Cosmos escrita por Sapphire


Capítulo 7
Capítulo 6 - O passado vem à tona


Notas iniciais do capítulo

Como hoje é MEU aniversário. Eu quero que comentem como um presente kkkkk
sim, faço niver dia 04.07 kkkk



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A noite passara rapidamente, ou pelo menos no ponto de vista da Paola havia passado, pois parecia que a vontade de esticar mais um pouco o sono e descansar só fizera os ponteiros do relógio correrem mais depressa. Percebera que não deveria ter abusado tanto no álcool.

Richard tomava seu café e lia o jornal como de praxe em todas as manhãs. Helga a governanta, aproximou-se entornando o bule na xicara do seu patrão preenchendo o conteúdo de mais café enquanto colocava uma variedade de frutas a sua frente.

— Obrigado! – Ele agradeceu.

— Mais alguma coisa senhor? – Ela perguntou pronta para satisfazer a vontade de seu patrão.

— Não, obrigado. Só isso. – Encerrou o dialogo começando a comer e voltando a atenção as notícias do jornal e dando uma conferida na seção de economia.

— Tragam-me qualquer coisa para a dor de cabeça e um café forte sem açúcar. – Paola sentou-se à mesa acabada com ressaca, os olhos estavam inchados pela a choradeira e o álcool não ajudara em nada. – Porque não me acordou?

— Você bebeu muito ontem. Achei melhor deixar você descansar. – Respondeu ainda de olho no jornal.

— Já disse que quero tomar café todos os dias com você. – Escorou a cabeça nas mãos e os cotovelos apoiados a mesa assim que sentiu latejar.

Richard espiou por cima do jornal com seus grandes olhos azuis em como a Paola em uma noite conseguira acabar com sua própria aparência.

— Você está mal, Paola. Eu quero que fique em casa. Tome remédio e descanse. – Sugeriu enquanto dava um gole do café. – De preferência que durma mais um pouco.

— E te deixar lá com a víbora? – Levantou a cabeça de leve para encara-lo. – Não senhor.

— Mas que coisa. De novo? – Ele fechou o jornal um pouco impaciente sem solta-lo. Ainda estava zangado pelo dia anterior. Já estava cansado daquelas atitudes infantis da sua esposa. Sempre havia uma implicância por qualquer coisa. – A mulher trabalha para mim. Mais nada.

— Depende do que você chama de trabalhar. – Fuzilou. Richard nunca dera motivos para que desconfiasse, mas o que seus olhos não viam, sua mente inventava. Ela era assim.

Ele a olhou por alguns segundos refletindo. Richard levantou-se da cadeira dobrando o jornal ao meio deixando sobre a mesa.

— Onde você vai? – Perguntou assustada pelo gesto brusco dele.

— Para a empresa. – Respondeu sério.

— Senhora! – Helga entrou a sala do café da manhã, com uma bandeja contendo uma aspirina e um copo de agua e ao lado uma xícara forte de café.

Paola entornou o comprimido com a agua deixando o café de lado. Subiu para o seu quarto tomou um banho rápido, escovou os dentes, maquiou-se e vestiu um terno. Não iria desperdiçar o tempo sem ele e muito menos dar tempo para que a secretaria fosse em frente a seu plano maquiavélico. Ninguém tiraria da cabeça dela que os dois poderiam estar tendo um caso.

Richard dirigiu para empresa não esperando que Paola fosse de fato atrás dele. Quando ela voltava para casa cansada ou bêbada, a primeira coisa de que gostava de fazer era dormir e esquecer que existia um mundo lindo por aí afora. Na verdade, ela amava não ser incomodada por ele de nenhuma maneira. Paola era o tipo de mulher que gostava de ter seu espaço respeitado.

