À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 10
Capítulo 10 - "Seu destino será triste e cruel! Bons sonhos!"


Notas iniciais do capítulo

Oi genteee
Desculpa a demora pra postar, tive umas coisas para ajeitar no cap, então acabai atrasando
Agradecimento às minhas leitoras lindas Minoran e Leta Le Fay que sempre comentam, e à minha super amiga Vicky por me ajudar com as correções (se tiver algo errado é culpa dela ~brincadeira)
Bom, aí está o capítulo
Vejo vcs no final ^^



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Kyle apareceu depois do almoço, e Shayla me fez contar a ele o que estava acontecendo. Sozinhos no Chalé 6, enquanto acariciava a pequena coruja dorminhoca, eu o atualizei sobre os últimos dois dias e sobre a conversa com Shayla.

Ele alisou Sekki. Sorrindo, percebi que havia sentido falta de vê-lo. “Alisar a muleta dessa forma é sinal de que está tranquilo” pensei, feliz por poder lê-lo como sempre. Nos dias de escola, era como um hobbie para mim observar a relação entre as emoções de Kyle e suas reações com Sekki.

— Shayla está certa. – falou, tirando-me de meus pensamentos – Você já devia saber que não vamos te deixar passar por essa sozinha.

— Eu sei. – respondi – Acho que fui burra em não dizer logo de uma vez.

— E foi mesmo. – disse, rindo – Bem, isso quer dizer que vamos dar início à operação Salvando a May! – ele levou a mão ao queixo – Hum... Preciso inventar um nome melhor para isso.

Revirei os olhos.

— Isso não importa de verdade, não é?

— Claro que importa! Afinal, você quer que seja segredo, não? Então precisamos de um codinome que não nos denuncie...

Eu ri enquanto ele continuava a falar. Como sempre, sua imaginação voava alto. Olhei a hora no relógio da parede, perguntando-me se não deveria alimentar a corujinha novamente.

— Ei, Kyle. – chamei – Sabe como lidar com corujas?

— Hum? Ah, então você já ganhou a sua, não é? – Ele estendeu as mãos, pegando a caixa – Oh, é uma Tyto Alba! Olá, rapazinho.

— Rapazinho? – questionei, colando minha cabeça à dele para observar o filhote – Então é macho?

Ele assentiu.

— Como sabe se nem dá pra ver... – eu me detive – Quer saber? Não precisa explicar.

— Comumente conhecida como Coruja-das-Torres. É uma espécie maravilhosa. – Kyle disse – Ao contrário de quando são filhotes, posso assegurar que ficam muito bonitos quando adultos.

Ergui as sobrancelhas, sorrindo. Não que aquilo importasse.

— Assim espero.

— Esse aqui tem uns seis meses, então está quase adulto, na verdade. Logo, logo, essas penas vão ser substituídas. Ele vai crescer mais um pouco também, ficando com uns vinte a trinta centímetros de comprimento.

— Eh.... Será que meu pai vai me deixar leva-lo para casa?

— Se ele realmente te acolher, não há muito que o seu pai possa fazer. – Kyle falou – Uma vez que corujas escolhem seus donos, não ficam muito longe. Você já escolheu um nome para ele?

Neguei com a cabeça.

— Eu nem sabia que era macho até você dizer.

Seus olhos brilharam e eu soube que ele começaria a jorrar ideias.

— Então, o que acha de “Sora”? – disse animado.

— Sora? – repeti – De onde você tirou isso?

— Significa “céu” em japonês. – respondeu – Ou  quem sabe “Shiro”, que quer dizer “branco”? Não, não. Você podia chamá-lo de “Chie” que é “sabedoria”!

Rolei os olhos.

— Não vou dar um nome em japonês pra ele, Kyle. É estranho demais.

— Eh...? – ele pareceu frustrado – Mas é tão legal...

— Vamos, que tal se você escolher um bom nome americano? – falei, tentando animá-lo.

Ele esfregou o cabo de Sekki, pensando.

