À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 9
Capítulo 9 - Se Eu Puder Viver Assim...


Notas iniciais do capítulo

Oie ^^
Aqui está o nono capítulo
Espero que gostem
E nos vemos lá no final ^^



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Michael venceu a corrida. E também conseguiu mais pontos que eu no arco e flecha. O cara não errava uma!

— Isso não é justo! – disse eu enquanto saíamos da aula – Você tem muito mais experiência que eu!

— Ah, é? Pois você também tem muito mais experiência que eu em Karate.

— Mas eu só usei o Karate porque você tem muito mais experiência na esgrima.

Ele revirou os olhos.

— Isso não importa. De qualquer forma, agora estamos dois a dois.         

— Trapaceiro. – acusei.

— Ah, claro, rainha do jogo limpo. – devolveu.

— Não fui eu que saí correndo na frente, príncipe da justiça. – olhei nos seus olhos.

— Você foi a primeira a fazer isso, duquesa da razão. – ele me encarou mais de perto.

Estreitei os olhos, e ele fez o mesmo, pensando no que falar depois. Mas, no momento o sol refletiu em seus olhos dourados, eu travei, meu cérebro se negou a funcionar e meu coração acelerou. Mantive a boca fechada, com medo do que diria se falasse alguma coisa.  Mas o que diabos era aquilo?

— É a sua vez, espertinha. – disse ele.

— Eu sei, raios de sol!

— Raios de Sol? – ele recuou, cético, e depois começou a rir.

— Pare de rir! – mandei – Isso foi o melhor que consegui, tá? Não dá pra pensar muito bem com você me chamando de espertinha! Inclusive, esse é um apelido bem clichê, não acha?

Mas ele não parou. Riu da minha cara até ficar sem fôlego, enquanto eu o olhava querendo fuzilá-lo.

— Tá bom! – ele disse – Desculpe, desculpe!

Cruzei os braços.

— Eu não pude evitar! – exclamou – Você é hilária.

— Fala sério. – falei voltando a andar. Ele me acompanhou.

— Foi mal.

— Ah, Michael! Vai arrumar o que fazer! – falei tentando parecer irritada, mas não pude evitar um sorriso.

— Eu vi isso.

— Isso o que?

— Você sorriu.

— Sorri nada.

— Sorriu sim.

— Não, eu não sorri.

— Você sorriu sim. – ele meio que cantou essa. E, cá pra nós, a voz dele era linda.

Infelizmente, meu rosto inventou de corar. E Michael viu.

— Ha ha! Você corou!

Eu o empurrei de leve.

— Esqueça isso. – Falei – Agora vamos. Acho que agora eu tenho aula de Grego Antigo. Annabeth não vai estar lá, então você vai me acompanhar?

— Na verdade, nós sempre temos vinte minutos de intervalo antes de cada aula.

— E o que fazemos nesse meio tempo?

— Bem, eu gosto de ir tocar música. Ou ir ao lago. Ou... – Ele sorriu – De jogar vôlei.

— Vôlei?

— É. Venha. – Ele me arrastou até a quadra.

Engaçado” pensei “Desde que cheguei aqui, todo mundo vive me arrastando para os lugares”.

Na quadra, vários filhos de Apolo se exibiam em um jogo de vôlei.

— Hey, gente! – Michael gritou – Tem lugar para mais dois?

— O quê?! – sussurrei – Michael, o que está fazendo?

— Nós vamos jogar. – ele respondeu.

—Nós? Você nem me perguntou se... – Ele já estava entrando na quadra – Fala sério! – Reclamei, mas entrei no jogo.

O que eu não contei a Michael é que eu já havia feito três anos de aulas de vôlei na escola.

Tudo bem, agora você deve estar pensando que eu já fiz de tudo. Infelizmente (ou não), isso é verdade.

Pensando sobre isso agora, era compreensível, já que meu pai sempre soube que eu era uma semideusa, então ele meio que fazia com que eu me exercitasse bastante. Consequentemente, eu fiz vários esportes: Vôlei, equitação, e natação. Nos últimos três anos e meio, eu estava fazendo Karate e Ginástica, fato que tornava meus dias bastante corridos. No começo, reclamei tanto que meu pai ficava irritado, mas agora não consigo mais ficar sem praticar algum esporte.

