À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 73
Capítulo 60 - O Que a Minha Instabilidade Custou


Notas iniciais do capítulo

HEEEEEEEEEEYYYYY
Amores! Eu estava morrendo aos poucos de saudades >.<
Primeiramente, devo pedir perdão por levar uma eternidade para postar. Meu motivo era o Enem, e depois um bloqueio criativo. E, semana passada, fui assaltada e levaram meu celular, que eu estava usando para escrever. CARACA QUE NOVEMBRO TÁ ME DERRUBANDO DE UM JEITO QUE OLHA.... Também perdi o teste de direção >.< Dá pra entender porque eu tava na bad?
MAS PASSOU! Ou melhor, estou trabalhando nisso. E escrever costuma ser uma boa cura pra essas coisas, então TÔ DE VOLTA!
Tenho que confessar que sinto falta da ação nessa fic. Nos últimos capítulos, temos mergulhado bastante no psicológico da May e em seus conflitos interiores. Está na hora de partirmos para a luta de verdade, certo? Portanto, próximo capítulo partimos pro sangue YEEY
Anyways, agradeço a Ary, Malika e Virgínia Machado pelos comments no último Capítulo ♥ ♥ ♥ Vocês me dão uma razão para seguir em frente com a May.
Agora vou parar de enrolar.



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Minha cura foi lenta, mas eu já estava farta de levar tanto tempo para sarar minhas feridas. Comecei a ter a sensação de que cada dia que eu passava sem ativar o feitiço de Prostátida era mais um dia de vitória para Gaia. No entanto, mesmo com essa sensação crescendo em meu peito, demorei para conseguir empunhar minha espada de novo, e mais ainda para ser capaz de ativar o feitiço. 

Eu havia pedido a Ian que me levasse de volta para o campo de batalha, e foi o que ele fez. Nós começamos uma saga, indo de cidade em cidade, varrendo-as e limpando-as com ferocidade. A única coisa que eu ainda não podia enfrentar eram eidolons, mas erradicava o resto: mantícoras, ciclopes e até monstros aquáticos. Parei de descansar. Havia uma fúria dentro de mim, e caçar monstros a aquietava. Eu tinha medo de deixá-la sair da forma errada, por isso lutei até minhas forças se esgotarem. Feri e fui ferida. Ian e eu treinamos e fui melhorando na esgrima, a ponto de conseguir aguentar muito mais tempo contra ele em nossos duelos. 

Demorou quase um mês antes que finalmente eu pudesse exorcizar alguém de novo. Quando proferi as palavras do feitiço e o portal para a lâmina foi aberto, tentei com todas as forças identificar a voz de Michael gritando juntos com todas as outras almas presas em minha arma, mas não consegui distingui-la. Era um alívio. Sabia que seria muito mais difícil se conseguisse ouvi-lo gritar. Ao mesmo tempo, tive medo. Medo de que, sem ouvir seu sofrimento, eu me acostumasse com sua morte e não tivesse mais aquela fúria queimando como combustível para achar uma solução. 

A solução. Também procuramos por ela. Nós nos infiltramos em cada base Greno que encontramos pelo caminho de Phoenix até Santa Fé, mas nenhuma delas tinha alguma biblioteca que pudesse ser útil. E talvez, mesmo que tivesse, ter que dar uma de desaparecidos deixava tudo mais complicado. Como Izumi dependia de que o paradeiro de Ian e a minha identidade permanecessem incógnitos, Ian não podia usar sua influência de forma muito incisiva. Ele disse que, ao contrário do que ocorria dentro da Teia, ali essas informações correriam e se espalhariam como um vírus. Portanto, os resultados da nossa procura se limitaram a alguns trechos vagos que afirmavam apenas o enorme risco corrido por aqueles que tentavam reverter a situação de um eidolon, sempre usando como base a história de Daímonas.

Daímonas era outro problema. Eu decidira esperar antes de conversar com ele novamente, pois não tinha certeza de meu controle sobre meus sentimentos contra ele. Se eu me deixasse dominar pela raiva que nutria, ele já teria vencido. Por isso, o dia em que finalmente abri a caixa da Página de Prata novamente só aconteceu depois do novo chamado de Izumi. 