— Você então deveria nomeá-lo em homenagem aos famosos filhos de Atena... O que acha de “Link”, de Lincoln?

— Olha, parece um ótimo nome! – falei e me virei para o pássaro – E então, Link? Gosta de ser chamado assim?

Ele não respondeu, claro. Olhei para Kyle.

— Ele não tem objeções. – declarei.

Kyle deu um sorriso satisfeito.

— Ótimo, então! Pequeno pássaro, nós lhe nomeamos Link, o Tyto.

Nós rimos, brincando de atribuir títulos à coruja.

— Bom – Kyle levantou depois de algum tempo – Eu preciso ir.

— Vai sair em missão novamente?

— Só por esta tarde. – respondeu – Estarei apenas levando uma mensagem, então volto esta noite.

Assenti.

— Você está sempre saindo em missão, não é?

Ele pousou a mão em minha cabeça do mesmo jeito que Shayla fizera comigo mais cedo. Apesar de me fazer sentir uma criança, era confortável e seguro.

— É verão. – explicou – Mas não se preocupe. Depois de hoje, vou pedir a Quíron uma folga para te ajudar. Afinal, parece que meu trabalho como Protetor ainda não acabou.

Eu fiquei de pé, mas ele não tirou a mão do meu cabelo. Pela primeira vez, percebi como ele era mais alto que eu. Eu sempre vira Kyle como o garoto frágil do grupo, mas de repente percebi que era o contrário. Nós éramos aquelas que estavam sendo protegidas. Eu sempre soube que ele não era bobo, mas vê-lo dessa forma, com suas próprias missões, suas próprias responsabilidades... Eu me dei conta que ele era incrível a seu jeito.

— Obrigada. – falei – Não só por agora, mas por ter cuidado de nós duas durante todo esse tempo.

Ele deu um sorriso satisfeito.

— Nós cuidamos uns dos outros. – falou, beijando minha testa – Eu tenho que ir agora. Boa sorte com Quíron mais tarde.

Ele bagunçou meu cabelo, e então saiu, deixando-me sozinha com Link, ansiosa pela conversa com o centauro.

 

Drake entrou no quarto algum tempo depois, e caminhou até seu próprio beliche, colado à parede oposta à que o meu estava encostado. Ele não pareceu me notar, e eu não fiz nenhum movimento, esperando que ele não percebesse que eu estava ali. Caso contrário, sabia que ele me arrastaria para a sua aula de esgrima, que estava marcada para dali alguns minutos, e para a qual eu não tinha a mínima vontade de ir.

— Você por acaso não está pensando em matar aula, está?

— Deuses! – gritei, assustada, olhando na direção da voz.

Jake estava de pé do outro lado da minha cama me encarando.

— J-Jake... – gaguejei, ainda com o pulso acelerado – Há quanto tempo está aí?

— Acabei de chegar. – Ele se virou para Drake, que continuava mexendo em suas coisas como se nem estivéssemos ali – Drake, sua irmãzinha está tentando matar aula.

O outro se virou para nós, erguendo uma sobrancelha.

— Ela não é sua irmãzinha também?

— Sou mais novo. – Jake declarou.

Ele fez um gesto com a mão.

— De qualquer jeito, a May nunca foi capaz de matar uma aula minha, e não pretendo deixar que isso aconteça agora.

Deixei os ombros caírem. Chegava a ser deprimente, mas era a verdade: não importava o que eu fizesse, Drake sempre me achava antes da aula começar e me fazia voltar para a classe. Depois de um tempo, comecei a procurar esconderijos cada vez mais impossíveis, mas não adiantava. Eu me perguntava se Shay ou Kyle me denunciavam, mas na maioria das vezes nem eles sabiam onde eu estava. De qualquer jeito, era sempre constrangedor entrar na sala com o “sr. Farrel” me conduzindo pelo ombro.

— Você é um professo terrível. – resmunguei para ele.