— Vou acabar com você, espertinha. – Michael sussurrara antes de ir para seu time.

— Sonha. – Murmurei de volta.

O jogo começou.

O saque de Michel foi por cima, e veio diretamente para mim. Eu levantei a bola e meu colega da direita a fez passar pela rede. Por um momento, achei que seria ponto, mas então alguém se jogou no chão e a bola subiu, voltando para nós. Um de meus colegas pegou a bola e a passou para o companheiro de trás, que a mandou para mim. Fiz a bola voar veloz para o chão do campo adversário. Ponto. Nós batemos as mãos e voltamos para nossa posição. Um de meus colegas sacou, dessa vez por baixo. Michael levantou a bola e outro garoto a mandou para nós, direto para o chão. Joguei-me a fim de alcançá-la, mas tudo o que consegui foi uma bolada nos dedos. Ponto para eles.

O jogo seguiu assim: um para nós, um para eles. Às vezes passávamos uns dois minutos até que a bola batesse no chão de algum dos times. Mas meu time conseguiu o ponto da vitória e nós ganhamos.

— Toma essa, Michael! – gritei.

Ele apenas riu.

— Vamos, vencedora, hora da aula.

Esse comentário, é claro, acabou com a minha alegria.

 

Logo descobri que o Grego Antigo era muito fácil de aprender. Minha dislexia não atrapalhava, o que me deixava mais feliz do que vocês imaginam. Se na escola eu já podia ir bem com ela, imagina sem. Para ler era simples e muitas vezes a tradução simplesmente surgia do nada, nós aprendíamos o alfabeto grego, e as expressões mais comuns (isso incluía alguns xingamentos).

Quando a aula acabou, eu estava começando a ficar animada com a ideia de falar grego fluentemente. Na opinião de Michael, animada até de mais.

— Não é tão simples assim. – disse ele.

— Pois para mim parece bem simples. Eu sempre quis aprender outras línguas, mas tudo o que consegui foi um pouco de português.

— Português? Sério?

— O que tem?

Ele riu.

— Nada. Hey, você não disse que queria dar uma passada lá no chalé 7?

— É. Quero achar Shayla. Acho que se não passar um tempo com ela logo, ela pode ficar magoada.

Shayla me esperava no chalé.

— Então você apareceu, amiga? – Ela tentou soar irritada.

Eu ri, sabendo que ela estava brincando.

— Venha.

Agarrei seu pulso e a levei para fora, não sem antes me despedir de Michael, ganhando um beijo na testa.

— Não se metam em confusão, vocês duas! – ele recomendou.

— Já vi que se acertou com ele. O que vamos fazer? – Perguntou Shayla.

— Eu pensei em nos divertimos um pouco ao nosso jeito. Tenho uma ideia que pode servir.

— É perigoso?

— Talvez.

— Estou dentro. Qual é a sua ideia?

— Bem, que tal se fôssemos à floresta? Parece um bom lugar para explorar.

— Não é onde tem monstros?

Assenti.

— Ouvi algumas pessoas dizendo que vai ter um jogo amanhã para caçar monstros, por isso invocaram alguns na floresta.

 Ela sorriu e pousou a mão em sua adaga.

— Vamos nessa!

— Essa é a Shayla que eu conheço! – sorri.

Pode até parecer estranho, mas ela sempre me acompanhava em minhas experiências mais loucas. Shayla jamais se meteria em aventura alguma sozinha, mas quando estava comigo, parecia se transformar. As poucas vezes em que já foi parar na sala do diretor, foi por minha culpa. E ela convivia com isso numa boa, então eu não reclamava.

Nós caminhamos pela floresta, conversando sobre os nossos últimos dias.

A desvantagem de entrar lá naquela hora era que 1: não conhecíamos nada do lugar, 2: não sabíamos que tipo de coisa haviam invocado lá e 3: não sabíamos se acharíamos o caminho de volta. A vantagem era que 1: estava claro, logo poderíamos enxergar o caminho e qualquer coisa que se aproximasse, 2: ... Bem, não havia vantagem número dois, o que nos deixava em certo risco, mas eu não ligava. Queria explorar o lugar com Shayla e pronto.