Assim que chegou na empresa saudou cada um dos seus funcionários ao passar ao lado de cada um antes de subir e se trancar em sua sala. Quando pisava os pés em seu escritório a primeira coisa a fazer era deixar os problemas pessoais do lado de fora e se concentrar naquilo que era mais importante, manter o negócio prospero.

Paola chegou minutos depois. Embora estivesse mudada para sua família, essa mudança não se aplicava aos empregados e funcionários da empresa.  Isso significava em não cumprimentar ninguém ou sorrir para alguém. Assim que os seguranças a viram liberaram passagem. Ela subiu no elevador apertando o botão que a levava ao último andar. Assim que viu Lindsay não deixou de destilar sua palavra habitual quando não ia com a cara de alguém.

— Eu mesma me anuncio queridinha! – Avisou encarando ao mesmo tempo fuzilando a secretaria que havia levantado da cadeira surpresa.

Ela caminhou até a sala do seu marido indo quente com a mão até a maçaneta, encontrando ela trancada o que deixou seu desespero falar mais alto. Se a secretaria não estava com ele, quem estaria?

— Abra a porta, Richard! – Bateu na porta impaciente com a mão aberta, como se estivesse dando tapas e fosse por ela abaixo – Se não abrir vou começar a fazer um escândalo.

Richard quicou na cadeira. Estava concentrado em seus afazeres e imaginou que Paola ficaria em casa dormindo o dia inteiro e não que estaria em pé ao lado de fora. Ela nunca havia saído de sua zona de conforto.

— Abre a porta! – Ordenou do outro lado novamente com certa urgência na voz e mais irritação. Ele levantou da cadeira se recompondo do susto que acabara de tomar e caminhou normalmente, abrindo a porta para ela.

— Paola... O que está fazendo aqui? Pensei que estava em casa dormindo. – Ele abriu passagem para que ela passasse e se afastou.

— Não terminamos de tomar café. – Olhou fundo em seus olhos de oceano e depois para dentro da sala como se procurasse alguma amante escondida.

— Você não pode vir aqui sempre que sentir necessidade para querer fazer briga ou me tirar do trabalho. – Disse com uma cara nada amigável.

— Eu já disse que vou vir trabalhar com você todos os dias. – Avisou autoritária e entrando na sala dele fechando a porta atrás, trancando. Sentou -se no sofá tomando o café que comprou no meio do caminho. – Pode continuar o que estava fazendo.

— Você é muito teimosa. – Disse sentando sem olhar para ela focado no computador e olhando para os papeis em cima da mesa.

— O que é isso? – Ela perguntou dando um gole do café e fazendo uma careta. Estava quente demais e forte demais. Embora tenha sido daquela maneira que pediu, não deixava de ser horrível.

— Documentos... – Respondeu-lhe vagamente. Sua voz saiu automática como se não tivesse emoção.

— Sobre? – Ela insistiu.

— Contratos. – Respondeu ainda no mesmo tom de voz.

— Eu ouvi você ao telefone ontem de manhã, achei que queria cortar gastos e não os aumentar. – Estranhou que seu marido tivesse feito uma mudança tão repentina.

— E cortei.

— Para aumentar com o pessoal? – Paola cruzou as pernas parando o café no meio do caminho para os lábios e checou o marido para ver se ele estava olhando para ela antes de jogar todo o conteúdo do café em um vaso com planta que estava ao seu lado.

— É de parceria.

— Ah sim.  Entendo. – Pegou uma lixa na bolsa e começou a lixar as unhas nos cantos tranquilamente.

— Abre a porta para a Lindsay entrar. – Richard pediu olhando a luz do monitor indicando que a secretaria pediu permissão para entrar em sua sala.

— Eu tenho de abrir a porta para ela? – Apontou a lixa na direção da porta.

Haviam coisas que jamais mudariam no perfil de Paola, era receber ordens e servir favores.

— Não, esqueça. Desculpe. – Levantou abrindo a porta vendo as mãos da secretaria ocupada com mais documentos. – Obrigado.... Lindsay.... Quero que ligue para o corretor.

