Acampamento Imortal escrita por Vallabh


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Hello!! De volta com mais um capítulo fresquinho, espero que gostem!!



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TOBIAS

Continuo sentado no chão recebendo os carinhos de Ártemis quando uma dúvida surge em minha mente.

— Mãe? — chamo, me afastando do seu abraço e olhando em seus olhos. — Quais são as chances de ela sobreviver a esse torneio?

— Sinceramente? — Ela pergunta e eu afirmo com a cabeça. — Quase nulas, ela vai ficar muito exposta e por mais que você seja o melhor rastreador e caçador que eu já conheci, serão milhares de semideuses que exalam outras milhares essências diferentes e qualquer um deles pode ser quem nós estamos procurando.

— E se eu não conseguir protegê-la, o que acontece comigo? — Sinto-a ficar tensa com a pergunta, mas responde olhando para as mãos.

— Há 16 anos, quando nós precisávamos de um guardião para a Luna, eu achei que o encantamento de ligação seria perfeito, mas depois eu conheci os dois candidatos a guardião eu não tive mais tanta certeza se a ligação seria a melhor opção. — Ela faz uma pausa e posso sentir o arrependimento em cada palavra que diz. — Os dois candidatos partilhavam do mesmo sangue. O mais novo tinha cinco anos e era assustado, baixinho e o tempo todo ficava agarrado à mãe mundana. Já o mais velho. — Ela solta uma risada. — Ele era incrível, com apenas sete anos e mesmo com medo ele não demostrava nada, suas feições eram calmas e em momento algum ele cogitou se aproximar da mãe.

— Quem você queria? Que fosse escolhido? — pergunto fazendo-a olhar para mim.

— O mais velho, sempre. Desde o primeiro momento em que eu o vi eu soube que ele, e apenas ele, era digno de cuidar da pequena Luna.

— E o que aconteceu?

— Começamos o processo de ligação com o mais novo, mas ele não aguentou, antes de completarmos a primeira marca ele começou a empalidecer e soubemos que a marca sugaria toda a sua vida. Já o mais velho aguentou tudo com determinação e depois que tudo terminou ele passou uma semana entre a vida e a morte tentando suportar toda a força que os símbolos exalavam. Foram dias terríveis, eu passava o tempo todo segurando a sua mão e pedindo para ele não desistir, pois eu não iria desistir dele. E até hoje eu não o deixei. — fala olhando para nossas mãos unidas. — E não quero ter que deixá-lo agora.

— O que vai acontecer se eu não conseguir? — insisto.

— A ligação uniu você e a Luna de uma forma além do que esperávamos. Tenho certeza que você já percebeu que a Luna não é apenas uma simples semideusa e por conta disso, no princípio, queríamos apenas que vocês compartilhassem as necessidades mais básicas como fome, sede, e as sensações como dor, frio, calor, entre outras coisas. Mas, desde o momento em que nasceu ela já exalava um poder incontrolável, se ela crescesse com todo aquele poder, provavelmente não conseguiria controlá-lo e seria o nosso fim. — Ela faz uma pausa e parece refletir sobre as escolhas do passado. — Então mudamos um pouco o feitiço de ligação de vocês, o tornando bem mais forte do que esperávamos.

— Como assim?

— Quando ela tinha sete anos e você quatorze, a Luna acabou encontrando na floresta uma planta extremamente venenosa que ataca principalmente o coração, chamada Erva de São Cristovão e comeu seus frutos. Automaticamente ficamos desesperados, mas ela não demostrou nenhum sinal de envenenamento, alguns minutos depois um dos instrutores do acampamento apareceu com você nos braços, eu fiquei louca, você estava desacordado e espumando pela boca. Te levamos para a enfermaria e a enfermeira disse que você foi envenenado com Erva de São Cristovão. Naquele momento entendemos que vocês uniram o fio da vida de vocês no momento da ligação. Se qualquer coisa que possa a matar atingi-la, você irá morrer junto com ela. Por isso sempre dizíamos que seu coração pertencia a ela, o seu coração se fundiu com o dela, tornando os dois um só coração.

— Por isso você sempre fez de tudo para que eu fosse o melhor e me treinou como se treina um assassino. — falo, percebendo a dimensão das coisas.