A carta chegou depois de trinta e dois dias sem notícias. Ian já estava se contorcendo no sono, preocupado com Charlotte. Era uma angústia para mim também, pois ele havia se tornado a âncora da dupla. Se ele balançava, eu também oscilava. Quando a carta chegou, as notícias eram boas. Izumi não deixou assinatura e nem citou nossos nomes, deixando claro que temia ser interceptada. Disso deduzimos que as coisas estavam apertadas para ela e o resto da equipe. E as palavras diziam forma curtas:

"Charleston, Virgínia Ocidental, em sete dias. Não se preocupem, todos estão bem. Mensagens de Íris não funcionam. As sombras levarão a mensagem, não respondam esta". 

De fato, as Mensagens de Íris não estavam funcionando, de forma que minhas notícias do Acampamento estavam um tanto limitadas. Tudo o que eu sabia era que Shay continuava em coma, o corpo de Mike ainda estava sendo conservado por uma magia que parecia vir da força vital dela, e meus irmãos restavam relativamente bem, mesmo em meio à bagunça do lugar. 

De um jeito ou de outro, as instruções de Izumi nos tiraram da ociosidade e nos deram um novo rumo, para o qual começamos a nos preparar. Partimos para Ohio, onde ficamos esperando a data chegar. 

Agora, coisas importantes aconteceram nos três dias que esperamos em Ohio. 

A primeira foi minha conversa com Daímonas. 

Ian decidiu permanecer no quarto comigo enquanto eu o invocava. Dias antes, nós havíamos lido a respeito da autoridade que o contratante tinha com o Livro, e o texto deixava a entender que, quanto mais tempo se passava como mestre, mais obediência o Livro lhe devia. Isso porque, quanto mais o mestre resistia às induções, mais o sangue do demônio era purificado. Contando todo o tempo que já se passara desde aquele dia na Casa Grande do Acampamento, eu já devia ter cerca de três ou mais meses de contrato, sendo que a média chegava a ser quarenta e cinco dias antes da quebra da maioria dos contratos que Daímonas firmara. Por isso decidimos testar até onde ele me obedeceria. 

— Milady...— a voz dele soou fria como sempre enquanto fazia sua reverência com os dois dedos sobre o coração.

Daímonas ergueu o olhar para Ian, fitando-o por alguns segundos, e então voltou-se para mim. Apesar de sua expressão conter a despreocupação e voracidade de sempre, percebi subitamente a falta de alguma coisa. Eu o encarei de volta com intensidade, em busca do que havia mudado. Seus olhos escarlate se mantinham brilhando, e o rosto pálido ainda exalava morte. O que faltava...?

Seu sorriso. Faltava-lhe o sorriso de deboche faminto por vingança. Faltavam-lha os dentes caninos à mostra para ressaltar sua natureza demoníaca. E mais: suas asinhas de demônio arrastavam-se às suas costas, murchas.

"Por que mudou?" Perguntei a mim mesma, franzindo a testa.

— Faz um bom tempo desde a última vez.— ele disse - Cheguei a pensar que houvesse desistido de mim, assim como todos os outros. 

Troquei um olhar com Ian, o qual esbanjava repulsa pelo garoto preso à Página. 

— Eu te falei que conversaríamos depois, não falei? - suspirei - E tembém, eu não sou como todos os outros que desitiram tão facilmente. Pretendo levar isso até o fim.

Fiz uma pausa e fitei seus olhos vermelhos com determinação.

— Mas você tem se divertido bastante ao tornar as coisas mais difíceis pra mim, não é? - continuei, em tom ácido - O que acha dos sacrifícios que tomou como pagamento? Têm sido o suficiente para satisfazer sua fome?

Esperei sua risada ensandecida ou o olhar devorador, mas sua expressão pouco mudou. Era quase como se ele estivesse cansado de mais para se esforçar com seus costumeiros deboches e provocações.

Bem, milady com certeza já durou mais que a maioria.— comentou, com uma nota de graça na voz. Mas de alguma forma aquilo me soou muito triste - Será que eu deveria criar alguma expectativa, já que tem superado todas as minhas investidas? 