— O corretor de imóveis? – Questionou com dúvida.

Richard olhou discretamente para trás para ver se a esposa estava prestando atenção e voltou a atenção a secretaria.

— Corretora de seguros.  – Sussurrou.

Richard ainda tinha a intenção de causar uma surpresa a Paola em seu aniversário. Daria o carro que ela estivera esperando há meses.

— Fiz confusão, senhor. Achei que estávamos falando sobre ampliar o escritório de Londres. Desculpe-me. Irei transferir a ligação em um segundo. – Pediu licença antes de sair e ir ligar.

— Muito eficiente. – Paola olhou ela sair para usar de ironia para com o marido. Ela não deixava passar uma abatida. Sempre com a língua afiada e pronta.

— Se é para ficar criticando Paola, é melhor não vir. Fica em casa.

— Bem, só estou abrindo seus olhos para sua secretaria perfeita que nunca erra. – Sua voz saiu mais irritada o possível enquanto lixava ainda a unha.

Richard voltou a se sentar, ficando em silencio. Não queria começar uma nova discussão, já bastava a última briga, além do mais ele era um homem de paz, não de guerra.

— Linha 4, senhor Listing. – Lindsay avisou.

— Obrigado! – Acionou o botão atendendo a ligação.

Paola olhou ele conversando com a mente viajando sem prestar muita atenção. Adorava vê-lo se comportar como um homem sério atrás de sua mesa, prestar atenção como seus lábios se moviam e como os dedos da mão brincavam com a caneta.  O queixo com o furo mostrava um homem forte que era, mas o sorriso suavizava qualquer aparência dura, os olhos mostravam carinho e quando brilhavam de felicidade refletia por todo seu rosto como se fosse de um anjo.

Como pudera desperdiçar tanto tempo sem tocar no homem que amava e em sua opinião o mais lindo do mundo.

— Porque está me olhando assim? – Desligou a ligação fincando a testa ao perceber que estava sendo observado. – E que sorriso é esse? O que está aprontando?

— É que você é lindo – Sorriu mais. – E fica lindo de terno, sendo empresário falando no telefone e concentrado.

— Obrigado. – Sorriu ajeitando a gravata gostando do elogio, mas não dissera mais nada.

— E eu não disse que te amo hoje.

Ele permanecia calado, ainda estava chateado com suas atitudes e um simples eu te amo não mudaria o que ela havia feito. Richard voltou a se concentrar no computador.

— O que foi? – Ela o questionou.

— Nada. Só estou concentrado.

— Posso saber em que? – A desconfiança gritava.

— No trabalho, Paola. – Entonação de sua voz soou como se fosse obvio.

— Posso ver? – Questionou já se sentando em seu colo e sentindo ainda um pouco da dor da ressaca.

Ele mal pudera ter tempo de responder não, tendo que aceitar.

— Pode né. Mas eu tenho que... – Indicando o computador – Que digitar. Com você em meu colo é impossível.

— Vou buscar uma cadeira. – Ela deu a volta a mesa pegando a cadeira de frente para a mesa dele e colocou ao seu lado, bem no momento que o seu celular começou a tocar.

— Seu celular está tocando. – Olhou para a esposa, querendo dizer nas entrelinhas que estava atrapalhando.

— Ah sim, desculpa. – Paola olhou para o número com o coração chegando a disparar e depois olhou para ele se concentrando em não transparecer isso. – Se importa se eu sair um minutinho para atender?

— Não.

Não, nenhum pouco. Afinal era melhor, gostava de trabalhar em silencio. Paola estava tão preocupada que não notara a frieza de seu marido.