— Sim, sim. Eu não suportaria perder o meu menino, o meu pequeno príncipe que sempre lutou tão bravamente para sobreviver.

— Mas se a nossa ligação foi tão forte, por que ela não tem nenhuma marca como eu?

— Ah, ela tem, e eu tenho certeza que foi a primeira coisa pela qual você se apaixonou nela. — diz sorrindo alto.

— Os olhos...? — sussurro tentando entender.

— Você já foi mais esperto, filho. Até o momento da ligação a Luna tinha os olhos tão azuis quanto uma pedra de Tanzanita, durante a semana que você passou entre a vida e a morte os olhos dela ficavam variando entre o azul cristalino e o verde cristalino, no dia em que você ficou bom ela acordou e reclamou de uma irritação nos olhos e quando fomos olhar lá estavam as pedras preciosas, ela ficou com um olho azul e outro verde, se olharmos bem, o tom de verde de vocês é idêntico.

Fico pensando em tudo isso e percebo que estou ferrado. Desde o primeiro momento em que eu a vi fiquei encantado, e ela só tinha três anos de idade, mas já era incrível. E desde então eu venho cuidando dela, sempre escondido para que ela não me notasse, tirando qualquer rastro de perigo do seu caminho. E agora aqui estou eu, com a minha vida em jogo e prestes a fazer qualquer coisa para salvar a minha garota.

— Ártemis?

— Diga.

— O que faz da Luna uma semideusa tão especial? Durante 19 anos a missão da minha vida foi protegê-la, vocês me treinaram pra isso, principalmente você e quando eu atingi idade suficiente me afastaram dela dizendo que seria mais seguro se eu a protegesse de longe, sem ter qualquer contato com ela, por quê? — Ela suspira quando termino de falar e é possível notar a batalha interna que ela trava para decidir se me conta ou não.

— É complicado, Tobias, você demorou mais do que nós esperávamos para questionar isso, porém ainda não é o momento certo para falar isso. — responde de forma evasiva e selecionando bem cada palavra dita. — Mas o que eu posso lhe contar é que a Luna possui um poder muito maior que o de qualquer semideus que você possa imaginar, um poder tão grande que poderia superar o próprio Zeus.

— Como isso é possível? — pergunto surpreso.

— Esse tipo de poder nas mãos erradas poderia levar ao fim de muitas vidas e foi por isso que nós decidimos colocar alguém para protegê-la. — fala, ignorando a minha pergunta — Você não é apenas um guardião, Tobias, é um receptáculo sagrado, parte do poder dela habita em você aguardando o momento certo para ser libertado.

— Eu ainda não entendo, como tudo isso é possível? — pergunto mais uma vez, mais confuso do que nunca.

— Isso é tudo o que eu posso contar, na hora certa você saberá a verdade por inteira. — fala, se levantando. — Mas, no momento, você tem algo mais importante para se preocupar, manter a nossa garota viva.

— O que eu devo fazer? — questiono, decidido a parar de me lamentar e dar o melhor de mim por ela.

— Bom, primeiro de tudo, arrumar a bagunça que você fez no apartamento. — diz com tom de bronca. — E depois que tudo estiver arrumado, acho que temos uma viagem a fazer. — fala sorrindo e sei para onde vamos.

Termino de arrumar o apartamento e começo a arrumar minha mala para a viagem, coloco apenas o necessário, mesmo sabendo que para onde estamos indo não terei tempo para precisar de metade do que estou levando. Tomo um banho e fico pensando na minha Malagueta enquanto sinto a água quente escorrer pelo meu corpo e levar qualquer tipo de preocupação. Tudo o que eu preciso agora é me concentrar e elaborar estratégias para qualquer tipo de situação que possa acontecer durante esse campeonato. Termino o banho e saio do banheiro, entro no meu closet e começo a me arrumar, termino e me olho no espelho e mesmo com olheiras que deixam a minha aparência ainda mais abatida, ainda estou bonito, a calça jeans preta colada ao corpo, uma blusa de lã preta de gola alta e de mangas compridas, um casaco de couro preto, luvas pretas e meu bom e velho par de botas militares. Pego meu gorro e a mala e saio do quarto.

