A Seleção de Apolo escrita por CarolFonseca


Capítulo 31
• 2° - Apolo que lute


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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— Eu fui... eliminada? – indaguei. – Eliminada por ter passado mal?

A verdade é que eu me sentia injustiçada. Apolo estava na minha frente, o cabelo loiro enfeitado pela coroa de louros, vestindo a túnica grega impecável, extremamente lindo. O rosto tão perto... os olhos azuis tristes... Me dei conta de que não o veria mais. Eu finalmente tinha conseguido, havia sido expulsa da Seleção, cumpria meu objetivo final... Eu deveria ficar feliz, soltar rojões de alegria, era isso o que eu sempre quis afinal... então porque meu corpo insistia em ficar tão triste?

— Eu vou ver o que posso fazer – disse ele. – Deve haver uma brecha. Sua mãe vai querer ajudar, com certeza.

— Eliminada da Seleção? – repeti, em choque.

— Eu sinto muito – ele se inclinou, e eu ainda estava tão chocada que nem tentei afastá-lo. Mas para o seu bem, Apolo não tentou nada atrevido, ele só beijou minha testa, um beijo demorado e carinhoso. – Amanhã de manhã tenho uma reunião com os deuses para debater sobre os detalhes da sua saída e os da próxima prova.

— Da minha saída? – soltei o ar que estava prendendo, sem perceber.

— Não vou deixar que simplesmente tirem você – ele segurou meu queixo com uma mão e o ergueu, para que eu olhasse pra ele. De novo: eu estava tão chocada que não reuni forças para afastá-lo. – E você tem o público ao seu lado. E sua mãe. E eu.

Senti meus olhos ficarem molhados. Não pelo o que Apolo disse, eu nem estava prestando atenção. Mas porque eu estava indignada. Como assim, depois de todos os meus esforços pra sair desse lugar, eu sou expulsa por um erro que nem foi meu?

— Cammy... – Apolo me abraçou, provavelmente achando que eu estava chorando por causa dele. – Não chore. Vai ficar tudo bem.

— Me-me solte! Nã-não estou chorando por v-v-você, seu idiota! – empurrei-o.

Era tão injusto. Por que os deuses nunca escutam os semideuses? Por que nós não temos voz? Me puseram aqui contra a minha vontade... me manteram aqui contra a minha vontade.... E depois me mandam embora, assim, sem mais nem menos. Eles nunca escutam a gente e nunca vão escutar. O que eu quero nunca vai importar. Sou só uma marionete com o destino traçado por pessoas poderosas que não posso enfrentar. Não existe livre arbítrio.

— Desculpe.

Apolo me ofereceu um lenço, que eu aceitei, irritada. Ele também é um deus. Também é um deles. E o pior: estava me vendo desabar, toda desarrumada e machucada por culpa dele próprio. Agarrei sua túnica de repente.

— Escuta aqui, Apolo – falei com a voz mais autoritária que consegui – Isso não foi minha escolha, não foi minha culpa, pelo contrário, foi erro de vocês. Então, me escute bem: não me importa o que vocês vão fazer agora e muito menos o que acham disso, mas daqui eu não saio, e daqui ninguém me tira!

— Tuuuudo bem – ele gentilmente tirou minha mão de sua túnica, sorrindo, embora seus olhos estivessem um pouquinho arregalados. – É assim que eu gosto.

Irritada, o puxei outra vez, agora com as duas mãos, nossos rostos estando a milímetros de se encontrar.

— Estou falando sério Apolo, portanto não me teste. Tenho certeza que você já presenciou ataques o suficiente de Afrodite pra não querer assistir o meu.

— Quer saber? – deu uma risadinha nervosa, o pomo de adão tremendo. - Vou ver se consigo adiantar a reunião de amanhã pra hoje. Depois passo no seu quarto pra te contar como foi.

Então, enquanto eu o olhava irritada, quase que com fogo nos olhos, Apolo se inclinou e depois de um momento hesitante, me beijou. Assim, do nada. E na boca. Nossos lábios ficaram encostados um no outro apenas por um segundo, não me dando tempo pra reagir. Quando ele se afastou eu arregalei os olhos, pronta pra soltar minha ira em xingamentos, ele fez a coisa mais inteligente que podia fazer: saltou da maca e correu para fora.

— APOLOOOOOO!

***

Confinamento.