— Com licença. – Levantou-se e foi para fora da sala longe de pessoas que pudessem ouvir sua ligação, principalmente Lindsay. Quando teve certeza que mais ninguém poderia ouvi-la, atendeu. – Já mandei parar de me ligar! – Ralhou para a pessoa do outro lado da linha

— Eu precisava. Preciso saber quando vamos nos ver de novo.  Estou sentindo sua falta. E ainda temos aquela pintura, ou esqueceu? – Lorenzo Baricelli respondeu.

— Qual pintura? – Questionou.

Lorenzo era um de muitos amantes que Paola colecionou durante a vida inteira casada ao lado do Richard. Porem diferentemente dos outros, ele se tornara seu amante oficial, na qual ela o procurava diversas vezes em muitos momentos quando necessitava fugir de seu filho ou marido. Não tinha lá um pincel grande ou muito menos sabia manuseá-lo. Ele apenas era um brinquedinho usado para faze-la sair da vida de senhora casada e mãe. Alguém usado para ela fugir do imenso amor que sentia na casa onde morava.

— Já esqueceu que é minha modelo? – A voz de seu amante soou rouca e maliciosa.

Na cabeça de Paola alguns flashs se formaram. Já havia esquecido completamente.

— Esqueça a pintura. – Ela ouviu a risada dele do outro lado, uma risada fria e ameaçadora.

— Nem pensar. Nos encontramos HOJE. – Afirmou autoritário.

— Não posso. Eu acho melhor esquecer essa pintura e não por hoje. É para sempre. – Sua voz saiu um pouco mais alto do que gostaria. Mas já estava cansada daqueles joguinhos.

— Ah claro. Acha que vai ser assim fácil? Te espero hoje as 14:00 horas no lugar de sempre. E se você não aparecer eu conto para o seu marido as suas safadezas. Já sabe. – Desligou deixando ela no vácuo escutando na linha o barulho de tu, tu, tu.

— Desgraçado. Hijo de la madre. – Xingou baixinho e olhou para trás no relógio pendurado na parede. Estava em dúvida se iria para manter o seu segredo ou se contaria a verdade para o Richard antes que o amante contasse. A culpa por ter traído ele por tantos anos começava a pesar e de alguma forma precisava sair, mas não seria inteligente contar um segredo tão terrível como aquele.

Richard ficaria completamente magoado, ferido e correria o risco de nunca ser perdoada. Mas já tinha decidido por um ponto final naquela história com o Baricelli, se fosse vê-lo seria apenas para dizer aquilo pessoalmente.

Paola voltou nervosa, com o seu corpo inteiro tremendo.

— O que tem para comer aqui? Não comi nada e só tomei um café preto que comprei no caminho, porém estava horrível. – Sua voz saiu trêmula.

Richard levantou a cabeça olhando para sua esposa notando sua expressão preocupada.

— O que foi? Quem era? – Perguntou juntando as sobrancelhas.

— Nada importante – Respondeu jogando o celular longe no sofá – Foi engano. – Mentiu.

— Engano? Então porque demorou tanto e porque está nervosa e porque precisou sair de perto de mim?

Várias perguntas foram jogadas junto com a desconfiança.

— Fui atender longe de você para não te atrapalhar. E eu não estava entendendo nada do que estavam falando. Acho que estavam brincando. Brincando com a minha cara. Hijo de la verga. Perro maldito, pedazo de aborto, puerco de mierda – Xingou incansavelmente.

— Você está irritada – levantou-se no mesmo instante assustado pela chuva de palavrões que saiu daquela linda boquinha. A segurou pelos ombros para tentar acalma-la. – Paola. O que foi? Está nervosa só por causa de um trote?

— Mas é claro. Eu tenho cara de quem gosta de um trote? – Parecia que havia saído fogo de sua boca e fumaça de suas narinas de tanta raiva.

— Se quiser podemos registrar o número e buscar quem é a pessoa. Eu sei que é uma falta de respeito.

No mesmo instante uma corrente fria lhe percorreu o corpo. Nem em sonhos ele poderia descobrir que o trote era uma mentira e quem foi o responsável por tirar a paz dela. Não daquela forma.

