Novamente Alice escrita por Sol


Capítulo 7
Jade


Notas iniciais do capítulo

:p



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Alice


Eu não conseguia entender o que aconteceu e nem parar de pensar em lebre, “Por quê?”, era a única pergunta que eu tinha em mente e isso me fez pensar em tudo até aqui em tudo o que eu não sabia sobre esse mundo, por que e como as coisas chegaram a esse ponto?


— Vamos partir assim que se recuperar totalmente – White disse do nada, parando a minha frente, sua voz estava áspera, ele não olhava nos olhos de ninguém e seus punhos estavam tão cerrados que eu não me surpreenderia se sangrassem. White havia ficado quase meia hora simplesmente parado no mesmo lugar, olhando para o nada.


Levantei-me com um pouco de dificuldade, meu coração ainda disparado, pensar em lebre fazia com que os meus pensamentos se guiassem até a minha mãe, sua imagem caída naquele jardim é algo eu jamais esquecerei.


Comecei a seguir a direção em que White fora, até o lado do chapeleiro, eu não poderia pensar em nada... Não, eu deveria resgatar minha família, deveria ter todos... O Máximo que eu puder fazer eu farei, afinal jurei isso a mim mesma.


O Chapeleiro me encarou com um olhar meio confuso, imaginei que este seria seu olhar mais natural, tentei pensar em algo reconfortante a dizer, mas tudo que pude oferecer foi meu silêncio.


—Por que um corvo se parece com uma escrivaninha? – Eu o encarei e pude ver a dor por traz da confusão de seu olhar.


— Eu não faço a mínima ideia. – Respondi sinceramente, ainda o observando.


— Eu também não! – Ele murmurou, se levantando calmamente com o olhar focado no chão. — Talvez... Eles fossem apenas amigos.

 Assim ele se virou e entrou na casa, fechando a porta pra todos nós;

— O que vai fazer Let? – A voz de White chamou minha atenção para o pequenino, Let estava encolhido abraçando as próprias pernas, por alguns segundos se virou para White e o encarou, mas logo depois voltou a observar a porta.


— Tenho que ficá ao ladu dele! – Assim que ele respondeu tão sinceramente pequenas lágrimas brotaram em seus olhinhos, White se virou para a floresta e começamos a andar, mas dessa vez sem tanta pressa.


— Está tudo bem pra você?- Eu perguntei enquanto caminhávamos.


— Claro que sim! – Ele acelerou os passos, quase correndo, o olhar focado na floresta e os punhos ainda muito cerrados.

 

~ # ~

 

Fomos em direção à floresta, eu já estava cansando de tanto mato, White parou para examinar um mapa ou algo do tipo:


— O que tem ai? – Perguntei já apontado para o papel.


— Rotas... - Eu o encarei com dúvida, para variar, e ele completou — Para o castelo!


— Pensei que você já conhecesse o caminho.


— E conheço... Mas é inútil se quando precisar não puder usá-los.


— Você é que é um inútil. – Ele não respondeu, apenas fechou o mapa e caminhou até uma árvore, se sentando em baixo dela. — Não vamos em frente?


—Me dê um tempo. Se possível!


Suspirei.


—Quando me lembro da minha mãe... – Ele me olhou de relance. —Eu penso no meu objetivo, penso que se encontrar minha família eu poderei ir pra casa. Por que não pensa no resto da sua família? Por que não pensa nos seus pais? No seu lar? Pense que eles vão te apoiar.


—Meus pais estão mortos! – A voz dele soou ríspida e eu arregalei os olhos. —Não tenho mais um lar, minha família foi destruída e agora minha irmã se matou. Assim que minha missão de te proteger acabar tudo vai voltar a ser tão desagradável quanto antes.


Permaneci em silencio por um momento, apenas o observando olhar para o céu.


—Não vou dizer que te entendo. – Murmurei enfim, caminhando até o lado dele e me sentando. —Mas sei que também amo minha família e gosto de pensar em coisas boas sobre eles. Minha vó uma vez me deu algo que me ajuda a me lembrar do quanto eu amo cada um deles. Aqui está... Pode ficar! – Retirei a joia do bolso e a ergui. —Eu já não preciso mais, quero que fique com ela - Ele me encarou e pegou a joia, olhando-a com cuidado, seus olhos se arregalaram um pouco e pareceu dizer algo, mas desistiu. —É uma joia muito linda não é mesmo? Todos a admiram e é o motivo que me levou a amar tanto essa cor.


