Dança da Extinção escrita por yumesangai


Capítulo 14
Shoot Anonymous, heartless, mindless. No one who care about me?


Notas iniciais do capítulo

#morte #gore #vixx



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― Não, não, não... – Jongdae caiu sentado no chão.

Kyungsoo soltou o ar com força, ele colocou a mão sobre o ombro do amigo para que ele ficasse de pé, mas Jongdae estava com as mãos afundadas na terra.

― Não ele, tudo menos ele...

― Vocês mataram meu irmão, meu amigo... – Taekwoon apareceu se pendurando na porta da entrada da oficina.

Ele reparou nos dois que não haviam ido para longe, e no errante que vinha se aproximando, na figura não familiar, e isso o confortou de alguma forma.

― Pelo menos um dos seus se foi. – Seu tom era seco, Taekwoon não se importava mais.

Jongdae ergueu o rosto, seus olhos brilharam e ele se levantou num impeto descontrolado, com um rosnado de raiva, bisturi em mãos. Taekwoon foi mais rápido e puxou o gatilho do rifle, o impacto do 223 Remmington, atravessou o peito de Jongdae e o jogou para trás.

 Kyungsoo congelou onde estava, observando algo que aconteceu rápido demais. Primeiro Jongdae havia se levantado, ele não chegou a dar três passos quando Taekwoon atirou, eles não estavam longe, era próximo e...

Jongdae cuspiu sangue, Kyungsoo não tinha certeza se ele tentou falar algo ou se engasgou no próprio sangue, seu corpo convulsionou. Kyungsoo assistiu pateticamente, ainda sem conseguir processar.

Suho andava com a coluna mais encurvada, graças ao ferimento do ombro, ele se agachou sobre o corpo do namorado, as mãos foram no buraco onde a bala havia atravessado, todo o sangue fazendo uma rápida poça ao redor deles os envolvendo.

E seus dedos puxaram e se fecharam sobre o tecido, da roupa e da pele, trazendo para fora tudo que estava ali dentro.

Kyungsoo virou para o lado e vomitou, ele escutou a risada descontrolada de Taekwoon ao fundo. O garoto ria tanto que caiu sentado na entrada da oficina, sangue se espalhando pelo batente da porta de onde ele estava escorado.

O barulho de algo sendo mastigado junto ao barulho rouco que Suho emitia, sabendo quem se encontrava no chão, era demais.

― Você foi mordido, não é? – Soo perguntou limpando o canto da boca na manga. – O seu irmão e o seu amigo se foram e agora você vai se juntar a eles e não tem nada que você possa fazer.

― É? Isso aqui me entregou? – Ele esticou o braço que estava cheio de sangue, não era possível saber de onde vinha a ferida.

― Por que você mata seres humanos? Estamos todos condenados, mas estamos tentando. Nós estávamos tentando. – Ele não conseguiu manter o olhar em seus amigos, apenas ouvia os barulhos e isso já o perturbava o bastante.

Seu estômago ainda revirava, mas aparentemente não havia mais nada para colocar para fora.

― Existe uma adrenalina, você não entenderia. – Taekwoon era mais forte, ele olhou para os dois desconhecidos, antes conhecidos, havia algo de familiar naquela cena, a mesma se repetia em suas costas. – Você não vai pará-lo?

Kyungsoo virou lentamente o rosto, mas seus olhos não estavam focados ali, ele olhava para baixo, no sangue.

― Eu não consigo. – Seu corpo tremia.

― Vai esperar o que sobrar? Quer se juntar a casa? Esperar o próximo grupo e começar a cortar pedaços e colar por cima?

Kyungsoo não sabia se queria vomitar o que não tinha mais em seu estômago ou chorar. Ele começou a soluçar, mas o ar não saia. Ele se viu puxando a gola da camisa, como se fosse ajudá-lo a ter mais ar.

Como se a chuva e o vento constantemente gelado não fosse o bastante.

Quando Taekwoon puxou o cano da arma contra seu próprio pescoço e atirou. Kyungsoo tentou gritar, mas saiu apenas ar, dolorido e sufocado.

Com o barulho da chuva não foi possível ouvir os passos se aproximando, eles vinham em cautela após escutar um disparo próximo, mas eles reconheceram as vozes. Minseok e Sehun se fizeram presentes, passando por trás da caminhonete estacionada.

― Soo! – Minseok correu na direção do amigo que estava sentado no chão.

