampamento.

Num outro canto, vi que Sebastian e Kevin conversavam com outra

pessoa, de costas para mim. Senti meu estômago revirar. Tive a impressão de

reconhecer quem era.  

Não que eu não queria que ele voltasse, claro que sim. Só não

sabia como iria agir. As lembranças daquela noite passavam na minha cabeça como

um alerta.

Claro, sabendo que Arthur estava possuído e, por isso, não tinha

controle total das suas ações, seria injusto culpá-lo. Ele também era vítima em

toda essa história.

Mesmo assim, não pude deixar de sentir medo.

— Olá meninos. — Disse ao me aproximar.

Os três abriram largos sorrisos para mim.

— Bom dia! —Kevin disse com animação. Estava ajudando

Arthur a tirar alguns galhos e folhinhas dos dreads.

— Cecília! — O filho de Hermes se animou ao me

ver e estendeu a mão para nosso ocasional high five.

Retribuí, tentando não deixar nítida minha desconfiança.

Cumprimentei os outros dois com “bom dia” e abraços.

— Nós podemos nos encontrar com os outros daqui há uma hora no Q.G. para uma reunião? Sabe, deixar todo mundo a par da situação. — Arthur sugeriu.  

Nesse momento, fomos interrompidos pelo som de cascos batendo no chão, anunciando a chegada de Quíron, que estava acompanhado do garoto novo.

— Bom dia jovens.

— Bom dia. — Respondemos os três em uníssono, para então ele continuar:

— Este é o Phillipe. Peço que o acolham da melhor maneira possível aqui no acampamento para que ele se sinta em casa. — Dava para perceber um “devido as circunstâncias” gravado nas entrelinhas, e não fui só eu quem percebeu.

— Oi gente! Podem me chamar de Phill se quiserem. — A maneira com que ele falava o fazia parecer um puro raio de sol de tanta animação.

Nos apresentamos todos os quatro devidamente, contagiados pela animação do menino.

— Agora que todos já se conhecem… senhorita Cecília, pode apresentar o acampamento para o Phillipe?  — Quíron pediu.

— Sim senhor. — Dei um sorriso fraco.

— E, Arthur, — Ele olhou para o filho de Hermes com firmeza. — Me acompanhe até a Casa Grande.

— Claro! — Ele ajeitou a postura inconscientemente e se despediu de nós, seguindo o centauro.

— Passo pra vocês a missão então. Encontrem os outros. Vamos nos encontrar às nove, depois do café.

— Sim senhora. — Sebs fez uma continência. — Até já.

— Vamos Phill? — Perguntei depois dos dois terem ido embora.

— Okay! — Ele saltitou.

— Então, quando vimos o exército de formigas marchando de modo assustador, corremos na direção contrária, até tropeçarmos nas raízes de uma árvore enorme, que depois decidimos ser um ótimo abrigo. Ficamos por lá uns dois dias, até sermos atacados novamente. Por sorte, com o ataque, achamos o caminho de volta para cá. — Phill tagarelava comigo sobre o que havia acontecido depois que ele e Arthur se encontraram na floresta., enquanto eu lhe mostrava o lago de canoagem.

— Bom, aqui era onde nós fazíamos competição de remos e ali onde treinávamos arco e flecha. Depois que me afoguei, o lago foi interditado e o treino de arco e flecha transferido para arena, a fim de evitar acidentes.

— O que tem de tão grave em um afogamento para terem que interditar? Não era só colocar umas grades de proteção ou algo do tipo? — Era nítida sua indignação.

— Foi bem mais grave que só um afogamento. Água com voz demoníaca me chamando, raízes e algas homicidas, esse tipo de coisa.  Para a segurança de todos decidiram que era o melhor a se fazer.

Caminhamos um pouco mais em silêncio, observando o lugar.

— Isso não faz sentido nenhum para mim. — Ele parecia reclamar mais para si mesmo do que qualquer coisa. — Nada disso!

Me encarou com algumas lágrimas brotando nos olhos.

— Há algumas semanas eu era só um cara normal, com uma família normal, que estudava numa escola completamente normal. Por que isso logo agora? ‘Tava tudo indo tão bem… Esse acampamento, adolescentes treinando com armas de verdade para proteger a própria vida, pessoas metade humanas metade cavalos e lagos que falam e tentam matar inocentes… Eu quero minha vida de volta!  

Não pude evitar de rir de seu desespero.