Ele fechou os olhos e segurou firme a Jade, permanecendo assim por um tempo, até que novamente me olhou nos olhos.


—Obrigado... – Murmurou baixinho e se levantou. —Acho que podemos continuar!


Eu sorri me sentindo muito melhor assim, por mais que doesse me lembrar da minha família também, eu sabia que se parasse agora seria o fim de todos.

 

~ # ~

 

 

Continuamos andando pela floresta sem dizer mais nenhuma palavra, eu já estava começando a achar que aquilo não teria fim, até que paramos novamente, White se aproximou de uma árvore e quando eu olhei direito tinha uma... Porta?


— Espera... Por quê? – Perguntei indignada, já estava começando a decidir qual dos hospícios me internaria depois disso.


— E por que não? - Ele questionou com tom meio sarcástico e tirou suas chaves do bolso.


— Claro! Portas nas árvores, como eu nunca pensei nisso.


Ele abriu a porta e por ela mesmo entrou, primeiro permaneci alguns segundos amaldiçoando a vida e somente depois eu fui atrás, ainda receosa de acabar, sei lá, indo de cara com o resto da árvore.


Mas me surpreendi ao ver que voltamos àquela sala cheia de portas de quando cheguei aqui. — Nossa! Que?


— É por aqui, vamos! - White abriu outra porta.


Ou era a mesma? Não sei, por isso vamos ignorar esse detalhe.

 


  Ao passar pela porta me deparei com um lindo jardim, uma grande roseira imperava na entrada e as rosas que nela cresciam eram vermelhas, mas não pareciam muito naturais, pareciam... Pintadas?
Eu notei que no canto estavam três supostos jardineiros, todos eram altos e um pouco morenos, um de cabelos e olhos azuis, outro de cabelos e olhos verdes e o ultimo, um pouco mais baixo que os anteriores, tinha o cabelo verde e olho azul, eles corriam, se atrapalhavam e discutiam entre si a todo momento, o de cabelos e olhos azuis me notou e sorriu para mim, eu retribui com aceno e ele voltou a seu trabalho, esbarrando em um dos colegas e quase derrubando um jarro.


  Eu estava distraída observando ao redor quando White fez sinal para que eu me escondesse atrás de um arbusto grande e cheio, mesmo sem entender eu fui.


  Quando me escondi notei que vinham dez guardas carregando clavas andando de dois em dois, também vi algumas pessoas, todos eram ruivos e tinham cabelos curtos e bem arrumados.


  Algumas crianças brincavam de pisar nas flores, elas também eram também ruivas e engomadas, percebi que o jardineiro de cabelo verde e olhos azuis apenas encarava a cena com cara de poucos amigos, mas ao mesmo tempo ele não perecia surpreso, havia algumas pessoas diferentes, que não eram ruivas, algumas pessoas tinham a pele mais escura, outras eram brancas como papel, algumas um pouco morenas, todos circulavam pelos jardins tranquilamente e sem se preocupar, White saiu de seu esconderijo quando os guardas passaram e pediu que eu fizesse o mesmo, nós nos aproximamos.


— Temos que ir até a rainha...


— Mas como?


White pegou a minha mão, eu o encarei de um jeito que podia ser traduzido como: "Quem te deu essas liberdades?", ele apenas olhou para frente e mexeu no cabelo, assim prosseguindo com o que estava dizendo:


— Para isso temos que nos misturar. - "E tem que ser andando de mãos dadas por ai?", eu não entendi como faríamos isso, mas mesmo assim o acompanhei, estávamos disfarçadamente indo na direção de uma fonte isolada e não muito distante do ponto de partida, percebi novamente o olhar do jardineiro de cabelo e olhos azuis, mas ele apenas suspirou e voltou a impedir o outro de assassinar as crianças. — Essas pessoas são os convidados da rainha, isso é uma tradição... Mas não é como antes, a nova rainha não lhes dá toda a atenção devida, por isso ela não conhece todos aqui.