Como não sabiam mais o que fazer comigo, me mandaram para o meu quarto, para ficar confinada enquanto eles decidiam sobre o meu futuro, sem que eu pudesse opinar. Então eu, com a minha camisola de dormir, uma túnica feminina e simples, andava de um lado pro outro no meu quarto, ansiosa. Um urubu pousou sobre a minha janela. Coloquei a mão sobre o peito, assustada. Mas ele só soltou um pedaço de papel que trazia no bico e foi embora.

Me encontre no jardim, ás quatro da manhã

Emmy

P.S.: estou preocupada

Eram sete da noite. A cara da Emmy mandar um urubu trazer uma mensagem. Ela não podia passar por sob minha porta, porque haviam guardas lá. O que significava que, pra encontrá-la, eu teria que pular a janela e escalar o Olimpo até o jardim. Ótimo.

Tentei ler. Tentei desenhar. Tentei de tudo. Nada, absolutamente nada, me distraía.

Me sentei na cama, irritada. Só então notei que, sobre o meu criado mudo, estava o porta-retrato com uma foto minha e de Apolo, vestidos de deuses gregos, em frente ao seu palácio. Lembrei-me dele mexendo em minha cesta e colocando algo lá, mas nem parei para reparar. Peguei o porta-retrato, pronta para jogá-lo no chão e quebra-lo, descontar minha ira em algo, de preferência algum deus do sol, mas era tão pesado... não consegui movê-lo sequer um milímetro. Apolo devia ter feito feitiçaria pra esse troço ficar aí e eu ser obrigada a ficar olhando pra ele.

Desgraçado.

Deitei e virei pro lado, pra não ter que olhar para aquela imagem estúpida.

***

Apolo

— ...A Seleção é pra mim, e eu quero que ela fique. Eu não pedi por isso, em nenhum momento, pai. O senhor não me deu escolha. Na verdade... me deu umas tantas subescolhas, dentro da sua escolha maior, e eu estou escolhendo, que foi só o que o senhor me mandou fazer. – terminei meu discurso.

Zeus coçou a barba. – Ainda sim...

— Minha filha teve um ataque de asma! – Afrodite bateu contra a mesa. – Isso é injusto!

— Injusto é vocês terem trago ela pra cá contra a vontade dela – Hefesto opinou.

— Cala a boca! – gritou Afrodite. – Pior vai ser mandar ela embora agora! Todo mundo ama ela! Ela é a favorita!

— Nisso – disse Deméter – Afrodite tem razão. Não sei como, mas a infeliz conquistou o público.

— E eles não vão gostar que ela saía – disse Hermes. – Podem até protestar. Eles viram que ela passou mal. Eu também vi. Fui eu quem a socorreu. A garota estava quase desmaiando quando eu a peguei. Se eu não tivesse chegado a tempo, é provável que tivesse desmaiado, caído da biga e ralado todo o corpo no asfalto. Isso se seu pé ou mão não se prendesse em nada, e ela fosse puxada por todo o percurso, arrastada.

— Estão vendo? – apontei para Hermes, acusadoramente. – Ela podia ter morrido!

— Nós a teríamos trago de volta – disse Hades, passando a página de uma revista de rock. – E você sabe disso. Não havia perigo nenhum.

— Caramba, qual o problema de vocês? – exclamei, furioso. – Esculápio, meu filho, venha aqui!

Fora da mesa principal, sentado num banco qualquer, no canto, estava um homenzinho de jaleco e óculos, com os mesmo cabelos loiros e olhos azuis que eu. Ele segurava uma prancheta.

— Mostre seu relatório – ordenei.

— Sinto informar, meu avô – começou ele, olhando com seriedade para Zeus. – Mas meu pai tem razão. Camille podia ter morrido. A garota é diabética e sofre de asma. Em hipótese alguma ela deveria ter participado dessa prova. Nós, com o perdão da palavra, a colocamos em risco de vida. Temo que, se Camille expor o que houve aqui, ou qualquer pessoa... ou se as pessoas de casa especularem sobre o que viram... Não será nada bom para nós.

Zeus coçou a barba de novo.

— Não sei por que vocês fazem tanta confusão – Hera revirou os olhos. – Diremos que Camille foi desclassificada por motivos de saúde, e que a penúltima a perder é que será eliminada. Pronto. Resolvido.

— Alguém tem outra sugestão? – perguntou Zeus.

Silêncio.

— Tudo bem, então faremos isso. Hefesto, passe esse aviso na tevê o mais rápido possível. E passe o dia inteiro. Apolo, sua vontade será feita... desta vez.

— Obrigado, pai.

— Reunião encerrada. Amanhã debateremos os detalhes da próxima prova.

