A filha de Esme e Charles - versão 1 escrita por Angel Carol Platt Cullen


Capítulo 17
Capítulo 17




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Angeline PDV

Eu é que faço tudo nessa casa, tudo que uma mulher deveria fazer. Mas eu não acho isso justo. Os homens deveriam ajudar, mas a época é assim. Devo me conformar. Ao menos na casa somos apenas eu e Charles. Somente duas pessoas. Poderia ser pior.

Os maridos trabalham fora de casa e as esposas dentro de casa.

Mas eu não sou a mulher de meu pai. Isso seria pecado. Eu ouvi o padre dizendo isso na missa um dia, quando ele fez o sermão sobre as duas filhas que conceberam do próprio pai (na época era necessário, mas hoje seria pecado). Charles não gosta que eu vá, mas algumas vezes eu escapo e vou até a igreja rezar ou assistir à missa. Ou um pedaço da celebração.

Eu gosto de ir lá. Me faz bem. Me sinto perto da minha mãe. Rezo por ela. Peço que ela esteja bem, e que nós duas nos encontremos um dia. Se Deus quiser meu sonho vai se realizar. Amem.

Outro motivo para eu gostar de ir à igreja é que o pároco é uma pessoa muito gentil e me trata muito bem. Eu gostaria que meu pai fosse assim comigo. Eu quero ser bem tratada. Talvez um dia isso aconteça. Mas isso é um sonho impossível, Charles nunca vai mudar. Talvez ele não me trate bem, mas outra pessoa. Meu futuro marido, pode ser.

Vovó Caroline me contou que Charles não foi sempre assim, aprendiz do diabo. Mesmo que ela e mamãe tenham mentido dizendo que meu pai havia morrido para me preservar de saber que ele tentou me matar e me rejeitava, eu acho que essa história é verdade. Vovó me contou que Charles foi bom com minha mãe quanto ele voltou da guerra. A tratava carinhosamente. Foi por isso que Esme engravidou de mim.

No entanto, alguns meses depois, meu avô, pai do meu pai, morreu e isso fez com que Charles voltasse a ser maligno como era antes de ter ido para a Europa lutar na Primeira Guerra Mundial.

Nessa noite foi quando ele bateu tanto na mamãe que fez com que eu nascesse antes do tempo. E por um motivo tão mesquinho que é quase inacreditável. Mas tratando-se de Charles inacreditável é normal. Ele queria transar com a mamãe e não queria mais esperar. Não faltava tanto assim. Mas quando Charles quer algo, não há quem lhe negue, tem que ser já. E nega para ver só. Esme não estava se sentido bem. Ela não estava disposta. Mas razões e motivos não interessam para Charles. Ele não quis nem saber. Estuprou mamãe igual.

Ela reclamava do desconforto que era. Doía muito. Não era prazeroso para ela como sexo deve ser. Ela não estava em condições. Então Charles subiu na cama e chutava sua barriga [eu]. Esme chorava, pois tinha medo de que eu morresse e não podia fazer nada, pois estava amarrada na cama. Sorte que dois policiais vieram socorrer mamãe e um deles a levou para o hospital a tempo. E eu nasci.

Eu nasci frágil. Antes da hora, e precisei ficar alguns dias na incubadora, mas não fiquei com sequelas. Me desenvolvi muito bem. O melhor possível fora da barriga da minha mãe. Quando eu tive alta do hospital e pude voltar para casa, Esme foi me buscar e me trouxe.

Mas Charles não gostou de saber que era pai de uma menina. Ele queria um menino. Um filho que pudesse continuar a linhagem dos Evenson – ele, assim como mamãe, eram filhos únicos. Portanto eu não tive primos nem tios e como meus avós já estão mortos eu não tinha nenhum parente a quem recorrer. Meu único parente, infelizmente, era o meu algoz – o meu ‘pai’.

Charles preferia que eu não tivesse sobrevivido, que eu tivesse nascido morta ou morrido ao nascer. Por vezes eu também preferia, mas pela minha mãe, eu penso e lembro que mesmo que Charles não me quis, Esme me amou. Ela me ama ainda, onde quer que ela esteja.

Assim que me viu, Charles me derrubou dos braços de mamãe para que eu caísse no chão e batesse a cabeça e morresse. Ele queria me matar e teria conseguido se Esme não tivesse corrido comigo no colo até a casa da mãe dela, minha avó Caroline.

Esme me deixou aos cuidados da mãe, e minha avó foi muito boa para mim, disso não posso reclamar. Esme ia todos os dias me visitar e ver como eu estava e amamentar e deixar um pouco de seu leite para mim. Ela se importava comigo e com o meu bem estar. Ela me amava. Tenho certeza. Tenho essa memória afetiva em meu coração.

E além das memórias afetivas, minha avó Caroline também me falava muito da filha quando Esme desapareceu sem deixar nenhuma explicação. Ela não se irritou com a filha e por isso eu também não fiquei magoada com a minha mãe. Nós duas estávamos bem. Eu iria cuidar da minha avó quando ela ficasse velha e precisasse de meus cuidados assim como ela cuidou de mim quando eu era um bebê. Mas tudo mudou quando Charles me trouxe para morar com ele...

Não se sabe o motivo para que Esme tenha partido, mas eu suponho que ela cansou de sofrer nas mãos de Charles – infelizmente ele é meu pai, mesmo que ele não queira e nem eu gostaria que fosse. Tenho certeza que Esme vai voltar para me buscar um dia.

Talvez Esme pensava que eu estaria a salvo na casa da minha avó, mas ela não podia saber o que iria acontecer. Ninguém imaginava. Ninguém esperava. Não a culpo por isso. Para ela eu iria crescer sob os cuidados de minha avó até me casar e, Charles nunca iria querer saber de mim.

Pudera! Antes isso tivesse acontecido. Mas não. Charles foi me buscar para morar com ele aqui. De alguma forma ele se lembrou de mim. Charles deve ter parte com o diabo. Que Deus me ajude a suportar!

...XXX...


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