Pego uma maçã na geladeira e saio do apartamento trancando tudo, no estacionamento destravo o Pajero 4x4. Ártemis teve quer ir o acampamento resolver algumas pendências antes de pegarmos a estrada, pego a estrada que leva para o acampamento. Paro o carro em frente à estrada que entra floresta adentro e leva para o acampamento. Ártemis já estava me esperando. Destravo a porta e ela entra colocando a pequena mala no banco de trás.

— Pronto? — pergunta amarrando o cabelo.

— Já nasci pronto, mãe. — respondo piscando para ela, que ri.

— Então vamos lá, temos apenas seis dias para resolver tudo porque depois...

— É hora do show. — completo sua frase.

 

LUNA

O expediente no café passa rápido e já estou saindo pelos fundos da cafeteria indo de encontro ao Kaique. Chego à frente do café e vejo meu amigo escorado no carro, me esperando, e hoje ele está um pecado, ele usa uma calça jeans clara, uma blusa social azul escuro de mangas longas com um paletó cinza por cima e um sapato de bege. Ele abre os botões do paletó quando me vê e vem ao meu encontro.

— Boa madrugada, senhorita, serei seu acompanhante durante essa madrugada. — fala pegando minha bolsa e me guiando até o carro, abrindo a porta para mim e depois me entregando minha bolsa, me fazendo rir.

Ele dá a volta e entra no carro, mas antes de dar partida ele se vira para mim e sorri levantando a mão até o meu rosto e fazendo uma leve carícia, logo depois me puxa delicadamente e sela nossos lábios, o beijo é calmo e carinhoso, assim como foi mais cedo.

— Esperei a noite toda por isso. — fala passando o polegar na minha bochecha, me encarando.

— E por que demorou tanto para fazer? — pergunto, fazendo-o rir.

— Também não sei. — responde e me beija de novo antes de dar partida no carro.

Ele pega a estrada, porém faz uma rota contrária a do acampamento.

— Aonde estamos indo? — pergunto, prestando atenção no caminho que ele faz.

— Bom, antes de sairmos do acampamento hoje mais cedo, você disse que só voltaria no domingo, mas eu acho que os seus planos mudaram. Então eu pensei que talvez nós poderíamos aproveitar um fim de semana normal longe do acampamento. — Apenas balanço a cabeça concordando.

Depois de mais ou menos meia hora ele estaciona o carro em frente a uma casa simples com uma decoração meio medieval. Desliga o carro e sai, dando a volta no mesmo e abrindo a porta para mim. Desço e espero ele passar para segui-lo, mas ele me segura contra o carro e encaixa a cabeça no meu pescoço, me cheirando.

— Sempre gostei do seu cheiro, mas sempre achei que o meu combinava mais contigo. — fala tirando uma mecha do meu cabelo da frente do rosto.

— Mas aí não seria mais o meu cheiro, seria o seu e eu gosto do meu cheiro. — digo, o encarando firme.

— E a cabeça dura está de volta. Vem, vamos entrar. — fala, se afastando e me puxando pela mão.

A casa tem um pequeno jardim na frente muito bem cuidado cercado por um muro pequeno que cerca a casa. A fachada é toda feita de tijolos vermelhos, como os da casa do Tobias, me repreendo por pensar nele e passo a observar as flores do jardim, são bem coloridas e dão vida a fachada. A casa tem apenas um andar, duas janelas na frente, não tem garagem, é simples.

— Pensei que tivesse vendido o apartamento que você tinha na cidade para suprir os gastos do tratamento. — solto enquanto ele procura as chaves da casa no bolso da calça.

— Eu vendi, mas não quis me desfazer da casa da minha mãe. — responde achando as chaves.

A mãe do Kai morreu alguns anos depois que ele entrou no acampamento, quando o conheci ele não morava no acampamento, apenas ia para cumprir suas atividades e voltava pra casa, na época ela já estava doente, ela tinha Síndrome de Guillain-Barré, uma doença que ataca os nervos do corpo e aos poucos a pessoa vai perdendo os movimentos e os sentidos, ela já estava internada em um hospital há bastante tempo quando teve uma parada respiratória e não resistiu. Ele morava em um apartamento na cidade e teve que vendê-lo para custear os gastos hospitalares dela, depois disso ele se mudou de vez para o acampamento. Ele passou quase dois anos sofrendo pela morte da mãe, foi um período muito complicado para ele e até hoje esse assunto é evitado.

