A filha de Esme e Charles - versão 1 escrita por Angel Carol Platt Cullen


Capítulo 28
Capítulo 28




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1934

Angeline PDV

Já estamos no ano de 1934, os dias transcorrem da mesma maneira rotineira. Exceto um ou outro acontecimento incomum.

 

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Ontem mais uma vez eu sofri um aborto. De novo. Por que Deus? Eu sei que nunca mais eu fui à missa, de verdade. Eu não comungo, só assisto a celebração, eu não acho certo receber a hóstia. Meu corpo não é um lugar puro para receber o Cristo. Me tornei uma pecadora, não  posso me colocar em Sua presença. Não sou digna.

Dessa vez eu não precisava da ajuda de ninguém, pois eu já sabia o que iria acontecer. O que estava acontecendo. Eu não iria morrer. Meu bebê já tinha morrido. A criança já estava morta e eu não podia fazer mais nada a não ser expelir.

Eu estava lavando as roupas quando senti uma dor forte na minha barriga, no baixo ventre, na verdade. A dor foi tão forte que me fez cair de joelhos no meio da lavanderia, diante do tanque de roupas para lavar. Me deitei no chão então. Eu não podia fazer mais nada a não ser ajudar a natureza a terminar o processo de expulsão do embrião.

Meu filho. Mais um que perco. Menos um, na verdade. Ainda bem que ainda era começo da tarde e Charles iria demorar a voltar. Eu poderia ficar agonizando no piso frio me contorcendo conforme precisasse.

Instintivamente abri minhas pernas e tirei minha calçola enquanto deixava o sangue fluir. Eu sabia que eu estava grávida. Algum tempo depois de meu primeiro aborto as minhas regras começaram a descer todos os meses.

Eu sabia que gerava um bebê, pois a minha menstruação estava atrasada há quase dois meses, e não costumava atrasar mais do que alguns dias. Claro que eu não disse nada para Charles. Eu não sabia se iria segurar a criança. Como de fato não aconteceu como eu imaginava que iria acontecer. Eu sabia de alguma forma. Mais uma vez vou passar por esse drama.

Quando o sangue das minhas regras descia eu colocava um pequeno pano entre as pernas, o qual eu trocava a cada duas ou três horas conforme a necessidade durante o período em que o sangramento durava. Não gostava de falar sobre isso, mas Elizabeth me orientou sobre esse assunto.

Mas agora era diferente, eu sabia o que estava acontecendo. Eu sabia. Tinha quase certeza de que estava grávida antes de isso acontecer e agora está confirmado a minha suspeita, eu estava grávida novamente de meu pai.

Por que eu não consigo segurar nenhuma criança? O que há de errado comigo? Será que eu tenho algum problema? Será que meu sangue e o sangue de meu pai é incompatível por sermos parentes? Não, acho que não é isso. Sei que primos se casam e nem todos tem esse problema. O filho pode nascer deficiente, mas no meu caso meu bebê nem chega a nascer.

Talvez eu nem aguentaria o parto. Sou muito jovem ainda. Eu morreria dando à luz.

Não que eu quisesse ter um filho com Charles, mas não queria ter de passar por isso. É muito doloroso. É muito sofrimento, saber que tinha um bebê sendo gerado em você e depois perder a criança. Preferia ser estéril de uma vez. Assim nem começava a gravidez, mas na realidade é péssimo. É horrível ter de passar por isso. Até mulheres maduras sofrem quando tem um aborto, imagine eu.

Começar a gerar um bebê apenas para mais tarde perdê-lo. Isso não é justo. Isso não devia acontecer. Como Deus permite que aconteça uma coisa dessas?

Se eu não ficar doente do corpo por causa de perder tanto sangue a cada pouco tempo, incluindo a menstruação normal de cada mês, vou ficar doente da cabeça. Vou enlouquecer.

Por horas eu fiquei estirada no chão até que consegui me levantar escorada no tanque. Limpei toda a sujeira com os olhos marejados de lágrimas. Meu sangue, meu bebê. Não consegui evitar, chorava enquanto limpava.

Já devia ser perto da hora de Charles voltar por isso fui tomar meu banho e desci para fazer o jantar. Ele logo chegou e escutou eu chorando baixinho:

— O que foi, Charlotte? – me virei para encará-lo e ele se assustou com meus olhos vermelhos.

— Charles eu... – eu soluçava – Eu... hoje a tarde eu perdi mais um filho.

Charles levanta a cabeça e olha para mim.

— Não importa - O desprezo em sua voz me deixou ainda mais triste.

— Charles, eu perdi um bebê. NOSSO filho. E você não se importa – digo com a voz tremendo, nervosa.

— Não. Eu não me importo. Já disse e repito que não quero um filho. Só se for um menino. Mas essas que morreram eram meninas, fracas. E por isso não resistiram.

Reviro os olhos, nós NUNCA saberemos o sexo dos bebês que perdi, pode tanto ter sido menino quanto menina.

— E se o problema for conosco, ou comigo? – questiono.

— Só o tempo dirá. Normalmente as mulheres perdem um ou dois filhos antes de nascer um saudável. Minha mãe perdeu três filhos antes de ter a mim. Você ainda é muito nova Charlotte, não se preocupe.

Um instante de silêncio e ele complementa:

— E dessa vez você se recuperou mais rápido.

Como se isso significasse algo, penso descrente, olhando para cima.

Flashback off>>

 

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