Dança da Extinção escrita por yumesangai


Capítulo 21
Sem saída


Notas iniciais do capítulo

#cliffhanger



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─ Você já pensou em se matar?

 

Baekhyun perguntou tão de repente que Kai quase derrubou uma garrafa cara de whisky. Na outra mão ele tinha um saco de amendoim.

 

─ Já. Você mesmo disse, não? Sehun salvou a minha vida.

 

─ Sehun salvou a minha vida. - Baekhyun repetiu.

 

Ele se apoiou no balcão do bar e subiu, andou chutando os copos e o que estivesse no caminho. Kai girou na cadeira enquanto explorava um armário, havia talheres, canudos e coisas sem serventia.

 

Na última prateleira havia uniformes e aventais.

 

Kai se livrou das roupas úmidas e se trocou ali mesmo, calça preta, camisa de botão branca. O casaco de Sehun ficou amarrado na cintura. Baekhyun riu de onde estava, ainda em pé no balcão.

 

─ Se não fosse o cabelo e o olho, você iria parecer algum aluno exemplar.

 

Kai tocou nos fios brancos, havia a raiz crescendo e nada que pudesse fazer. Nem sobre o cabelo e muito menos sobre o olho.

 

─ Poderia ser pior. Já pensou ter aparelho? Quem iria tirar?

 

─ E estar grávida?

 

─ Mas bebês não precisam de um hospital, existe parto em casa, não?

 

─ Mas quem vai fazer o parto? Como vai cuidar de um bebê que chora? Ou alimentar?

 

─ Francamente conseguir comida não é tão difícil assim. Nós nos encontramos num shopping selado, tinha bastante coisa por lá.

 

─ A praça de alimentação era nojenta com as coisas estragadas.

 

─ Mas e todas as lojas?

 

Baekhyun deu de ombros, tinha uma garrafa em mãos. Kai decidiu fazer uma mistura para eles.

 

Se Tao não tivesse acontecido, eles ainda poderiam estar no shopping, todos eles.

 

—/-

 

─ Você sabe que em algum momento vai ter que puxar o gatilho, não é? - Kyungsoo foi a voz da razão.

 

Minseok afundou o rosto entre as mãos. Ele queria gritar e puxar os próprios cabelos.

 

─  Ele é uma criança. - Sua voz era cheia de pesar e tristeza. - Ele é só uma criança.

 

─ E ele está perdido. Eu achei que Kai fosse alguma conexão que o mantivesse são, mas…

 

─ Sehun acha que Kai o salvou, então ele se apegou a ele, mas Sehun foi o único salvador entre eles. E Kai o construiu como ele precisava, ele juntou as partes quebradas, mas elas não se encaixam, Sehun está desmoronando. Ele é uma criança que matou o melhor amigo.

 

─ Você não pode salvá-lo, porque ele não é mais o Sehun que você conhecia.

 

─ Assim como Kai não é mais Jongin? Eu não te vejo com uma arma apontada para a cabeça dele.

 

─ Jongin ainda está lá, ele acha que não é forte, mas ele é.

 

─ Me promete uma coisa, não vai ser você que vai puxar o gatilho, se chegar a esse ponto.

 

─ Ok, mas se você hesitar…

 

Minseok apenas assentiu.

 

Yixing encarou o céu, ele se perguntou se era a mesma coisa com Baekhyun, se ele era um caso perdido, a diferença que não havia mais ninguém ali para se preocupar com ele. Sehun tinha Minseok, Kai tinha Kyungsoo, mas quem iria proteger Baekhyun?

 

—/-

 

─ Nós vamos levar as bebidas? - Baekhyun quem perguntou depois de virar um copo, ele brincava com um mini guarda-chuva decorativo que havia achado numa gaveta.

 

─ Claro, se não quiserem beber, serve para aumentar o fogo. -  Kai se espreguiçou. - Se você pudesse escolher qualquer pessoa, quem você chamaria para beber?

 

─ Do mundo?

 

─ Sim, vivos e mortos.

 

Baekhyun não pensou duas vezes.

 

─ Chanyeol. Ele estaria fazendo um drink, enquanto cantarolava alguma coisa, iria abrir o sorriso mais lindo do mundo e se debruçar sobre o balcão até que eu provasse a bebida. - Baekhyun tinha um sorriso triste nos lábios.

 

Ele olhou para a ponta do balcão e viu Chanyeol ali, Jongdae e Suho sentados, conversando e brindando, parecia tão real que ele esticou a mão.

 

─ Você já o viu alguma vez?

 

─ Chanyeol?

 

─ Não, o seu amigo, Taemin.

 

Kai encarou uma parede ao fundo, onde Taemin estava apoiado, braços cruzados, rosto cheio de sangue.

 

─ Não.

 

─ Eu vejo Chanyeol, eu vejo Jongdae, Suho, às vezes Chanyeol fala comigo, é como se ele estivesse me chamando.