Sehun observou o cenário, o bisturi afundado na lama que se formava, no corpo e no sangue que saia da entrada da oficina e do errante que estava sobre um corpo, enquanto era possível ouvir o barulho de algo ser mastigado.

Ele segurou a respiração ao reconhecer, a pessoa no chão, seus olhos perderam o brilho quando notou o cabelo escuro de Suho sobre Jongdae. Era isso que o fim do mundo os proporcionava.

Eles lutaram, eles enfrentaram uma horda, mas não era o bastante. Que tipo de provação eles ainda teriam que enfrentar?

Não eram seus amigos, ele não iria fingir que eram. Mas essas pessoas protegeram Minseok, e salvaram Chanyeol e Baekhyun. Eles não mereciam esse destino.

Suas mãos não tremiam mais, ele puxou a faca do cinto e foi se aproximando devagar, mas logo sentiu uma mão sobre a sua, uma mão ainda quente.

― Eu cuido disso.

Sehun não questionou, ele entendia. Mas era um peso que ele não desejava passar para mais ninguém.

Independentemente do que levou a este momento. Seu amigo. Sua culpa.

Chanyeol. Luhan. Talvez Kai.

Minseok respirou fundo, ele acertou a faca sobre a têmpora, o único lugar que dava para enfiar uma faca sem correr o risco da mesma quebrar ou de só fazer um estrago no rosto, a pele poderia ser algo em decomposição, mas o crânio ainda era um crânio.

O corpo de Suho finalmente achou algum descanso e caiu ao lado do de Jongdae.

― Vamos enterrá-los, eles não merecem ficar aqui. – Minseok encarava os dois amigos no chão, enquanto suas botas afundavam cada vez mais naquela mistura de terra e sangue.

― Baekhyun ainda está em algum lugar, nós também temos que achá-lo. – Kyungsoo se levantou com a ajuda de Sehun.

― Vamos enterrar os corpos, nós podemos ficar nessa caminhonete até a chuva diminuir, ou vamos rodar uma região desconhecida à noite.

Minseok foi caminhando em direção a oficina, as luzes se acenderam assim que ele entrou no lugar, o cheiro de sangue e carne decomposta enchia o lugar, ele pegou o primeiro pé de cabra que avistou longe do cenário de destruição e se retirou.

Ele empurrou com o pé o corpo de Taekwoon para dentro da oficina e fechou a porta, uma vez que havia dois errantes ao fundo.

― Vamos precisar de pás... – Sehun comentou.

Minseok quebrou o vidro da caminhonete e abriu a porta.

― Vocês dois precisam sair da chuva ou vão acabar doentes. Eu enterro os dois.

― Eu quero ajudar. – Kyungsoo rapidamente se colocou na frente do mais velho, mas Minseok o empurrou gentilmente na direção do carona.

― Seu ombro não está bom.

Isso não foi o suficiente, Kyungsoo continuou do lado de fora, parado enquanto observava o mais velho fazer todo o trabalho pesado. Sehun entrou no carro e deitou no banco de trás.

 

—/-

 

Baekhyun acabou sentando-se no chão, ele não queria correr o risco de se machucar no porão ou fazer algum barulho que poderia atrair Ravi de volta.

― Você acha que pode me fazer um favor?

― Eu acho... – Ele não queria ter que se levantar, mas achou melhor não falar a respeito das dores no corpo, era injusto ser egoísta com uma pessoa enjaulada.

― Você pode descrever o pôr do sol?

A voz dele era calma, Baek não sabia se era por estar falando uma segunda língua, como se estivesse traduzindo primeiro ou se era o jeito dele.

Ele tentou imaginar primeiro, o tipo de pôr do sol que ele gostava de ver. Fechou os olhos quando começou a narrar.

― É como uma chama queimando no céu que se apaga rapidamente, cada minuto é valioso, porque se você tirar os olhos de lá, por um minuto, vai perder aquele espetáculo enquanto as cores vão se corroendo.

― Obrigado.

― Eu gosto mais do nascer do sol, bem de manhã, quando o céu fica rosa e violeta, parece um algodão doce, também lembra aquelas pinturas clássicas, eu sempre estico a mão como se pudesse tocar o céu.

Lay murmurou algo em aprovação, Baek encostou a cabeça na grade antes de continuar.

