Jenny

— Você tá maluca Briana? - Ela riu quando eu gritei.

— A gente tem uma pilha de coisas pra ler, sem contar que você sabe que baile dos soberanos não é lugar pra Estelares...  - Ela tava doida ou o que? Tudo bem que estávamos um nível acima dos Eclipses na escala social, mas estávamos longe de soberania... Somos apenas o resultado do amor de Solar com Solar... Um amor possível, ao contrario dos lunares, esses sim nunca poderiam ter bebês... Até porque não nasceria um bebê.

— Eu não acho uma ideia ruim. - Briana era a menina mais insistente do mundo? Era! - Pensa, tipo vai ter muitos pratos de festa e música...

— Sem chance! - Falei baixinho e ela revirou os olhos se jogando na sua cama.

— O que é sem chance? - Crystal havia entrado com uma cara que se misturava entre estresse e confusão.

 - Briana quer ir ao Baile preto e branco... - Ela sorriu fraco sentando-se ao lado de Brin.

 - Mas o que aconteceu pra você estar com essa cara? O treino foi pesado? - Duvidava muito que ela estivesse assim pelo treino, ela era a guardiã mais forte da escola, sempre foi muito desenvolvida em bater e apanhar, era tipo nossa Mulher Maravilha, só que loira e mais magrela.

 - Quem dera! Sabe que não fico assim por causa de treino. - Ela falou meio convencida. - Esqueceu que sou filha do grande treinador? - Nós rimos, Briana sentou-se novamente, ela estava com um pijama muito engraçado, parecia um unicórnio azul com amarelo.

— Eu tô meio chateada... Muito na verdade!- Crystal retomou o assunto puxando minha atenção. - Hoje eles destinaram os Méritos... - Méritos eram os soberanos que cada aluno acompanharia, como um estagio para no final do ano serem revelados quem realmente nasceram para proteger.

 - E? - Briana tirou o questionamento da ponta da minha língua.

 - E, que foi sorteio! Acreditam nisso? Tiveram a audácia de sortearem. O de todo mundo. - Ela estava vermelha. - Que horrível!- Briana falou prendendo seus cabelos.

— E quem foi sorteado pra ser seu mérito? – Perguntei a observando andar até o Frigobar do quarto e pegar um suco de amora.

— Luna Lancaster... – Ela falou com uma voz enjoadinha enquanto voltava a se sentar. – Ela é lunar, parece que ela é uma profetisa!

Ela começou a mexer em seu celular e nós nos encaramos quando ela o jogou pra mim.

Estava aberto em um perfil no facebook, era de uma garota linda, traços finos e delicados, e longos e ondulados cabelos... Era a tal Luna.

— Não parece tão ruim! Sinceramente, já vi pessoas mais mal encaradas entre os soberanos.

— Tipo? – Brin havia pegado a garrafa de suco das mãos de Crystal, e bebericava o liquido vermelho escuro com vontade.

— Tipo a Dell... – Falei e vi elas concordando com a cabeça.

Dell Evans era uma das garotas mais conhecidas da escola, ela era dos Solares e uma verdadeira vadia miserável. Crystal havia batido nela quando estávamos no oitavo ano.

Elas se odiavam... Na verdade a escola em peso odiava aquela desgraçada. Ela era o tipo de pessoa que precisava fazer os outros se sentirem mal pra se sentir bem.

Sempre pegou no meu pé por ser Coreana, era insuportavelmente mesquinha e eu mesma teria socado a cara de vaca dela se não fosse ser expulsa.

— É vocês tem razão, podia ter sido pior! – Nós rimos com o comentário de Crystal. – Mas vocês querem saber de uma coisa? – ela falou se levantando, estava prendendo seus cabelos loiros em um coque alto. – Nós vamos a esse baile!

Brin deu um pulo de alegria... Deveriam estar loucas se pensavam que eu deixaria de ler um bom livro pra estar no meio de gente arrogante e fedendo a álcool e sabe-se lá mais o que.

— E a senhorita vai sim dona Jennifer Chang! – Brin me puxou da cama.

Se eu protestasse era bem capaz de eu ir amarrada, e se Crystal havia decidido ir a esse circo é porque tinha um bom motivo.

Então afinal porque não se permitir um pouco de diversão.

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Sky

O salão estava bem cheio, mas na realidade eu não deveria me importar com isso. Eu estava como segurança, deveria guardar e proteger. Já passavam das duas da manhã, e o cheiro de álcool estava me deixando enjoado, estávamos em cerca de vinte seguranças em torno do salão, dez homens e dez mulheres. Eu não queria estar lá, minha cama era o melhor lugar.

