Angeline PDV

Todos os dias eu acordo às 07:00 da manhã com as badaladas do sino da igreja, que fica aqui perto da casa, levanto e preparo o café-da-manhã. Por sorte vovó já tinha me ensinado a cozinhar antes de Charles assassiná-la.

Na época eu era muito nova para entender o que havia acontecido, mas hoje eu sei o que ocorreu. Eu ainda sou uma criança, é verdade, mas tenho tantas responsabilidades nessa casa que tive que crescer depressa e pareço ser muito mais velha do que meus 10 anos de idade.

Não posso me esquecer de fazer a primeira refeição do dia, pois se acontece isso Charles fica bravo comigo. Muito irado. Furioso. Um monstro, literalmente.

<< flashback on:

Lembro que um dia eu não acordei com o toque do sino, pois eu estava muito cansada de ter limpado toda a casa e lavado todas as cortinas e cobertas além das roupas de costume no dia anterior, e perdi a hora. Charles levantou antes de mim e não encontrou o café-da-manhã pronto. Então subiu as escadas furioso e entrou no meu quarto, arrombando a porta:

‘Blam’ foi o barulho da porta caindo no chão.

— CHARLOTTE – berrou meu pai ao entrar.

Charles só me chama da forma que ele gostaria que fosse meu nome. E ai de mim se eu não respondo a ele me chamando de ‘Charlotte’ levo uma bofetada ou equivalente.

Ele se aproxima da cama e me desfere uma mangueirada nas pernas:

— Acorda sua vagabunda! – ele grita.

— Aiiii, pai – digo ainda meio entorpecida pela sonolência e acabo falando o que não poderia dizer.

Ele me desfecha outro golpe:

— Levanta sua vadia! Você é preguiçosa como a sua mãe.

Sento-me na cama rapidamente, a saia do meu vestido que havia subido enquanto eu dormia exibindo o calção, cobre as minhas pernas novamente assim que eu me levanto.

Mas a dor latejante ainda persiste das cacetadas. Não tenho tempo nem de verificar meus ferimentos. Não devo estar sangrando, mas certamente vão ficar marcas roxas que vão levar alguns dias até sumir. Coloco as minhas sandálias atabalhoadamente e desço as escadas para fazer o café.

Quando desço as escadas Charles vem logo atrás de mim:

— E não demore que estou atrasado para o trabalho!

Quando ele toma a xícara de café que fiz para ele cospe tudo:

— Credo Charlotte, está muito ruim.

— Foi o melhor que pude fazer rápido como o senhor pediu.

— Deixa, vou tomar café na padaria hoje, mas não se acostume hein?

A menina fica chocada com a reação do pai. ele é imprevisível. instantes atrás estava irritado e agora parece racional, até mesmo afável. Ela desistiu de tentar entendê-lo.

Flashback off>>

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