Terminei chegando à arena da mesma forma como chegava à classe: com a mão de Drake pousada em meu ombro e uma expressão insatisfeita na cara. Diferente do dia anterior, quando os poucos que se encontravam treinando estavam dispersos, havia uns três grupos de dez pessoas espalhados pela área. Nós nos dirigimos a um deles, no qual identifiquei Shayla e Annabeth.

Shay veio até mim.

— Não achei que fosse ver essa cena novamente. – provocou, com um sorriso brincalhão.

— Calada. – resmunguei.

Ela riu.

— Muito bem, galera! – Drake ergueu a voz e todos se concentraram ao redor dele – Estamos oficialmente abrindo esta turma de esgrima, com a nossa primeira aula do verão. Serei seu professor nos treinos com espadas, e Annabeth vai lhes instruir com as adagas. Alguns de vocês já praticam há algum tempo, mas hoje temos algumas pessoas novas, então vamos ter nosso teste de habilidades!

Ele me puxou para perto de si com uma mão e com a outra agarrou um garoto.

— Eis os nossos novatos da categoria de espadas! – anunciou – Vamos vê-los lutar contra alguns alunos mais antigos em breve.

Surpreendidos, eu e o garoto nos encaramos com expressões confusas. E então ficamos mais confusos ainda.

— Mayara Senpai?!

— Sean?!

O garoto ficou parado por um segundo, parecendo tão surpreso quanto eu. Ele tinha uma pele bronzeada e atentos olhos marrom-escuros. Seu cabelo preto era raspado de um lado da cabeça, e o outro quase caía em seus olhos, num estilo que facilmente levaria qualquer um a taxá-lo de roqueiro, somado aos brincos na orelha esquerda. Apesar do corte de cabelo agressivo, ele só tinha treze anos e eu o conhecia o suficiente para saber que aquilo era mais rebeldia que agressividade.

Antes que eu mesma pudesse me recompor, Sean ficou de frente para mim, ereto, juntou as mãos ao corpo e se curvou. Eu me apressei para fazer o mesmo, embora ainda desorientada.

— Então vocês já se conhecem? – Drake sorriu.

— Mayara Senpai é da minha turma de Karate! – Sean explicou, empolgado – Ela é a melhor aluna do dojo!

Cruzei os braços.

— Do que você está falando, Sean? Você é o único que fica repetindo isso.

— Mas é verdade! – ele se virou para o meu irmão – Ela nunca perdeu em nenhum dos nossos campeonatos internos, nem em Kata, nem em Kumite! E ela tem o Mawashi-geri mais forte!

— Lá vem a enxurrada de termos em japonês... – Shayla suspirou.

Fiquei vermelha, de repente percebendo que todos à minha volta estavam ouvindo. Com Sean falando daquele jeito na frente de tantos semideuses, todos obcecados por lutas, eu sabia que eles iriam querer me fazer lutar para comprovar aqueles elogios. Os olhos deles já me examinavam, com expectativa.

“Droga” pensei “Tarde demais”. Lancei um olhar ameaçador a Sean, que ainda estava falando. “Vou te arrastar junto, pirralho”.

— ... e ela conseguiu a faixa marrom sem ser reprovada nenhuma vez! – ele continuava – Nosso Sensei é tão exigente que sempre reprova no primeiro exame, mas Mayara-senpai passou de primeira!

— Ah, mas Sean também é incrível. – interrompi – Em seu primeiro treino, nós o colocamos para fazer frente à frente com um garoto três anos mais velho, e ele marcou mais pontos.

— Bom, ele pegou leve comigo.

— E ninguém consegue se defender dos socos rápidos desse garoto.

— Você consegue.

— Nosso Sensei sempre fala que sua capacidade de aprender os movimentos do Kata é muito boa.

— Mas a sua é incrível. Você conseguiu pegar todo o quinto Kata em duas aulas!

— Sean provavelmente tem a melhor rasteira do Dojo.

— Mas nunca consigo te derrubar.

— Ele também é muito bom em ler os movimentos do oponente.

— Isso foi você quem me ensin... – ele não foi capaz de terminar a frase.

