À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 66
Capítulo 53 - Sobre Nós Dois


Notas iniciais do capítulo

Heeeeeeeeeyy!!
Que saudades! ♡♡
Geente, queria ter aproveitado o feriadão para postar mais cedo, mas eu acabei viajando de última hora e não deu >.< Sorry
Mas aqui estou eu :3 Para quem estava querendo descobrir mais sobre como o Ian vê a May, este é O capítulo hehe
Agradeço muito a Ary, que comentou no capítulo anterior. Te amo ♡
Vejo vocês no final ^^



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— Você ainda me odeia?

O silêncio penetrou no ambiente tão afiado e pesado quanto uma lâmina traspassaria meu corpo. Contei cinco respirações entrecortadas, sem saber ao certo se eram minhas ou dele. Por algum motivo, a resposta que eu esperava parecia agravar a dor, como se eu não pudesse suportar mais esse golpe. Como seu meu emocional fragilizado fosse simplesmente se despedaçar se eu tivesse que encarar o ódio que - eu tinha quase certeza - Ian nutria por mim. Foi ali, com os olhos bem apertados pelo temor de receber um "sim", que eu notei com cada célula do meu corpo o quanto dependia de Ian. Ele havia se tornado, em tão pouco tempo, uma parte indispensável de meus dias. E se eu fosse obrigada a me afastar dele por qualquer motivo que fosse, seria como estar mais uma vez completamente exposta à tempestade furiosa que a minha vida havia se tornado, seria perder meu abrigo, meu escape. 

Por isso ali estava eu, as lágrimas pateticamente correndo pelo rosto, como uma criança assustada agarrando os lençóis. Ali estava eu, sofrendo a antecipação de uma resposta como quem conclui que perderá um membro do corpo. Ali estava eu, finalmente admitindo para mim mesma que já era impossível Mayara Jacobs seguir em frente sem um certo filho das águas ao seu lado. Um tal de Ian.

Seu silêncio continuou, fazendo-me esperar interminavelmente. Abri lentamente os olhos e fitei seu rosto. Havia a mais pura, pasma, triste e confusa surpresa em seus olhos quase arregalados. A respiração entrecortada era a dele, então, concluí. Nossos olhares estavam perdidos um no outro, e o dele transbordava melancolia. Com um tom de voz baixo, ele finalemente falou:

— Por que eu te odiaria?

Não me deixei agarrar à pontinha de esperança que quis tomar conta de mim.

— Porque eu tive uma infância normal - respondi, no mesmo tom, ainda presa em seus olhos - Tive a chance de crescer longe dessa guerra, sem tirar vidas, sem ver pessoas amadas morrerem, sem ter que fugir, podendo ter amigos. Porque eu pude proteger meus irmãos. Porque eu tive tudo o que você não teve, e tudo o que não pôde dar a Charlotte. - deixei um soluço escapar, mas me obriguei a respirar fundo e continuar: - Eu me pergunto... Se agora que eu também já perdi tudo isso... Se agora eu já sofri o suficiente para estar ao seu lado...

— Eu nunca quis que você sofresse. - ele me interrompeu - Jamais. 

Aquilo ecoou pelo quarto pelos quase dois minutos de silêncio que se seguiram. Mas aquele silêncio não era afiado e pesado como o primeiro. Na verdade, tinha um tom de passos caminhando. O garoto à minha frente me encarava tão intensamente que pensei que ele seria capaz de desvendar os mais profundos de mim se continuasse me fitando. Era estranhamente confortável.

— Você está errada. - ele tornou a falar - Nada do que disse me faria ter motivos para te odiar.

Não pude me conter:

— Então por que...

— Eu queria te proteger! 

Fiquei muda, os olhos arregalados, o tempo congelado de uma forma que pensei ter ativado minha Habilidade sem querer, mas Ian suspirou e finalmente desgrudou os olhos dos meus. Ele apoiou a cabeça na parede e passou a mão pelo cabelo.

— Os nossos pais... Eles foram amigos. - começou - Kai, Jack e Layla eram uma equipe, sabe? Seu pai era o líder. Os três eram um trio um tanto polêmico, enfrentaram muita coisa juntos, até que alguns problemas os separaram. Meu pai foi mandado ao Brasil, onde conheceu minha mãe. De um jeito ou de outro, nós sempre visitávamos vocês algumas vezes, antes de nos mudarmos para a Austrália. Era engraçado... Eu não sabia muito bem como lidar com você. - ele deu um sorriso amargo - Tão cheia de energia e ideias loucas, era divertido te observar, ver você se meter em encrencas. Se bem que eu acabava sendo arrastado junto algumas vezes. Nós brigávamos de vez em quando, coisa de rolar pelo chão em socos e chutes. Mas no fim sempre era eu quem acabava se sentindo culpado por ter te machucado. Era um tempo bom, da época em que a vida ainda me trazia o vislumbre de um futuro feliz. Um dia... Nossos pais brigaram. 

Ele fez uma pausa e bagunçou os cabelos com a mão mais uma vez. 