― As vezes quando o céu esté bem azul, tipo aqueles desenhos de colégio, e as nuvens parecem riscas no céu, mas elas parecem tão macias que deveria ser irreal. A primeira vez que viajei de avião eu só queria ficar na janela.

―  Como foi essa experiência?

― Estava chovendo, foi horrível. – Ele riu, a primeira vez que ria depois da morte de Chanyeol, seu peito parecia um pouco mais leve, ele não se sentiu mal como achou que iria se sentir.

― Eu sinto muito.

Por um instante Baekhyun pensou que ele estivesse falando sobre Chanyeol, sobre seus pensamentos, mas não havia como ele saber.

― É, eu também.

Ele respondeu, mas não sabia mais sobre o que estava falando.

 

—/-

 

A chuva diminuiu durante a madrugada, Minseok e Kyungsoo ainda estavam acordados, mas dessa vez dentro do carro, eles haviam improvisado algo na janela quebrada, por sorte havia mantas dentro do carro, Sehun parecia estar dormindo de verdade, Minseok ainda se virava para ter certeza que ele estava respirando.

― O que aconteceu? – Perguntou depois de um longo silêncio, provavelmente depois que se certificou que nenhum deles iria dormir mesmo.

― Eu não sei, foi rápido, foi... Eu estava com um deles, vim para essa oficina, Jongdae estava escondido, um outro apareceu, eu aproveitei o momento de distração e soltei... eles tinham um deles preso lá, eles acredtiavam que poderiam trazê-lo de volta com alguma cura.

― Não existe cura. – Minseok colocou os pés sobre o painel e puxou o banco mais para trás.

― É, eu sei, mas eles não pensavam dessa forma. Jongdae e eu escapamos, Suho apareceu logo depois, já transformado.

Minseok fechou os olhos.

― Ele morreu sozinho, nesse fim de mundo.

Kyungsoo ofereceu um maço de cigarros que havia encontrado embaixo do banco, junto de um isqueiro. Minseok abaixou o vidro e acendeu os dois cigarros, eles voltaram a ficar em silêncio enquanto a pequena chama ia queimando lentamente e as cinzas iam se formando, caindo devagar como a chuva.

Como as lágrimas silenciosas.

― Jongdae não teria aguentado, Suho era tudo que ele tinha. – As palavras de Kyungsoo pareciam mais um pensamento aleatório, como se nem tivesse percebido que estava falando em voz alta.

Minseok soprou a fumaça diretamente contra o vidro.

― Sehun é tudo que eu tenho.

Ele apagou o cigarro contra o volante e esticou o dedo, escrevendo contra o embaçado do vidro: você precisa sobreviver.

Assim que finalizou a frase, ela desapareceu, Minseok se virou novamente para trás e viu a figura de Sehun dormindo, peito subindo e descendo. Era o bastante.

 

—/-

 

Baekhyun acordou e sua visão se acostumou com o porão, havia alguns feixes de luz passando pelo teto, mais importante, ele não se lembrava de ter pegado no sono. Encostado nas grades ele viu o garoto com quem estivera conversando, seu rosto estava magro, seus pulsos eram finos, ele tinha uma aparência ruim.

Seu peito apertou, ele queria tirá-lo dali, ninguém merecia morrer trancado numa cela.

É claro que não havia armas ali, ele analisou o cadeado, e se amaldiçoou por não prestar atenção em Chanyeol, ele saberia abrir aquilo. Chanyeol abria qualquer porta.

― Droga, droga, não é hora pra isso. – Ele secou as lágrimas e começou a andar mexendo em caixas e gavetas.

Não demorou muito para que escutasse o teto rangendo, ele olhou para cima, deveria ser Ravi, poderia ser Taekwoon, e se fosse Hyuk? Um já era ruim, se ele estivesse armado então não haveria uma chance sequer.

Baekhyun viu uma outra escada, a que dava para o lado de fora, ele poderia correr esse risco, tentar se atirar para a mata, procurar o carro, as armas, os outros e então voltar. Mas eles deixariam Lay vivo?

Ele não iria se perdoar se causasse a morte de alguém.

― Você não deveria se preocupar comigo. – Lay disse ainda de olhos fechados.

― Eu vou te tirar daqui. – Baekhyun se agachou próximo a cela, com as mãos apertando as barras de ferro.

― É legal que você pense assim, é legal saber que alguém ainda pense assim. – Ele abriu os olhos. – Mas se você tem uma chance, vá em frente, não olhe pra trás.

― Eu não sou esse tipo de pessoa.