 

Kai encarou a parede novamente, para a figura ali parada, seus lábios se movendo, surrando algo.

 

─ O que acha que vai acontecer se você for?

 

─ Vai parar de doer. - Baekhyun o encarou pela primeira vez. - Tudo vai parar de doer, meus ombros vão ficar mais leves, eu vou conseguir fechar os olhos. Talvez seja um dia novo.

 

Kai sorriu, parecia uma boa imagem, e ele fingiu que a dele também era, fingiu que Taemin estava sorrindo.

 

[...]

 

─ Vocês não deveriam ter deixado a base. - Minseok cruzou os braços quando avistou Kai e Baekhyun retornando.

 

Eles chegaram um pouco depois.

 

─  Não tinha nada para fazer. - Kai se pendurou no ombro de Sehun e sorriu estendendo uma garrafa de vodka.

 

Lay recebeu Baekhyun num abraço.

O céu continuava cinzento e uma chuva fina começou, eles acabaram deitados nas barracas, alguns pés para fora, a comida sendo feita assim mesmo graças aos enlatados do mercado.

 

─  Você se arrepende de alguma coisa? - Kai perguntou virando o rosto na direção de Sehun.

 

─ Luhan, Chanyeol.

 

─ Você acha que isso vai ter um fim?

 

─ Nós estamos chegando no inverno, acho que eles não vão mais se mexer, então talvez depois disso… de alguma forma seja mais seguro. Se nós sobrevivermos até lá.

 

Kai entrelaçou os dedos com os de Sehun.

 

─  Você confia em mim?

 

─ Você sabe que sim. - E ele sorriu verdadeiramente.

 

E ele sorriu de volta porque sabia.



Baekhyun estava sentado, os pés afundando levemente na areia, suas mãos criando um buraco sem propósito, o cheiro da comida se misturava com a maresia, ele nunca se imaginou num lugar desses.

 

─  Yixing, você pretende voltar para a China?

 

─ Acho que sim, eu gostaria de ver a minha casa, procurar meus amigos.

 

─  Você me levaria com você?

 

De alguma forma, parecia uma pergunta armadilha, mas os olhos de Baekhyun eram cheios de esperança, ele provavelmente precisava disso, de alguma promessa que pudesse se agarrar.

 

─ Você iria adorar, eu poderia te apresentar aos meus pais.

 

─  Ah, é assim agora?

 

Yixing riu.

 

E pela primeira vez, não parecia o fim do mundo, parecia um piquenique na beira de uma praia, onde alguém esqueceu de verificar a previsão do tempo.

 

─ Qual o próximo passo? - Kyungsoo perguntou servindo um pote com sopa e arroz, enquanto Minseok servia alguns copos.

 

─ Achar um lugar fixo, chega de ficar se movendo, a cidade nunca foi segura.

 

Minseok procurou o apoio no rosto dos amigos que assentiram. Baekhyun olhou novamente para as ondas quebrando.

 

─ O inverno vai chegar, nós vamos precisar pensar bem.

 

Todos assentiram, e ficaram em silêncio, saboreando a comida, mais protegidos naquele campo aberto, do que entre quatro paredes. Casas eram cheias de memórias, de outras pessoas e de coisas ruins.

 

Yixing respirava e olhava com o céu como se fosse uma salvação.

 

─ Ainda dói? - O chinês perguntou, enquanto Baekhyun envolvia o tornozelo com as mãos.

 

─ Dói um pouco, acho que nunca mais vai ser a mesma coisa.

 

Correr de um psicopata era pior do que correr dos mortos.

 

Baekhyun olhou de relance para os dois namorados se beijando como se estivessem sozinhos, e se perguntou se Kai pensava nas coisas que disse quando eles estavam juntos, ou se era uma forma de se desligar.

 

Sehun e Kai foram os primeiros a se retirar, voltando ao próprio mundo.

 

Chanyeol sorriu, com o violão em mãos.

 

─ É uma boa canção.

 

Yixing estreitou os olhos e olhou para Baekhyun que sorria olhando para o mar.

 

─ O que?

 

─ Você não consegue ouvir?

 

Yixing tentou ouvir as ondas e se perguntou se era disso que ele estava falando, do mar.

Jongdae tinha uma voz maravilhosa, Suho ergueu uma xícara que parecia ser de chocolate quente.

 

─ O que está cantando? - Perguntou enquanto ouvia um murmurar baixinho do mais novo, como se estivesse com fones e alheio ao mundo.

 

─  Universe.

Jondae sorriu em aprovação. Baekhyun suspirou e encostou a cabeça no ombro de Yixing, que não questionou mais.

 

─ Você pode cantar algo em chinês pra mim? - Perguntou ainda de olhos fechados.

 

Ele pensou em algo, mas começou a cantar baixo, Baekhyun abriu os olhos, ele parecia muito mais confiante quando era em chinês, e no entanto, parecia mais triste, talvez fosse a música.

