Registro Panorâmico escrita por Titi


Capítulo 10
Organizando pensamentos


Notas iniciais do capítulo

Seria tão melhor se as pessoas buscassem a verdade ao invés de sair deduzindo tudo.



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Fiquei emburrada até chegar em casa. Finalmente o meu irmão perguntou:

—Por que tá com essa cara?

—Com que cara você ficaria se fosse uma menina e o único garoto de quem achou que fosse gostar depois de um tempo preferisse o garoto que te chamou pra sair?!

—Ér... Não entendi.

Fui pro meu quarto batendo o pé e fiquei acordada até tarde com o celular na mão, esperando uma certa pessoa me ligar e dar explicações. Só que foi um desperdício de esperanças. Estava arrependida de um monte de coisas, inclusive não ter aproveitado pra ser atropelada no primeiro dia de aula. Após horas encarando meu celular, eu dormi. Pois é, eu sou bem desocupada.

Ouvi alguém me chamando pra acordar, mas a voz não era do Edgar.

—Quésia... Desculpe te acordar... –o Hebrom estava ajoelhado ao lado da minha cama. –Mas... Você não está meio velha pra dormir com a luz acesa?...

—Hã? –foi estranho ele não ter dito nada sobre o monte de bichos de pelúcia que eu tiro do armário o jogo no chão pra dormir à noite... e nem sobre fato de eu estar chupando o dedo. – Quem deixou você entrar? Não sabe bater? E o que você tá fazendo aqui? É perseguição essa bagaceira?

—Seu irmão me deixou entrar. Na verdade eu bati na porta sim, você continuou dormindo. E... E hoje me deu vontade de ir contigo até o colégio... –ele corou. Vê-lo com vergonha me deixa com vergonha. Mil tretas. –Não sei se dá pra chamar isso de perseguição... Deve ter algum outro nome em português.

—Você não tinha que levar sua irmã pra escola dela?

—O Zacur foi por mim. Como ontem... Ele não costuma fazer isso porque sempre acaba brigando com ela. –Hebrom coçou a cabeça e riu. –Minha irmã tem um igualzinho a esse! O dela se chama Sr. Feffer. Qual o nome do seu? –ele pegou meu guaxinim de pelúcia.

—Não tem nome...

—Como não? Todo mundo precisa de um nome.

—Então escolhe você.

—Certo! Esse vai ser o... O... Mr. Pendleton.

—Mr. Pendleton?... Tá, né... Criativo. –meio que eu ri. –Quando eu vou conhecê-la?

 –Quem? Minha irmã? Não sei... –disse sacudindo o guaxinim. – Ela também quer te conhecer.

—Falou de mim pra ela?...

—Sim... Desculpe.

—Sem problemas. –esqueci de parecer brava com ele.

—Você deve me achar um peteta.

—Quer dizer “pateta”? –a minha correção deixou a cara dele completamente enrubescida.

—Isso... Eh... Desculpe por ter... Ter ficado com ciúmes.

—Ciúmes? –pelo o que estava parecendo, tudo que ele fazia levava uma interpretação errada minha.

—É... De você e do Folk... Não queria que você deixasse de ser minha amiga pra ficar com ele.

Amiga... Não sabia que ele já me considerava tanto assim, pra variar.

—Então era isso?!

—O que pensou que fosse?

—Nada... –me senti mais besta que o normal.

Meu irmão arrombou a porta nesse mesmo minuto:

—Acabou o tempo pra conversinha! Quésia, vai se arrumar pra escola. Vai todo mundo ficar atrasado. Tenho que trabalhar e sou eu quem te sustenta. –ele estava com pressa.

—Vou te esperar lá embaixo. –o Salamander falou e saiu.

—Por que deixou ele entrar aqui?

—Ele pediu. Eu também não ia deixar o garoto plantado na porta depois que acordou muito mais cedo só pra te visitar antes da aula. Obviamente ele vai com a gente no carro. Se arruma e se comporta.

Tomei banho, vesti qualquer trapo e escovei os dentes. Não tinha a menor vontade de sair de casa nesse dia. Os dois já estavam no carro. Eu iria abrir a porta da frente, mas aí o Edgar tinha que criar uma razão pra discutirmos.

—Senta no banco de trás. –começou falando estridente.

—Não! Por quê?! –tudo o que eu menos queria era ficar perto do Hebrom e que ele percebesse que to toda esculhambada.

—Você é muito nova! –o Salamander logo virou a cara e ficou olhando pra rua pra continuar no canto dele, sem se intrometer.

—E daí? Eu sempre fui na frente e nunca deu problema! É a partir dos dez anos! Eu tenho catorze!

—Tu não quer levar uns tapas na frente do teu amiguinho, quer?

—Você não tem coragem, e mesmo se tivesse, não vai fazer diferença nenhuma! Vou continuar querendo ir na frente!

—Pois bem, meu amor! Querer não é poder! Agora sossega o facho e vai pro teu lugar!

—Eu já disse que não!

—Chega! Vou ser demitido por sua causa! –Edgar saiu do carro e me empurrou pro banco traseiro. Acabei esbarrando no Salamander.

