Registro Panorâmico escrita por Titi


Capítulo 32
Conhecendo


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, estou indo à escola. Boa leitura!



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—Hebrom! Hebrom! –ouvi vozes o chamarem.

Ele foi até a rua, eram algumas criancinhas brincando com uma mangueira e pistolas de água... Ai, que inveja. E eu lá, tendo que me contentar com o ventilador do Jamal.

—Posso brincar com vocês? –Salamander pediu, não parava de suar.

—Claro! –uma garotinha de cabelo crespo e chiquinhas emprestou a mangueira.

Ele parece se dar melhor com crianças do que com pessoas da própria idade... Enfim, ele começou a se molhar de uma maneira quase que desesperada, com razão, obviamente. Pra quem tá acostumado com neve, aqui é um forno.

—Qué, vem pra cá! Tenha amor à vida! –me convidou... E é claro que eu fui, não sou nenhuma débil... Ou talvez eu só não seja débil ao ponto de recusar.

Hebrom mal me viu saindo da casa e começou a esguichar água em mim. Então eu me sentei no chão e comecei a esfregar os olhos.

—V-Você tá bem?... –disse chegando mais perto.

Tentei tomar a borracha da mão dele rapidamente, mas ele já estava com ela atrás das costas. Então me afastou.

—Depois diz que confia em mim!... –resmunguei.

—Opa, opa, opa! É uma situação muito diferente! Estava pedindo para eu duvidar de você!

—Entendi... –levantei, o empurrei e peguei a mangueira. –Que feio... Um garoto desse tamanho não conseguindo controlar a bexiga...

—Hã?

—Olha de novo. –molhei as calças dele.

—Ah, me dá isso daqui! –pegou a borracha da minha mão e começou a molhar a calça por completo. –Pronto! Nem dá pra notar!

—Tá doido, cara?! O seu celular!

—Calma, Qué, ele está lá dentro da casa... Eu acho... –apalpou os bolsos. –Eh, tá lá dentro.

—Vocês são dois crianções. Salamander, quando é que o teu pai vai chegar? Quero ir embora. –Conrad sentou no meio fio da sarjeta.

—Vai sentir o tempo passar bem rápido se não ficar casmurro e se divertir. –falei. –Bem... Então... Pelo visto... Vai demorar bastante pro senhor.

—Falou a menina mais sorridente da escola. –ele virou o rosto, empinando o nariz. Nojeeeeeento. Pode até não ser vadio, mas é nojento... Apesar de estar certo.

—Não briguem... –Hebrom interferiu. –Eh... Falando no meu pai... Como que a gente vai entrar no carro desse jeito?

—Boa pergunta... Seria muito abuso pedir toalhas pro Andreas?

—Isso! Eu vou! –Brom devolveu a mangueira pra uma das crianças e entrou na casa correndo.

Fatos psíquicos de Hebrom

—Ah! Desculpa, Dreas! –lembrei que, comigo lá dentro, o Jamal precisaria secar o chão.

—Não tem problema nenhum! –ele sorriu para mim.

—Se fosse eu entrando na tua casa todo molhado, eu duvido que você secaria o chão com esse sorriso amarelo no rosto. –Conrad falou, olhando pela janela.

—Claro. Diferente de você, ele não fica dando em cima da minha irmã na minha frente e não faz coisas assim de propósito. Não se preocupe, Brom, deixa que eu seco. –Dreas se esforçou pra pegar o pano de chão.

—Nem pensar! Deixa isso comigo! Eu que fiz a besteira, eu que resolvo. Você não vai conseguir se abaixar assim. –peguei o pano.

—Você tentando dar um jeito no aguaceiro só vai deixar a casa ainda mais inundada, sua anta. –tentei não levar o insulto de Conrad pro lado pessoal... Não queria ficar triste num momento tão alegre do meu dia. Ele aparenta mal-humorado... Espero que ele não esteja aborrecido com algo muito grave. Queria poder ajudar... Não sei como. Vou passar a orar por ele também.

—Ah... Eu espero me secar. Vai demorar menos do que esperar a Mical... Chial... a irmã do Jamal chegar... –esqueci o nome dela outra vez.

—Chantal, incompetente, Chantal é como ela se chama! Você é esquisitinho mesmo, hein? Não consegue nem lembrar o nome de uma garota que nem ela. A tua “franguinha” tem um corpo bonitinho, mas não chega aos pés daquela deusa!