— NÃO!  - Gritou nervosa pela ideia de ele descobrir precocemente. – Não.... – Abaixou a voz percebendo que exagerara.

— Então se acalma. Você deve estar faminta. Posso mandar trazer algo para você comer. – Sorriu sugerindo o café da manhã devidamente apropriado.

— Por favor. – Abraçou o marido querendo chorar. Nunca foi uma mulher de emoções, mas os últimos dias estavam a deixando descontrolada.

Saber que ele estava vivo, bem e que ela estava jovem novamente com uma chance de fazer diferente. Tudo aquilo estava a deixando mais emotiva.

— Então espere aqui dentro. – Abraçou ela com carinho e soltou em seguida.

— Não. Não saia. Chama a sua secretaria aqui e manda ela ir buscar algo. – O medo a consumia, queria estar ali grudado a ele o tempo todo e congelar o tempo.

— Mas é isso que eu vou fazer. Fica calma amor. Só que vou pessoalmente com ela. Você está muito impressionada com um simples trote. – Disse saindo com Paola atrás dele. Richard caminhou a mesa de Lindsay pedindo um café da manhã caprichado para entregar em sua sala e pegou um bloco de anotações em sua mesa anotando tarefas a mais, querendo fazer uma surpresa a Paola, deixando Lindsay para fazer o trabalho. – Só isso. É para pronta entrega. – Ordenou sobre o serviço ordenado no bloco.

— Sim Senhor. – Sorriu docemente e obediente a jovem secretaria, descolando o bilhete do bloquinho e ligando para fazer o pedido.

Não se passaram nem mesmo 15 minutos para que a secretaria fosse avisar que tudo estava entregue.

— Pode trazer – disse Richard. Assim que a frase foi dita Paola olhou para porta. Richard levantou para pegar a sacola e o cappuccino fervendo da mão da secretaria e agradeceu com um aceno.

Ele era um tipo de homem que mesmo com seus empregados não deixava de demonstrar gentileza e gratidão. Isso o fazia pensar que ser agradecido por mais que fossem obrigação dos funcionários, faziam o se sentir importantes e com mais disposição ao trabalho. E renderia mais satisfação. Pois sabiam que estavam indo para uma empresa que os tratavam como uma segunda família e com todo respeito.

— Senhor. – Lindsay olhou para ele como se os dois dividissem um segredo. Automaticamente ele entendeu o que significava o seu olhar.

— Pode deixar. – Ele avisou e colocou o café em cima da mesa e pedindo que ela buscasse o que havia anotado no bloquinho.

— O que é? – Paola perguntou com a pulguinha da curiosidade começando a morder e coçar.

Richard observou Lindsay trazer um buque de orquídeas e pegou de sua mão, sorriu agradecendo e fechou a porta – Para você meu amor. – Ofereceu-os a sua linda esposa que abriu o mais lindo dos sorrisos.

— Que lindo meu amor – Ela levantou e pegou o buque da mão dele cheirando com os olhos fechados, para sentir a pureza do aroma que aquelas orquídeas lhe davam - São lindas, obrigada - Agradeceu dando um selinho nele - Você é lindo e elas também. Eu te amo.

Richard sorriu de volta. Seu coração nunca havia disparado tanto de felicidade desde a última vez que Paola era realmente carinhosa e o fazia sentir borboletas na barriga quando sorria e seus olhos brilhavam. Era bom ver a antiga esposa de volta.

— Seu café está aqui – Ele abriu a sacola com os croissants e lhe entregando o café fumegante – Comprei tudo o que gosta.

— Pelo cheiro, deve estar delicioso. Mas eu quero mais uma coisa – disse mordendo o lábio encarando ele – Que se sente e tome comigo.

— Não dá coração. – Sua voz soou compreensiva, comparado a minutos atrás que soara frio.