 

─ É uma canção de amor?

 

─ É sim.

 

Baekhyun se ajeitou e esticou a mão, secando algumas lágrimas no rosto de Yixing.

 

─ Mentiroso.

 

[...]

 

Já era noite quando Sehun se remexeu dentro da barraca, ele passou a mão pela cintura de Kai, e a mão que o segurou de volta o apertou com força.

 

─ Kai…? - Sehun coçou os olhos.

 

─ Sssh.

 

O dançarino estava imóvel, seu corpo estava tenso. Sehun imediatamente olhou em volta, mas a fogueira parecia no fim, o vento sacudia as barracas, o barulho era um grande chiado do lado de fora, mas não o bastante para abafar as respirações roucas ao redor.

 

Sua mão foi lentamente para debaixo do travesseiro, onde uma arma estava escondida.

 

─ Quantos? - Eles estavam tão próximos que murmurar era o bastante.

 

─ Nove ou dez, talvez…

 

Kai estava engolindo em seco. Sehun destravou a arma, o clique parecia um estrondo no silêncio. Sehun conseguiu ouvir as respirações roucas e um calafrio desagradável percorreu seu corpo.

 

Kai balançou a cabeça negativamente.

 

As criaturas não estavam passando entre as barracas, provavelmente o fogo estava criando uma espécie de barreira.

 

Minseok foi o primeiro a agir, o som da arma disparando, fez que todos os outros se movessem. E a cena era muito pior do que eles estavam imaginando, na areia próximo deles haviam de fato dez errantes, mas se aproximando havia muito mais.

 

─ Nós vamos gastar toda a munição desse jeito! - Kyungsoo reclamou.

 

─ E pra onde nós vamos correr? Não temos carro, as ruas estão cheias.

 

─ De onde saíram tantos? - Baekhyun resmungou ajeitando a mochila nas costas.

 

─ Nós vamos correr para a cidade. - Kai anunciou. - É o único jeito!

 

Passar pelos errantes na praia não era difícil, mas na cidade era pior, a luz era pior, era mais fácil se mover pelas calçadas, apesar de mais estreitas. Eles procuram por algo naquela imensidão escura, mas ao mesmo tempo não sabem o que estão procurando.

 

─ Por ali! - Kai estava na frente com uma lanterna, eles se desviam de alguns errantes ao entrar por um beco murado.

 

Deveria ser um depósito de alguma loja, pois era cercado de um muro alto e o outro lado era alguma espécie de estabelecimento, o lugar já era naturalmente escuro.

 

─ Não tem saída! - Minseok gritou quase se chocando nas costas do dançarino.

 

─ Tem sim! - Kyungsoo foi o primeiro a subir na caçamba de lixo.

 

A caçamba estava apoiada contra uma grade de ferro, nada que eles não haviam feito antes. O corredor começou a ficar mais curto com os errantes chegando.

 

Kyungsoo apoiou os pés no gradeado, ele tremeu ligeiramente, uma das pontas deveria estar solta, mas desde que fossem um de cada vez deveria ser o bastante, o outro lado do corredor estava vazio, ele se estendia por alguns metros e havia um portão de madeira que assegurava o espaço, havia também uma porta de ferro de correr de alguma loja, com sorte eles conseguiriam passagem por ali.

 

Minseok atirou até ficar sem balas, quando a arma deu um clique mudo, ele a usou para acertar o rosto de um errante.

 

─ Rápido! - Kai gritou já no meio da grade.

 

Kyungsoo segurava a lanterna, ele não conseguia mirar de onde estava, os outros estavam se mexendo muito, ele espiou rapidamente para trás, o lugar era seguro.

 

─ Anda logo! Yixing empurrou Minseok.

 

As mãos dos errantes se fecharam no braço do chinês.

─ Cuidado!

 

Baekhyun acertou um chute bem no maxilar de um. Os dentes de outro rangeram na direção de Sehun, o tiro foi próximo demais e sangue voou em seu rosto.

 

─ Sehun, sobe! - Minseok gritou.

 

─ Hunnie! - Kai o chamou.

 

A essa altura, Baekhyun e Sehun estavam segurando o grupo de errantes. Lay estava sendo ajudado por Kyungsoo a descer em segurança.

 

─ Baek, anda logo!

 

Os dois trocaram um olhar rápido e subiram ao mesmo tempo na caçamba, os errantes se aproximam, mãos esticadas cheias de sangue. Como no colégio, como no teatro.

 

A tampa cede, Baekhyun e Sehun se seguram no outro, uma mão se fecha sobre o tornozelo de Sehun, uma boca se fecha no tornozelo de Baekhyun, ainda se segurando um no outro, eles perdem o equilíbrio e caem para trás.

 

─ Sehun! - Minseok se agarrou na grade.

 

Eles caem no mar de errantes.


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