Ele destranca a porta e abre, me dando passagem e entrando logo depois de mim. O piso é de madeira e as paredes tem um tom de róseo quase bege. Do lado esquerdo tem uma sala de estar com um sofá de frente para uma lareira que fica ao lado de uma das janelas que têm vista para a rua, uma poltrona com uma pequena mesa para objeto no canto e um estante com vários livros presa na parede contrária, tem um ar bem aconchegante. Do lado direito tem um sofá de frente para uma televisão pregada na parede que deve ter umas 52’ polegadas, um móvel abaixo da televisão com vários aparelhos eletrônicos e vários quadros pendurados nas paredes. Mas o que me chama atenção é que os quadros são muito parecidos com os que têm na casa do Tobias, parecem terem sido pintados pela mesma pessoa.

— Na sua cabeça deve tá passando que é simples e medieval, mas é bem confortável. — fala colocando a bolsa no chão próximo a porta e entrando em um corredor que fica entre as duas salas.

— É agradável. — falo colocando a minha bolsa no sofá e o seguindo.

— Cansada? — pergunta, parando de frente para uma porta.

— Um pouco.

— Bom, a casa só tem um quarto, mas como já estou acostumado a ser esmagado por ti não vou me incomodar. — brinca com a minha cara e abre a porta do quarto. — O banheiro fica ali. — diz, apontando para a porta dentro do quarto e se aproveitando para assanhar meus cabelos.

— Sendo assim, sai da frente, bob esponja, porque eu vou tomar banho primeiro! — falo, o empurrando e correndo para o banheiro.

Corro o mais rápido que posso para o banheiro, mas ele segura minha mão de mal jeito e me puxa, me fazendo virar para trás e cair em cima dele. Depois do impacto fico deitada em cima dele, o encarando, Kai está de olhos fechados, mas sei que isso é apenas mais uma de suas táticas para tentar ganhar de mim. Abaixo a cabeça e sussurro no seu ouvido:

— Perdeu, play boy, eu vou primeiro. — Dou um tapa na sua barriga, o fazendo gemer de dor, mas nem bati com muita força, e saio correndo para o banheiro, fechando a porta ao entrar.

— Luna, sua trapaceira, acho bom você deixar água quente pra mim. — fala sem fôlego, batendo na porta, apenas dou uma risada e vou tomar meu banho.

Tomo meu banho e me enrolo com uma toalha que achei no banheiro e enxugo o cabelo com outra. Essa semana toda usei meu cabelo na sua forma natural, cacheado, mas resolvo alisar ele amanhã pela manhã quando acordar. Termino de enxugar o cabelo e abro a porta, saindo do banheiro penteando meu cabelo com uma escova que achei, encontrando o Kaique deitado na cama apenas de cueca box e a camisa e a minha bolsa ao seu lado.

— O banheiro tá liberado, peixinho, pode ir. — falo rindo e me esticando para pegar a minha bolsa.

— Muito engraçado, palhaça. — Ele fala se levantando e indo para o banheiro, mas quando está passando ao meu lado puxa a toalha que está enrolada no meu corpo, me deixando nua.

— BASTARDO! — grito puxando o lençol da cama para me cobrir.

— Só tem essas toalhas, então temos que dividir. Bela bunda, minha deusa! — fala rindo e assobia ao falar a última frase. Jogo a escova em sua direção, mas ele fecha a porta do banheiro fazendo-a se chocar contra a porta e cair no chão.

Abro a minha bolsa e começo a procurar algo para vestir, tiro um vestido vermelho simples que vai até os joelhos e visto. Saio do quarto e começo a explorar a casa, indo parar no quintal, tem uma piscina e ao redor dela é coberto de grama e muitas flores, sento-me na beira da piscina, colocando os pés dentro da água e olho para o céu. A noite está escura, assim como meu coração, a lua está parcialmente escondida pelas nuvens e as estrelas resolveram não iluminar a noite hoje. Uma brisa leve passa balançando os meus cabelos e trazendo um cheiro de terra, mas não é terra molhada, o que por um momento me deixa decepcionada. Fecho os olhos e se eu me concentrar consigo sentir o cheiro que tanto anseio, terra molhada com menta, e consigo me sentir em casa. Por mais que eu não goste de admitir, ele conseguiu fazer com que eu me sentisse inteira, como há 19 anos eu não me sentia.