— Olha, se eu dissesse que te entendo seria mentira, mas, não se preocupe! Com o tempo você vai acabar se acostumando e tudo vai voltar ao normal! É só uma questão de se adaptar. — Tentei soar o mais positiva que pude.

Não que fosse mentira tudo aquilo, mas a verdade é que a situação do acampamento estava uma merda nos últimos tempos. Seria ainda mais difícil para ele levar numa boa.  

— É muito difícil de acreditar, sabe? — Ele suspirou, olhando ao redor. — Parece o tipo de realidade que eu nunca vou me acostumar. Meu cérebro parece uma gelatina nesse momento de tanto esforço que eu estou fazendo pra aceitar que pelo menos estou vivo.

— Ora, não seja tão pessimista! Muita gente aqui passou pelo mesmo, e tenho certeza que todos estão dispostos a te acolher! Eu estou aqui desde os meus seis anos, se tem algo que posso te afirmar com toda a certeza é que somos uma família grande e unida, sempre! E agora você também faz parte dela.

— Sério? — Pude sentir uma pontada de esperança em sua voz.

— Claro que sim! Encare tudo isso como uma mudança para um país distante. É um novo lugar, com novas pessoas, uma nova língua, uma nova cultura… É claro que no começo vai ser muito difícil, já que não está acostumado com essa realidade, mas aos poucos tudo vai se encaixando e ficando cada vez mais fácil. E eu te dou a minha palavra de que estarei aqui para te ajudar com o que precisar!

Antes que pudesse reagir, ele estava me apertando em um enorme abraço de urso e suas lágrimas molhavam meu ombro.

Dei três tapinhas amigáveis em suas costas para reconfortá-lo. Não sabia lidar muito bem com pessoas chorando em cima de mim.

— Ai, desculpa. — Ele secou os olhos com a ponta dos dedos e respirou fundo para recuperar a compostura.

— Não, tudo bem. É normal sentir medo. Mudanças sempre assustam mesmo. — Sorri.

— Obrigado, sério! Mesmo que para você não pareça grande coisa é ótimo ter alguém com quem contar. — Ele também sorri. — Vamos?

— Claro! — Começo a caminhar na direção do pavilhão.

***

— As árvores sussurravam durante a noite. Ouvi que Ártemis está correndo perigo. — Arthur começara a contar o que havia acontecido na floresta.

Como havíamos combinado, todos estávamos reunidos no Q.G. para a reunião.

Com sua volta, o clima ficara nitidamente mais leve.

Apesar de toda tensão e expectativa que estávamos para quinta-feira, ter o grupo todo reunido novamente nos trouxe uma energia extra.

— Quando ela foi raptada tinha toda aquela fumaça verde em volta, não é? — Wendy perguntou.

— Sim. A mesma que aparece toda vez que aquela Voz começa a falar ou quando alguém é possuído. — Ele confirmou.

— Então agora podemos afirmar com toda certeza que tudo isso tem ligação. A mesma pessoa está por trás de tudo, provavelmente. — Bárbara se pronunciou pela primeira vez desde o início da reunião.

— Provavelmente é uma isca. — Sebastian quem disse desta vez. — A Voz estava atrás de Apolo. Seria bem óbvio até usar a irmã dele para conseguir negociar.

— Mas, se fosse esse o caso, Zeus já não teria tomado alguma providência? — Eu sugeri.

— Talvez não. Dadas todas as circunstâncias, ele pode estar em desvantagem e qualquer movimento que tentar fazer pode ser arriscado tanto para ela, quanto para Apolo, sem contar que tem o Olimpo e os mortais correndo risco aqui também.

— Mas ele vai deixá-la lá então? — Kevin perguntou. — Ele não pode fazer isso, é a filha dele!

— Ora, não seja tão ingênuo. — Respondi. — É claro que ele espera que nós semideuses façamos algo em seu lugar. Ele pensa que somos treinados para salvar os deuses, então nossas mortes seriam as que menos fariam diferença nessa história toda, caso aconteça.

— Dependendo do ponto de vista, isso pode até ser bom. — Lana tentava animar as coisas. — Pensem bem, se ele não vai fazer nada, quando souber que nós iremos pode enviar algum suporte!

— É, pode até acontecer, mas é melhor não contarmos com isso. — Charlie interviu. — É um plano arriscado, e só aqui já temos muitas vidas correndo risco. Precisamos ser realistas e trabalhar com aquilo que temos.