O barulho de cadeiras sendo arrastadas foi unânime. Eu fui o primeiro a sair de lá. Me dirigi com urgência para a ala das selecionadas, desacelerando o passo ao me lembrar da ameaça bizarra que havia sofrido por sua parte. Porém, enquanto caminhava por um dos corredores, comecei a pensar... e se Camille mudasse de ideia? Até algumas horas atrás, ela demonstrara que queria ficar, mas agora... bom, ela vive mudando de ideia. É bem capaz de que, sabendo que vai ficar agora, ela volte a querer ir pra casa.

***

Cammy

— Estão dispensados.

Aquela voz só podia ser do Apolo. Me aproximei da porta para ouvir melhor, e só escutei passos de cascos se afastando. Meus guardas eram sátiros? Centauros?

Apolo abriu a porta. Ainda usava a mesma roupa.

— Oi... – disse ele.

— São três da manhã.

— Eu sei.

— Então...

Ele se sentou na minha cama. Depois levantou, como se estivesse inquieto demais para ficar sentado, e foi até a minha sacada.

— Nós tivemos a reunião...

— E? – me aproximei dele, ansiosa. – O que foi decidido?

Ele desviou o olhar. A lua estava cheia e o céu de um azul escuro, lindo, cheio de pontinhos brancos brilhantes. Abaixo de nós, para onde Apolo olhava, estavam os jardins. Subitamente, ele voltou sua atenção para mim, olhando nos meus olhos. Suas sobrancelhas loiras estavam arqueadas.

— Você fica – disse ele. – Mas, se ainda quiser sair, Cammy...

Não contive o gritinho, me jogando em cima do Apolo, seu rosto chocado, suas mãos me segurando pelas cochas, muito feliz para me importar com isso no momento.

— Eu não quero. Ninguém vai me tirar daqui.

Apolo sorriu.

— Então... Bom... – começou ele. – É...

— É? – ri, de repente muito distraída por suas orbes azuis.

— É... eu ia dizer... Quer dizer... Eu ia dizer que é... bom. É bom – ele franziu a testa. – Né?

Ri mais ainda. Sob a luz do luar, e vestido no estilo grego antigo, Apolo ficava ainda mais bonito. Ele ficava fofo quando não sabia o que dizer. Era bem melhor do que quando falava, porque geralmente só falava bobagem. Será que as outras selecionadas também pensavam assim? Podia ser uma delas ali no meu lugar, agora, e não gostei dessa ideia. Se tivessem dito não, se tivessem me mandado embora... Poderia ser outra aqui no meu lugar. Mas Apolo havia brigado com os deuses para que eu ficasse. Ele realmente gostava de mim. Não era apenas um capricho, uma implicância sua.

— É bom? – ele perguntou, confuso. – Quer dizer, você... Não é? Hã...

Juntei ainda mais nossos peitos, eliminando o espaço entre nós, e segurei seu rosto entre as mãos. Sua pele era quente, e assim de perto dava para sentir o cheiro que exalava dele: um aroma fresco e suave de flor de lótus. Inebriante. Encostei minha testa na dele e inspirei profundamente.

— Hã... Cammy? O que você tá fazendo? – indagou ele, meio sussurrando. – Não que eu não esteja gostando, é claro...

— Você fica melhor calado, sabia?

Ele começou a abrir a boca para me responder algo provavelmente idiota, mas levei meus lábios de encontro aos dele. Eram macios e quentes, e tinham gosto de néctar. Pareciam se encaixar perfeitamente nos meus.

Tudo bem, pensei. É hora de se afastar...

Mas estava tão bom... E Apolo abraçou minha cintura, sendo forte o suficiente para segurar minhas pernas com somente um braço.. E era tão bom estar em seus braços. E que braços! Passei as mãos por seus cabelo, derrubando a coroa de louros no chão. Ele me apoiou contra a coluna da sacada. A sacada... Emmy!

— Desculpe – desci do seu cabelo, minhas mãos apoiadas ao redor de eu pescoço. – Preciso encontrar a Emily.

Ele me olhou como se despertasse de um sono profundo, e piscou, atônito.

— Mas... Eu... A gente...

— Termina isso outra hora! Tchau! – e corri para a porta do quarto. Antes de sair, me virei. – Ah... Apolo? Quando for sair, lembre de fechar a porta, ok?

Ele piscou novamente. Seu cabelo loiro e perfeito estava todo bagunçado e a túnica impecável, amassada.

Virei as costas, e corri para encontrar Emilly.

Afinal, eu tinha muitas coisas pra contar.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?



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