A filha de Esme e Charles - versão 1 escrita por Angel Carol Platt Cullen


Capítulo 26
Capítulo 26




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Angeline PDV

20 de outubro de 1933

Como todos os dias eu levantei e fiz o café-da-manhã depois subi para arrumar meu quarto. Charles já havia saído para ir trabalhar.

De repente eu sinto uma dor lancinante na minha barriga e grito sem pudor:

— Aiiii!

Sento na minha cama e percebo a sensação de um líquido escorrendo por minhas pernas. Me abaixo para ver do que se trata e fico ainda mais alarmada quando vejo que é sangue. Me sinto ficar tonta, o quarto gira em torno de mim, ou só minha cabeça, minha visão que está turva. Por isso me deito na cama e olho para cima, para o teto.

— Aiiii – solto mais um grito ao sentir outra dor aguda como uma pontada.

Ouço alguém subindo as escadas correndo. Será que Charles ouviu meus gritos?

— Charlotte, você está bem? – pergunta Elizabeth com a voz preocupada.

É claro que não seria Charles, fico um pouco desapontada que não seja ele. Mas a essa altura eu já deveria estar acostumada a ter minhas esperanças frustradas sempre que espero algo dele. Alguma boa ação. Ele não tem esse tipo de caráter. Ele não se importa com mais ninguém alem de si mesmo. Tola sou eu em esperar alguma coisa. Mas ele é sempre imprevisível e essa instabilidade deixa qualquer um louco. Nunca se sabe o que ele pode fazer.

— Minha barriga 'tá' doendo – lhe digo.

Elizabeth senta do meu lado na cama e afaga meus cabelos.

— Filha, vai ficar tudo bem, querida – ela diz com a voz doce e maternal. Ela lembra a minha mãe. Eu sei que Esme cuidaria de mim da mesma forma.

— Aiiii, ‘tá’ doendo muito.

— Eu sei meu anjo – anjo lembra meu verdadeiro nome Angelie, angel em inglês é anjo.

— O que está acontecendo comigo?

— Acho que você está sofrendo um aborto, querida. Eu mesma passei por um e depois nunca mais pude ter filhos.

— Um o quê?

— Você estava grávida e está perdendo o bebê.

— Mas, é impossível. Eu ainda nem tinha menstruado.

— Não sei como pode, mas o fato é que sim, você estava grávida. Mas está sofrendo um aborto espontâneo.

Alguém avisou Charles e ele voltou para casa. Nunca se sabe o que ele faria, mas ele voltou. Eu já estava pensando que ele nem viria, não se importa comigo. Eu posso morrer que ele não 'tá' nem aí, é indiferente para ele. Mas ele veio:

— Charlotte!? – ele diz abrindo a porta.

— Charles!!! – digo espantada que ele tenha vindo e esteja aqui - ...Eu vou morrer.

— Não vai, não, querida – me tranquiliza Elizabeth que está comigo no colo.

— Nos deixe à sós – Charles diz para Elizabeth sair lhe mostrando a saída. Ela se levanta e estava quase indo e vira para me jogar um beijo: "Você vai ficar bem", ela me sussurrou antes de ser enxotada por meu pai. – Vai. 'Xô'. – Charles empurra ela porta afora. Quanta grosseria desnecessária! Se eu sobreviver vou me desculpar por ele ter feito isso.

Charles fecha a porta e ficamos apenas nós dois no quarto. Ele se aproxima da cama onde estou:

— Pai – digo olhando nos olhos dele. Charles faz menção de me dar uma bofetada, mas se detém. Ele percebe a solenidade do momento e um tapa seria descabido agora. – Eu não quero morrer, pai, me ajude! – Eu imploro, como se ele pudesse fazer alguma coisa.