— Perdi do Michael na corrida e no arco, mas ganhei no vôlei. – citei - Acho que isso nos deixa com o placar de 3 a 2, para mim. O ruim é que não dá para saber qual vai ser a próxima disputa. Mas eu sei que vou ganhar de qualquer jeito.

Quando olhei, Shayla estava prestes a explodir em risos.

— Hey! Qual é a graça? – reclamei.

Ela se controlou.

— Você gosta dele. – afirmou e riu.

— Claro que gosto dele.  – falei e ela riu ainda mais – Ele é meu amigo e... Ah! Você quer dizer... Shayla! Pare com isso! Você sabe que não é assim. Eu acabei de conhecer o cara!

— Mas gostou dele desde o começo! – Ela continuou.

— O quê? Não! Você sabe que eu não sou assim! – Mas ela não parou. – Shaaaaayla! – Reclamei de novo – Chega! Para de rir. Está me deixando irritada!

Ela parou por um segundo, segurando a barriga.

— Quer saber? Esquece. – falei voltando a caminhar - Eu não gosto dele e pronto. Se não quer acreditar, tanto faz.

— Calma, esquentadinha. Eu só estava tirando onda com você. – disse ela, enquanto me seguia.

— Pede calma à avó. – falei e ela riu.

— Tudo bem, se você diz. Você pode não gosta dele, mas está quase.

— Estou nada.

Ela deu de ombros.

— É só minha opinião. – falou – O futuro dirá.

— Tá certo. – falei com ceticismo – Vou esperar.

— Eu sei bem do que eu estou falando, May. Você sabe, Apolo é o deus das profecias também. Acho que isso nos leva a acreditar mais em destino e esse tipo de coisa.

Balancei a cabeça, abominando um pouco a ideia. Nunca fora muito fã dessa história de destino. Meu pai sempre insistiu em colocar na minha cabeça que existia, mas eu resistia. Talvez porque isso significaria aceitar que não havia nada que eu pudesse fazer para que minha mãe voltasse para mim algum dia. Claro, agora eu sabia que isso era verdade, mas ainda odiava esse fato. Destino. Tinha cara de que meu futuro estava escrito. E que eu não tinha como mudá-lo. Eu detestava isso.

No entanto, Shayla tinha razão sobre Apolo. E já que a mitologia grega era real, as Parcas também eram.

Tentei espantar esses pensamentos.

— Então... – falei – Como é ser filha de Apolo?

Ela sorriu.

— É ótimo! Agora que sei meus talentos, posso fazer tudo sem medo. Como pintar! Pintar é super legal! E Michael vai me ensinar a tocar violão, já que você nunca tem paciência pra isso. – Reclamou e eu ri – Ele também vai me ensinar a jogar vôlei, e a atirar com o arco. Ele é tão incrível! É bom em tudo! Independentemente de você gostar dele ou não, se eu não fosse irmã dele, eu gostaria.

Eu lhe lancei um olhar surpreso.

— O que? Só estou dizendo – falou – que Michael é o tipo de cara que eu gostaria se não fosse meu irmão mais velho. De qualquer jeito, eu também estou tão feliz de treinar arco-e-flecha! Estava com medo no começo, mas agora percebi que não é tão difícil. E o nosso chalé é muito legal. Durante a noite, pode ter uma música calma para dormir se quisermos. É muito legal! – Ela despejou tudo de uma vez, e, depois de uma pausa, acrescentou: – Mas como é ser uma filha de Atena?

Pensei um pouco.

— Eu não sei direito. Normal, eu acho. É ser... eu.

— Ser você? – Ela riu – Você quer dizer uma nerd com tendências para a guerra?

Eu ri.

— É, acho que é mais ou menos isso aí.

— Então deve ser legal.

Fitei o chão, parando de caminhar.