— Oi Sky! – fui pego de surpresa pelo cumprimento de Dell, ela estava de branco, seus cabelos loiros estavam presos e ela estava realmente linda. Suas seguidoras , as gêmeas Wilson, estavam de branco também, o que deixava sua pele morena ainda mais linda.

 - Oi Arendell! - Sorri pra ela, ela estava mexendo nos cabelos e me deixando muito constrangido. - Precisa de alguma coisa?

 - Você poderia amarrar meu vestido atrás? - Ela virou de costas pra mim, levantando seu cabelo e me olhando por sobre o ombro.

 - É... Hã... Claro! - Tentei ser rápido em fazer aquilo, se o treinador Fields me pegasse nessa situação eu seria punido sem duvidas. Eu estava pela terceira vez tentando dar um nó decente no vestido de Dell, quando a porta do salão meio que gritou pela minha atenção. Estavam paradas nela três silhuetas, que por causa da iluminação da festa ficavam bem em evidência. Eu quase não acreditei ao ver quem era... Briana estava com um vestido xadrez de preto e branco, havia trocado seus óculos por maquiagem e seus tênis por saltos altos. Jenny estava igual a uma gueixa, parecia ter saído de um filme de espiãs, toda de preto, cabelos presos em um rabo de cavalo alto e um sorriso metido no rosto. E entre as duas estava ela... Parecia ter caído do céu, estava iluminada, iluminando a tudo... A mim... Fazendo justiça ao seu nome... Crystal! Ela estava toda de branco, seus cabelos pareciam reluzir naquela trança meio bagunçada e aquele batom vermelho em seus lábios mexia comigo.

 - Ai! - Voltei a mim com o grito de Dell.

 - Você apertou um bocado Sky, e... - Encarei Dell que olhou na mesma direção que o salão todo parecia olhar. Elas estavam deslumbrantes... Eu teria ido cumprimentar Crystal se não estivesse trabalhando... - Meninas! Hora do plano... - Dell falou pras gêmeas que sumiram em meio a multidão de alunos. - E você Sky, muito obrigada!

— De... De nada, senhorita! - Plano? Eu não sabia do que elas estavam falando, mas com certeza pelo sorriso de Dell era algo com o qual se preocupar. Essa festa estava realmente prometendo!

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Briana

 - Tá todo mundo encarando a gente! - Ouvi Jenny cochichar pra Crys.

 Ela estava quase se virando pra sair quando peguei ela pela mão.

 - Nem ousem... Agora vamos até o fim! - Dei um leve puxão nelas para dentro do salão... Vi que alguém estava se aproximando.

— Oi meninas, que surpresa vocês aqui! - Era Ellene, ela estava linda com seu cabelo crespo solto e sua pele cor de café quase toda a mostra em um mini vestido branco.

 - Obrigada de verdade por sua simpatia! - Crystal a cumprimentou com um tapinha no ombro e seguimos.

 Estava tudo lindo, o salão cheirava a flores frescas, as luzes coloridas da discoteca faziam com que todos parecessem um arco-íris. - Uau! - Falei meio boba. - Está tudo perfeito...

— Quero falar umas coisas com vocês...- Crystal parou na nossa frente e fez com que nos aproximássemos. - Vamos procurar ficar todas juntas, eu tenho que ficar um pouco perto da Luna, preciso saber qual o circulo de amizades dela, tenho que conhecer ela um pouco... - Ela revirou os olhos. - Não aceitem bebidas de ninguém, sabem o que fizeram com a Montgomery no último baile. - Realmente a historia da Montgomery era horrível, ela era uma estelar, estava no último ano, no inicio do ano anterior... Alguns meninos Lunares e Solares a doparam e gravaram um vídeo enquanto transavam com ela... Ela se matou enforcada no grande carvalho dos fundos da escola. Eu estava arrepiada e senti que Jenny apertava minha mão de leve. - Por favor, se precisarem de mim gritem! - Ela se virou olhando ao redor. - Eu vi a Luna no canto direito do salão, do lado da janela que dá pra sacada... Não hesitem em me chamar! Ela saiu e eu encarei Jenny...

— Não me olha assim, não estou acostumada com festas! - Jenny me falou cruzando os braços.

 - Vamos beber um ponche, parece bom... - Puxei ela até a grande mesa de Buffet, servi ponche pra nós duas e ficamos observando ao redor. Alguns rostos familiares, outros desconhecidos, eram tantas pessoas que mal se podia contar.