Richard não guardava magoa por muito tempo quando brigavam. Tinha o espirito leve de uma criança. E ver sua esposa com a expressão aturdida o desarmou.

— Porque?

— Eu tenho que terminar aqui antes das 14:00 horas isso. Aí poderemos almoçar juntos. O que acha? Meu tempo será dedicado a você. – Olhou para ela sorrindo com os olhinhos quase se fechando.

Paola engoliu seco com o coração disparando. Não podia ser. Não podia ser. Tudo estava conspirando contra ela. O destino, os cosmos do universo. Queriam ver sua ruína. O que ela deveria fazer? Não ir de encontro ao ex amante? Ou inventar uma mentira para o marido? Mas depois de tanto importuna-lo que quer atenção e depois desmarcar? Qual sua decisão? Talvez até arriscar e ver o que aquele ordinário faria?

Ele não seria tão louco a ponto de perde-la. Ela o sustentava também. Talvez a ameaça fosse apenas para impressiona-la. Para ela comparecer. Mas se ela não fosse, talvez ele se enfurecesse, mas nenhum dano seria causado. Ela iria falar com ele depois e pôr um fim naquilo.

— As 14:00 horas? – Perguntou com um certo pânico e cautelosa.

— É. As 14:00 horas – Richard confirmou sentando-se a cadeira de frente para o computador, com as mãos em cima do teclado e olhando ela.

— Aaah. Eu queria era tomar o café agora. – Sua voz vacilou querendo dizer que preferia o café do que almoçar com ele.

— Mas está aí seu café. – Apontou com o dedo.

— Então senta ao meu lado e vai digitando. Por favooooor.  – Implorou fazendo biquinho.

— Mas tem que prometer ficar quietinha. – Levantou-se pegando o notebook e levando ao sofá sentando ao lado da esposa.

[...]

As 15:00 horas estavam de volta ao escritório. Paola estava tão encantada de passar o tempo com o homem que ela amava que esquecera completamente da ameaça que recebera de manhã. Os dois almoçaram juntos, fizeram planos juntos para o natal com a família e as coisas pareciam como um conto de fadas, onde se escutava a frase: E viveram felizes para sempre.

Ambos pareciam dois pombinhos recém-casados, Paola não desgrudava seus lábios nos dele um minuto sequer. Como se a boca do Richard fosse um enorme imã apetitoso.

— Foi um ótimo almoço, eu amei. – Disse dando um beijo na frente da Lindsay como se falasse: Esse já tem dona, queridinha.

— Que bom. – Correspondeu com um selinho envolvendo o lombar dela com o braço.

Lindsay abaixou a cabeça sentindo intimidada pela patroa, mas revirando os olhos escondido.

— Vou ao toalete retocar a maquiagem, querido – Lhe deu um beijo rápido - até daqui a pouco – Paola se afastou dando uma piscada e caminhou em direção a sala dele rebolando, sabendo que ele não tirava os olhos dela.

Richard mordeu o lábio instantaneamente sem perceber que estava realmente hipnotizado igual um bobo. Até sua funcionária tira-lo de seus pensamentos impuros.

— Senhor Listing, chegou uma encomenda. – Comunicou Lindsay assim que Paola sumiu de vista.

— Uma encomenda? – Viu sua eficiente secretaria mover a cabeça para frente em um sim.

— Não estou lembrado de estar esperando alguma encomenda – Coçou o queixo. – Onde está?

Lindsay tirou de debaixo da mesa um quadro empacotado com papel Kraft e entregou um dvd na qual deveria estar gravado algum arquivo ali.

— Nossa, quem foi quem entregou isso a você Lindsay? – Richard questionou assustado pelo tamanho do pacote, o carregando e tomando em mãos a mídia de dvd.

— Um homem passou aqui e disse que saberia quem é quando abrisse o quadro e assistisse o dvd.


Richard fez uma careta engraçada.

