Cartas para Harriet escrita por Ahelin


Capítulo 2
Cambridge, 11 de junho de 1915


Notas iniciais do capítulo

Hay!

E aí, tudo bem?
Essa é a primeira carta que o Luke escreveu.
Além disso, é a primeira vez que escrevo algo assim, então qualquer dica será muito bem-vinda!

Espero de coração que goste :3
Até lá embaixo o/



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Querida Harriet,

O último mês passou tão rápido que não encontrei um tempo para lhe escrever, mas ainda assim tenho a impressão de que cada segundo sem suas risadas preenchendo o silêncio desta casa rastejou como as lagartas do jardim.

Bom, talvez eu devesse culpar menos o pobre tempo, que não faz nada de errado além de passar. A grande verdade é que estive sem inspiração, porque queria que tivesse nessas cartas um pequeno sabor de casa, mas hoje decidi que vai ter em vez disso um sabor de mim, seu delicioso marido!

Por onde começar? Planejei tanto o que escreveria e agora estou com as mãos suando de nervosismo, como pode perceber pela letra trêmula.

Antes de mais nada, quero lhe fazer saber o quanto você faz falta. Sim, tenho tomado os banhos e lavado atrás das orelhas, mamãe! Mas também aprendi que é muito difícil subir na cama sozinho e dormir sem o cheiro da sua colônia (esse segundo problema eu já resolvi, na semana passada, borrifando um pouco nos cobertores. Não me julgue, desde então tenho sonhado com você todas as noites e é muito reconfortante).

Dito isso, vou contar um pouco de como vão as coisas na vizinhança. Não são raros os comentários maldosos sobre mim. O mais recente foi da senhora Turner, que estava regando suas tulipas quando saí numa manhã de domingo para ver se tudo estava em ordem no nosso gramado.

— Bom dia, senhor Oliviera — começou ela, com um sorrisinho que já me deixou alerta.

— Bom dia, senhora Turner — cumprimentei de volta, enquanto observava sem interesse ela guardar o regador.

— Um lindo dia para se estar em casa, não? — Seu sorriso se tornou cínico. — Uma pena que sua esposa não possa estar aqui para vê-lo. Ao menos já sabemos quem é o homem de sua casa.

Devo confessar que a fala me magoou um pouco. Não por se referir a você como "homem" da casa — porque nós dois sabemos que você é mesmo! —, mas por indiretamente me lembrar do quão inútil posso ser às vezes.

Ah, querida... Se minhas pernas funcionassem eu caminharia até você e te levaria para longe de tudo isso, não duvide. E deixo, aqui, uma pequena promessa: assim que tudo acabar, nós vamos.

Por outro lado, ao mesmo tempo que pessoas como a senhora Turner me incomodam com essas palavras, desejo que outras façam o mesmo. Quando você descobriu que viajaria, planejamos muito isso: os olhares, as sugestões, as insinuações. A filha dos Jacksons continua a me provocar, e está se tornando bastante desconfortável.

No último episódio, ela saiu correndo descalça de casa, com uma saia que mal chegava a seus joelhos, chorando e alegando ter visto uma aranha.

— Por favor, você tem que tirar ela de lá! — gritava, me puxando pelo meio da rua até sua calçada. Quando viu que minha cadeira não subia o degrau, bufou e bateu os pés no chão. Realmente, uma atitude deplorável para uma garota de dezesseis anos...

— E espera o que de mim? Que eu pise nela? — Tentei sorrir, mas estava cada vez mais difícil ter paciência com ela. — É apenas um bichinho que não te fará mal nenhum. Apenas não a incomode e ela também não irá te incomodar.

Depois disso, ela beijou minha bochecha por mais tempo que o necessário e me despedi apressadamente para poder ir embora.

O que eu faço sobre isso? Se estivesse aqui, poderia lhe perguntar e receberia uma resposta instantânea, mas não é possível por enquanto.