De alguma forma ele viu o sorriso de Chanyeol, após dizer isso. Não era o tipo de coisa que ele teria dito antes. Quando ele havia se tornado o tipo de pessoa que protegia os outros? Um estranho?

Isso o fez se sentir bem de alguma forma e se perguntou se era por isso que Chanyeol tentava proteger os outros, como Sehun, quando o encontraram.

― É? – Seu lábios se contraíram num sorriso. – Eu também não.

― Eu vou abrir a porta, vai fazer barulho, não vai?

― Acho que tem latas em cima... não costumava ter, mas quando a última pessoa tentou fugir... bom... – Ele meio que deu de ombros, não era necessário explicar.

Baekhyun encolheu os ombros.

― Ok, eu vou abrir a porta, vai fazer barulho e vai chamar atenção dele. E vou descer correndo e abrir a porta por onde eu vim, tem armas na parde da sala, não estão carregadas, mas eu preciso de alguma coisa.

― E se ele tiver trancado com cadeado?

― Eu só tenho uma chance. De qualquer forma, ele acha que eu estou morto, vai entrar com cautela.

― Esse é o pior plano que eu já ouvi. – Mas havia algo de divertido em sua voz.

Baekhyun se viu sorrindo de volta.

― Eu já tive planos muito piores.

― Fique vivo, eu quero ouvi-los. – Lay esticou a mão e Baekhyun a apertou de volta, ele estava magro.

Ele respirou fundo e olhou para a outra escada, a madeira das portas era velha, as dobraduras deveriam estar enferrujadas e seria fácil de arrombá-las.

Tentou não focar que ele estava prestar a sair correndo sem um plano de apoio, sem absolutamente nada. Ele queria tirar Lay dali, mas tão logo percebeu que não se importava com o que poderia acontecer consigo no processo.

 

—/-

 

Quando Minseok acordou seu ombro parecia deslocado, ele puxou o braço que passou a madrugada esticado na direção do banco de trás, ele viu que havia um pano enrolado no banco, mas não havia ninguém ali.

― Soo, acorda! – Ele rapidamente bateu na perna do amigo enquanto pulava pra fora da caminhonete, trazendo uma arma que havia ficado em seus pés.

Kyungsoo abriu os olhos lentamente e apenas ouviu a porta do carro se fechando com força, olhou na direção oposta, mas seus olhos caíram no monte de terra que havia ali perto, no túmulo solitário.

Só então ele percebeu que Sehun não estava no carro, ele abriu a porta, mas não desceu.

Ele pensou em Kai e Taemin, no que teria acontecido com eles. Pensou em Suho e Jongdae, e depois em Chanyeol.

Acabou se encolhendo no banco.

― O que você está fazendo? – Minseok basicamente gritou enquanto agarrava o braço de Sehun que estava em frente a oficina.

Os barulhos roucos e o som de algumas coisas atingindo o chão, indicavam que as criaturas estavam andando próximo da porta.

― Vou trazê-los comigo.

― Do que você está falando?

― Tem mais deles. – Sehun tirou a mão de Minseok. – Deu pra ouvir no rádio.

Minseok se colocou na frente da porta, sua bota sobre o sangue seco do carpete.

― E o que você vai fazer quando eles saírem marchando por essa porta?

Sehun esticou o braço mostrando uma corda resistente, sua expressão levemente apática.

― Amarrá-los, eles não vão poder esticar os braços, mas vão andar atrás de mim. – Girou os olhos com Minseok ainda o encarando como se ele tivesse perdido completamente o juízo. – De uma distância segura Hyung!

― Eu não gosto desse plano, nós vamos procurar por Baekhyun.

― Ele está com o Baekhyun! - Minseok olhou na direção da porta. – Você pode ter medo Hyung, mas eu não tenho. Saia da frente.

Eles não eram melhores amigos, Minseok nunca se enganou dessa forma, mas dóia ver alguém que hora fora tão carinhoso parecer tão...

― Eu te ajudo, ok? Não quero você fazendo isso sozinho.

― Hyung. – Sehun colocou a mão no ombro dele o impedindo de alcançar a maçaneta. – Eu sei o que você está fazendo, você não precisa tentar me proteger. – Minseok abriu a boca, mas ele continuou. – Luhan Hyung está morto e de alguma forma eu morri também, eu não sou aquele garoto que andava atrás de vocês e eu nunca vou conseguir voltar a ser aquela pessoa, então você não precisa se preocupar em me proteger.