— E também – continuei, ainda com a mão tapando sua boca – é muito veloz.

Os outros jogavam os olhos de mim para ele, como em um jogo de ping-pong. Suas expressões corporais diziam que eu havia atingido meu objetivo: todos estavam claramente curiosos. Drake pareceu sair do estado observador primeiro:

— Muito bem! Já chega. – ele tirou minha mão da boca de Sean – Vocês podem provar suas habilidades quando a aula começar. Agora vamos continuar...

— Coloque-os para lutar de uma vez. – alguém se manifestou.

— Isso! – outro ajuntou.

— Nós queremos vê-los lutando.

Drake olhou para Annabeth, que deu de ombros como quem diz “não há nada que possamos fazer”. Ele revirou os olhos.

— Certo, certo. – falou – Acho que teremos uma luta de mãos vazias então. Quem se habilita a enfrentá-los?

— Coloque Sean primeiro. – murmurei para ele, que assentiu.

Um garoto deu um passo à frente. Era alto e um tanto musculoso, com olhos faiscantes e um sorriso divertido. Sua atitude não era agressiva, só desdenhosa. Imaginei que ele estava pensando “vou mostrar pra esses novatos quem manda por aqui”. Sorri internamente. Só de olhar, qualquer um preveria a derrota de Sean, mas eu o conhecia. Nada do que eu falara sobre ele era mentira: o garoto era bom.

Eu já treinava há dois anos quando ele entrou na academia pela primeira vez. Nosso professor me encarregou de orientá-lo, e eu imediatamente percebi que ele tinha potencial. Fiquei admirada, mas ele começou a me colocar em um pedestal. É verdade que eu era, de longe, a melhor aluna na nossa turma, mas Sean levou isso a outro nível, e eu tive que começar a repreendê-lo, pois os demais alunos ficavam ressentidos. Ele fez um esforço para se controlar, mas, como era evidente naquela situação, sua opinião não havia mudado.

Mas eu gostava dele. Na verdade, meio que me identificava com o garoto. Ele era claramente hiperativo, estava sempre dizendo como a escola era difícil e nós dois amávamos o Karate, então eu o havia tomado como um irmão mais novo. Nós costumávamos nos divertir bastante. Mas eu não havia pensado muito nele desde que toda essa confusão com deuses e monstros começara. Bom, se ele estava aqui, significava que ele também é um semideus, o que explicava muita coisa.

— Ok, vamos gente, abram espaço. Sean e Alan, posicionem-se.

Nós nos encostamos nas barras que cercavam a arena, os dois garotos ficaram de frente um para o outro e Sean se curvou, apesar de Alan apenas se posicionar com os punhos em frente ao rosto, como se fosse lutar boxe. Sorri. Essa não ia ser difícil.

Drake deu o comando para que começassem e veio para junto de mim.

Alan tomou a ofensiva, provavelmente esperando pegar Sean de surpresa com um soco no rosto, mas o outro defendeu com um braço e contra-atacou com chute em sua barriga. Ele recuou, surpreso, mas não ficou desorientado por muito tempo.

— Como é que você passava tanto tempo com outros semideuses e nunca foi diretamente atacada por um monstro? – Drake perguntou ao meu lado.

Não tirei os olhos da luta. Sean fintou mais um chute, e quando Alan estendeu o braço para defender, ele atingiu seu pescoço com a “faca da mão”. O garoto fez uma careta de dor, mas reagiu mais rápido do que Sean esperava, agarrando seu braço e puxando-o mais para perto, com o rosto em direção ao seu punho, que atingiu em cheio o nariz. Ele se desvencilhou de Alan rapidamente e deu alguns passos para trás, recuperando-se da pancada, mas o outro não pretendia deixá-lo tomar fôlego e partiu para cima novamente, com uma sequência de socos, dos quais Sean desviou facilmente enquanto limpava o sangue do nariz com as costas da mão.

— Esse tal de Alan não usa muito as pernas, não é? – resmunguei.

— Ele é rápido. – Annabeth comentou, referindo-se a Sean.