Até agora só lhe contei coisas ruins, sei disso, e deve estar pensando que destruí a casa estando sozinho por mais de um mês. Mas, ao contrário do que dei a entender, não passei todo o tempo sendo ofendido pelas vizinhas e não sendo seduzido por uma moça escandalosa. Na verdade, é uma surpresa pra você. Conto ou não?

Certo, vou contar. Todos os dias, faça chuva ou faça sol, tenho cozinhado algo para treinar e lhe fazer um belíssimo jantar no dia em que tudo isso chegar ao fim. Estive pensando em um ensopado de legumes ou talvez uma torta de frango e cenouras, mas ainda não evoluí das panquecas de banana.

Você gosta de panquecas, não gosta? Porque provavelmente é o que vamos jantar em nosso reencontro. Não ria de mim, cozinhar é difícil!

Ontem mesmo derramei a massa na panela com todo o cuidado do mundo e dez segundos depois, Deus sabe como, tudo voou pelos ares. Não é brincadeira, eu estava tentando inutilmente virar aquilo com uma colher e uma bolha começou a se formar no meio.

— Mas o que é isso? — cheguei a perguntar para a massa que inchava cada vez mais.

— Vai explodir, seu pateta! — avisou a panqueca.

Espere, acho que imaginei essa última parte. Em todo caso, eu gostaria que tivesse mesmo avisado, porque fiquei coberto de massa e tive que limpar toda a cozinha depois.

Gostaria que pudesse ver as crianças da rua brincando juntas, sem nenhuma preocupação. Sabe que não posso ter filhos, meu amor, mas vou dar um jeito nisso. Estive pensando muito no assunto, principalmente depois que você saiu... E se adotássemos?

Vou esperar que volte para que possamos decidir isso com calma, mas a ideia me deixou muito feliz.

Acho que escrevi sobre tudo e nada ao mesmo tempo... Tantas palavras para lhe contar como está a vida sem você, mas a verdade é que ela quase não existe. É aterrorizante não ter suas risadas preenchendo o vazio que insiste em se instalar aqui. O rádio tem sido um ótimo companheiro, embora não me conte o que quero saber; ele fala do avanço das tropas e do desempenho de nossos soldados, mas não do que realmente importa.

O que está acontecendo com nossas famílias? Não posso deixar de notar, há um clima mórbido e seco se instalando em todas as casas. As esposas esperam o pior, os filhos esperam que seus pais retornem como heróis, e eu... Eu apenas espero.

Estou ansioso para receber notícias suas. Como você está? É muito perigoso? Os homens com pernas que funcionam em abundância por aí em seus uniformes de soldado e seus braços fortes deviam me preocupar?

A maior desvantagem em estar casado com a mulher mais linda do mundo é que os outros homens também percebem isso. Fico imaginando como seria se eu estivesse desmaiado e a primeira coisa que visse ao acordar fosse um par de olhos castanhos brilhantes e lábios vermelhos sorrindo para mim. Meu primeiro pensamento seria "estou morto, no céu, e tem um anjo olhando para mim". Já foi confundida com um anjo por algum soldado ferido? Acredito que sim, e isso só significa que a visão do pobre homem ainda funciona perfeitamente.

Mas você sabe bem que estou brincando. Estou casado contigo e confio em minha esposa, não importa quantos homens olharem para ela.

Depois de divagar tanto, termino por aqui. Mesmo que não possa ver, estou sorrindo, e espero de todo o coração que estas palavras possam lhe fazer sorrir também.

Amo você, e sinto sua falta. Sempre seu,

Luke.

P.S: Você ficaria muito brava comigo se eu tivesse adotado um cãozinho que estava perdido na rua? Hipoteticamente falando, claro.


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Notas finais do capítulo

E aí, ficou boa?
Qualquer sugestão, comentário ou crítica construtiva fará minha noite!

Um abraço e um beijo ♡

P.S: Prometo que a história em si tomará forma em pouquíssimo tempo.



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