"Criar expectativa", meditei em silêncio. Isso quase soava como se a vontade dele, lá no fundo, fosse que eu resistisse até o final.  Permaneci séria, e continuei quase como se nem mesmo houvesse dado atenção ao que ele falara: 

— Seja como for, esse tempo sem falar com você foi para sua própria segurança - afirmei, sincera - E o fato de eu voltar a te convocar é para a minha. 

Eu o olhei de alto a baixo, ainda estranhando sua aparência e atitude. Mesmo com um pressentimento revirando aqui dentro, ative-me ao plano.

— Descobri que, com passar do tempo, eu tenho mais autoridade sobre você. 

Seus olhos brilhantes pareceram intrigados.

— Decidi que vou testar até onde o nosso contrato te obriga a me obedecer. 

Daímonas finalmente soltou sua risada. Mas era um riso de puro prazer e empolgação, longe de carregar sua malícia e desprezo característicos. 

Ah, você é realmente a melhor, milady.— disse, dobrando os joelhos e apoiando sobre eles os cotovelos - Pois bem, estive esperando por isso. Teste-me.

Troquei um olhar com Ian. Havia algo muito errado com Daímonas. Estava ficando cada vez mais difícil ignorar aquele sentimento, o qual se tornara quase uma voz gritante em minha mente. Droga. Ele não ia gostar disso, mas eu teria que mudar o plano. 

Estreitei os olhos enquanto rapidamente chegava a uma estratégia minimamente aceitável. 

— Estou propondo um acordo, uma troca. - falei, em um tom que mostrava mais confiança do que eu realmente tinha - Você sempre escolhe o pagamento por minhas perguntas depois que já as fiz, mas dessa vez eu mesma direi o que será dado em troca pela sua resposta. 

Daímonas abriu um sorriso.

Parece interessante.— disse - Faça a sua proposta, eu direi se é justa. 

— Dessa vez, será uma pergunta por outra. - sugeri, direta - Como uma troca de informações. O que acha? Tem algo que deseja me perguntar?

Ele assentiu. 

Ah, que interessante...— ele disse - Então faremos como A Teia? Direi minha pergunta e você dirá a sua. Se for uma troca justa, daremos as respostas. 

— Fechado. - respondi, e me preparei para formular uma boa pergunta, mas ele recomeçou:

— Se me permite, milady, eu tenho uma condição. 

Ergui as sobrancelhas, interessada tanto pela sua fala quanto por seu tom de voz. Aquele quê de submissão era algo novo para mim. Definitivamente aquele não era o mesmo demônio que eu conhecera quando abrira a Caixa pela primeira vez. Isso devia significar que eu estava fazendo um bom trabalho, não? De repente me senti bastante satisfeita comigo mesma. 

— Diga. 

Ele lançou um olhar a Ian, franzindo o nariz. 

Eu não vou falar nada com ele aqui.— falou, determinado - Milady é a única com quem falarei. Só você e mais ninguém. Muito menos ele. 

Achei graça. Principalmente porque soava como um capricho infantil. 

— Pois bem, então. - concordei.

— Maya! - Ian protestou, mas eu o calei com um olhar.

Aproximando-me o suficiente para que só ele ouvisse, sussurrei:

— Confie em mim, acho que sei o que estou fazendo.

— Você acha? 

Dei de ombros.

— Maya, o plano era testar a obediência dele em coisas pequenas, e tentar descobrir o alcance das ações dele no mundo mortal. - argumentou - Porque está mudando tudo?

Dei dois tapinhas em seu peito.

— Não se preocupe, cérebro de camarão. Se o que estou pensando realmente aconteceu, assim vai ser até mais fácil de saber essas coisas. - segurei seus ombros e comecei a empurrá-lo para fora - Agora dê licença, hm? 

E o fechei fora do quarto. 

— Satisfeito? - perguntei a Daímonas.

O garoto assentiu.

Então, qual a sua pergunta, milady? 

Limpei a garganta.

— Então, serei direta com você. - falei, sentando na ponta da cama e cruzando os braços - O que quero saber é o seguinte... Algo mudou em você desde a última vez que nos encontramos. Falta-lhe o sorriso debochado, e vejo traços de uma submissão relutante. A pergunta é: por que?

Ele ficou quieto, talvez considerando a questão. Perguntei-me se teria sido melhor fazer de conta que não vira aqueles sinais, mas agora já era tarde. 