— Ele é de Hermes. – falei e Drake olhou para mim.

— Como sabe?

— Observe.

Ele voltou o rosto para a luta. Sean defendeu firmemente o último soco cansado que Alan desferira, ofegante. Ele então deu um sorriso malicioso.

— É agora que ele vai começar. – murmurei, cruzando os braços.

Sean atingiu primeiro os braços de Alan, esgotando seus músculos, até que eles mal pudessem se erguer, e então começou uma sucessão de socos rápidos e sem muita força em seu tórax. Apesar de não ter muito impacto eu sabia que aquilo não era fácil de aguentar. Os braços de Sean se moviam quase rápidos demais para que acompanhássemos, e ele teria facilmente terminado a luta ali, mas parou, apenas para dar uma rasteira em Alan, que caiu no chão. Simulando um último soco no rosto do garoto caído, Sean deixou claro que aquela luta estava acabada.

— Ele era capaz de roubar minha faixa sem que eu percebesse. – falei para Drake – Enquanto eu a estava usando. Eu não sei você, mas não acho que os filhos de Ares sejam tão sutis.

Ele ergueu a sobrancelha.

— Bom, então eu acho que devo a Kyle dez dólares.

Sean veio correndo até nós.

— Mayara-senpai, como eu me saí? – ele perguntou ansioso, com o cabelo caindo no rosto.

Coloquei a mão em sua cabeça e o virei de volta na direção de Alan, ainda fazendo esforço para se levantar.

— Não abandone seu adversário dessa forma, garoto. – repreendi – Você nem mesmo o cumprimentou.

Ele arquejou e correu de volta, estendendo a mão para ajudá-lo a levantar.

— O que é isso de “Mayara-senpai”, afinal? – Annabeth perguntou.

Fiz um gesto com a mão.

— Nosso professor, o “Sensei”, era exigente. – respondi – Nós tínhamos que usar os termos japoneses, cumprimentar um por um ao chegar na sala, e levantar por ordem de faixa depois do encerramento da aula. Senpai é o termo que se usa para designar “aluno mais graduado”. Eu já expliquei para Sean umas duzentas vezes que ele só precisa me chamar assim no dojo, mas ele não consegue. Ou simplesmente não quer, não sei.

Drake se desencostou das barras e caminhou até Alan, certificando-se de que ele estava bem. Com um suspiro insatisfeito, ele pediu que Shayla levasse o garoto para a enfermaria, e então se virou para o restante do grupo.

— Pois bem, alguém ainda quer lutar com a May? – perguntou.

Os campistas hesitaram, e eu me certifiquei de mandar olhares fuziladores para todos, desencorajando-os a tentar. Ninguém se manifestou. Sorri internamente, feliz que meu plano havia funcionado. Eu sabia que se Sean lutasse primeiro e vencesse – o que eu sabia que ia acontecer – ninguém iria querer experimentar um confronto com uma garota que era ainda mais forte que ele.

— Ótimo. – meu irmão disse – Vamos à aula, finalmente.

Annabeth parou ao meu lado.

— Você fez de propósito. – ela murmurou, parecendo divertida.

Dei de ombros.

— Eu posso não ser a filha de Atena mais genial desse Acampamento, mas ainda posso usar estratégia.

Ela deu um sorriso maldoso.

— Bom, espero poder te pôr à prova eu mesma qualquer dia desses. – disse, e caminhou para junto de Drake.

Senti um arrepio percorrer minha espinha.

— Droga.

 

 

— Sente-se, Mayara. - disse Quíron, e eu obedeci. Ele ergueu um copo e este se encheu de néctar. Após um longo gole, ele respirou fundo e continuou - Temos uma longa conversa pela frente. Por que não me conta sobre o ferimento?

— Não há muito o que contar. - falei - Num dia meu corte estava aberto e no outro estava completamente cicatrizado. Michael acha que algo me faz processar com mais facilidade o Néctar e a Ambrosia. Mas ele também diz que isso pode não ser bom. Você não acha que é alguma maldição, acha?