— Espero que não seja uma bomba – Brincou e em seguida soltou uma risada divertida – Tudo bem, vou ver na minha sala. Pode deixar. – Ele levou o pacote e a mídia para sua sala. Abriu o notebook e colocou o dvd enquanto abria o quadro.

Assim que seus olhos pousaram na pintura, o horror estampou seu rosto. Não, não podia ser. Richard caiu sentado em sua cadeira no mesmo instante em que uma tela em seu computador abriu e gemidos altos começaram a ecoar. Uma cena erótica. E ele viu sua esposa nos braços de outro homem. Paola nua na cama esquentando um homem que não era ele.

“Lorenzo beijava o colo de Paola e descia para os seios enquanto a penetrava. Paola o arranhava forte jogando a cabeça para trás pedindo cada vez mais forte e mais rápido. ”

Paola se olhou no espelho ficando satisfeita com sua maquiagem, ela lavou as mãos e ajeitou o cabelo depois de enxuga-las. Sorriu para o espelho e estalando os lábios. Ela saiu do banheiro pronta para voltar a sessão de beijos quando para atrás do Richard vendo aquela cena horrenda no notebook, com ela e o amante.

A única reação que conseguiu naquela situação foi paralisar. Aquilo não podia estar acontecendo. Não podia.

— “Para que a pressa, delícia? O chifrudo do seu marido não vai chegar aqui e nos flagrar, ele jamais vai saber. ”

— “Richard é um corno, meloso e ridículo... ele não enxergaria mesmo se estivesse fazendo na nossa cama. “

Seu coração estava tão magoado, humilhado, massacrado e pisado. E Paola só conseguia fechar os punhos com tanta força fazendo as próprias unhas a cortarem e o ódio sendo alimentado por aquele cachorro de amante por quem já teve alguma consideração.

— Richard, não é o que você está pensando... – A famosa frase cliché. Não era o melhor argumento, mas era a única coisa que podia falar naquele momento. Não sabia nem o que dizer, porque nada justificava a sua traição, mas precisava explicar para ele rápido.

Ele continuava a olhar para a cena imóvel e depois de longos minutos ele girou a cadeira para olhar para ela com os olhos vermelhos pegando fogo e o rosto molhado. Richard apertou os olhos para conter as lágrimas que teimavam a rolar.

— E depois sou eu quem está saindo com a secretária. – Sua voz estava carregada de ódio, embargada de melancolia misturado de aflição.

— Richard... – Paola o chamou com a voz cheio de arrependimento e entristecimento – Esse vídeo é antigo. Eu não faço mais isso. Richard me escuta. – Ela aproximou dele – Ele só está fazendo isso por vingança. Porque eu não sou mais assim, porque eu não quis mais fazer isso. Por favor... – Seus olhos suplicaram.

— É isso que sempre fui né? Um corno, babaca, meloso, ridículo, molenga e que só existe para o único propósito de te bancar. É por isso as divisões de quarto.... É por isso que não tínhamos mais relações.... – Ele abaixou a cabeça para chorar e levantou irritado e pegou o quadro tirando ele do resto do pacote e atirando no chão com ódio, expondo a pintura da esposa nua.

— Richard! – Ela caminhou até ele e o segurou os braços – Eu te amo. Eu fazia isso para não te amar, mas eu não quero mais fazer isso. Eu sou uma nova mulher.

— NÃO ME TOQUE – Ele puxou os braços severamente – VOCÊ NÃO É A MINHA MULHER. ACHO QUE NA REALIDADE VOCÊ NUNCA FOI. VOCÊ É PODRE, SUJA... EU QUERO QUE PEGUE TUDO ISSO E VÁ EMBORA.

— Richard, você é o meu único amor. Eu só demorei para perceber isso. Mas você é tudo para mim, que se dane seu dinheiro. Amor, eu te amo!

