Tiago e Sirius estavam na Fazenda dos Potter treinando arremessos com uma goles. Tiago estava no que seria um gol improvisado e Sirius, um ex-artilheiro da Grifinória, fazia os arremessos.

Na terceira vez em que Pontas deixou a bola passar sem esforço, o amigo perguntou:

—Pontas, você está acordado?

—Quê – Tiago sacudiu de leve a cabeça

—Aguamenti.— murmurou Sirius para sua varinha fazendo um jato de água acertar direto o rosto de Tiago

—Ei. – ele se deu conta do que tinha acontecido – Por que fez isso?

—Pra você acordar. – Almofadinhas disse com um risinho

—Eu estava acordado.

—Sim, e eu sou a fada dos dentes.

—Não, Almofadinhas. Você é um cachorro.

—Agora você está acordado. Então fala: por que está com essa cara?

—Não estou com cara nenhuma.

—Ohh, o bruxo sem face

—Ai, Merlin.

—Espera aí, eu sei de onde conheço esse jeito esquisito: Lílian.

—Não, Almofadinhas. O rosto da Lily é bem diferente do meu. Ela tem lindos olhos verdes…

—Ah, que gracinha. – Almofadinhas o cortou – Foi só tocar no nome dela. Você ainda gosta dela.

—Eu superei isso.

—Ahãm, e eu sou o coelhinha da páscoa.

—Não, Almofadinhas, não ouviu? Você é um cachorro pulguento com falta do que fazer.

—Então acertei. Era na Lily mesmo que você estava pensando. Por que não falou com ela no baile dos Pendleton? Vocês até dançaram valsa juntos, você queria clima melhor?

—Eu não sei como me aproximar dela, Almofadinhas. Tem pouco mais de seis meses que eu consegui começar a conversar com ela. E isso como amigo. Se eu me declarar, ela pode desaparecer da minha vida de novo.

—Hum... – foi tudo o que Sirius comentou naquele momento

Baseado na lembrança de um comentário que a mãe de Tiago havia feito recentemente, e aproveitando que ela foi almoçar em casa naquele dia, Sirius surgiu com o seguinte despretensioso comentário enquanto se servia de salada de batatas:

—É meio entediante lançar goles só em dois, não acha, Pontas?

Tiago não precisou dizer nada, Sirius soube que já havia conseguido o que queria quando escutou Alexandra falar:

—Semana que vem é a última semana de férias de vocês. Por que não convidam alguns amigos para passarem uns dias aqui. Sempre gostei de ter a casa cheia.

Bingo! Era exatamente dessa última frase que Sirius se lembrava e com que contava. Pontas estava lhe devendo uma.

… … … … … … … …

Lily entrou no quarto para trocar de roupa naquela tarde. Seu coração deu um salto quando reconheceu a coruja cinza-chumbo ao lado da gaiola de Clio. Mais uma vez ela ignorou esse fato.

Oi Lily,

como vão as coisas? Espero que seu avô esteja melhor.

Hum, estou escrevendo porque, bom, queria te fazer um convite: gostaria de passar os últimos dias de férias aqui em casa?

Lice vai estar aqui e Sirius também (se bem que Sirius já mora aqui, mas você entendeu). Remo ainda não mandou resposta nem Ana ou Maia. O que me diz?

Um abraço, Tiago.

A ruiva sentou-se em sua cama não sabendo bem o que responder. Com o olhar pousado nas duas corujas, estava se decidindo por tirar um tempinho para pensar, quando uma coruja do campo entrou.

Lily levantou rápido e trancou a porta. Explicar uma coruja em seu quarto para Debbie era uma coisa. Explicar três era outra bem diferente.

Flit, a coruja de Alice esticou a pata quando ela se aproximou.

Olá Lily!

Tudo bem por aí?

Debbie continua pedindo pra você contar ‘como é a sua escola’? Hehe. Fico imaginando o que você contaria primeiro: os quadros que passam de uma moldura para a outra, as mandrágoras gritantes que dão festa de arromba na estufa três ou dos balaços perseguindo os jogadores de Quadribol...

Se bem que depois de eu ter escrito tudo isso você vai ter de esconder essa carta no telhado. Ou seria mais seguro queimar mesmo?

Seguinte: pelos meus cálculos, a carta de Tiago já deve ter chegado aí (não, não. Eu não me tornei uma aplicada aluna de Adivinhação, foi ele que me contou mesmo). Só o que eu tenho a dizer é: você vai passar uns dias lá na fazenda, né?

Minha mãe está te mandando lembranças. Espero uma visita de Clio em breve.