—Ah, não se preocupe quanto a isso. - ele falou - Embora eu não esteja em poder de dar todas as respostas para o seu caso, sei de algumas coisinhas. Só para confirmar, qual seu nome completo?

— Mayara Jacobs Greno. - Respondi mesmo que não gostasse de mencionar o último nome, que soava como se alguém completamente sem criatividade e com um péssimo dom para escolher nomes houvesse inventado isso e resolvido transformar em um sobrenome.

Quíron coçou a barba e balançou a cabeça.

— Sim, foi o que eu imaginei. May, a família Greno é quase tão antiga quanto a Grécia. Perceba como os nomes Grécia e Greno são similares. É uma família de extrema importância na história.

Ele guiou sua cadeira de rodas até uma estante de livros que estava parcialmente escondida em um dos cantos da parede da sala. Passou os dedos entre os livros rapidamente e então retirou um. Não consegui ver o que tinha escrito na capa, mas Quíron rapidamente o abriu e folheou, procurando alguma coisa.

— Esse é um livro sobre as famílias mais importantes da história dos Gregos e Romanos. Há diversas aqui que surgiram, mas que foram extinguidas. E há outras, como a sua, cujas linhagens remotam desde a época antes dos antigos e que perduram até hoje. - Ele me passou o livro - Dê uma olhada.

O livro estava aberto numa página cujo título era escrito em letras grandes e destacadas: FAMÍLIA GRENO. Logo abaixo, parágrafos e parágrafos se estendiam contando histórias e descrevendo pessoas importantes. Passei as páginas até que o próximo título aparecesse. Devia ter no mínimo umas quinze páginas apenas sobre os Greno.

— Meus deuses... - sussurrei ainda tentando absorver tudo.

Tenho certeza de que algum tempo atrás eu teria surtado, mas ao observar Annabeth, Drake e Jake, ainda que por poucos dias, eu havia percebido que é sempre importante manter a calma e digerir as informações com cuidado. Perder o controle, eu sabia, não era algo que eu podia me dar o luxo de fazer, ainda que viesse acontecendo com frequência. Assim que meu coração começava a bater mais forte, eu começava a longa contagem mental até cem, como Shayla havia me dito mais cedo, esperando que o nervosismo passasse. Era exatamente o que eu estava fazendo no momento.

— Esse é apenas um resumo curto. Temos um livro somente sobre os Greno, mas não acho que esteja pronta para ele ainda. Eu sei que pode ser um tanto estranho para você saber disso e eu gostaria de poder lhe informar mais a respeito, mas preciso ter certo cuidado com o assunto. Quero ter certeza de que esteja pronta para receber todas as informações. De qualquer jeito, não confunda: sua família foi importante, mas você não vai achar nada sobre nenhum deles nos registros comuns, tampouco vai encontrar algum Greno em uma lista de pessoas famosas. Vocês sempre agem nas sombras, e normalmente não se misturam com o restante dos semideuses.

Não se misturam? O que exatamente isso significava? Aquela história estava cada vez mais estranha. Eu sentia que havia algo que ele não queria me dizer, mas afirmei com a cabeça, deixando isso de lado. Estava correndo o risco de ficar ainda mais confusa, então resolvi redirecionar a conversa, tentando chegar a algum esclarecimento de fato.

— Quíron, como exatamente isso tem a ver com a questão do meu corte?

Ele voltou a alisar a barba.

— Precisa saber, May, que eu não deveria ser aquele a lhe passar essas informações. As coisas têm um jeito de acontecer entre os Greno... No entanto, seu pai me incumbiu de lhe ensinar e fazer com que esteja pronta. Sobre o seu corte, certamente está relacionado com a benção dos deuses que sua família carrega.

Franzi a testa.

— Benção dos deuses. – repeti, ignorando a parte sobre meu pai tê-lo incumbido de sei lá o que. Talvez meu plano estivesse falhando.

—  Sim. É algo para conversamos mais tarde.