— Como sempre muito atenta, milady.— comentou após o silêncio - Bom, já que perguntou algo pessoal assim, serei proporcional.— ele se inclinou para frente, parecendo olhar bem meu rosto - Milady também mudou nos últimos tempos. Falta-lhe a agressividade, e vejo despontar o que eu poderia chamar de, no mínimo, um apreço mútuo. 

Franzi a testa e ergui a mão.

— Espera, apreço por quem?

Ele sorriu.

Pelo filho das águas, é claro. De qualquer jeito, a pergunta é: o que sente por ele? 

Inclinei a cabeça para o lado, confusa.

— Por que quer saber disso? - perguntei, desconfiada.

Ele apenas deu de ombros, travesso. 

Só estou sendo proporcional.

Engoli em seco. 

E se eu dissesse tudo e assim tornasse Ian um alvo para suas investidas? Afugentei esse pensamento. De um jeito ou de outro, Daímonas já sabia que Ian era próximo a mim. Se ele quisesse fazer de Ian um alvo, não precisava da minha resposta. Embora parecesse perigoso, tive um pressentimento de que deveria prosseguir. Afinal, não era como se eu tivesse grande coisa para revelar a Daímonas.

— Pois bem. - concordei - Responderei primeiro então. Ian é meu companheiro. Portanto, é meu apoio e amigo fiel, a quem respeito e a quem desejo proteger em troca. Para mim, ele é absolutamente essencial.

O garoto sorriu sem mostrar os dentes, divertido.

Ah, milady, parece que sobre isso eu sei mais do que você.— comentou, fazendo-me franzir a testa - Mas o importante é que sua resposta corresponde à sua verdade. Sendo assim, direi a resposta para a sua pergunta. 

Deixei seu cometário de lado e o observei atentamente enquanto ele se sentava sobre a estaca e balançava as pernas no ar. 

Milady está olhando na direção errada.— começou - O importante não é que eu mudei, mas que você mudou. Meu estado é sempre o resultado de dois fatores: o quão longe a purificação atingiu e o estado de espírito do meu mestre. Em primeiro lugar, já faz mais tempo que estou com você do que a maioria dos contratos que formei durou. Sendo assim, hoje a purificação já foi muito mais longe, humanizando muitas partes de mim que foram demonizadas. 

Levei a mão ao queixo. Aquilo era interessante, no mínimo. Reconfortante de ouvir.

— Então, isso quer dizer que você está mais humano que três meses atrás? Que está se recuperando?

Ele assentiu. 

Mas isso não quer dizer que milady deva ficar aliviada. Daqui em diante também será difícil. Isso porque depois que começo a voltar a ser um espírito humano, a tendência é formar um laço de confiança com o contratante. Mas estarei sempre oscilando, sutilmente tentando te influenciar. Milady não pode confiar em mim. 

Senti sua tristeza naquelas palavras. Parecia que lamentava por experiências anteriores, nas quais outros contratantes desistiram dele ou foram consumidos por suas induções. Tentei imaginar como seria uma vida assim: indo e voltando entre a humanidade e uma natureza perversa. De repente me pareceu muito plausível que Daímonas secretamente ansiasse pelo descanso que a purificação completa lhe traria. Séculos de uma vida naquele ritmo faria qualquer um querer desistir de viver, mas ele estava confinado de tal forma que não podia nem mesmo acabar com a própria vida, preso àquela página, condenado a ficar assim até que finalmente perdesse uma longa luta contra alguém corajoso o suficiente para resistir-lhe. Foi quando senti que, se eu estivesse no lugar daquela criança, já teria enlouquecido há muito tempo. 

— Mas... Por que está estável agora? - perguntei. 

Ele sorriu.

— Porque milady está estável. Está relaxada, e mentalmente saudável. Mas, quanto mais agitadas forem as suas emoções, a sua mente, mais instável eu fico. Porque o nosso sangue é um só, quanto mais controle milady tiver sobre si própria, mais controle terá sobre mim. 

