Coisas Quebradas escrita por Adriana Swan


Capítulo 15
Jon Snow




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Coisas Quebradas

Adriana Swan

JON

Os selvagens montavam suas barracas espalhadas pelo bosque com mais organização do que se podia imaginar. Com um pouco de supervisão de Jon e mais alguns líderes, haviam conseguido montar ao longo de todo percurso um acampamento satisfatório na neve que caía cada vez mais forte, mas que era comum para todos aqueles homens que viviam para lá da grande Muralha.

Jon Snow subiu a cavalo em um alto monte para ter uma visão mais privilegiada do que o esperava pela frente. Dois terços do caminho já haviam sido vencidos e a neve forte não seria um problema. Mesmo no alto do monte, a visão era limitada pela brancura sem fim do final do outono. Gostaria de ter mais de seus homens com ele, mas a Patrulha precisava tanto deles quanto Winterfell. E deserção era algo que não poderia exigir de ninguém.

Ainda assim, Cetin cavalgava a seu lado, um teimoso intendente que estava disposto a segui-lo a qualquer guerra, fosse essa contra os outros ou a retomada de Winterfell. Gostaria de ter Edd consigo, mas não confiaria a Muralha a mais ninguém. Não esquecera daqueles que o traíram e tinha certeza que receberiam seu pagamento em sangue se Edd Doloroso conseguisse ascender a Lord Comandante como ele esperava. Tormund Terror dos Gigantes tanto o seguira como era o mais empolgado com a ideia de matar o bastardo que dizia fazer mantas com peles de mulheres. Nesse momento, Tormund andava entre o povo livre organizando-os e orientando. Parecia ter nascido para comandar. As tendas estavam bem embrenhadas nos bosques que mesmo do monte onde Jon se encontrava era difícil dizer que havia milhares de homens armados e esposas de lanças escondidos ali. Se tivesse descido com homens de Stannis jamais teria conseguido manter aquela marcha. Os sulistas não conseguem lidar com a neve como o povo do Norte. Até o deus deles estava errado.

"Agora você pertence a R'hllor", dissera Melisandre, quando fora o ver em Vila Toupeira. "Eu o revivi com um beijo do fogo, e do fogo você retornou. Deve sua vida a causa do deus vermelho agora".

Segundo Tormund e Cetin, seu coração parara, sua respiração se fora, seus olhos jaziam abertos e vidrados enquanto o frio da morte tomava seu corpo. Fora ela, a sacerdotisa vermelha, a feiticeira, a mulher bruxa que beijara seus lábios e o trouxera de volta a vida. Jon não sabia como aquilo poderia ser possível, mas sabia que nem na primeira vida nem na segunda seria devoto do deus que queimava pessoas.

Um cavalo começou a subir o morro a passos lentos e sofridos. O ex-comandante da Patrulha da Noite esperou com paciência enquanto a jovem Lady subia morro acima, seu manto cinzento a cobrindo. "Uma garota cinza em um cavalo moribundo", certa vez Melisandre dissera sobre ela. Dessa vez a garota cinza vinha montada num belo garanhão de guerra.

— Lady Karstark – Jon a cumprimentou quando a garota chegou até ele. Parecia muito mais forte do que a última vez que a vira. – Fico feliz em revê-la. Como está o casamento?

— Bom o suficiente para me manter Senhora de Karhold, Lord Snow, - Alys falou estendendo a mão a ele do alto de seu cavalo. Ele a apertou educado. – Vejo que juntou bastante de seu povo livre aqui.

— Vejo que agora os chama de povo livre.

— Depois de dividir a cama com um deles é meio difícil visualiza-los como os selvagens sobre os quais nossas amas contavam histórias. Ninguém nunca me contou que eles podiam ser gentis.

— Ninguém nunca nos contou muita coisa – Jon respondeu. "Você não sabe nada, Jon Snow". E talvez nunca viesse a saber.

— Trouxe duas centenas de homens comigo, quase todos homens de meu marido – ela baixou os olhos em seguida, como se a próxima frase a envergonhasse. – Meu tio levou quase todos os homens de minha Casa até Stannis para traí-lo. Não estava aqui para impedi-lo. Eu lamento.

A garota abaixou a cabeça. Jon sabia que não era culpa dela, mas não conseguiu pensar em nada para responder. Não sabia o que tinha motivado a Casa Karstark a marchar para trair Stannis, se promessas ou vingança, mas imaginava que o fato de Robb ter decapitado o pai de Alys com certeza pesara bastante naquelas decisões. E sabia que Alys não tinha esquecido esse fato também.

— Depois que tomarmos Winterfell pensamos nisso – "Se conseguirmos tomar o castelo", ele gostaria de acrescentar. - Várias Casas do Norte tomaram partido pelos Bolton. O bastardo casou-se com Arya. Podem me ver apenas como um bastardo tentando usurpar o direito de minhas irmãs.

— Está tentando salvar sua irmã.

— Espero que entendam isso, milady.

