Os Howard - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 13
Chapter XII


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, entrei de férias recentemente e esse capítulo demorou para ser escrito XD Perdão por isso. Mas cá está. Boa leitura.



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Chapter 12

A Thousand Years – Taylor Swift

“Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão par amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?” - Fernando Pessoa

Ato II

Não sabia mais o que fazer para afastá-la de seus pensamentos, conforme se revirava na cama. Eram pensamentos sujos para se colocar uma dama como Charlotte, mas o que ele podia fazer com hormônios à flor da pele? Sofrer em silêncio, condenando-se por escutá-la sussurrar seu nome enquanto ele próprio sentia-se deslizar os dedos pela curva de suas costas, adornando-a de beijos. Que mais poderia fazer, além de amar às escondidas, escondidas em seu quarto, escondidas em sua mente. Em seus sonhos. Que maldição, Deus, livre-me de tal corrupção!

— Droga, Alberto, mil vezes droga! – exclamou, levantando-se de supetão, calçando as pantufas, amarrando o roupão sobre suas roupas de baixo e acendendo uma lamparina que estava sobre a mesa de cabeceira, logo ao lado. Sentou-se em frente a escrivaninha, abriu a gaveta e retirou de lá papel, tinteiro, caneta. Pousou a luz de forma a auxiliar sua visão plena da folha e de suas linhas. Em seguida enfiou a mão dentro do bolso do roupão e tirou de lá uma caixa pequena de cigarros. Acendeu um deles e começou a fumar. – Você tinha de ser um poeta idiota?

Murmurando consigo mesmo, pôs-se a escrever, poemas, cartas, prosas. Palavras que ele nunca mostraria a ninguém, que queimariam antes do amanhecer, ele as jogaria nas chamas, para o esquecimento da inexistência, e teria desabafado tudo o que estava dentro de si no momento. Era uma terapia que havia descoberto ainda garoto, após uma discussão com a mãe sobre seu pouco interesse com o mundo dos números. Queria estudar literatura, e, no entanto, Senhora Andrade não queria sustentar um vagabundo.

Mas desta vez nada saiu. Nenhuma palavra parecia se encaixar para o começo. Algo assim jamais lhe acontecera antes, as palavras eram tão familiares, tão fáceis de manusear, porquê algo assim ocorre justo hoje? Seria a Escócia que não lhe fazia bem? Pressionou as têmporas, tentando exprimir algo para fora da mente, qualquer coisa. Um suspiro que fosse. Mas nem mesmo um fio de sua criatividade parecia balançar. Seria o sono? Não sentia sono, na verdade estava ali justamente por não conseguir dormir. Droga, Alberto, mil vezes droga! O que há de errado com você, que problema é esse, quem você está sendo, rapaz? Primeiro se apaixonando tão facilmente por uma jovem que mal conhece e agora sem conseguir escrever uma palavra sequer? Poemas de amor, Alberto, poemas de amor! São suas melhores obras! E, no entanto, estás aí, morrendo de amores, e de nada isso adianta.

Tinha de planejar uma boa desculpa para passar um tempo com Charlotte, algo em que pudesse envolver tia Vitoria, mas não envolver demais. O que poderia fazer ali, naquela casa que não era sua, com florestas por todo lado? Parou em frente a janela e puxou as cortinas, revelando o nascer do Sol nos longínquos morros, onde o gado já estava pastando, as aves voando em busca de alimento e os homens honestos tocando a vida campestre como sempre fizeram.

O cavalariço dos estábulos estava aquecendo os animais, deixando-os correr, para que estivessem sempre aptos a uma cavalgada durante a tarde, como conviesse aos convidados do Lorde seu Senhor. Imediatamente Alberto soube o que fazer. Era óbvio. O céu se tingia de laranja, amarelo, azul e branco, como uma aquarela, pintada pelos dedos do divino criador, os morros eram verdejantes e a brisa que pelas copas das árvores passava as balançava sutilmente, agitando cada folha com carinho. Quilômetros e mais quilômetros de árvores, onde seria quase impossível mais pessoas passearem na mesma direção. O lugar ideal para levar Vitoria e Charlotte, onde poderiam conversar livremente, e sua tia não precisaria ficar com eles todo o tempo, afinal mais ninguém os julgaria caso conversassem sozinhos. Organizaria um piquenique, sim, passariam todo o dia sentados na relva, rindo e comendo uvas.