― Eu sei que você não é a mesma pessoa, eu percebi no momento que nos encontramos naquele shopping, mas eu não posso simplesmente ver você atravessando a rua como se estivesse pronto para ser acertado por um carro.

― Eu não estou tentando me matar. Eu já pensei, mas isso foi antes.

Minseok queria gritar e fazer com que ele entendesse. Sehun poderia ter mudado, mas ele não. Então, ele iria protegê-lo e iria continuar se importando, até o fim.

― Vamos tirá-los de lá, está pronto?

Sehun assentiu.

 

—/-

 

Baekhyun subiu a escada e se atirou com o ombro contra as portas duplas que davam para a saída externa, algumas coisas caíram e a fresta aumentou, mas não havia conseguido arrombar a entrada.

Ele tentou novamente, mas ouviu a porta da entrada da casa bater, e desceu as escadas correndo. Lay observava tudo ansioso.

Ravi estava com uma pistola em mãos, viu as latas no chão, ele rapidamente destravou a arma.

― Primeiro Taekwoon para de responder, Hakyeon não da mais sinal, Hyuk desapareceu ontem e agora isso? Volte pro inferno!

Ele puxou o gatilho, uma, duas, três vezes contra as portas de madeira.

― Wow – Lay se encolheu do outro lado da cela.

Baekhyun já estava na escada da porta que dava acesso a casa, e o cadeado estava ali, mas não estava fechado, ele abriu a porta e pisou sobre o vidro do jarro quebrado, o barulho não era alto o bastante para atrai-lo de volta.

A espingarda não estava mais sobre a parede, mas a besta continuava largada ao lado da lareira, havia apenas uma flecha no quiver.

― Eu nunca fui bom em arco e flecha, então se você existe aí, se você não está me punindo... – Ele olhou para cima. – Não é por mim, ok? Mas tem alguém lá embaixo que não merece apodrecer lá, me deixe ajudá-lo.

Ele encaixou a flecha e ajustou a corda. Deveria ser mais fácil do que arco e flecha de verdade, havia um gatilho, ele só precisava mirar.

Uma chance.

Do lado de fora ele viu Ravi com outros olhos, o garoto antes assustador parecia muito assustado, suas mãos estavam tremendo.

― Você tem medo de errantes... – Baekhyun deixou escapar.

Ele deu um salto quando Baekhyun falou.

― Quando você...? Como você...? Você não se transformou!?

A arma foi apontada em sua direção.

― Eu sou imune. – Disse rapidamente. Ravi estreitou os olhos. – Por isso Taekwoon me salvou.

― Não... ele te salvou pra usar no Hongbin, não foi... ele não falou nada sobre isso.

― Não deu tempo, lembra? Aconteceu algo com o irmão dele. – Baekhyun aproximou um passo e Ravi recuou dois. – Talvez tenha acontecido algo com ele, por isso ele não voltou ainda.

― Cale a boca! Você não sabe de nada.

― Eu sei, meu amigo é um cientista que tem a cura e eu sou imune, nós somos o grupo da salvação. E vocês possivelmente mataram meus amigos. – Ele ergueu a besta. – Vocês psicopatas, vão pagar por isso.

Baekhyun abaixou a besta e puxou o gatilho, a flecha atravessou o pé de Ravi que se agachou gritando de dor.

― Filho da puta.

Ele se aproximou, ficando mais alto do que Ravi.

― Você atirou e chamou atenção dos errantes. Você vai virar um deles agora. Você quer saber o meu nome? É Park Baekhyun, não se esqueça.

Ravi ergueu o braço com a arma, mas Baekhyun pisou em sua mão.

― Tire a flecha e tente viver.

Ravi acabou rindo.

― Você é insano. Mas sabe de uma coisa? Eu sou mais.

Ele puxou a flecha que estava atravessada em seu pé, Baekhyun arregalou os olhos em surpresa, mas aquilo não deveria tê-lo pego de surpresa, num movimento rápido ele pegou a arma que Ravi largou no chão.

Ravi avançou com a flecha ensanguentada em mãos, Baekhyun atirou a queima roupa no ombro de Ravi, com o impacto, Baekhyun tropeçou caindo no chão.

― Baek!