— Ele tem razão. Perder alguém por uma falha no plano está fora de cogitação. — Sebs respondeu.

— Então, por onde começamos? — Arthur perguntou, animado.

— E em que parte salvamos o mundo? — A filha de Íris completou na mesma intensidade.

— Pensei em irmos para o meu apartamento, já que o nosso primeiro problema é o carro que só tem espaço para seis pessoas. Vai ser uma viagem apertada e desconfortável. — Sebastian, como sempre muito calmo, começou a ditar o plano. — Como eu moro sozinho não terá nenhum problema para descansarmos devidamente comer, tomar banho e essas coisas. Depois vou pedir para o meu pai uma van, que vai ser melhor para nos acomodarmos e então, seguimos viagem  para o  Empire State.

— Acho que teremos que dar uma passadinha numa loja de armas e no banco. E, talvez, em um supermercado antes. — Sugeriu Bárbara. — Precisaremos de dinheiro comum e armas que também funcionem contra humanos. Não são só os deuses e criaturas mitológicas que podem nos dar problemas.

— Então o plano na real é tacar o foda-se e virármos todos marginais? — Wendy perguntou.

— Se levármos em conta que eu, o Sebs, o Arthur e o Kevin já temos passagem pela polícia e somos procurados, não vai realmente fazer diferença assaltármos um banco que já é rico. Vamos só pegar o que precisamos para sobreviver lá fora, não vai fazer nem cosquinha. É melhor do que assaltar uma loja de uma família que só tem aquele dinheiro para se sustentar e que trabalhou duro para conseguí-lo.— Respondi.

— Faz sentido. E se o problema tiver realmente toda essa magnitude que eu espero que não tenha, a ponto de destruir o mundo, estar ou não dentro da lei é o que menos importa para a gente agora. — Lana completou.

— Então está decidido. Depois de passarmos na minha casa vamos para a loja de armas e depois assaltamos o banco. — Sebastian fez algumas anotações numa folha.

— Acho que é bom conseguirmos identidades falsas, caso formos pegos pela polícia ou precisemos entrar em algum lugar com identificação. — Kevin sugeriu. — Tenho alguns contatos.

— Nós podemos formar duplas estratégicas para situações previsíveis. — Charlie também.

— Eu posso conseguir quatro dracmas de teletransporte então, uma para cada dupla. Assim podemos nos encontrar caso tudo der errado. — Disse Wendy.

— Nós precisamos pensar também em onde vamos dormir. De preferência um lugar afastado, para colocar o mínimo possível de vidas em risco caso aconteça um ataque de monstros. — Bárbara completou.

Enquanto iam falando, Sebastian anotava todas as sugestões no papel para depois passar para o plano.

 

Antes de encerrar reunião, eu chamei a atenção de todos:

— Agora que o plano está praticamente pronto, queria focar em outra coisa. Nós ainda temos seis dias aqui no acampamento. Não é muito, mas temos que aproveitar os recursos daqui enquanto podemos. Montei uma rotina de treinos extras a partir do que mais vamos precisar lá fora: velocidade, estratégia, força, reflexo… como todos temos um físico treinado não vai ser difícil.

Todos concordaram , olhando o esquema que eu havia montado e dando um ou outro apontamento.

Ao final daquela hora encerramos a reunião e seguimos em direção aos túneis. Já tínhamos abusado um pouco do limite de horário e as pessoas começariam a notar nossa ausência.

No caminho, conversámos despreocupadamente com Arthur sobre o que tinha acontecido nos dias que ele esteve na floresta.

A sensação ruim que eu tive quando voltara passava aos poucos. Era bom ter nosso amigo de volta.

Paramos no meio do caminho quando ouvimos um barulho alto de madeira quebrando, seguido de um grito por socorro.

O eco dos túneis dificultava em descobrir se o som vinha de perto ou não.

Todos nos olhamos em dúvida. Quem quer que fosse, descobriria nosso segredo.

— Ele está em perigo, o que estão esperando? — Lana acabou tomando a decisão por todos e avançou, sumindo em uma sombra logo em seguida.

Um tempo depois, conseguimos captar um pouco da conversa:

— Ai meu Deus! Quem é você? Como saiu da parede?

— Ei, calma. Eu sou a Lana, e meio que é isso que eu faço. — Tinha certeza que ela havia colocado uma mecha de cabelo atrás da orelha ao final da frase, mesmo não estando lá para ver. — Qual é seu nome?

— Phill. — Parecia ter reunido toda a sua força para falar sem entrar em desespero novamente.