Beijinhos, Lice

Lílian ficou observando as corujas de seus amigos bebericarem um pouco de água e em seguida levantarem vôo.  Estava perdida em pensamentos… O que faria?

… … … … … … … …

Muitos quilômetros dali, Tiago andava de um lado para o outro indo a cada cinco minutos olhar a janela do seu quarto.

Quando, em uma dessas indas e vindas, olhando de relance viu um pontinho escuro se aproximando, estacou em frente à vidraça tamborilando os dedos no parapeito para extravasar a ansiedade. Porém, ficou desapontado quando Delfos chegou mais perto.

—Nenhuma carta… - murmurou

—Ela deve estar esperando até à noite para falar com os pais. – Sirius falou da porta

—Não tinha visto você. – Tiago virou-se para ele – Está aí há muito tempo?

—Não muito. Só a tempo de ver seus dedinhos impacientes e a decepção por não receber uma carta. Que gracinha, - ele se aproximou do amigo com as mãos estendidas para apertar as bochechas dele – meu amigo apaixonado.

—Almofadinhas, esquece isso. – Tiago desviou do amigo

—Por que, Pontas?

—Porque a Lily já deixou bem claro que não queria nada comigo.

—Isso foi há o quê? Um ano?

—É, mas demorou até eu conseguir conversar com ela como um amigo. Não pretendo estragar isso.

—Bom, - Sirius deu de ombros – você é que sabe.

… … … … … … … …

Naquela tarde, Lily desceu as escadas e encontrou seu avô sentado um uma poltrona na sala contando histórias para Debbie. Em vez de sentar-se no sofá ao lado da prima, a moça dirigiu-se para a janela e ficou ali com o olhar perdido.

Voltou a si com o barulho da prima subindo as escadas correndo.

—Lílian? – o senhor Evans chamou

—Sim, vô. – ela virou-se para a poltrona – Precisa de alguma coisa?

—Não. – ele respondeu de forma carinhosa – Sente aqui. – indicou um pufe ao seu lado – O que aconteceu pra te deixar tão... pensativa?

—Um amigo convidou a mim e a mais três ou quatro pessoas para passar os últimos dias das férias na casa dele. E eu estou pensando em como… em como dizer não, sabe, sendo simpática.

—E por que você não vai? – Luciano estreitou seus olhos de um verde muito vivo

—Ah, eu prefiro ficar aqui com o senhor.

—Bom, se é só por isso, então você vai. Eu estava mesmo querendo te dar uma boa notícia: estou de alta.

—Ah! – ela o abraçou – Que notícia maravilhosa.

—Ainda não posso fazer muita coisa, mas já posso voltar para o sítio.

—Dona Clara deve estar com saudades… - mas em seguida Lily abaixando os olhos e murchando um pouco o sorriso acrescentou – Mesmo assim, acho que não vou.

Uma pequena ruga formou-se na testa do avô.

—Por que você vai ficar aqui? Seus pais estão trabalhando, Debbie vai para um acampamento e as aulas de Felipe começam uma semana mais cedo esse ano. Além disso, não é segredo pra ninguém na família que você e Petúnia não mantêm exatamente boas relações fraternais.

Dois pares de olhos verdes do exato mesmo tom se encaram por um instante antes de ele continuar:

— Você está se escondendo de alguma coisa. Talvez de alguém… Deixe-me lhe dizer algo. Nas últimas semanas eu a vi cuidando de mim, entretendo Debbie, fazendo de tudo para ajudar seus pais e tenho certeza que mais pessoas entram na sua lista de preocupações.

—Eu tive ajuda.

—Sim, teve. Mas esse traço de carinho e preocupação com todo mundo é muito característico seu. Então pense um pouco em você agora. Se você quer ir, vá. Você provavelmente não vai conseguir se esconder por muito tempo mesmo, até porque, logo as suas aulas recomeçam…

—Está bem. Eu vou pensar.

… … … … … … … …

Oi, Aluado!

Como vai o curso de Defesa Contra as Artes das Trevas aí na Irlanda? Você já está em Dublin há quanto tempo, uma semana?

Oi, lobinho!

Só você mesmo pra querer estudar nas férias. Aliás, você devia aproveitar e procurar no dicionário o que a palavra “férias” significa.

Almofadinhas, sai. A carta é minh [letra riscada]

Correção: era sua.

Será que você não poderia considerar mais seriamente a ideia de ficar como cachorro permanentemente? Pelo menos assim não teria como roubar meu tinteiro.

Eu até poderia conviver com a cauda numa boa, mas as pulgas enchem muito o saco.