“É algo para conversamos mais tarde” eu bufei mentalmente. Balancei a cabeça por um instante, pensando no que aquilo poderia significar.

— A verdade, May, é que não há muito que eu possa explicar no momento. E há certas coisas que preciso rever. - Quíron continuou - Faz muito tempo desde que tivemos um Greno aqui no Acampamento.

— Por que? - quis saber.

— Geralmente vocês resolvem seguir caminho como solitários, ou partem para outros países e se mantêm no anonimato. Há muitos Greno espalhados pelo mundo.

— Ah. Entendo. – na verdade eu não entendia, mas não achei que ele fosse explicar caso eu perguntasse.

Seguiu-se um momento de silêncio até que resolvi trazer outra questão:

— E quanto à minha espada? Annabeth falou que preciso provar ser digna dela, mas não entendo como posso fazer isso.

— Hum... Prata Olimpiana, certo? – ele disse – Bom, acho que posso te explicar sobre isso. Na sua família, espadas são passadas de geração a geração. Você não é a primeira dona de Prostátida. Deixe-me mostrar, tire-a do braço.

Eu obedeci e ele a tomou nas mãos, apontando para a inscrição.

— “À filha da sabedoria, àquela que é destinada. À portadora da arma, a benção de Atena.” – recitou – Veja, o primeiro verso refere-se a você, a filha da sabedoria. Essa inscrição muda quando a lâmina muda de dono. O segundo verso, no entanto, refere-se a todos os antigos portadores desta espada assim como a você, e é permanente. Com um certo objetivo, todas as armas dos Greno são encantadas sob a benção de algum deus. A arma, uma vez escolhida por um guerreiro, crescerá com ele, ou o rejeitará. Mas é somente durante as batalhas que o laço vai se formar. Quanto mais forte o portador ficar, mais forte a arma, como se fossem um só.

— Isso quer dizer que para que ela me aceite eu preciso usá-la em situações de perigo real?

Ele assentiu.

— Você saberá que ela te julgou digna quando seu brilho ficar intenso demais para olhar depois de uma luta. Ela vai emitir esse brilho e então seu laço estará feito. A partir daí, começa o crescimento dela como sua arma: ficando mais afiada, mais precisa, seu peso irá se ajustar à situação. E, mais importante, ela não será capaz de te ferir. Quando o portador morre, é como se a espada fizesse um “reset” e voltasse a seu estado inicial, por isso Prostátida está desse jeito. Ela na verdade pode se tornar muito mais afiada e forte. No entanto, preste atenção: não é simples criar esse laço. Não vai ser em um treino qualquer que vai acontecer.

Assenti, imaginando se havia entendido tudo certo. Pelo menos isso ele havia explicado, apesar de eu ainda estar um tanto pasma com toda aquela história. Se havia compreendido corretamente, eu descendia de uma família antiga, cuja história estava entrelaçada à da própria Grécia e que possuía uma benção divina, o que me conferia uma cura acelerada. Nossas armas eram encantadas por algum motivo, e são passadas a frente de geração em geração. Minha família também, ao que parecia, era bastante antissocial, e não mandava seus jovens para o Acampamento.

Mas nenhuma dessas informações era completa, pelo contrário, apenas geravam mais perguntas. Quer dizer, de que forma estávamos ligados à história grega? Qual era exatamente essa benção? Por que motivo precisávamos de armas especiais? E para onde iam se não vinham ao Acampamento?

Obriguei-me a parar de pensar. Certamente não chegaria a lugar algum.

Quíron pegou o livro das minhas mãos.

— Bem, acho que por hoje é só. Embora o Olimpo esteja... um pouco difícil de contactar, vou tentar falar com Atena. Preciso me inteirar da situação. Mas veja, sua família tem uma história que é no mínimo intensa. Todos os seus parentes tiveram uma trajetória difícil, caminhos complicados. Não quero te assustar, mas preciso te dizer: a sua história não será fácil. Você veio parar no Acampamento por alguma razão e vamos descobrir qual é. – ele suspirou – De qualquer forma, não se preocupe demais sobre seu futuro. Enquanto estiver no Acampamento, concentre-se em treinar e aprender tudo o que puder. Seja qual for o destino que as Parcas lhe reservaram, vou garantir que esteja pronta para enfrentá-lo. Nós vamos ajudá-la.