— É sim, mas... – hesitei. Estava cogitando contar-lhe sobre meu problema emocional, mas estava insegura quanto a dizer alguma coisa. Ela parecia tão feliz e relaxada...  Não queria colocar um peso sobre ela naquele momento, não queria que ela se preocupasse.

Ela também parou de caminhar, mas não se virou para mim. Observei suas costas, e então desviei o olhar para a grama aos meus pés.

Fazê-la lidar com meus problemas não me agradava, ao mesmo tempo que não os compartilhar com ela era doloroso. “Mantenho minha dor, ou faço-a sofrer comigo?”. A resposta para isso parecia bem clara. Eu queria proteger Shayla, mantê-la alegre como estava, permitir que aquele sorriso permanecesse em seu rosto. Eu sabia que uma vez que eu lhe dissesse que estava com problemas, ela mergulharia de cabeça numa operação para resolvê-los.

— May. – ela chamou, tirando-me de meus pensamentos. Seu tom de voz era sério. Eu fitei suas costas novamente – Estive me perguntando se deveria esperar você me contar, ou se deveria ser direta e te fazer falar. Parece que você precisa de um empurrãozinho.

Arregalei os olhos, surpresa.

— Shay... – comecei – Você...

Ela se virou e sorriu para mim.

— Sua boba. Há quanto tempo acha que eu te conheço? – falou – É claro que eu sabia. Você não escondeu de mim nem por um segundo.

Senti lágrimas virem aos meus olhos.

— Eu... Sinto muito por ter mentido, Shay.

Ela se aproximou e pousou a mão na minha cabeça. Embora ela tivesse a mesma altura que eu, senti como se fosse uma criancinha.

— Está tudo bem. – ela disse – Eu sei que você nunca faz por mal. Mas de agora em diante, espero que saiba que não quero que esconda nada de mim.

Assenti.

— Então. – Falou – Desembucha.

Comecei a falar. Descrevi o que exatamente havia acontecido com o Sr D, e como me senti logo após ter acordado. Contei sobre como eram meus ataques de raiva, sobre como às vezes tinha vontade de chorar por nada, ou como coisas pequenas me irritavam. Narrei o que havia acontecido no Jogo da noite anterior, e falei sobre como estava tentando evitar ficar irritada.

Ela ouviu tudo como sempre. Quanto mais eu falava, mais me sentia leve. Censurei-me por não tê-lo feito antes. Por não ter me tocado que machucaria Shayla ainda mais se guardasse segredos dela.

— May. – ela começou quando terminei de contar tudo – Eu não sei o porquê de você estar assim. Mas nós já enfrentamos isso antes, não foi? Como você estava há dois anos, quando nos conhecemos? Lembro-me que a primeira vez que falei com você foi quando estava gritando com um professor. Eu te ajudei a se acalmar, não foi? E então, mais tarde conhecemos Kyle, e juntos nós resolvemos os problemas uns dos outros. Vocês retiraram minha dor, nós duas ajudamos Kyle com sua timidez, e nós dois te ajudamos a buscar o equilíbrio. É uma pena que tenha perdido o que conquistamos, mas você pode se apoiar em nós novamente. Vamos trabalhar duro para te ajudar, e com certeza vamos conseguir.

Meus olhos ficaram molhados novamente. Era assustador como Shayla sempre sabia exatamente o que eu precisava ouvir, ainda que eu mesma não soubesse. E ela estava certa. Embora eu sentisse que agora as coisas estavam piores do que jamais foram, nós três havíamos dado um jeito antes. Se eu os tivesse do meu lado agora, podia fazê-lo de novo.

Sorri.

— Essa certeza toda é apenas fé, ou você teve alguma visão enviada pelo oráculo? – brinquei e ela riu.

— Só estou me apegando aos fatos. – disse – Quem consegue uma vez consegue duas, não?

— Ei, é meu trabalho pensar logicamente. – eu ri com ela, e então a puxei para um abraço – Obrigada, Shay.

Ela me apertou.

— Estamos juntas nessa, não é? Vai dar tudo certo – falou, e afastou-se – Ah, e se quer uma dica, tenta contar até cem toda vez que a situação começar a ficar tensa. Desviar a atenção para alguma outra coisa pode ajudar mais do que tentar ignorar.