— Olá Phill! Consegue mexer sua perna?

— Não, está doendo, e acho que 'tá sangrando. — Ele parecia prestes a chorar. Qual era o plano dela?

— Eu vou buscar ajuda. Fique calmo, okay? Não precisa ter medo.

Pelo barulho, deu para perceber que ela havia entrado novamente em uma sombra.

Reapareceu na nossa frente, fazendo um sinal para ficarmos em silêncio.

“Eu tenho um plano” Sussurrou tão baixo que quase não conseguimos ouvir. “Vem Ceci”

Ela me puxou pelo braço e entramos em uma sombra.

Quando senti meus pés tocarem o chão novamente, pude perceber que estávamos perto da escada de acesso do chalé de Atena.

E preso no penúltimo degrau com a perna sangrando estava Phill.  

Como aquele garoto conseguira se envolver em tamanha confusão e em tão pouco tempo?

— O resgate chegou! — Brinquei.

— Cecília! — Seu rosto se iluminou ao me ver.

Quando eu ia me aproximar para ver o estado da sua perna, senti um peso para cima de mim e por uma questão de segundos consegui segurar Lana antes que ela caísse no chão.

— Dessa vez eu exagerei com as viagens na sombra. Desculpe. — Dito isso, fechou os olhos.

— Ela tá bem? — O garoto perguntou um pouco desesperado.

— Vai ficar, só precisa descansar um pouco. — A peguei no colo para colocá-la sentada num canto. — Os poderes dela consomem demais sua energia.

— Se você diz… — Ele deu de ombros.

— Se doer muito, avise. — Disse ao me aproximar com o kit de primeiros socorros que tinha levado na mochila.

Por sorte, o corte não tinha sido tão profundo quando imaginava.

Quando consegui tirar sua perna do degrau, tirar o resto de madeira que tinha ficado presa fora a pior parte.

Depois, estanquei o sangue e passei  água oxigenada no ferimento, para então conseguir fechá-lo com alguns pontos.

— Aqui, come isso. — Lhe entreguei um pedaço de ambrosia — Vai ajudar a curar mais rápido.

— Obrigado, obrigado, obrigado, obrigado! Você é um anjo! — Seus olhos brilhavam de alegria.

— Eu só gosto de ajudar os outros, não é algo tão grandioso. Consegue andar? — Dei minhas mãos para que ele segurasse e conseguisse levantar.

— É, acho que sim. — Andou alguns passos perto de mim para se certificar. — Obrigado de novo! — Abriu um sorriso enorme.

— Disponha. — Retribuí. — Prometa para mim uma coisa, ok? Quando subir por aquela escada vai esquecer da existência desse lugar e não vai contar para ninguém, sem exceções, do que aconteceu aqui, certo?

— Tudo bem, prometo. — Ainda com um sorriso no rosto, virou em direção à escada para subí-la.

Dei um longo e pesado suspiro, já pensando em o que fazer caso a palavra dele fosse em vão.

— Ele já foi? — Lana perguntou com uma voz de sono, quase inaudível.

— Sim. Conseguimos. — Ela deu um sorriso fraco.

— Vem aqui, me ajuda a levantar. — Estendi minha mão para ela.

— Tem certeza que con… — Antes que eu terminasse a frase ela já tinha perdido o equilíbrio e quase caindo. — Está tudo bem?

— Sim, só estou um pouco tonta. — Respondeu com os olhos fechados.

A peguei no colo antes que pudesse dizer mais alguma coisa.

— Vocês três ainda estão fazendo “experimentos” com seus poderes? — Ela concordou com um murmúrio. — Tenham cuidado, pode ser perigoso.

— Nós sabemos nosso limite.

— Sabem mesmo? — Silêncio.

Dei algumas voltas pelos corredores, procurando o caminho de volta ao grupo.

Quando os encontrei, Lana tinha dormido nos meus braços.

— Parece que deu certo. Ele mal desconfiou. — Todos, antes tensos, soltaram a respiração pesadamente. — Mas ainda temos que voltar mais tarde e camuflar melhor aquela entrada.

— O que faremos se ele quiser descobrir o que houve e acabar aqui, vendo tudo?

— Saíremos essa semana, então, se ele descobrir, pouco importa. — Charlie disse.

— Descobrir é o menor problema. Se ele decidir falar algo, aí sim estaremos ferrados. Isso pode atrapalhar nossa saída e atrasar os planos. Eu vou ficar de olho nele esses dias para garantir.— Sebastian se ofereceu. — O resto vemos mais tarde.