—Foi mal... –me afastei. –É QUE CERTAS PESSOAS COMEÇAM, POR ALGUM MOTIVO ESTRANHO, A SEREM MAIS IRRITANTES QUE DE COSTUME QUANDO ESTÃO PERTO DE OUTRAS CERTAS PESSOAS! –indireta enviada com sucesso.

—A CULPA NÃO É DAS CERTAS PESSOAS, JÁ QUE ELAS SÓ QUEREM QUE SUAS IRMÃS MAIS NOVAS SEJAM EDUCADAS QUANDO ESTÃO NA FRENTE DE OUTRAS CERTAS PESSOAS! –ele foi pra escola correndo. O Cortês costuma fazer isso quando está atrasado e cuspindo fogo.

Meu irmão ainda estava com ódio quando chegamos. Então ele não disse “Tenha um bom dia.” ou coisa do tipo. O máximo que eu consegui fazê-lo falar foi “Vê se volta pra casa um pouco menos burra.”.

—Você poderia ser um pouco mais compreensiva com seu irmão... Só acho. –Hebrom andava do meu lado.

—Eu sei... Mas o Edgar me tira do sério! Ele só age desse jeito quando você tá perto. Quando você não tá é um pouco menos pior. Isso me perturba! Ele é um falso!

—Não exagera... –ele abriu o armário.

—E aí, gente? –a Ágata apareceu junto com o Wendel e o melhor amigo dele, o vídeo game.

—Como foi o castigo? –sorri pra ela.

—Não foi. Eu pulei pela janela enquanto não olhavam. Mas aí, tudo certo com vocês?...

—Ei, Quésia Cortês! –alguém chamou, eu não me preocupei em olhar.

—Qué... Tem uma coisa te chamando. –Ágata me cutucou com uma expressão meio que “Eca”. O Salamander viu quem era e suspirou de olhos fechados.

—Não é comigo. –respondi encarando meu armário fechado.

—Você me escutou?! –o Folk. Puxou meu braço, me fazendo olhar pra aquela cara de lixo que ele tem.

Ágata não fez nada a respeito, por não querer ficar na detenção de novo. Já o Salamander aparentava estar segurando as pontas pra não colecionar os dentes dele. Mas só aparentava mesmo.

—Ah... Então é você. Não me arrependo de não ter atendido. –eu estava cansada e com tédio, pois é, de novo.

—Deixa o seu charme de segunda pra depois. Você me deve explicações.

—Não devo não.

—Prevejo barraco. –não parecia, mas o Yamada prestava atenção em tudo e até se intrometia também.

—Claro que deve! Porque furou comigo ontem?! Eu fiquei te esperando a noite inteira.

—Acha que vou fazer tudo o que você quiser só porque as antas da escola te acham bonito? Eu não pedi pra você me esperar. Eu não disse que iria pra essa festa. Eu também não admiro garotos mimados que bancam os bad-boys e na verdade são uns frouxos. Tá de bom tamanho, ou ainda devo essas explicações? Você parece ser tão bocó que não consegue entender.

—Head shot... Botou moral. –o geek finalmente deu pause no jogo pra olhar o rolo.

—Nossa... Depois dessa eu ia pra casa dormir. –a Raitz queria botar lenha na fogueira. Deu pra notar que queria que eu batesse no Folk por ela.

—Foi mal... Parei de ouvir na parte de “te acham bonito”. –ele mordeu o lábio inferior.

—Tem vergonha na cara não? –questionei.

—Não, só beleza mesmo, princesinha. –a coisa botou a língua pra fora.

—Depois diz que não sabe por que repetiu o ano letivo três vezes seguidas. Além de burro é egocêntrico... Eu não aguentaria ficar presa numa sala com ele. A sorte que eu saí do castigo, senão, só tua mãe pra te achar bonito depois do estrago. –deu pra ver uma veia na testa da Ágata enquanto ela falava.

—Tá, tá, ninguém se importa. Mas o negócio é o seguinte: sou EU quem chuta as garotas. Não o contrário. Eu te dei a maior bola, e você não ficou nem aí. O que tem de errado com você?! Já percebi que se faz de difícil, mas tá passando dos limites, garota! To começando a ficar sem paciência. –Folk apertava ainda mais meu braço.

—Não estou nem um pouco desesperada a ponto de querer sair com você. –o fiz me soltar.

—Ai, meu kokoro... Double kill! Turn down for what?! –Wendel botou a mão no peito esquerdo.

—Fica longe de mim, eu já tenho idiotas suficientes na minha vida. –dei as costas e fui pra sala de aula.

—Por mim, não tinha necessidade disso... Desculpe. –o Hebrom disse ao Folk e foi pra sala comigo. No caminho eu vi aquela mesma criatura de cabelo roxo. Ela assistia tudo de longe. Isso me fez concluir que nos próximos quinze segundos todo mundo da escola já ia saber o que tinha acontecido... E provavelmente, de uma forma completamente distorcida.


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Notas finais do capítulo

Alguém dá um óculos escuro pra essa menina...
Pessoas, comentem, por favor! Eu gostaria muito de receber esse sinal de vida de vocês. É um grande incentivo pra mim!



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