— Mas ela te conhece - Lembrei-o quando chegamos perto da fonte, se eu prestei atenção no que minha avó já me disse eu tinha certeza que ele era amigo da rainha ou no mínimo que a conhecia.


— Mas ela não está aqui!


Dava para notar a despreocupação e a felicidade em cada uma das pessoas ali presentes.


— Você sabe tanto sobre isso aqui... Não era pra você estar com eles agora? - Eu perguntei e ele olhou ao redor.


— De forma alguma. – Ele respondeu e seguiu em direção ao fim do jardim, soltando minha mão.

 

 

~ # ~

 

Nós seguimos até um pequeno portão prateado, por onde os jardineiros entravam no castelo, assim que entramos chegamos a uma grande cozinha cheia de pessoas ruivas, que por sorte estavam ocupados demais ou então simplesmente ignoravam a nossa presença.


Ao sairmos da cozinha encontramos um largo e comprido corredor cheio de quadros, todos quase iguais, alguns mais retangulares que outros, mas a maioria mostrava fotos da antiga rainha, pelo menos eu supus que era a antiga.


— Onde estamos indo? - Perguntei mordendo os lábios, aqueles quadros já estavam me dando agonia, parecia que aquela mulher estava me encarando.


— Ao calabouço... - White respondeu olhando em volta, estávamos finalmente no fim do corredor. — Vamos não temos tempo!


O segui até uma sala cheia de portas em suas laterais, entramos por uma dessas e chegamos a uma pequena biblioteca, White foi até uma das prateleiras e retirou um grande livro vermelho, a princípio nada aconteceu, mas então a prateleira deslizou para o lado, revelando uma escada em caracol que levava para baixo.


— Uau! - Exclamei impressionada, White observou ao redor e depois me encarou como se fosse me esfolar.


— Isso mesmo! Vamos, grite mais alto, assim todos vão saber que estamos aqui! 


— Chato! - Sussurrei.

Nós descemos a escada e nos deparamos com uma grande cela vigiada por dois guardas de plantão:


— O que vamos fazer?


— Não saia deste mesmo lugar, entendido? - Eu concordei e ele foi em direção dos guardas.


— Ei vocês! - Gritou e os homens apontaram suas espadas para ele, White segurou o relógio de bolso que sempre carregava e apertou um botão, inicialmente nada aconteceu e os guardas correram para atacá-lo, porém logo em seguida seus passos começaram a divagar e de repente eles ficaram extremamente lerdos, exatamente como aconteceu com Lebre, White pegou sua espada e, com um golpe, acertou o primeiro guarda no coração e logo fez o mesmo com o segundo.


Ambos caíram no chão, agonizantes e começando a ficarem cobertos pelo próprio sangue...


Estremeci quando seus sinais vitais desapareceram.


— Vamos! – White disse simplesmente.


—Mas... – Eu não conseguia parar de encarar aquelas pessoas. —Mas...


—Era eles ou a gente!


Eu fui passando pelos corpos sem conseguir encará-los — Isso foi mesmo necessário? Que horror!


White retirou uma chave e destrancou a cela que dava para o corredor.


— Você tem uma chave para tudo? - Perguntei chocada, ele apenas suspirou e levantou uma chave prateada que acabara de usar.


— Chave Mestre!


Pelo menos para uma das minhas dúvidas houve resposta, que enorme avanço.


Apressadamente entramos e passamos direto por outras celas do caminho, até que chegarmos a uma porta principal.


Nós dois nos encaramos por um momento e a abrimos, encontrando uma sala um quase totalmente escura, iluminada apenas por tochas e mesmo assim não o suficiente, na sala não tinha nada além de outras duas grandes celas.


White começou a caminhar na direção de uma delas, mas a porta se fechou atrás de nós com um estrondo que me fez quase saltar de susto.


Todas as tochas se apagaram sozinhas e pareceu ser essa a vez de White amaldiçoar o mundo.


—Pode parar de show, vossa majestade! Sabemos que está ai.


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