Como eu ia dizendo [letra riscada mais uma vez]

Dizendo nada, no máximo, escrevendo.

Peste. Sai, Almofadinhas.

Como eu ia escrevendo – vai dormir mais feliz agora? – estamos chamando algumas pessoas pra passar a última semana de férias aqui em casa. E, lógico, você está convidado.

Intimado.

Saco, Almofadinhas, que mania de puxar o pergaminho. Por que não escreve sua própria carta?

Porque a sua está mais perto.

Ah, sim. Aluado, eu poupei seu trabalho e olhei no dicionário:

“Férias: Dias em que se suspendem os trabalhos oficiais; Certo número de dias consecutivos destinados ao descanso de funcionários, estudantes, etc após um período anual ou semestral de trabalho ou atividades.”

Portanto, trate de acabar esse curso logo e vir pra cá.

Finalmente falou alguma coisa que preste.

Até a volta, Tiago.

Lembranças.

… … … … … … … …

Olá, Pontas e Almofadinhas (resolvi me poupar o trabalho de escrever duas cartas).

Hum, queria perguntar se vocês também apostaram corrida para ver quem ia amarrar o pergaminho na perna de Delfos. Pobre coruja, não sei como aguenta vocês dois. Pensando bem, não sei como eu aguento vocês dois.

O curso de DCAT vai muito bem, obrigado. É bem interessante, mas um pouco corrido.

E sim, estou aqui há uma semana e devo ficar mais uns dias. De Dublin vou para casa, passo uns dias lá e depois vou para a fazenda (hum, pela carta parece que eu não tenho muito escolha, para falar a verdade).

Por enquanto, acho que é só.

Mandem minhas lembranças para o senhor e a senhora Potter.

Até a volta,

Aluado

… … … … … … … …

Uma ou duas horas depois, a coruja Clio entregava uma carta a Alice Campbell.

Olá Lice!

As coisas por aqui estão bem, aliás, ótimas. Não, não. Não foi um meteorito que bateu na cabeça de Petúnia fazendo-a ser mais simpática comigo. Foi melhor que isso: vovô Evans está de alta! – (estourando rojões).

Sobre a Debbie, talvez ela gostasse mais de ouvir sobre uma árvore maluca que tenta nocautear quem chega perto ou, melhor ainda, sobre uma professora que se transforma em gata.

Agora, sobre o seu… como diria? intimato, eu não sei se é uma boa idéia ir para a casa de Tiago. Acho que ficaria um pouco estranho se eu fosse pra lá.

Beijos, Lily.

… … … … … … … …

Vendo Clio abrir as asas, Lice pediu:

—Espera só um pouquinho que você já leva a resposta.

Dona Lily,

Depois continuamos com as listas do que Debbie gostaria de ouvir.

Sobre a casa do Tiago, acho que entendi o que você quis dizer. Faz bastante tempo que ele não te chama pra sair, mais de ano já. E, depois, vocês se tornaram amigos. O que há de estranho em você ir visitar um amigo? Além do mais, não sei se você já sabe, mas Ana e Remo também vão.

Vai, Lily! Você vai gostar de conhecer a fazendo e vai poder se distrair um pouco. E se você ainda estiver tentada a não ir, me avise que eu aparato na sua casa e falo com seus pais para eles te convencerem a ir.

Fiquei muito feliz com a notícia de seu avô. A propósito, o que são rojões?

… … … … … … … …

Lílian estava sozinha em pé na sacada observando o jardim quando Clio voltou. A leitura da carta de Alice deixou-a inquieta. O que faria? Iria ou não?

Olhou para o lado e viu mais uma vez os pequenos frutos verdes que começavam a aparecer onde semanas atrás estavam as flores da macieira. Respirou fundo com um misto de receio e animação.

—Seja o que Merlin quiser.

… … … … … … … …

Naquela noite, após o jantar, Tiago andava pelo corredor ansioso por chegar a seu quarto. Entrando lá, seu estômago deu um solavanco ao reconhecer a coruja de Lily próxima à janela. Desdobrou a carta com pressa.

Olá, Tiago,

Tudo bem? Desculpe demorar um pouco pra responder, é que tive umas distrações técnicas por aqui.

Meu avô está melhor sim, obrigada por perguntar.

Sobre o seu convite, aceito sim. Só não sei quando poderia ir porque logo vamos levar o senhor Luciano de volta pra casa. Qualquer coisa, eu te aviso.

Beijo, Lily

P.S. Mande lembranças ao Sirius.

Naquela noite, Tiago encostou a cabeça no travesseiro para dormir fazendo planos.