Escuto o barulho da porta abrindo e espero, Kai para ao meu lado e se senta, colocando os pés dentro da piscina. Ele fica calado, mexendo os pés dentro d’água e depois de um tempo começa a mexer a mão, fazendo algumas gotas de agua saírem da piscina e ficarem dançando no ar, ele junta as gotas formando uma única bolha azul que ganha uma cor pálida por causa da luz da lua. Quando éramos mais novos e eu estava triste, o Kai sempre me levava para um rio próximo ao acampamento e ficava brincando com a água para me alegrar. Ele para a bolha na frente do meu rosto e com um estalar de dedos explode ela, fazendo uma brisa gelada bater no meu rosto.

— Vem, vamos descansar. — Ele fala me estendendo a mão e eu pego, o acompanhando.

Levantamos e entramos em casa, ele nos conduz até o quarto e arruma a cama, eu me deito e ele deita ao meu lado após apagar a luz, ele me puxa para o seu peito e eu me aconchego nele. Fico parada escutando o som do seu coração e percebo o quanto nossos corações têm batidas diferentes.

— Eu sei que eu não tenho o direito de pedir isso, pequena, mas eu não quero mais ser apenas um amigo ou um irmão. — fala, fazendo cafuné no meu cabelo.

— Você não é apenas um amigo, é o meu melhor amigo. — respondo frisando o “melhor” e sentido o peito dele balançar com uma risada.

— Me sinto 90% pior agora. Eu não quero mais ser apenas um ombro amigo, quero ser um companheiro para todos os momentos, com quem você vai dividir as suas conquistas e as derrotas, eu quero poder te amar de verdade como você merece, não apenas como minha amiga, mas como minha mulher.

— A gente mal se beijou e você já está me pedindo em casamento? Não acha muito cedo?

— Eu seria capaz de dar a minha vida por você no momento em que te vi pela primeira vez. Daria meu coração a você sem pensar duas vezes.

Não respondo nada e fico apenas pensando nas suas palavras, eu sei que elas são verdadeiras, mas eu também sei que elas não devem ser desperdiçadas comigo. Não sei quanto tempo passou, mas sinto sua respiração acalmar e sei que ele dormiu então resolvo fazer o mesmo.

— Eu adoraria lhe dar o meu coração, Kai, mas às vezes eu sinto que ele já não pertence a mim. — falo, me aconchegando no seu peito e adormeço.

O fim de semana passou rápido e foi melhor do que eu esperava, passamos os três dias deitados, assistindo filmes, aproveitando a piscina e namorando. Eu e o Kai ainda não temos nada sério, mas eu me permitir curtir esse momento da minha vida com ele, cansei de me sentir sozinha e por mais que ele não me passe todo o conforto que o Sr. Mandão passava, ainda assim, é bom estar com ele. E falando no diabo, não vi mais o Tobias nesses dias, mas na sexta, enquanto estava na cafeteria, recebi uma caixa cheia de peças e instruções de ‘o que fazer’ e ‘como fazer’ o programador inicial. Estava tudo bem organizado e explicado, ele ainda se deu ao trabalho de desenhar a mão passo a passo de como montar tudo. Deixei a caixa no meu armário da cafeteria, tenho que lembrar de passar lá para pegar.

Nesse momento estamos no carro escutando música baixinho e voltando para o acampamento, Kai segura o volante com uma mão e a outra está na minha coxa fazendo um pequeno carinho. Ainda é fim de tarde de domingo, mas resolvemos voltar logo, Thoth me dispensou do treino desses três dias e eu sei que ele vai descontar tudo amanhã. Vamos o caminho todo em silêncio e logo estamos entrando no acampamento. Ele estaciona o carro e saímos, pego minha bolsa e a caixa que recebi e havia deixado no seu carro e espero ele pegar a dele. Kai para do meu lado e segura a minha mão, caminhando para o prédio dos dormitórios. Entramos e está tudo silencioso, todos devem estar descansando, vamos direto para o meu quarto. Eu abro a porta e entramos, vou guardar minhas coisas no closet.