— Sim senhora, doutora.

Nós voltamos a caminhar. A floresta a minha volta ganhou outra cor, e foi quando eu percebi o peso que vinha carregando. Sorri. Como esperado, Shayla era capaz de trazer luz para mim quando eu não podia enxergar. Ela se parecia com meu pai: sempre passando uma sensação de vida.

 Eu a observei em seu passo alegre. Seus olhos expressivos observavam a copa das árvores, que se erguiam altas, enquanto segurava Lámpsi, a adaga, girando-a na mão como se a manejasse há anos. O que me lembrava que ela ainda não me explicara o motivo de tê-la escolhido.

— Por que a adaga? – Perguntei.

— O quê?

— No dia em que Annabeth nos levou para escolhermos as armas, você disse que queria uma de longo alcance, mas aí olhou para o vazio por um tempo e escolheu a adaga.

— Ah, isso. – ela olhou para a arma – É difícil de explicar.

— Então comece logo porque em alguns minutos eu tenho aula.

— Bem, eu venho tendo algumas visões. – começou – Visões do futuro. Sabe, naquele dia em que chegamos aqui, por exemplo. Tive visões a viagem inteira. E tudo aconteceu. No dia em que escolhi a adaga, a minha visão foi diferente: Eu vi Apolo. Ele me falou para escolher a faca, mas até hoje não sei o motivo. De algum modo, sei que é importante. Quando perguntei a Michael sobre as visões, ele contou que alguns filhos de Apolo recebem esse dom. Ele também tem.

— Então quer dizer que quando vocês param e olham para o nada estão tendo uma visão?

Ela afirmou com a cabeça.

— Que mundo estranho. – falei, perguntando-me o que Michael havia visto mais cedo, quando disse “Não se agarre à sua dor. Aprenda com ela e siga em frente”.

— É... – Shayla concordou.

— Você não teve nenhuma visão sobre mim, teve? – Perguntei.

Shayla abriu a boca para falar, mas seus olhos fitaram o vazio, e quando ela voltou, gritou:

— Pro chão!

Obedeci assustada e ela atirou sua adaga por cima de minha cabeça. Ouvi um rugido grave e, quando olhei, um cão infernal estava se desfazendo em pó, com a lâmina brilhante cravada entre seus olhos.

— Meus deuses! – exclamei, meu coração disparado – Como...

— Deve ter se aproximado devagar. – disse Shayla, pegando a arma de volta – Pretendia nos comer no lanche, eu acho.

— Mas como você...

— Visões.

— Bendito seja Apolo! – falei – Agora vamos dar o fora daqui.

E nós corremos para fora da floresta.

 

 

Shayla e eu não contamos a ninguém sobre a nossa escapada para a floresta, e nem comentamos o fato de que agora o jogo teria um monstro a menos. Nós apenas voltamos para o chalé de Apolo, rindo como se nada tivesse acontecido. No entanto, meu sorriso desapareceu quando vi Quíron parado na frente do chalé, conversando com Michael, e com uma cara de preocupação. No mesmo instante percebi que Michael devia estar me delatando.

— Encrenca? – Perguntei para Shayla, pois ela estava olhando pro nada novamente.

— Acho que não... – disse ela – Provavelmente, você comece a entender uma longa história hoje.

Não entendi o que isso quer dizer, mas caminhei em direção aos dois.

— Aí está ela! – Quíron falou.

Ele tentou não demonstrar preocupação, mas pude vê-la por trás de seu disfarce.

— Ah, oi, Quíron. Estavam me esperando? – Falei como se não soubesse sobre o que estavam conversando.

— Na verdade sim. Que tal se fossemos à casa grande depois da fogueira hoje? Temos muito que conversar.

— Ahn... Claro. – respondi.

— Ótimo. Agora vão para as aulas.

E ele saiu galopando.

Lancei a Michael um olhar irritado e ele ergueu as mãos.

— Não vem não. – disse – Você deveria ter falado com ele ontem!

Bufei.

— É, eu devia, mas estava meio ocupada quase sendo morta, lembra?