Ele se virou e ouviu a voz de Sehun. Ravi também virou o rosto, mas ele travou, haviam dois errantes na frente dos garotos que estavam mais afastados. Hyuk vinha andando tropeçando, seu braço direito estava na altura dos joelhos, Hongbin estava com o rosto cheio de sangue e vinha mais para trás, seus movimentos eram estranhos.

Ravi abriu a boca, mas não saiu nenhuma palavra, ele esticou a mão procurando a arma, mas logo percebeu que não estava com uma, ele olhou para a flecha em mãos.

― Não, não, não, não...

Baekhyun contraiu os lábios, sua expressão ficou dura. Ele não iria sentir pena dele. Ou deles. Ele ergueu a arma e atirou na perna de Ravi que imediatamente caiu no chão, as mãos tentando conter o sangramento.

― Eu disse, você vai se transformar, a morte seria um consolo pra você.

Ravi não deu atenção a ele, Hyuk foi o primeiro a alcança-lo e ele tentou lutar contra o errante, uma vez que ele só tinha um braço útil, mas ele não tinha condições de sair do lugar, Hongbin o agarrou pela perna.

Os gritos roucos de Ravi ecoaram. Baekhyun manteve os olhos na cena sem desviar, com o rosto sem qualquer expressão. Sehun o abraçou, tampando seu campo de visão e ele respirou aliviado pela primeira vez.

― É bom te ver!

― Hey.

Kyungsoo e Minseok traziam a bolsa de armas.

― Nós deveríamos fazer algo...? – Kyungsoo perguntou olhando desconfortável para a cena.

― Não, eu acho que não. – Minseok passou reto.

― Todos estão aqui? Vocês estão bem? – Baekhyun perguntou olhando para os dois e então espiou por cima do ombro deles. – Jongdae e Suho? Vocês os encontraram?

Os três trocaram um olhar silencioso e Minseok balançou a cabeça negativamente.

― Nós os encontramos, mas... foi tarde demais.

― Eu sinto muito. – Ele abraçou Minseok.

― Tem alguma coisa na casa que vale a pena levar? Nós precisamos ir embora logo. – Sehun perguntou olhando para a porta aberta.

― Sim! – Ele deu um salto. – Tem uma pessoa presa lá!

― Baek. – Sehun estava sério. – Pode ser uma armadilha.

― Ele caiu numa armadilha, como nós.

Os três se olharam novamente e Baekhyun cruzou os braços.

― Vocês podem me deixar pra trás se quiserem, mas eu vou ajudá-lo, eu devo isso a ele. Ele me salvou também.

Minseok deu de ombros.

― Vamos então. – Kyungsoo foi o primeiro a ir em direção a casa.

Baekhyun desceu as escadas para o porão correndo. Minseok foi mais devagar olhando a casa e Sehun destravou a arma indo por último.

Lay estava sentado no chão, ele não pareceu surpreso em ver Baekhyun.

― Parece que você conseguiu.

Baekhyun atirou no cadeado e abriu a cela.

― Você consegue se levantar?

Ele foi se apoiando nas grades e só conseguiu ficar completamente ereto quando saiu de lá, ele fez uma careta de dor e foi possível ouvir sua coluna estalando. De alguma forma, Baekhyun esperava que ele fosse um pouco mais alto, tipo Oh Sehun alto.

― Que cheiro é esse? – Kyungsoo perguntou ao descer as escadas.

― Provavelmente sou eu. – Lay comentou com algum humor. – Eu preciso de um banho e de comida, não consigo decidir qual primeiro.

― Banho. – Baekhyun foi enfático.

― Você também não está muito melhor, com esse sangue seco no rosto. – Ele esticou os dedos magros e ossudos, tocando onde havia marca de sangue seco nos fios de Baek.

― Eu imagino que tenha coisas suas aqui. – Kyungsoo disse olhando em volta. – Nós vamos catar algumas coisas, vou pedir para o Minseok cuidar da comida.

― Obrigado. – Baekhyun colocou a mão sobre o ombro bom dele. – Precisa trocar o curativo?

― Não, eu estou bem.

Lay e Baekhyun assentiram e subiram as escadas. Kyungsoo rodou o porão mexendo em coisas aleatórias, preso numa pilastra de madeira ele achou uma cartucheira que imaginou que pertencesse ao garoto.

Minseok estava se fazendo confortável na cozinha, Sehun estava largado no sofá com um rifle apoiado num canto e uma pistola sobre o braço do sofá.