—Tá vendo só, Hebrom?! Era um dos motivos de eu não querer esse garoto na minha casa. Não tem o mínimo de respeito comigo e com a minha irmã! –Andreas desgostou.

—O exterior das pessoas é a coisa que menos faz elas serem marcantes pra mim. Além disso, eu acho o corpo da Quésia o mais bonito do mundo. –retruquei.

—Ai, que bonitinho! Não precisa bancar o príncipe montado no cavalo branco, não, a tua pobre coitada não tá por aqui. Vai falar que você não pegaria a irmã do paraplégico? Você é muito clichê com a Quésia, sabe? Chega a dar dó. Ela vai acabar enjoando de você, todo certinho desse jeito.

—Desculpe, mas eu penso que antes clichê do que mulherengo e desrespeitoso... Eu amo Quésia, é a única menina que despertou meu interesse até hoje, e não mudaria nada nela. Se ela quiser mudar, tem que ser por livre e espontânea vontade. Mas mesmo assim eu continuaria amando.

—Ui, ele sabe o significado de “mulherengo”! Parabéns, gringo! Tá ficando menos idiota... Pelo menos pra Português. Agora dá licença, esse teu discurso comovente me deu vontade de chorar. –Conrad saiu de perto da janela e voltou para a calçada.

—Não dê importância a ele, Brom. Sempre foi chato assim mesmo... Você sabe. Eu já devia ter entendido que ele só aceitou teu convite pra vir pra cá por causa da Chantal. –Jamal suspirou.

—Desculpe de novo... Não queria te aborrecer.

—Que isso, você não aborrece, cara! Só a ferrugem ali fora...

—Ferrugem?...

—Deixa pra lá. Bem... Por que você veio correndo daquele jeito antes de entrar?

—Ah! Eu já ia esquecer! É que eu e a Qué queremos toalhas emprestadas... Eu posso...?

—Claro, eu tenho umas novinhas aqui. Não precisa nem devolver.

—Tem certeza?

—Você sabe como eu fico quando você recusa uma gentileza minha, Hebrom.

—Desculpe.

—Chega de desculpas, eu vou lá buscar. –virou a cadeira de rodas.

Já lá fora, eu entreguei uma a ela.

—Tem cheiro de nova... E sabão. –Quésia afundou o rosto na toalha.

—Ahm... Qué?

—Qual o problema? –me olhou como se estivesse com tédio. Fiquei com receio de perguntar o que queria e ela continuou... –Vamos! Fala!

—Você... acha que vai enjoar de mim?

—Ahhhh, garoto! De novo essa história?! Que saco! Achei que fosse alguma coisa mais importante... –ela parecia desapontada e um pouco estressa.

—N-Não! Não foi isso que eu quis dizer!

—Mas foi isso que você disse.

—Eh... Foi, mas... Ah, sei lá... Você me acha feio?

—Feio? Mas o quê? –colocou a toalha em cima da cabeça.

—Sim, tipo, você sabe... Eu sou muito branco. Pareço um doente... Saiba que eu já tentei trocar de cor!... Mas quando fico exposto ao sol, só muda pra vermelho! Não sou assim por vontade própria, sério!

—Hã? Pois é, você é mesmo MUITO branco... Parece até que usa um monte de pó de arroz... Mas você tá achando que eu sou racista?

—Então... Se não é isso... O quê? Meu cabelo? Ah... Já sei... São meus olhos, não são? Eles são muito estranhos? E-Eu posso usar lentes! É só eu...

—Tá maluco?!

—Então o que foi? Se não é a minha aparência, o que tem de errado? Você gosta de meninos populares? Eu posso voltar a ser popular! Mesmo sendo bem mais difícil ficar conhecido nessa escola sem fazer besteira...

—Hebrom!

—O quê?

—Por que você tá perguntando essas coisas? Alguém te rejeitou?

—Não... Ainda não... Quésia, por que você não quer ter um encontro comigo? –quando perguntei, ela parou de secar o cabelo e seus olhos ficaram arregalados. Nem deu tempo de meu rosto hesitar em ficar corado.

—Quem disse que não...? –falou num tom baixo. A Qué detesta mesmo esse negócio de relacionamento, mas não deixa de parecer que ela quer um. Não sei se posso ficar feliz com isso.

—Isso é um “Mas eu quero”?

—É! –sorriu.

—Legal! Vai ser ótimo poder conhecer a minha amiga melhor! –a abracei, só que a reação que ela teve não foi uma das melhores. Foi meio que de espanto com um pouco de “Você é demente?”.

