Os Howard - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 2
Chapter I


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! Capítulo com foco na personagem Charlotte Cattaro, de Aquamarine. Boa leitura.



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Chapter 1

"Ninguém deve ser elogiado pela sua bondade quando não tem força para ser mau."

François La Rochefoucauld

Coer de Pirate - Le Petite Mort

Havia muitas pessoas pelo salão. Até o momento, Charlotte não notara o quão importante o Baile de Claret era. Segurava o braço de papai, embora estivesse querendo largá-lo. A qualquer instante poderá começar a tremer, e isso não poderia ser notado por ele. Entretanto, o duque de Cattaro apenas apertou sua mão levemente, entregando-lhe um sorriso solidário. E isso trouxe forças a Charlotte.

— Senhor de Habsburg e Charlotte de Habsburg. – disse Felipe ao recepcionista, que anotou seus nomes e orientou-os para dentro do salão. Chegaram atrasados, é claro, como pediam os convites que Lady Claret enviara a todos. O baile já começara, e os casais dançavam a primeira valsa. Era uma regra que o cavalheiro dançasse com sua acompanhante, porém papai não gostava de dançar e Charlotte detestava vê-lo rodopiando, com o rosto verde de enjoo, então o perdoava. Eles caminharam por entre a multidão.

O vestido de Charlotte era simples, de um tom claro de amarelo, que realçava seus cabelos louros e os olhos esverdeados. A família tinha bens, muitos bens, e aquela roupa não era a mais extravagante do baile. Mas sua simplicidade se destacava, enquanto o duque conduzia a filha até o espaço para as cadeiras, onde as damas esperariam os solteiros que as tirariam para dançar. Charlotte entendia muito bem que a maioria das debutantes passavam seus primeiros bailes sentadas, apenas tentando se encaixar em todo o cenário. Entretanto mal chegou a metade do caminho, quando quase foi derrubada no chão.

As mãos rápidas seguraram-na pelas costas, quase abraçando-a, enquanto ele próprio tentava manter o equilíbrio. Ou assim fingia. Enquanto a erguia, Charlotte pôde ver um sorriso brincar os lábios do rapaz. Ele soltou-a com a mesma rapidez, pois não seria apropriado tanto contato físico, mesmo que fosse preciso.

— Perdoe-me senhorita, não consegui vê-la. – ele ergueu a mão para tirar o chapéu, mas deve ter-se esquecido de que estava sem. – É tão pequena quanto uma boneca, e se torna difícil de um monstro como eu notá-la.

Sua mão ainda segurava o braço de papai, que observava curioso toda a cena. O jovem ignorava-o, como se o pai daquela dama que ele havia derrubado não estivesse presente. Quanta falta de respeito. Mas Charlotte apenas sorriu e encolheu os ombros, fingindo estar constrangida com tudo aquilo. Ela poderia ser educada e amável, mas com certeza não era burra. Aquele senhorzinho mexera com a debutante errada.

— Pede-me perdão, e mesmo assim afirma que não sou notável. Além de me derrubar, quer também me insultar. – e então suspirou, de uma forma extremamente triste e desanimada. Que fez inclusive seu pai estremecer. – Não foi minha intenção, perdoe-me.

E então ele começou a gaguejar. Perdendo completamente a compostura e a pose de caçador, parecia um simples garoto, com os ombros caídos e as bochechas vermelhas, quase implorando pelo seu perdão, que jamais insultaria uma dama, que fora um completo mal-entendido, que só a queria cortejar...

— Então evidentemente deveria pedir a permissão de meu pai. – disse duramente, quebrando toda a cena da “menina sensível e doce”. O rapaz arregalou os olhos, e um segundo depois seu rosto se encheu de fúria, enquanto uma veia saltava acima da sobrancelha. Sua boca se abriu, mas demorou até dizer algo.

— Não seja tão arrogante! Você nem é tão bonita! – e deu as costas para Charlotte e seu pai. A menina apenas bufou, virando o rosto para o outro lado.