Apertei os lábios, meditando. Se era assim que funcionava, isso explicava como seus ataques costumavam ocorrer nos piores momentos da minha jornada, como após o sonho com Jayden, quando eu estava chocada e desestabilizada. E isso também significava que dali para frente eu precisava ter um bom controle de mim mesma. Talvez isso devesse ter me assustado, já que minha natureza era ser explosiva e emotiva. No entanto, de alguma forma, senti-me confiante de que poderia conseguir. Durante as últimas semanas, com a folga quanto aos negócios da Família, eu havia reganhado autocontrole e reconstruído a mim mesma, erguendo-me de um estado destroçado. Havia ficado, acreditava eu, mais forte do que era antes. Manter Daímonas em um caminho firme rumo à retomada de sua humanidade seria a prova disso.

Enquanto eu pensava, ele raspava o dedo na estaca de madeira em um movimento quase ansioso, atraindo minha atenção para o objeto pela primeira vez. Não havia percebido antes como aquela estaca parecia ter sangue seco grudado à sua extensão, principalmente na parte que emergia da Página. 

Milady...— a voz dele soou em um tom tímido que me pegou desprevenida. 

Ergui os olhos para ele, desconfiada do que viria a seguir. 

— Sim? 

Se eu quiser fazer uma pergunta, também podemos fazer a troca? 

Reprimi a expressão surpresa que me veio diante da indagação, mas era impossível parar as milhares de perguntas que se formaram em minha mente. Que tipo de truque ele poderia esconder por trás daquilo? Hesitei, mas cheguei à conclusão de que, se seguiríamos o mesmo esquema, não havia muito que ele pudesse fazer para me prejudicar. Embora uma parte de mim gritasse que estava tomando riscos demais numa conversa só, decidi concordar:

— Hoje podemos. Tem algo que queira saber? 

Ele parecia estar tentando esconder suas verdadeiras emoções, então sorriu preguiçosamente: 

— Você e seu "parceiro absolutamente essencial" andaram pesquisando sobre mim.— falou, em um tom que julguei quase desconfiado - Eu queria saber... Se nessas pesquisas você não teria encontrado o meu nome original. 

Permaneci com a boca calada, quieta e apreensiva com seu questionamento. Ele queria saber seu próprio nome? Por que? Ou melhor, como era possível que ele não soubesse? Logo estava vasculhando minha mente em busca de alguma menção que eu e Ian podíamos ter deixado passar, mas nada parecia surgir. E mais perguntas vieram com isso: por que? Por qual motivo seu nome havia sido apagado dos registros dos Greno, bem como da memória dele? 

Olhei em seus olhos, que exprimiam um brilho ansioso que quase partiu meu coração. Ele deve ter percebido que eu não tinha suas respostas, pois deixou os ombros caírem.

Achei mesmo que não...— murmurou. 

Mordi o lábio inferior. 

— Mas eu posso procurar. - falei por impulso e ele arregalou os olhos.

Quase me arrependi, mas Daímonas se adiantou:

Se milady puder achar, responderei três perguntas. 

Não precisei nem mesmo de tempo para decidir que não tinha absolutamente nada a perder com aquela proposta. E antecipei: 

— Se eu conseguir, a primeira coisa que quero saber é sobre essa estaca que sempre emerge com você quando te invoco. Certo? 

Ele baixou os olhos para a madeira, e o vi apertar os punhos em hesitação e raiva. Aquela reação só me dava a certeza de que estava escolhendo uma pergunta importante. O menino levou alguns segundos antes de concordar, e dei minha cartada final:

— Enquanto isso, vou te chamar de Dimmy. 

Ele quase caiu para trás ao subitamente perder o equilíbrio. Até eu fiquei surpresa: nunca o havia visto tão desconsertado. Após se segurar firmemente à estaca, ele ergueu para mim um olhar que me lembrou seu costumeiro ar perigoso e disse:

— Acabo de te avisar para ter cuidado comigo, e milady decide me dar um apelido... Não tem medo do aonde tal intimidade pode te levar? 

Mantive no rosto minha melhor expressão de altivez. 

— Um apelido me colocaria em perigo? - questionei e sorri para ele - Garoto, estaríamos ambos perdidos há muito tempo se este fosse o caso. Eu só estou buscando por praticidade, já que sempre achei "Daímonas" longo demais. E porque você parecia muito sedento por um nome quase agora. 