— Muito bem, Alberto.

Passou o resto da noite-manhã imaginando como seria seu piquenique com as mulheres, sempre sorrindo quando terminava de contar uma piada que as fazia morrer de rir (figurativamente). Queria que o tempo passasse mais rápido, porém o sol ainda nem brilhava no céu e ele já andava de um lado para o outro no quarto. Poderia descer antes das sete horas? Isso seria educado? Não sabia, nunca dormira numa casa de campo, a que horas as pessoas costumavam acordar? Ouviu um galo cantar, seguido dos gritos de um fazendeiro que jogava grãos às galinhas. Não podia permanecer ali.

Colocou os calções, vestiu uma camisa e o sobretudo, amarrou um cachecol de lã em seu pescoço e botou as botas grandes, afofou o cabelo para que a boina não caísse e por fim vestiu as luvas de couro. Desceu as escadas em direção aos salões, onde os empregados andavam de um lado ao outro, arrumando o desjejum dos convidados do senhor da casa, alguns sorriam para ele quando passavam, outros apenas curvavam a cabeça respeitosamente. Alberto não se importava com toda aquela pompa, em Portugal estes cerimonialismos são dedicados apenas aos nobres de títulos e grandes posses, ele e sua família não possuem muito mais que uma casa grande em Coimbra e Lisboa.

Deixou a casa, esticando as pernas no jardim, enquanto caminhava ao redor da mansão, em busca de algo para se entreter. Era um pouco difícil quando tudo o que podia pensar era em como queria chamar logo Charlotte para ir ao piquenique junto de Vitória. Andou até os estábulos, onde pediu ao cavalariço para que guardasse três cavalos para eles, e explicou que os usariam por todo o dia. Em seguida, foi até as cozinhas e pediu uma cesta com comida para o piquenique, as senhoras todas prepararam rapidamente os pães, mel, leite, maçãs e bolos, provavelmente não entenderam que eles ficariam o dia todo fora, mas Alberto achou suficiente para um dia. Não seria sempre que elas comeriam pão no almoço.

Respirou fundo, seria um bom dia.

º    º    º

— Um piquenique? Na floresta? – Vitoria ergueu as sobrancelhas, assustada. – Mas é perigoso, há animais! E mosquitos! E se nos perdermos?

— Não se preocupe, eu pedi ao cavalariço para que mandasse alguém para ir conosco, assim não nos perderemos. E não há perigos para este lado da propriedade, os caçadores já afastaram todos os possíveis animais que viveriam por estar bandas.

Vitória não parecia convencida, mas se virou para a moça de cabelos louros e olhos curiosos que a observava, esperando uma reação. A menina sorriu.

— Eu não vejo problema, adoraria andar a cavalo, adoro cavalgar.

— Então está decidido! – Alberto se animou, quase soltando um grito de vitória. – Iremos logo, já mandei prepararem os cavalos.

O sorriso de Charlotte aumentou. Havia sonhado com uma incrível noite dançando com Alberto em um baile aleatório, e ai estava ele, pedindo-lhe para passear a cavalo, como se ela não estivesse morta de vontade de montar há dias! Teria de trocar o vestido por um mais despojado, por isso voltou para o quarto com Vitória, que tentava lhe convencer de que haviam encontros melhores que andar no meio da floresta. Sua amiga não sabia de nada.

— Alberto estará lá, para mim é o bastante. – disse, por fim, após trocar toda a roupa e colocar uma capa, um chapéu e luvas.

Esperaram por ele no jardim, sentadas em um dos bancos de pedra esculpida que havia na propriedade, realmente encantadoras, como se fossem bancos que a natureza preparasse. Vitória estava inquieta, com a sombrinha cobrindo o rosto, para que o sol não a queimasse. Alberto segurava as rédeas de dois cavalos, enquanto um rapaz baixo e franzino segurava mais dois. Eles pararam ao lado delas.