— Arrogante, eu. Ele desrespeita a mim e ao meu pai e eu sou arrogante. Quanta hipocrisia. – murmurou consigo mesma, embora fosse bem fácil para papai ouvi-la. Ou mesmo deduzir o que tinha dito, pois ele apenas riu baixinho e voltou a conduzi-la até as cadeiras.

Quando se sentou, Charlotte notou que vários lugares estavam ocupados, mas a maior parte das cadeiras não tinham jovens esbeltas e de sorrisos cativantes, apenas velhas viúvas e jovens franzinas e sem simpatia ou calor no olhar. Isso a fez se perguntar se teria de dividir aquele espaço por mais algum tempo com companhia tão... peculiar. Quer dizer, ela sentia pena das mulheres que tomavam o famoso “chá de cadeira” nos bailes, mas não queria se tornar uma com elas. Papai novamente entendeu o que se passava em seu interior.

— Vou buscar um suco. – disse e deixou-a.

Pouco tempo depois, Charlotte observava todo o esplendor do salão. Não era à toa que o casal Claret fora escolhido como patriarcas das Temporadas, eles investiam muito naquilo. Mais de mil velhas estavam enfeitando as paredes, em castiçais e candelabros dourados. O teto representava um belíssimo céu de verão, com o azul claro intenso e as nuvens brancas e macias entrelaçando-se aos raios do Sol. Sem pensar muito, começou a avaliar a capacidade do artista. Provavelmente era um italiano, pois o modo como esfumaçava era muito característico dos quadros italianos. Mas com certeza pintar um teto era diferente de pintar um quadro, isso Charlotte tinha de reconhecer. Por outro lado, ele cometera um erro gravíssimo ao pintar pássaros em seu céu, pois a cor escura e sem vida da tinta quebrava toda a suavidade que ele tinha feito entre as nuvens.

— Senhorita Habsburg. – ouviu seu nome ser chamado, com um ligeiro sotaque no “Burg”, que sugeria que fosse alguém fluente em espanhol a dizê-lo. Imediatamente Charlotte ergueu os olhos e abriu um sorriso a dona da voz.

— Sim. Mas, por favor, me chame de Charlotte Cattaro, é meu nome. – e viu que tinha suposto certo. Espanhóis gostavam de chamar as pessoas por seus nomes e sobrenomes, não pelo título, já que isso era um assunto sério e confuso na Península Ibérica.

— É um prazer, senhorita Charlotte. Eu sou Beatriz de Andrade. E este é meu filho, Albert. – e novamente Charlotte notou o sotaque no “Albert”, que deveria ser “Alberto”. Ela não se importava em traduzir nomes, mas achava muito desconfortável ser chamada de “Carlota” pelos portugueses, uma vez que visitou-os junto ao pai. Provavelmente Beatriz também sentia-se incomodada em dizer os nomes de uma maneira diferente. Então deu-lhe um desconto.

— O prazer é todo meu, senhora Beatriz, senhor Alberto. – falou em espanhol, embora tenha escorregado na palavra “prazer”. Todavia se a mulher ou seu filho notaram, não deixaram aparentar, pois abriram um sorriso ainda maior e mais satisfeito.

— És fluente em espanhol, noto. Para mim é muito mais fácil conversar com a língua com a qual fui criada, o inglês me é muito difícil. Que ótimo, senhorita Charlotte.

Charlotte deu graças a Deus pela mulher ter tido a decência de não tentar traduzir o nome dela. Entretanto, viu papai se aproximando, por cima do ombro de Beatriz, e levantou-se imediatamente da cadeira. O que deixou Beatriz um pouco assustada, mas logo imaginou que a garota só queria ser mais educada ao conversar com ela.

— Meu filho gostaria de tirá-la para dançar. – a matrona disse, sem rodeios. O que deixou Charlotte realmente impressionada. Não esperava que Beatriz fosse uma das mães casamenteiras. Mas Alberto também não esboçou qualquer reação, o que dizia que ele estava acostumado com aquelas decisões da mãe.