Ele apertou os lábios, mas depois soltou uma risada:

Você sempre me surpreende, milady, sinceramente. Nunca sei julgar se suas escolhas são inconsequentes como parecem ou inteligentes demais para que eu entenda. 

Suspirei com um sorriso pequeno. Internamente, tinha a mesma dúvida, mas ele não precisava saber disso. 

— Pelo bem de nós dois - falei - torça para que seja a segunda opção. 

 

 

 

É claro que Ian me repreendeu por tê-lo colocado para fora do quarto. E, para abrandar sua irritação, eu estava prestes a deixá-lo ganhar no Xadrez quando ouvimos a batida na porta. Ambos congelamos, preocupados. Ninguém nunca batia à nossa porta. Coloquei minha mão sobre minha pulseira, pronta para evocar Prostátida, mas não tive tempo, pois no segundo seguinte a porta foi escancarada por um vento forte e duas figuras irromperam quarto a dentro. Ian e eu reagimos com rapidez: ele puxou a espada, que estava sempre ao alcance das mãos, e eu desacelerei o tempo. Avancei ferozmente sobre o alvo mais próximo a mim, logo erguendo a perna em um chute à altura do rosto ao mesmo tempo que puxava minha espada e... 

Assustada, desativei meu poder a tempo de parar o golpe antes que meu pé atingisse o rosto de Matthew. Ian, no entanto, chegou a atingir Kess, que defendeu a estocada com suas lâminas duplas cruzadas. 

— Matt?! - consegui exclamar ao mesmo tempo em que Ian abaixava sua arma, surpreso.

O garoto sorriu tranquilamente.

— Oi, May. - respondeu - Parece que seu tempo de reação está cada vez melhor, hein? 

Animada, deixei Prostátida cair e joguei os braços ao redor do pescoço dele.

— Pelos deuses, que saudades! - falei, rindo, enquanto o abraçava forte.

Matthew se encolheu um pouco, mas deu tapinhas nas minhas costas em um abraço tímido.

— Ah, vocês dois... - a voz de Ian soou mau-humorada - Tinham mesmo que entrar desse jeito? 

Eu me afastei de Matt, rindo de seu rosto vermelho como um pimentão, e também abracei Kess, que me girou no ar, gritando animado como eu. Antes mesmo que o garoto que colocasse no chão após o rodopio, Ian me tirou de seus braços e lhe deu um cascudo.

— Poderia morrido. - repreendeu. 

— Ou vocês poderiam ter morrido. - Kess provocou, o que fez Ian tentar lhe dar mais um cascudo, do qual ele desviou. 

Matthew riu, e respondeu:

— Só quisemos fazer uma pequena pegadinha. Parecia uma boa oportunidade de pregar uma peça em vocês. 

— Que fique claro que eu não concordei com isso. - uma voz soou atrás de nós. 

Dei um pulo ao ver Hiro surgir das sombras ao meu lado. 

— Hiro! - exclamei, pondo a mão no coração para me recuperar do susto. 

Ele me lançou um de seus raros sorrisos. 

— Oi, May. É bom ver que está inteira. 

Senti vontade de abraçar o garoto também, mas me controlei, sabendo que aquele sorriso provavelmente era um gesto já bastante caloroso para ele, então me contentei em bagunçar-lhe os fios negros. Causou-lhe certo desgosto, mas fiquei satisfeita ao ver que não reclamou. Era a primeira vez que eu me dava conta sobre o tamanho da falta que o restante da equipe fazia. Claro que o tempo com Ian havia sido ótimo, mas a saudade daquele bando animado só crescia com o tempo prolongado de separação. 

No entanto, não tive muito tempo para curtir o sentimento de saudade sanada. Ian foi direto ao assunto:

— O que os traz aqui? - perguntou - Achei que estávamos programados para nos encontrar em três dias. 

Matthew assentiu, sério, e ergueu um papel enrolado como um pergaminho. 

— Nós trouxemos os planos. - declarou - Chegou a hora de pegar Himeko.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Eu de novo!
O que acharam? Preparados para o próximo capítulo?
Por favor deixem seus pensamentos nos comentários ♥ São sempre animadores e necessários
Obrigada por ler ^^ Saranghaeyo
~jaa ne!



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