 

***

Cheguei no chalé de Hades com certo receio. Nunca tinha entrado lá, e certamente aquele lugar dava medo.

Corri os olhos pelas camas até encontrar a que provavelmente era a da Lana.

Coloquei-a no colchão com cuidado, tirando seus sapatos e colocando a coberta que estava ali sobre suas pernas.

Antes de sair, dei uma última olhada para o seu rosto. Dormia de forma tão serena que parecia até um anjo.

Um anjo que não merecia o passado que teve. Uma mãe que maltratava ela e os irmãos, a memória da sua infância, por pior que tenha sido, apagada, crescer literalmente no inferno…

A pior parte é que eu não poderia saber sobre isso, mas, por algum motivo, sabia.

Precisava falar com a Bárbara o mais urgente possível.

Suspirei, levantando da cama para ir em direção à saída.

— Fica mais um pouco. — A voz de Lana me fez olhar para trás. — Por favor.

Sentei novamente ao seu lado com um sorriso fraco no rosto.

— Bom dia flor do dia. — Ela riu.

— Obrigada por me trazer até aqui.

— Você faria o mesmo. — Nossos dedos se entrelaçaram instintivamente.

— É, faria. — Uma forte pontada de culpa fez o meu coração apertar.

Deuses, o que estou fazendo?

A palavra “Melissa” piscava em minha mente em sinal de alerta.

Sentia como se estivesse traindo-a apenas por ficar ali.

“Seja feliz independente de como, onde ou com quem.” Sua voz ecoava logo em seguida, assim como tinha escrito na carta.

Tinha medo de na verdade ser apenas a minha consciência falando para que eu me sentisse menos culpada.

Como eu me sentiria se fosse ao contrário? A Mel sentiria o mesmo peso por querer seguir em frente, caso eu morresse?

Se fosse assim, eu iria querer a sua felicidade independente de tudo. Sua vida não poderia parar por minha causa.

Mas e ela, se importaria?

— Não se torture tanto. Está tudo bem. — Lana disse, acariciando minha mão com o polegar.

— Como sabe no que eu estou pensando? — Ri.

— Te conheço bem o suficiente para adivinhar. Dá para perceber pelo seu rosto.

— É tão óbvio assim?

— É. — Sorriu. — Mas não se preocupe, não te julgo.

Levantei, dando-lhe um beijo na testa.

— Obrigada, Princesa das Trevas. — Ela riu do apelido. — Se precisar de mim é só chamar.

— Okay, príncipe encantado.

Saí do chalé com o coração acelerado e o rosto completamente vermelho.

A temperatura tinha baixado drásticamente. O céu estava completamente cinza e o vento gélido que batia me dava arrepios por todo corpo.

De longe, pude ver que Charlie e Bárbara se aproximavam, então corri até eles.

— Hey Ceci! — Bárbara me cumprimentou.

— Estava lá até agora? — Pelo tom de Charlie ele não pareceu gostar muito disso.

— Sim, ela acordou e conversamos um pouco. — Ele bufou, dando uma discreta revirada de olhos e entrando no chalé com pressa.

Engoli seco. Era uma péssima ideia ter um filho de Hades de mau-humor por sua causa.

— Não se preocupe, ele só está com ciúmes porque é a irmã gêmea dele. Sempre teve tendência a ser superprotetor. Logo se acostuma. — Bárbara disse olhando na direção que o mesmo tinha ido.

— Desde que ele não fique puto comigo está ótimo, não quero de jeito nenhum ter a fúria dele contra mim. — Nós rimos, deixando o clima mais leve.

A encarei por alguns segundos, em dúvida sobre como iria abordar o assunto.

— Você… quer falar alguma coisa?

— Na verdade, quero sim. — Ohei ao redor.— Mas é um assunto delicado, acho melhor irmos para um lugar onde ninguém possa cortar o assunto.

— Tudo bem, vamos.   


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Notas finais do capítulo

Olá novamente o/

O que acharam do capítulo?

Bom, o próximo vai ser mais curtinho, tipo uma transição, mas o outro logo saí, e no tamanho "normal" dos capítulos daqui.

Acho que é isso, espero que tenham gostado e, novamente, perdoem a demora para todos os capítulos, último ano é complicado de lidar (porém sobreviveremos, férias estão logo aí em dezembro)

Até a próxima!



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