— Tá precisando abastecer a dispensa, pequena. — Ele fala com a cabeça enfiada dentro do frigobar que fica no canto do quarto.

— Não sabia que agora eu tinha que alimentar um “marmanjo”. — digo voltando para o quarto.

— Você abusou de mim, garota, agora eu preciso repor as energias. — fala pegando uma barrinha de chocolate e se deitando, se jogando na cama.

— É uma pena então, eu estava louca para abusar mais um pouquinho de você. — Subo na cama deitando por cima dele.

— Pensando bem, ainda tenho uma reserva de energia. — responde, me fazendo rir.

— Ótimo.

Abaixo a cabeça e começo a beijá-lo, ele coloca as mãos na minha cintura e me puxa encaixando nossos corpos, o beijo começa a ficar mais urgente e inconscientemente começo a rebolar na sua cintura. Depois de um tempo ele inverte as nossas posições ficando por cima de mim, continuamos nos beijando, o calor se faz presente deixando o beijo ainda mais urgente, quando o ar se faz necessário paramos e ficamos tentando recuperar o fôlego.

— Você vai acabar comigo, garota. — Ele fala sorrindo e se ajeitando dentro da bermuda.

— Nada que você não queira. — respondo rindo.

Ele se deita ao meu lado e me puxa para ele, passamos o restante do dia assim, trocando carícias e aproveitando a companhia um do outro.

A semana começa rápido e da mesma forma ela termina, foi tudo muito corrido, faculdade, treino pesado, trabalho e meu suposto rolo com o Kai todos os dias dessa semana. E todos os dias, pontualmente, uma caixa chegava na cafeteria com mais peças e instruções me impedindo de esquecê-lo, ele não esqueceu nenhuma peça e foi extremamente atento a todos os detalhes do projeto, tirando todas as minhas dúvidas antes mesmo que eu as tivesse. Eu posso estar odiando-o, mas devo admitir que ele é incrível no que faz.

Enfim, a semana acabou e aqui estamos nós, centenas de semideuses, no limite da barreira de proteção do acampamento esperando o conselho para dar início ao tão esperado torneio. Estou com uma calça leagging preta e uma calça de moletom preta por cima, uma blusa de mangas compridas cinza justa ao corpo e um casaco de moletom preto por cima e dessa vez troquei meu bom e velho all star vermelho por um confortável tênis. Tenho uma adaga presa ao coldre em cada perna além de pequenas lâminas por dentro do casaco. Estou pronta para a luta.

— Ainda não acredito que você não veio de all star. — Kai resmunga ao meu lado.

— Eu não sei quanto tempo vou passar no meio da floresta, então tinha que vir confortável. — falo prendendo o cabelo em um rabo de cavalo e puxando o capuz do casaco.

O Kaique está vestindo uma calça de moletom colada preta, regata preta, casaco cinza e tênis preto, simples e elegante como sempre. Ainda não amanheceu então estamos esperando o Thoth e os outros deuses para dar início ao torneio assim que o primeiro raio de sol raiar. Estou olhando para a entrada do acampamento quando um Pajero 4x4 conhecido estaciona dentro do acampamento. Tobias sai do carro com uma mochila e caminha para onde nós estamos, ele está com uma calça jeans preta, uma blusa branca de mangas, um casaco preto por cima, as boas e velhas botas militares, luvas pretas e mochila no ombro. Não consigo ver seu rosto, pois o capuz do casaco está escondendo, à medida que ele vai se aproximando um vento forte empurra o capuz para trás, deixando o seu rosto exposto. Ele tem feições mais cansadas do que da última vez que o vi, a barba está grande, sinal que ele não se importou em se barbear nos últimos dias, além de estar mais forte, parece que ele andou malhando pesado também.

Ele caminha de cabeça baixa e para na minha frente a um metro de distância, levanta o rosto e no momento que eu encaro aquelas esmeraldas tenho certeza que nunca vou me sentir em casa como eu me sinto quando estou olhando nos seus olhos.


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Notas finais do capítulo

O que será que esse torneio tem preparado para o nosso trio hein?!

XOXO e até o próximo!!



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