Depois que minha avó morreu – na verdade ela foi assassinada por Charles - a responsabilidade e o dever de zelar por mim é dele. Mas quem disse que ele cuida de mim? Parece que eu mesmo me cuido. Ele só se importa consigo mesmo. Nunca me demonstrou carinho, exceto quando estamos na cama, mas não é desse carinho que eu falo. Ele não me beija nunca. Mas eu me refiro ao carinho paternal. Ele nunca teve por mim esse tipo de afeto. Ele não me quis, não faz nenhum esforço para me ver como filha. Não sou sua filha para ele. Sou apenas sua mulher, nada mais.

— Mas como? – ele se pergunta confuso. – Como você engravidou se não tinha nunca tido suas regras? Isso é impossível. É loucura. Mas parece ser verdade – ele mesmo se responde. – A não ser que quando nos casamos você estava quase menstruada, isso foi muita coincidência. Sorte ou azar.

Ele me estupra quase todos os dias isso poderia acontecer mais cedo ou mais tarde.

— Pai, eu não quero morrer – imploro chorando copiosamente.

— Charlotte, me larga – ele dá um tapa na minha mão que segurava sua camisa. – Vai amassar minha farda.

Fico com a expressão ainda mais desolada. Meus olhos fundos, como se eu não quisesse acreditar. Meu próprio pai me abandonando. Me rejeitando? Não quero acreditar nisso. Mas eu já deveria saber disso. Desde que nasci ele nunca foi me visitar. Só aquela vez que foi me tirar da casa da vovó.

Ele continua dizendo:

— Se você morrer é porque não aguenta, é fraca. Você não queria ter morrido antes? – ele ergue os lábios com o canto da boca, sorri diabolicamente sabendo que esse pensamento me passou pela cabeça. Ele sabe exatamente o poder que tem.

— Não agora. Não assim dessa maneira. ...Mamãe – Eu grito.

— Pode gritar o quanto quiser que Esme não vai te ouvir. Ela não pode te ajudar... Ou talvez ela te ajude sim, se ela está morta vai levar você junto para o inferno, onde aquela vadia deve estar.

— Não fale assim da mamãe – protesto a defendendo mesmo morrendo não admito que difamem Esme.

Charles me dá um soco no rosto:

— Pra você aprender a não erguer a voz pra mim. Quem manda nessa casa sou eu. Não gosto de ser contrariado e em quem faz isso eu bato.

Estou muito magoada. Mas ainda mais por não poder contar com ninguém. Por meu pai não me consolar. Ele parece incapaz de sentir qualquer emoção boa, nem ter qualquer resquício de empatia. Se eu sobreviver eu nunca mais vou confiar nele. Não devia nem ter feito isso agora. Fui uma tola, estúpida, mas ele teve a sua chance e a desperdiçou. Agora tenho certeza de quem ele é. Fiz tudo que minha consciência dizia. Estou em paz. Isso foi apenas um teste, mas como eu imaginava Charles não passou como eu imaginava que ele iria agir.

Tenho que ser forte e confiar apenas em mim enquanto espero que mamãe volte.

...XXX...

 

Minutos depois, parece que o sangramento parou, mas eu estou muito debilitada. Quase morta, literalmente. Por pouco não morri. Devo ter perdido uns dois litros de sangue aproximadamente, acho que quase todo o sangue que eu tenho no corpo.

Charles me dá um tapa no rosto. Ele tentou ser gentil e bater de leve, mas como eu estava muito enfraquecida foi como se tive sido com força:

— Muito bem, Charlotte, você sobreviveu!

Sobrevivi, mas ainda estou parecendo um zumbi. Foi a pior hora da minha vida, não consigo nem falar, não tenho forças nem para isso. Apenas olho para Charles e ele olha para mim saindo do quarto e descendo as escadas me deixando convalescer.

Eu não morri, mas alguém morreu. Meu filho morreu! Meu bebê! eu nunca pude brincar de boneca aqui mas lembro de quando fazia isso na casa de minha vó. Meu bebê!

...XXX...


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