Será que eu fiz direito? “Encontro” é a palavra certa, não é? Pelo menos ela aceitou... Passou uma moto muito rápida fazendo um barulho desagradável no meio da rua, então nós fomos pra calçada pra evitar que qualquer coisa ruim acontecesse por causa de automóveis. Sentamos perto de onde o Conrad estava. Ele levantou e foi pra longe, nisso, a Quésia pareceu mais confortável em falar comigo:

—Hm... Quando vai ser?

—Domingo.

—Domingo? Por que tão longe?

—Eu preciso me preparar psicologicamente pra isso.

—Bem... Não sei o que pensar em relação ao que você disse... E onde vai ser?

—Surpresa!

—Como eu vou saber a maneira que devo me vestir, criatura?

—Se vista com algo que você se sinta confortável. Você fica bonita de qualquer jeito mesmo.

—É o que você acha? Coitadinho... Não é de ver muitas garotas, né?

—Ah... que isso! –apoiei meus cotovelos nos joelhos e meu rosto nas minhas mãos. –Deus é um artista e tanto, não acha?

—Pra mim, não dava pra falar isso apreciando uma favela... Ou a minha pessoa.

—Haha... Desde pequeno, o meu tio me ensinou a ver o lado bom das pequenas coisas... A gente se acostuma com tudo de maravilhoso que acontece ao nosso redor que acabamos achando “normal”. Você estar respirando agora, pra mim, não é uma coisa normal... Tanto que estudiosos e cientistas vivem tentando achar quem ou o que é o causador disso e como ele ou aquilo conseguiu.

—Você não perde a oportunidade de filosofar...

—Oportunidades servem pra ser usadas, não? –ri.

Depois de um tempo conversando, meu pai chegou de carro. Conrad sentou no banco da frente e fomos. Logo na primeira curva, meu pai perguntou:

—Não estão esquecendo nada?

—Ah! A revista da Qué e o meu celular! –lembrei.

—Vou lá dentro buscar. –Quésia saiu do carro e correu.

Fatos psíquicos da Quésia.

Entrando na casa, eu encontrei Jamal jogando xadrez sozinho.

—Olá! O que houve? –falou olhando para mim.

—É que... Nós deixamos alguns pertences e...

—Ah, sim! Verdade. –o garoto pegou a revista que estava na mesinha e me entregou. –Tem alguma outra coisa, certo?

—O celular do Hebrom.

—Isso eu não sei onde está... Mas eu posso descobrir se quiser.

—Não precisa! –não era meu desejo que ele se matasse de buscar o item. Ainda mais porque ele é... Você sabe...

—Eu consigo encontrar. –Andreas discou um número em seu telefone fixo e deu pra ouvir o toque do aparelho. Estava ao lado do sofá, quase indo para debaixo do mesmo. O peguei.

—Obrigada.

—Sem problema.

—Você está sozinho aqui...? Se quiser, eu peço ao pai do Salamander pra deixar a gente aqui por mais um tempo... –fiquei com pena de vê-lo largado daquele jeito. Eu sei bem como é isso...

—Agora sou eu quem diz “Não precisa”! –sorriu.

—Mas você parece...

—O que você tá fazendo aqui, garota?! –Carter entrou pela porta da frente e me olhou com certo desdém. Disse “garota” como se fosse um insulto. Eu realmente não entendi.

Quando ela percebeu que o Andreas também estava na sala, pareceu estar arrependida.

—Vim buscar algumas coisas que esqueci, mas já estou de saída. Até mais, Jamal. –falei e fui me retirando.

—A-Até! Desculpa o jeito dela, é que vamos ensaiar nossa parte do coral e pelo visto, ela está estressada...

—Não estou estressada. Estou ótima. –ela sentou no sofá. Hoje os ruivos do mundo tiraram o dia pra me odiar.

—Que seja... Tchau. –fui pra fora.

—Achei que você tivesse mudado! –Jamal comentou. Eu não quis ouvir isso de propósito. Ele disse bem na hora que e estava passando pela janela da casa.

E como eu não queria ficar ciente de mais nada e muito menos me meter, voltei pra onde eu tinha saído.

No carro...

—Pai, eu chamei a Quésia pra um encontro e ela aceitou! –Salamander falou sorrindo.

—Caramba, que legal filhão! –Ramon sorriu de volta.

Ahm... Ele podia esperar eu chegar na minha casa pra contar isso com essa empolgação toda. Mas até que eu gostei de presenciar aquilo.

—Você comemora isso na frente dela, seu abestado? –Conrad virou o rosto e revirou os olhos para o garoto.