― O som dos disparos atraiu mais errantes. – O garoto disse espiando pela janela, que felizmente tinha grades, ele havia fechado a grade da porta e puxado das cortinas, mas ainda estava claro o bastante para enxergar as coisas. – Nós vamos ter que gastar um pouco de munição para chegar até o carro.

― É um pequeno preço a se pagar. – Kyungsoo se sentou na poltrona. – Você está bem? Está sol e você está enrolado nessa coberta de flanela.

― Minha cabeça dói. – Ele colocou a mão sobre a testa. – Talvez eu precise de algum remédio.

Kyungsoo imediatamente se levantou e colocou uma mão na própria testa e a outra sobre a dele.

― Isso é febre, não está muito alta, vou ver se sobrou algo nas mochilas.

― Obrigado.

 

—/-

 

Lay ignorou completamente a presença dos outros garotos na casa, ele sabia que eles estavam com Baekhyun, mas no momento ele só se importava em tomar um banho.

Empurrou a porta do cômodo e pegou a primeira escova que viu e a pasta de dente e seguiu para o chuveiro, se preocupando em tirar as roupas lá dentro.

Ele escovou os dentes, mesmo sendo a escova de alguém, já estava ficando paranoico, achando que seus dentes iriam cair.

Seus dedos estavam ossudos e ele foi esfregando alguns cantos onde visivelmente havia uma crosta de sujeira acumulada, felizmente era uma água corrente, felizmente havia sabão e shampoo. Ele ergueu o rosto e bebeu a água do chuveiro, que ele sabia que não deveria fazer, mas também não conseguiu evitar

Era como saber que estava vivo.

Baekhyun entrou um tempo depois da porta do chuveiro ser  fechada, ele não pediu licença.

Lay estava embaixo do spray d’água, suas roupas jogadas num canto. Ele afastou a mecha do rosto e olhou para Baekhyun, mas disse nada.

―  Você precisa de alguém pra lavar suas costas. – Baekhyun justificou.

―  Eu acho que sim. – Lay deu de ombros, coisas mais estranhas já haviam acontecido em sua vida, no mundo.

―  E tem sangue no meu rosto. - Ele disse como só agora tivesse percebido.

―  Tem.

Lay deu espaço para que ele entrasse no spray, ainda completamente vestido.

Baekhyun fechou os olhos como se estivesse mergulhando no mar, Lay esticou as mãos cheias de espuma e começou a fazer movimentos circulares por onde havia o sangue seco que soltava facilmente.

Baekhyun o olhava, mas não parecia que estava olhando para ele.

―  Feche os olhos, vai cair sabão no seu olho. – Disse deslizando os dedos por uma mecha.

―  Eu sou tão egoísta.

Lay ergueu a sobrancelha em questionamento, de alguma forma ele sabia que não estava falando de ter invadido o chuveiro.

―  Tudo bem. – Ele afastou as mãos do rosto de Baekhyun.

―  Mas tem sangue e eu estou sentindo o cheiro de sangue e...

Ele saiu debaixo d’água, as mãos imediatamente indo na direção dos olhos, secando as lágrimas que se misturavam com a água do chuveiro. Seus ombros começaram a tremer e ele chorou meio a soluços.

Lay pensou se ele deveria chorar também, mas ele já havia passado por isso na primeira noite, ele já havia quebrado.

Ele não sabia o que havia acontecido com ele, ou com seus amigos, mas...

― Eu estou sem roupa, mas saiba que isso não tem nenhuma conotação sexual, ok?

Baekhyun riu e Lay o abraçou, e talvez parte dos ombros tremendo fosse o frio de sair da água gelada e ficar fora dela, mas Baekhyun se agarrou a Lay, que agora cheirava a sabonete e algo cítrico em seus cabelos.

E toda a situação era ridícula e ele começou a rir, Lay sorriu satisfeito, mas não o soltou.

― Você é a primeira pessoa a me fazer rir... obrigado. – Ele se afastou um pouco, sua camisa molhada bateu grudando do azulejo.

Bu yong xie. – Ele murmurou voltando ao spray d’água.

Baekhyun pareceu surpreso por alguns instantes e então sorriu verdadeiramente.

― Yixing. – O chamou só para testar o nome, para dar a ele algo familiar, e não havia nada mais pessoal do que um nome.

Lay abriu os olhos. Baekhyun ainda estava sorrindo e ele sorriu de volta.

Era um mundo estranho, mas aparentemente Baekhyun já era uma figura familiar.


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