— Sem essa. Poderia ter feito isso antes da Caça à Bandeira. May, você não está entendendo. Essa sua cura pode não ser boa. As coisas nem sempre são tão boas com meio-sangues. De repente, o que era um simples processo de cura que funcionava mais rápido, transforma-se em algo que te deixa com o dobro da idade que tem ou qualquer coisa do tipo!

— Sei disso. – falei – Mas será que nem mesmo isso poderia ter vindo para o bem? Como uma benção dos deuses ou sei lá?

— É por isso que temos que falar com Quíron. Ele provavelmente saberá responder.

Deixei meus ombros caírem.

— Certo... É que eu só não quero parecer uma aberração novamente. Esperava que pelo menos entre vocês eu pudesse ser normal.

— Não se preocupe com isso. – Michael segurou minha mão entre as dele. Eram quentes. – Ninguém te considera uma aberração. Aliás, muitos têm dons especiais que outros não têm. Veja eu e a Shay, por exemplo. Temos o dom das visões. É meio que raro, mas não sofremos discriminações.

Suspirei.

— Se você diz...

— Vamos lá! – disse Shayla – Anime-se. Qual sua próxima aula?

— Canoagem, eu acho. – falei, franzindo a testa.

— Bom, - Michael disse – hoje tem competição. Percy sempre vence então não é de verdade. Mas boa sorte. Shay vai passar pelo ritual de iniciação na Magia de Cura agora, então temos que ir.

Ele me beijou na testa, e, pegando a mão de Shayla, correu para a enfermaria.

— Então vamos perder. – falei – Maravilha.

 

 

A competição de canoagem não era de todo o ruim. Claro que eu tinha essa opinião porque fiz dupla com Percy. Não que eu quisesse, mas Annabeth insistiu.

— Para saber como se faz. – dissera ela. – Acho que essa é a única coisa que Percy pode te ensinar melhor que uma criança de Atena poderia.

Quando perguntei para ele o que fazer, ele disse:

— Apenas reme. – E só.

Talvez Annabeth estivesse errada.

Mas, depois descobri que ele estava totalmente certo. Não havia nenhuma explicação complicada para aquilo. Nada de cálculos físicos. Era só remar e o barco andava. Claro, some isso a um pouco de poder do filho do deus das águas e fica tudo certo, mas isso é irrelevante.

Obviamente, nós ganhamos a competição. Ninguém nos ergueu no ar em comemoração o nada do tipo. Percy parecia acostumado com isso.

— Não é novidade. – disse ele – No dia em que Annabeth ganhar de mim como prometeu, vão fazer uma festa, mas até lá, todos brigam pelo segundo lugar.

Olhei para o rio, com o brilho do sol reluzindo na água corrente, as árvores ao redor balançando levemente ao vento, os campistas conversando animados. Dei um sorriso involuntário. Aquela era uma sensação boa, mas... o que era? Talvez... Talvez fosse aquele sentimento do qual as pessoas costumavam falar nos filmes e livros. Talvez eu estivesse encontrando um lugar ao qual eu pertencia, onde as pessoas não eram completamente diferentes de mim, onde todos ao meu redor seriam capazes de me compreender.

Era perfeito. Eu tinha Shayla e Kyle comigo, irmãos mais velhos, novos amigos, aulas que eu podia entender facilmente, dias agitados e estava cercada de natureza. Senti meu coração acelerar. Era perfeito. 

Fechei os olhos, aproveitando a sensação. Se eu pudesse viver assim... 


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Notas finais do capítulo

Eu de novo!
Tá, ok, esse final de capítulo não foi lá essas coisas, né? Maaaas... A treta começa no próximo, então peço que insistam um pouquinho só ^^
Também não tivemos nenhum personagem novo introduzido, então não temos imagem dessa vez.
Eeeentão, meus lindos, o que estão achando da história até aqui? Acham que tem algo que preciso melhorar? O que estão gostando mais? Viram algum erro? Por favor, comenta aí ^^
Muito obrigada por estar acompanhando a May nessa aventura, e espero que essa história possa te cativar ainda mais ^^
Bom, próximo capítulo saí no Sábado, então até lá ^^
Beijos ^^