— Podem escolher a montaria, minhas senhoras. – Alberto fez uma mesura educada, não antes de dar uma piscadela para Charlotte, que se levantou e tocou o focinho do alazão marrom escuro. Ele cheirou sua mão e permitiu que acariciasse a crina. – Uma boa escolha, é um dos mais rápidos, de acordo com John.

— Qual o nome? – quis saber, olhando para o rapaz.

— Spark.

— É um nome sugestivo – e com isso, num impulso, colocou o pé na sela e montou o cavalo, que não era tão baixo. Alberto piscou, um tanto surpreso com tamanha graciosidade e força, apenas para montar um cavalo. Ela poderia muito bem ter pedido ajuda. Como Vitória, usando as pobres mãos do rapaz como apoio. – Gosto de Spark, ele parece manso mas é bem audacioso – disse, já puxando as rédeas e incitando o animal para frente. Alberto sem pensar duas vezes montou em sua égua e seguiu-a. Vitória e o cavalariço vinham atrás, um tanto receosos de atrapalhar o casal.

A trilha para a floresta começava num arco de pedra, parecia que a Escócia gostava desse tipo de arquitetura naturalista. Charlotte sentiu o vento balançar seu chapéu. Queria tirá-lo e sentir o sol na face, os cabelos ao vento. Mas não podia, uma dama não deve estar sem chapéu enquanto estiver debaixo do sol, seria muito vulgar. Não concordava com muitas das regras de etiqueta, mas as obedecia como havia sido ensinada a fazer, era melhor obedecer a contragosto e agradar a sociedade, a ser considerada inconveniente e ficar para as cadeiras dos salões de baile. Olhou por cima do ombro, para Vitória e o cavalariço, ambos olhando direções opostas, sem se falar, apenas apreciando a paisagem. Abriu um sorriso pequeno.

— Você sabe para onde estamos indo? – perguntou, aproximando seu garanhão da égua de Alberto. Suas pernas roçaram, e Charlotte sentiu as bochechas ruborizarem, assim como as de Alberto, enquanto ele pigarreava, olhando para o lado, escondendo-se dela.

— Vamos para um bosque um pouco distante. Há uma clareira perto de um riacho e o cavalariço me contou sobre árvores frutíferas. – ele explicou, tentando ignorar o ocorrido. – Eu nem mesmo perguntei se você gosta de piqueniques.

— Ah, eu gosto. – Charlotte respondeu, já sem se importar com a proximidade dos animais. – Mas Vitória não parece gostar muito.

Alberto olhou por cima do ombro e riu baixinho.

— Minha tia não é uma boa dama de companhia. Você tem lido os jornais?

— Qual deles?

— O de fofocas, que todos em Birmingham parecem ler. Onde se fala tudo sobre a sociedade.

— Ah, sim. O Diário é mesmo muito agitado durante a Temporada, ele conta de tudo sobre todos, dizem que você não precisa comparecer a nenhum baile se estiver lendo o Diário. Mas o que tem ele?

— Há alguns dias eles colocaram uma nota sobre certo senhor de Portugal estar cortejando uma dama inglesa, de pai importante e belos cachos loiros. – ele piscou, como se isso não fosse extremamente charmoso, e sim satírico. – Alguns acham que se trata de nós.

— Ah, realmente dá para confundir. – Charlotte retribuiu a piscadela, que fez o coração de Alberto pular uma batida. – Mas qual a preocupação?

— Talvez esteja na hora de contar a seu pai e a minha mãe sobre nossos planos. Digo, meus planos, no caso, se você aceitar. – ele se atrapalhou, as bochechas novamente ruborizando e ficando quentes com o sangue que pulsava mais rápido.

— Ah, sim, antes que eles suspeitem de algo indevido. – ela concordou, calmamente. A própria figura da maturidade. Alberto a invejou.