—O Hebrom é tão direto quando se trata de sentimentos que nem tem motivo pra ficar abismado assim. Acredita em mim, Conrad, eu sei disso muito bem. –o pai do garoto se divertiu.

—Ah! Antes que eu esqueça! Aqui! Abra quando chegar em casa. –Salamander me entregou um embrulho. Era a tal Bíblia que ele havia mencionado.

Brom parecia estar muito contente por eu ao menos aceitar. Não sei se devo ler... Mas eu quero. Como eu já disse, li todos os livros que existem naquela casa por causa do tédio. E até hoje eu estou curiosa pra saber como acaba a história da judia lá que virou rainha.

Chegamos à porta de onde eu moro. Antes que eu saísse do carro, Salamander chegou perto de mim e sussurrou:

—Obrigado por não ter recusado sair comigo... E muito menos o presente.

—Ahm... Que nada. Pra isso que servem os amigos, certo? –entrei na pilha, ironizando o fato dele só falar de amizade e deixar de me corresponder quase que o tempo todo... O “porém” é que o ser não captou o que eu quis dizer. Ele fez um carinho no meu rosto e segurou a porta do carro pra mim.

Para ser bem verdadeira, acho que era eu quem não estava entendendo. A cada momento parece que os sentimentos dele em relação a mim mudam... Ramon deu a partida e Hebrom acenou pra mim, como geralmente faz. Entrei em casa e fui logo terminar o trabalho de Artes.

         Fatos psíquicos do Hebrom

         Cheguei em casa e o Wendy já estava usando o meu computador.

         –Haha! Chegou em boa hora, aibou! Vem conhecer minha namorada! –virou pra mim e parecia muito feliz.

         –Namorada? Incrível! Desde quando vocês estão juntos?

         –Desde alguns minutos.

         –E... Onde ela está?

         –Ela foi ajudar a mãe na cozinha e já volta.

         –A mãe dela ou a minha mãe? Ah...Você trouxe a mãe dela pra cá também? Poderia ter me avisado...

         –Não, eu não trouxe, baka! Eu estou falando com ela por um software, só dá pra ouvir a sua voz.

         –Ah, tá. Oi, namorada do Wendy! –acenei.

         –NÃO, CARA! Não entendeu o que eu acabei de dizer? Ela não pode te ver, só dá pra ouvir a voz e ela está na cozinha com a mãe.

         –Ah... Desculpe. Como ela é então?

         –Eu esqueci de perguntar...

         –O que? Você só conhece ela virtualmente?

         –Uhum.

         –Isso é perigoso, esqueceu?

         –Relaxa, ela é de boas. E mora bem perto daqui. Tem 15 anos. A conheci num MMORPG. Ela é  gamer e otaku. Perfeita!

         –Otaku? Mas o feminino de “otaku” não é “otome”?

         –NÃO, NÃO É!

         –Na pesquisa que eu achei quando estava tentando entender o que você diz, apareceu que...

         –A PESQUISA ESTAVA ERRADA!

         –Ah... Tá bem... Não precisava gritar... Enfim, você sabe que não dá pra ter certeza! E não é saudável. Você prometeu que iria parar com esse tipo de coisa. Eh.

         –Fica calmo, a gente já conversa faz um tempo. Sabia que as possibilidades dela estudar na nossa escola são altas?

         –Eu não sei não, Wendy... Mas... Já que é assim tão simples encontrar com ela, promete que vai fazer isso o mais rápido possível?

         –Tá, aibou, fica calmo.

         –E também que vai contar aos seus pais, pedir autorização e falar que precisa que um deles vá junto?...

         –Aí já é demais, cara...

         –Promete?

         –Aff... Prometo, prometo. Agora vamos falar de você, enquanto a Akuma-chan não volta.

         –Akuma?

         –É um apelido. O nick dela é “PinponAkumaChan”, dá pra ver que é uma coisa bem boba, não tem nada a ver.

         –O que não tem nada a ver? O que significa esse apelido?

         –Tipo... Mais ou menos... “É isso aí, demonete!”...

         –O que significa “demonete”?

         –Ah, Salamander, cala a boca. Ou melhor, vamos falar de você e a Cortês.

—Tá!

Então eu comecei a falar, falar, falar, falar tudo nos mínimos detalhes. Eu estava muito feliz e não conseguia parar de sorrir. Então o Wendel disse:

—VOCÊ CHAMA A GAROTA PRA SAIR E LOGO DEPOIS A CHAMA DE AMIGA?! VOCÊ É RETARDADO MENTAL?!