"Stannis entenderá se ainda estiver vivo", e Jon queria que ele estivesse, embora tudo que ele tinha era a palavra de Melisandre sobre suas visões no fogo contra a carta de Ramsay dizendo que o matou. Era uma carta confusa, a bem da verdade, em que ele pedia sua noiva de volta e essa parte fazia o coração de Jon se apertar: talvez sua irmãzinha tivesse fugido. Sua pequena e teimosa Arya que sempre fora sua irmã favorita "Arya não se encaixava, assim como eu. Os deuses seriam bondosos se me deixassem revê-la ou vinga-la."

— Lord Snow, notícias da Muralha, - Cetin subia o monte a cavalo. Era de se admirar o quanto aquele rapaz mudara desde que chegara a Muralha tencionando vestir o preto. O rapaz delicado que só conhecia a vida de servir em bordéis usava espada, cavalgava e mantinha a cabeça erguida, mesmo sabendo que muitos o desprezavam por saber sobre sua vida anterior. "A Muralha endurece até o homem mais frágil, como fizera com Sam".

— Algo bom, espero, - respondeu recebendo a carta das mãos do intendente. A carta era de Lady Melisandre e, como sempre, ela parecia bem mais confiante do que ele.

— Posso saber o que diz? – Alys perguntou, não contendo a curiosidade.

— Stannis contratou um exército mercenário – Jon respondeu enquanto lia. – Chegaram a Atalaialeste do Mar. Vão marchar para Winterfell com Sor Justin Massey os liderando.

— Só os nortenhos conseguem atravessar essa neve – Cetin gemeu. Era sulista e estava tendo dificuldade para acompanhar a marcha.

— Lady Melisandre também diz na carta ter queimado infiéis para parar a neve e limpar o caminho deles – Jon respondeu a contragosto. Não era a primeira vez que havia tido um sacrifício ao fogo desde que a Mulher Vermelha chegara a Muralha, mas achara que aquilo tinha sido uma exceção. Stannis podia ser muitas coisas, mas não parecia ser cruel. Jon sentia medo do que Melisandre poderia se tornar tendo algumas dúzias de homens de Stannis a seu dispor e nenhuma supervisão. – A sacerdotisa descerá da Muralha com os mercenários para encontrar Stannis. Traz a princesa com ela.

— Rei Stannis deixou a Princesa Shireen na Muralha para protege-la – Cetin falou.

— Parece que proteger a única herdeira da Casa Baratheon não é a prioridade de Lady Melisandre, - Jon respondeu puxando as rédeas de seu cavalo. – Vamos.

Desceram o monte juntos. Assim que chegaram ao acampamento, Jon desmontou do cavalo e passeou por entre as barracas que eram armadas. Seu pai sempre dizia a Robb que os homens deviam conhecer o Senhor ao qual serviam, mas esse senhor deveria ser Robb, ele era muito melhor em ser gentil. Quando Jon passava, o povo livro o olhava, alguns acenavam, algumas esposas de lança até lhe sorriam. Ele não sabia como fazer para sorrir de volta. Havia certa felicidade naquelas pessoas como se lutar em Winterfell fosse fácil se comparado a lutar contra os mortos do outro lado da Muralha. E era mesmo.

Os homens Karstark pareciam pouco a vontade. Não haviam mais do que vinte, e se estavam desconfortáveis perto do povo livro, ficaram ainda mais desconfortáveis perto de Jon. Esses homens deviam saber que fora ele que arranjara o casamento de Alys, e mais que isso, que ele era bastardo de Ned Stark, irmão de Robb, que decapitou seu Lord. Se os homens de Karhold não sabiam lidar com isso, Jon sabia menos ainda.

Seguindo em frente ele viu Wun Wu sentado entre as árvores mais altas, na tentativa de se ocultar em meio as folhagens.

— Ele não gosta daqui – Val falou se aproximando. Havia insistido para a garota ficar na Muralha, mas ele próprio temia o que os homens de Stannis podiam tentar fazer com ela. Não era segredo que os sulistas desejavam a Princesa Selvagem.

— Não ficará aqui por muito tempo – respondeu ainda olhando o gigante. – Tenho pressa de chegar em Winterfell.

— O bastardo não vai matar sua irmã, Lord Snow. Precisa dela.

— Minha irmã está na cama do bastardo de Bolton enquanto conversamos – respondeu, seco. – Para mim, mais um dia longe de Arya já me parece muito tempo.

A garota não falou nada, o olhando de lado enquanto ele observava Wun Wu se aconchegar entre as árvores altas. Não queria pensar em sua irmãzinha, no que ela estava passando, no que podia estar acontecendo a ela, e que talvez nem sequer fosse a verdadeira Arya.

— É um corvo. Sua deserção pode resultar em sua morte quando chegar a Winterfell – a mulher falou, ainda o olhando de lado. – Deve amar muito sua irmã.

— Você não faz ideia.

Para encerrar o assunto ele deu meia volta e foi se juntar a seus homens.


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