— Ora, dançar seria muito bom. – papai disse, colocando-se ao lado da filha. – Sou Felipe Cattaro, pai de Charlotte. E a senhora...?

— Beatriz de Andrade – ela fez uma cortesia rápida.

— Claro, Beatriz! Ouvi muito sobre sua família na Espanha. Soube que estão migrando para a Colônia.

— Se chama Brasil, não colônia. Não mais. – Beatriz deu de ombros. – Mas são apenas os vagabundos. Os que não querem trabalhar, vão para lá afim de escrever e entreter os latifundiários das cidades grandes.

— Não imaginaria que fazendeiros morassem em cidades.

— Eu também não. – Beatriz revirou os olhos, visivelmente irritada com o assunto. Felipe sorriu amavelmente, compreendendo, e se virou para a filha. Disse-lhe “pode ir”, e Charlotte segurou no braço de Alberto, que a guiou para o centro do salão. Torceu para que papai não irritava ainda mais a senhora de Andrade, ela não parecia muito bem.

Mas antes que pudesse continuar o pensamento, Charlotte parou em frente ao rapaz, colocou uma mão em seu ombro e com a outra segurou-o pela mão e começaram a dançar timidamente, de um lado para o outro. Charlotte tinha grande experiências com danças e com parceiros de dança. Sabia que muitos preferiam permanecer em silêncio até que a dança acabasse, outros tentavam aproximá-la a força, fingindo que iam apenas conversar sussurrando no ouvido um do outro. Alberto fazia parte do primeiro time.

— Onde aprendeu espanhol? – ele perguntou, de repente, após os primeiros dois minutos. Isso incentivou Charlotte a sorrir gentilmente e a aproximar-se um pouquinho mais dele.

— Quando era menor, papai viajava muito por causa dos assuntos da família. Os Habsburg, sabe, somos uma família grande e cheia de problemas. Mas isso me proporcionou grande oportunidade para aprender mais coisas. Passei alguns meses na Espanha, o suficiente para aprender o básico.

— Você evidentemente fala muito mais que o básico. – ele ergueu uma sobrancelha, ainda sem acreditar nela.

— Eu aprendo rápido. – foi a única coisa que poderia dizer, pois era a verdade. Mas sabia que quase nenhum homem a aceitaria, pois simplesmente não combinava com uma mulher “aprender rápido”.

— Entendo. Eu gostaria de aprender rápido também. Digo, matemática. Minha mãe insiste que eu preciso ser um homem de estratégias, mas me anima muito mais ler e escrever poesia, a resolver os problemas da finança da família. – ele suspirou, desanimado.

Alberto não era o rapaz tímido que ela julgara, muito menos arrogante como também supôs. Mas foram conclusões precipitadas e com justificativas muito vagas que ela usara, então perdoou-se. Ele era um garoto bom, em todo caso, e gostaria de seguir a própria vocação para com as letras. Mas evidentemente o fato de parte da família de Beatriz ter fugido para o outro lado do oceano apenas para escrever e entreter os ricos, a irritava muito. Não aceitaria isso no próprio filho.

Charlotte apiedou-se do rapaz.

— Se te consola, eu nunca fui boa em matemática. – e então piscou, amigavelmente. Alberto soltou uma gargalhada pouco elegante, que chamou a atenção de algumas pessoas por perto.

— Não é tão ruim uma mulher não ser boa em matemática. Agora me sinto ainda pior por também não ser.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado de conhecer a Charlotte. Como estou recebendo poucas fichas no momento, vou soltando os capítulos conforme as fichas forem enviadas, a Charlotte foi a primeira que recebi, então logo já escrevi sobre ela. Mas caso eu receba duas ou três de uma vez, não vou seguir uma ordem. Beijos da Meell, muito obrigada por me acompanhar até aqui ^^