         –Por quê?...

         –COMO ASSIM “Por quê?”? VOCÊ É LERDO?

         –Qual o problema de chamá-la de amiga? Pra mim, amizade é uma coisa muito importante...

         –Claro que é importante, meu caro... MAS NÃO SE DEVE FICAR EXALTANDO AMIZADE QUANDO SE QUER ALGO MAIS! AS MULHERES SÃO CRUÉIS, HEBROM! JÁ TE DISSE! ELAS SÃO AS QUE MAIS COLOCAM PESSOAS NA FRIENDZONE!

         –O que é isso? Zona amiga...? Hã? É ruim?

         –SE É RUIM?! É O PIOR LUGAR QUE EXISTE! SE EU ACREDITASSE EM PURGATÓRIO, EU PODERIA AFIRMAR COM TODA CERTEZA DE QUE É A FRIENDZONE!

—Não entendi muito bem... Com isso você quer dizer o que?

—LÁ É UM LOCAL ESCURO EM QUE VOCÊ ASSISTE A QUÉSIA AMAR OUTRO CARA E AINDA TE CONVIDA PRA SER O PADRINHO DELA, ENQUANTO DIZ QUE SUA AMIZADE É MUITO IMPORTANTE! SOMENTE amizade. ENTÃO VOCÊ MORRE SOZINHO E CHORANDO, PORQUE DO JEITO QUE EU TE CONHEÇO, VOCÊ NÃO VAI CONSEGUIR SAIR DA FOSSA! –ele não parava de berrar.

         –Não! –entrei em desespero. Eu já estava quase chorando. A Qué poderia fazer uma coisa tão horrível assim comigo?... Estou com medo.

         –SIM! PODE APARENTAR COMO TERRORISMO, MAS É SÓ A VERDADE! ACEITE A VERDADE!

         –Eu não agüento...

         –Daarin, tadaima! Com quem você tá gritando? –era a Akime, Akumo, Akoma, não me recordo. A namorada dele. A voz dela era fofa!

         –Okaeri... Com aquele amigo que eu te falei. –Yamada respondeu.

         –Ah, mas pelo que você disse, ele parecia tão legal... Não briga com ele não!

         –Legal ele é... Mas ele está friendzonando a garota que ele gosta!

         –HÃ?! HEBROM, VOCÊ É RETARDADO MENTAL?! –até ela gritou comigo.

         –Olhem pelo lado bom... –tentei me defender.

         –NÃO TEM LADO BOM! –os dois falaram alto ao mesmo tempo.

         –Tem sim... Vocês dois combinam... –dei um sorriso meio triste, olhando o chão.

         Wendy me olhou como quisesse apagar todos os brados que deu no meu ouvido.

         –Não dá pra ficar irado com você por muito tempo... Desculpa ter te tocado o terror, aibou. –ele me abraçou.

         Eu estava com uma vontade enorme de me trancar no quarto e chorar bastante, só que Deus não gostaria, então me tive que me conter. Vou fazer do jeito que Ele pede. Vou conversar diretamente com a Qué. Já passou da hora de dizer a verdade. Mas... E se ela me achar mal educado por falar sem ter perguntado? Acho melhor esse conflito interno ficar só entre mim e Ele por enquanto. Talvez no encontro ela me pergunte, não é? Ou eu posso perguntar se ela quer saber... Eh! Isso! Vou perguntar amanhã.

         Outra coisa que tem me deixado muito preocupado é aquilo de jugo desigual... Pensei nisso diversas vezes e tenho orado constantemente pra que eu pare de amar a Quésia se isso não for da vontade dEle.  Por que ela tinha que aparecer na minha vida justo agora? Eu gosto bastante dela. Mas conseguir alguém pra ficar do seu lado pra sempre não parecia tão difícil antes dela aparecer. Se bem que, tudo parece muito mais fácil quando você não participa. Não tem as sensações de quem está vivendo a ocasião. Você pensa que as suas reações seriam as mais sensatas do mundo, porque é aparentemente um problema fácil de lidar. Até você ter que enfrentar aquilo tudo sozinho.

         Não pediria pra chover e o meu algodão ficar seco... Mas... Eu não posso negar que quero um sinal. Porque isso é mesmo complicado pra se ter certeza e em tão pouco tempo. Então foi isso que eu fiz. Apenas pedi. Mesmo não merecendo ser atendido... Pedi. Tenho fé de que algo vai acontecer.


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