— Obrigada, Quíron. – foi tudo o que consegui dizer.

Saí da Casa Grande mais confusa do que quando havia entrado.

Mais tarde, já no chalé de Atena, eu fingi que dormia, apenas para que Annabeth e os outros não me perguntassem o que Quíron havia dito. Embora eu desconfiasse que Annabeth já sabia de tudo, ainda estava atordoada demais com tudo aquilo. Não podia acreditar naquela história. Não podia acreditar que fazia parte de uma família tão importante. Logo eu, Mayara Jacobs, a impulsiva filha de Atena que não tinha absolutamente nada de especial.

“Um, dois, três...” contei interminavelmente.

Depois de horas de insônia, caí num sono perturbado e inquieto.

 

 

Eu tive um sonho perturbador.

Estava assistindo a mim mesma batendo na porta de casa impacientemente. Eu estava estranha. Olhava fixamente para a porta e não movia nem um músculo além da mão estendida para bater nela. Era estranho também o fato de eu estar batendo, já que tinha campainha. O meu eu do sonho não devia saber disso.

Observei-a mais atentamente. Seu rosto estava contraído em uma carranca esforçada de concentração e havia suor escorrendo por sua testa. As pupilas estavam estranhamente dilatadas e a mão esquerda fechada com força, a ponto de os nós dos dedos estarem brancos e as veias aparentes.

Então, todo o seu corpo estremeceu e um grito esganiçado saiu de sua garganta. Ela deu um passo desesperado para trás e quase caiu no chão. Mas seu corpo retesou e ela voltou a bater na porta, com o rosto ainda mais concentrado, como se estivesse lutando para ter o controle do próprio corpo.

Havia alguma coisa errada com ela.

Ouvi passos do lado de dentro da casa e a voz de meu pai gritou um “já vai” apressado. Desejei desesperadamente que ele não abrisse a porta. O que quer que estivesse acontecendo com o meu eu do sonho, não podia ser boa coisa.

Meu pai abriu a porta.

— Filha, mas que surpre... - então ele notou a aparência dela e seus olhos se encheram de fúria - Vocês.

Ele puxou a corrente em seu pescoço e uma espada de prata apareceu. Não qualquer prata, percebi, surpresa, prata olimpiana.

— Layla. - disse sem tirar os olhos da Mayara do sonho - Esconda as crianças.

Layla saiu com Luther e Laura e depois voltou segurando uma adaga.

— Soltem-na. - ela falou com determinação e eu fiquei desesperada para obedecê-la, mas não estava segurando nada, então fiquei confusa e quase lhe pedi desculpas. Daí percebi que ela estava falando com o meu eu do sonho.

O corpo da garota tremeu novamente e ela, apoiada nos joelhos, sussurrou um "fujam" fraco, mas logo sua coluna se endireitou e um sorriso horrível se formou em sua carranca.

— Não tão fácil, senhora. - disse ela, sua voz soava gélida - Dessa vez, sua família não vai conseguir nos vencer.

E, com uma risada horrível, ela se lançou contra os dois.

 


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Notas finais do capítulo

Eu de novo ^^

Então, este é o Sean, nosso novo personagem. Ele treinava com a May, e tem um fascínio por ela. Ele me diverte, mas não posso dizer que terá um papel muito forte nessa fic. No entanto, tenho planos para ele no futuro... ~sorriso malicioso~

Enfim, viu algum erro? Acha que há algo que posso melhorar? O que mais gostou no capítulo? Deixa seu comentário aí ^^

Ah, tem mais uma coisa: estava me perguntando qual seria o shipper para Mayara e Michael. Vocês por acaso teriam alguma sugestão?

É isso ^^
Próximo capítulo na quarta ^^
Até lá :3