Continuaram cavalgando por entre as trilhas que o cavalariço ia indicando, mesmo que apenas aos gritos. Vitória já demonstrava sinais de fadiga, mas sorria sempre que sua pupila olhava para ela, por cima do ombro. Ambos pareciam estar se dando muito bem, mas a curiosidade quase a matava para saber o que eles falavam tão baixo. Os cavalos tão próximos também, e risadas aleatórias entre uma frase ou outra. Todo aquele ar de jovialidade e corte não parecia combinar com ela logo atrás e sentiu-se um incômodo para o sobrinho e a amiga. O cavalariço também não era a melhor companhia, estava quieto, com a cabeça baixa, gritando nos momentos mais importunos sobre virar a direita ou seguir em frente.

Quando já estava quase desistindo de continuar, ouviu o som de água correndo e olhou para o lado. Entre as árvores, viu rochas molhadas e abaixo dessas rochas, um riacho que descia. Alguns peixes saltavam para subir o riacho e pássaros se aglomeravam para pescar os mais azarados. Viu uma criatura agarrar o pobre peixe com seu bico enorme e sair voando. Outra subiu em uma das rochas e jogou o peixe contra ela, batendo-o, até que ele parasse de se mover. Vitória horrorizou-se.

— Quanto mais falta para chegarmos ao piquenique? E-estou com fome – mentiu.

— Pouco, milady. – afirmou o cavalariço, com um sorriso amigável, aqueles que se dá às senhoras mimadas que não aguentam nada que não tenha a ver com uma poltrona e chá da tarde. Ele as detestava, mas não podia deixar isso aparente caso quisesse manter seu emprego. De repente milhares dessas jovenzinhas arrogantes tomou a casa do velho e quieto Senhor Vossa Graça Duque de Gray, que vinha dando sinais de seus últimos dias.

— Eu não aguento mais – lamentou-se a mulher ao seu lado, e se segurou para não revirar os olhos. Eles não haviam cavalgado mais que trinta minutos, e a intenção era aproximar o senhor e a senhorita logo a frente, um objetivo que estava sendo alcançado, conforme via.

Seus olhos de caçador experiente enxergaram a clareira a dez minutos de cavalgada e mais acima dela os pomares. Sorriu, sentindo-se triunfante, embora ninguém soubesse ali que ele havia seguido seu próprio instinto e a pouca memória de sua infância. Não costumava mais sair da propriedade para se aventurar na floresta, tinha de ficar lá, cuidando dos cavalos, lembrando-se de sua vida antiga apenas quando recebia as cartas de sua mãe, já nos últimos suspiros.

— Olhe, uma estrada! – apontou Alberto, o pavimento de pedras bem encaixadas, que guiavam até um templo abandonado, grandioso e cheio de arcobotantes que uniam cada coluna para sustentar os nove cantos a céu aberto. Ele incitou o cavalo para frente, mas então lembrou-se de que um cavalheiro acompanhava sua dama.

— Quer ver quem chega lá primeiro? – Charlotte também incitou seu cavalo, até chegar a sua frente, e então com um sorriso zombeteiro, disparou estrada a frente, os cabelos ao vento e o chapéu se desvencilhando das madeixas, desaparecendo na espiral da brisa, seu vestido esvoaçava e suas pernas se agarravam firmemente ao estribo e as costelas do animal.

Alberto afrouxou as rédeas e deixou a égua seguir seu instinto de correr (ela era bem difícil de controlar, na verdade), e seguindo Charlotte teve a certeza de que estava se casando com a pessoa certa.


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Notas finais do capítulo

O Ato II está aqui, e logo teremos o Ato III. Não sei quantos Atos serão, mas nada muito extenso, se eu conseguir terminar a história de amor da Charlotte no próximo (terminar no modo de dizer, não realmente finalizar), eu o farei. O Ato termina no pedido de casamento, para deixar claro. Agora preciso saber a opinião de vocês: O que acham desse jeito de postar? Estão gostando dos atos, ou preferem os capítulos intercalados? Eu particularmente acho que fica melhor assim, pois se ficar muito intercalado é mais propenso a esquecer a história dos outros personagens, então eu prefiro ir cada um por vez, a misturar tudo, ao menos no começo. Mas deixem suas opiniões! E mais sugestões sobre casais que vocês acham que combinam ou cenas que gostariam de ver.
Beijos da Meell.