Ele percebendo que ela não pararia de falar, ele pegou o buque de orquídeas que havia dado a ela de presente mais cedo e pegou junto com o quadro e o dvd e jogou em cima dela furioso. Ele jamais se quer em toda sua vida havia levantado a mão para uma mulher e muito menos para sua esposa. Mas a dor de uma traição podia acordar uma besta que até então uma pessoa jamais se quer teria percebido que poderia ter.

— SAIA! – Vociferou abrindo a carteira enfurecido e jogou dinheiro em cima dela e os cartões de crédito. – VÁ EMBORA. – Ele empurrou ela para fora do escritório e se trancou do lado de dentro. Ele escorregou no chão chorando desesperado igual uma criança.

— Richard! – Ela bateu a porta com força desesperada – Richard, por favor. – Paola implorou começando a chorar. Coisa que ela não fazia na frente de ninguém. Mas ali, diante daquela situação, na qual podia perder tudo o que ela mais amava. – Eu te amo. – Se declarou tentando empurrar a porta na esperança dela ser destrancada. – Eu juro que vou mata-lo – sussurrou com o sangue fervendo – Richard, não faz isso comigo... eu imploro.  – Suplicou enxugando o rosto com as costas das mãos.

Lindsay olhou para o quadro e seus olhos saíram das orbitas. Mal teve tempo para sua mente tentar entender o que significava aquilo e Paola avançou a sua frente com vontade de matá-la.

— EU APOSTO QUE VOCÊ SABIA DISSO.

— O quê? – A assistente deu um passo para trás por segurança. Havia desejo de vingança no olhar de Paola, e ela não estava em si.  Lindsay sentiu o temor ao ficar diante daquela mulher tão terrível. Sabia da má fama que corria dela. – Eu não sei de nada do que está falando.

— NÃO... – O não saiu irônico misturado com ameaça – Deixa de ser hipócrita.  Desde o começo você estava de olho no Richard, MEU RICHARD, MEU MARIDO. Aposto que conhece o Lorenzo, ele te contou sobre o quadro e você teve esse gostinho. O gostinho de arruinar meu casamento.

— ELA NÃO SABE DE NADA, PAOLA – Richard saiu nervoso da sala – Diferente de você ainda há mulheres decentes e honestas. Nem todas são como você.

— Richard, não pode acreditar nisso e colocar acima de nós.

— Acreditar? EU VI E OUVI. E nunca houve nós. Só eu nessa relação. Só eu estive de corpo e alma. – Ele se afastou olhando para ela como se tivesse uma doença contagiosa. Seu olhar era puro nojo. – Você é uma vagabunda. Minha tia tinha razão. Você sempre foi uma interesseira.

— Richard... – Ela deu alguns passos à frente tentando segurar a mão dele, que automaticamente se esquivou. – Não faz isso comigo, eu não posso viver sem você.

— Você já vive sem mim, você sempre viveu sem mim. – Disse chamando os seguranças e pedindo para tira-la dali – Nunca mais volte, pegue suas coisas e saia da minha casa. Você já tem dinheiro suficiente para manter sua vida luxuosa.

— Eu quero você na minha vida. – Implorou mais uma vez antes de sentir as mãos dos seguranças pousarem sobre seus braços e a tirando dali como se fosse uma criminosa. – Richard – Esperneou enquanto o chamava sendo arrastada para fora.

Richard olhou para aquela mulher que ele tanto amou mais do que sua própria vida sumir a meio dois homens corpulentos e nada amigáveis.

Ele se trancou no escritório e sentou no sofá chorando.

Os dois seguranças a jogou para fora da porta da empresa e fecharam para impedir sua entrada.

Paola estava tão fora de si que apenas entrou em seu carro que veio, e ligou para seu amante. Ela apertou a mão no volante dirigindo de forma violenta que só ela conseguia quando estava fora de si e cheia de cólera.

— Alô? – Atendeu a voz do outro lado.

— Você estava certo!


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