 - Isso tá batizado! - Jenny disse bebendo um gole e fazendo careta. - Não gosto de Álcool. Ela despejou a bebida em um vaso de plantas que estava decorando o salão.

Não vou negar que a festa estava chata, a musica e as comidas eram boas, mas estávamos nos encarando como duas patetas.

— Acho melhor voltarmos pro dormitório... Vamos avisar a Crys e voltamos okay? - Falei e ela concordou com um suspiro de alívio. Estávamos indo em direção a grande janela que dava pra sacada quando dois garotos pararam na nossa frente.

— Oi! - Eles disseram juntos, eram lindos, os dois morenos e altos, de porte atlético e bastante sexy...

— Eai? - Jenny falou e eu a olhei rapidamente. Ela parecia entediada olhando pra eles. - Licença? - Ela estava me puxando quando eles nos pegaram do braço.

— Não querem dançar? - Não foi bem algo justo eles terem feito essa pergunta, pois não tivemos tempo de responde-la...

Quando menos esperamos já estávamos no meio do salão dançando com eles... A ultima vez que havia dançado foi na minha festa de debutante, a uns quatro anos. Não sabia fazer aquilo. Estava no final da musica, uma espécie de tango eletronizado, quando a voz de Crystal entrou rasgando como uma adaga em meus ouvidos.

— Meninas, não... - Eu olhei pra ela confusa...  Foi quando senti o gelo correndo meu corpo, seguido de muitas risadas e um forte cheiro de álcool. Alguém havia despejado todo o ponche da festa sobre nós... E algumas pessoas gritavam que ali não era o nosso lugar. Vi Jenny me olhar, ela estava toda ensopada, seu cabelo e maquiagem se desmanchando... Ela saiu correndo e eu segui... Realmente não fazíamos parte daquele lugar.

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Luna

— Você é tão gostosa! - A mão dele estava dentro da minha blusa de renda preta, ele acaricia meus seios enquanto beijava meu pescoço. Aquilo era errado... E acho que era isso que tornava o momento tão maravilhoso. Não queria mesmo ter que fazer aquilo na cabine do banheiro do salão, mas eu ansiava por ele durante todo o dia... Era ali ou não seria aquele dia... Ele parecia ter saído de um sonho.

— Eu te amo! - Ele falou me encarando com seus lindos olhos.

— Eu te amo! - Falei enfiando a mão por baixo de sua blusa e passando a mão em suas costas. Ele era proibido, éramos dois lunares, não podíamos nos relacionar. Mas não pudemos evitar. Mathew conquistou meu coração quando me disse que eu havia conquistado o dele. Desde então sempre nos encontrávamos as escondidas... Só os deuses sabem o que aconteceria se fossemos descobertos.

Já fazia um ano que namorávamos, nada poderia ser mais perfeito... Nada de diferente na nossa vida como Lunares... Exceto por nossas marcas. Eu e ele tínhamos a mesma marca, do Clã lunar, uma lua cheia transposta por uma lua nova, marcas negras... Desde que começamos a namorar nossas marcas estão cada vez mais brancas, por sorte elas ficam em lugares pouco vistos. A minha nas costas, e a dele no peito. Eu não poderia estar mais feliz... E nenhuma regra acadêmica me faria abrir mão dele. A única coisa capaz de destruir meu amor por ele seria se me apaixonasse por outro homem, o que duvido que aconteça. Estávamos em um beijo quentíssimo, eu sentia a mão dele subindo minha coxa por de baixo da saia. Quando mais alguém entrou no banheiro... Mais de uma pessoa.

— Eu não acredito que isso aconteceu. - A primeira voz falou, como eu imaginava eram meninas... Já que estávamos no banheiro feminino.

— Quem fez isso? Por quê? - A segunda voz falava alto e um pouco mais chorosa.

— Que merda foi aquela? - uma terceira menina entrou batendo a porta do banheiro com força... Aquela voz eu conhecia. 

Era Crystal... Minha guardiã. Não podíamos ser vistos por ela, ela era filha do professor de defesa da escola, seria nosso fim, pois sendo minha guardiã ela jamais permitiria meu relacionamento com outro lunar... Isso poderia gerar um novo filho do caos... Enfiei minha cara no pescoço de Mathew, ele passava as mãos levemente nos meus cabelos. Não podíamos fazer o mínimo barulho.

— Quem eram aqueles garotos? - Crystal berrou.

— Não sabemos, eles nos forçaram a dançar... - A nervosa garota falava novamente...

— Jenny tentou nos tirar de lá mas eles nos agarraram... - Agora havia sido a garota chorosa falando.

— Calma Brin... - Crystal falou mais calma dessa vez. - Vamos voltar pro dormitório e vocês tomam um banho, estão fedendo a bar...

Eu não podia acreditar que nos safaríamos daquela... Eu podia ouvir o barulho da maçaneta sendo girada, soltei a respiração mais calma. Foi quando o cheiro do perfume de Mathew me fez soltar um espirro consideravelmente alto. O barulho da maçaneta parou. Merda!

 - Quem está ai? - Crystal estava se aproximando, podia ver seu reflexo no piso de porcelanato polido do banheiro, e o barulho de seu salto alto estava cada vez mais próximo...

Havíamos conversado a menos de vinte minutos e ela saberia que era eu pelos sapatos se espiasse, e se visse os de Mathew faria uma denúncia...  Já era! Quando um forte barulho de porta fez com que ela se virasse depressa.

— E ai piranhas? Gostaram da surpresinha que preparei especialmente pra vocês? - Aquela voz, com certeza conhecia. Dell Evans...

— Sua vagabunda desgraçada! - A garota de voz nervosa gritou e ouvi a menina chorosa falando seu nome em advertência.

Acho que ela havia partido pra cima de Dell... Daria tudo pra ver aquela briga.

— Por que fez isso com elas? - Crystal falou com uma voz entredentes.

— Pra vocês entenderem de uma vez por todas que o lugar de serviçais como vocês é longe da sociedade... - Dell estava sendo muito rude. - Quem as nerds pensam que são pra terem a audácia de entrarem em uma festa dos soberanos? E você Fields? Seu pai sabe que está aqui?

— Meu pai não tem nada haver com isso! - Crystal falou - E não ouse dizer o que as meninas podem ou não fazer... Sem nerds como elas, vadias burras como você não seriam ninguém! Na verdade você continua sendo uma ninguém mesmo com a presença delas.

Ponto pra Crys... Mathew trancou uma risada.

— Ah por favor... - Dell foi falar, mas foi interrompida por um urro de Crystal.

— Cala a sua boca, sua voz me enoja! - Ouvi o barulho de coisas sendo jogadas no chão e vi pelo reflexo que Crystal havia tirado os sapatos.

— O que você está fazendo sua ridícula? - Dell falou rindo debochada.

— Primeiro, eu já mandei você calar a boca... - Segundo ponto pra Crystal? Sim! - E segundo, eu decidi te dar a parte dois da surra que te dei no oitavo ano.

Dai pra frente à única coisa que se ouvia era o barulho de carne sendo batida, gritos de dor e Crystal falando que ninguém machucava as amigas dela. Nunca gostaria de brigar com ela... Uns três minutos depois da sessão de surra ouvimos os barulhos dos seguranças, eles estavam tirando elas do banheiro, vi que a ultima a sair foi uma oriental que estava completamente molhada, ela pegou os sapatos de Crystal e saiu correndo. O barulho que mais esperava foi ouvido... O da porta sendo batida.

— Que barraco foi esse? - Mathew falou finalmente soltando uma risada baixa e beijando o topo da minha cabeça.

— Temos que sair daqui! - Não era seguro sair pela porta, não sei nem como havíamos conseguido entrar sem sermos vistos...

Acho que o barraco do ponche tinha chamado todas as atenções.

— Podemos sair por ali! - Mathew me apontou uma pequena janela que estava acima da nossa cabine.

— Vai ter que ser! - A janela dava pros fundos da escola, o que seria perfeito, pois nem mesmo os seguranças dessa área estavam trabalhando a esse horário.

Deveriam ser umas três horas da manhã. Ele me levantou e eu percebi quando ele olhou por debaixo da minha saia. Eu me segurei no pequeno parapeito da janela e pulei pro outro lado. Meu salto quebrou, mas eu estava bem. Ele pulou logo em seguida. Com todo o barulho de salão e dos barracos da noite nem havíamos percebido que estava chovendo, e forte naquela madrugada.

— Foi por pouco! - Ele disse me abraçando por trás...

— Muito pouco - Falei beijando a mão dele.

— Eu te amo muito Luna! - Ele disse apoiando o queixo no topo da minha cabeça.

— Te amo demais Math! - Falei colocando minhas mãos em torno das dele.  Eu acho que mesmo que falássemos isso milhões de vezes nunca seria o suficiente.

Corremos depois que eu tirei os sapatos... Não poderíamos arriscar novamente depois do banheiro. Teríamos a vida toda pra vivermos secretamente com o nosso amor... Afinal... Nenhum amor é impossível de acontecer, e quanto mais proibido for, mais apaixonante ele é!

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