— Meu pai sempre achou perigoso que JJ-sama te mantivesse escondida do Conselho, e recentemente as coisas andavam meio perigosas para você, pois alguns estavam desconfiando da sua existência. Ele havia matado uns três caras que vinham te seguindo, e, quando RR-sama soube disso, ela deu um conselho para o seu pai: falou que você devia ser apresentada à Família, e que nossos pais deviam anunciar um noivado entre nós dois. Dessa forma, com o apoio de dois dos Videntes do Conselho, e ainda ligada a mim pelo noivado, os Generais não poderiam te ameaçar... - ele estava vermelho - Ah, mas seu pai não aceitou, e meu pai ficou chateado. Ele tentou persuadir JJ-sama a aceitar o conselho de RR-sama, mas os dois acabaram brigando. Numa punição não declarada por ter matado aqueles caras, fomos enviados para a Austrália, e o contato com seu pai foi reduzido. De tempos em tempos, nós íamos dar uma espiada em você quando estávamos nas redondezas, mas meu pai não deixou mais que eu me aproximasse de você, pois JJ-sama havia apagado suas memórias sobre nós para te manter segura. Depois que meu pai morreu... Eu continuei a vir te ver. Eu me preocupava se você estava segura, se não haviam te descoberto, se estava tudo bem, então eu vinha. E quando eu te via andando pela rua, ou indo à escola, ou brincando com seus irmãos... eu era tomado de alívio. Alívio por ver que você não sofria como eu sofria. Para mim... você parecia a imagem da esperança.

Sob meu olhar espantado, ele pousou a mão na nuca e encostou a cabeça no joelho, colocando o antebraço como uma barreira entre nossos olhos.

— Droga, eu queria te proteger. Você... tudo aquilo que desejei poder ser e ter: uma vida normal, uma família, amigos... Eu te queria onde você estava, longe dessa loucura, longe do sofrimento, longe de mim. Então eu jurei... Jurei que faria tudo o que pudesse para te manter a salvo. Mas fui um fracasso.

Ele se calou, e eu permaneci muda, sem saber o que dizer. Tantas perguntas surgiam sem minha mente, piorando a dor de cabeça. Ele queria me proteger? Como isso era possível? Cinco... Dez segundos se transformaram em minutos de silêncio, nos quais eu tentava encontrar a pergunta certa pra começar. Com certeza a que escolhi não foi a que achei que escolheria:

— Ian... Se você já sabia desde o começo quem era o meu pai... então por que não falou nada quando estávamos indo ao encontro dele em New York?

Ele nem se moveu, mas falou:

— Eu vi que você não tinha ideia de que ele era JJ e que não sabia sobre os videntes. E eu... já havia interferido de mais. Pensei que não tinha o direito de ser aquele a te contar sobre isso, então resolvi deixar que ele te explicasse quando chegássemos lá.

— Só que à essa altura ele já estava morto.

— É. Mas eu não sabia.

— Mas... Você viu o estado de Layla, e me viu fugindo com meus irmãos. Só daí não daria pra deduzir que...

— Eu não queria acreditar, tá legal? - ele me cortou, sua voz um pouco alterada.
Eu o fitei, surpresa com sua reação. Ele começou a suar, mas então respirou fundo e recomeçou mais calmamente.

— JJ-sama... O homem que cresci chamando de tio Jack... É verdade que tivemos problemas entre nós, mas ele cuidou de mim e de Tori de muitas formas: dando pistas para os Asada sobre como nos encontrar na Austrália, ajudando nos treinamentos, dando conselhos. Mais que isso, ele era forte.

Ele baixou o braço e seus olhos encontraram os meus. A cor verde intensa de sua íris pareceu brilhar ainda mais, e eu me deparei com uma mistura de sentimentos escondidos naquele olhar: respeito, admiração, arrependimento, gratidão. Senti meu coração dar uma batida descompassada, surpresa por ver revelados em Ian sentimentos como esses, tão cristalinos, provocados pelo meu pai. De repente, a palavra "oceano" se encaixou ainda melhor nas feições dele.

— Ele era tão forte, Maya.. - continuou - Qualquer um que apenas treinasse com ele era respeitado, e sua espada ceifou mais demônios do que se pode contar. Um guerreiro incrível, e um vidente sem igual. Eu jamais imaginei que ele poderia vir a morrer. Quando a possibilidade me ocorreu, afastei-a imediatamente, simplesmente porque não fazia sentido...

Ele se calou, e ficamos ambos em silêncio por alguns instantes. Meu pai... Havia conquistado tanto respeito assim...

— Desculpe. Não fui capaz de te consolar devidamente. - Ian resmungou - Eu... Cansei de ficar de luto. Meu pai, meus amigos, Asada Oji-sama, e então mais essa...

Ele passou a mão pelo cabelo.

— Ficou ainda mais difícil te encarar, tudo que eu sabia fazer era tentar te afastar de mim.... Droga. Nem mesmo em um momento como esse.... - ele olhou para o teto com um sorriso melancólico - Eu realmente devo ser a pior pessoa para manter uma promessa. Me perdoe...

Eu o fitava, a intensidade de suas palavras mostravam a culpa que ele alimentava quanto àquilo. Ele fechou os olhos.

— Me perdoa por não ter salvo tio Jack, por não conseguir te manter fora dessa guerra, por não impedir que você sofresse...

— Não diga isso. - interrompi.

Estendi minha mão e alcancei seu rosto, obrigando-o a olhar para mim. Nossas lágrimas pareciam sincronizadas. 

— Eu escolhi meu próprio caminho. - continuei - Não tente se culpar ou se responsabilizar pelas escolhas que eu fiz, ou vai me dar uma chance de ser a Mayara fraca que meu coração implora que eu seja. Eu estou lutando, Ian. Eu decidi que vou ser forte como você. Para isso, tenho que reconhecer meus próprios caminhos. Fui eu quem decidiu deixar a segurança do Acampamento, e sou eu quem está escolhendo resolver os problemas dessa Família. - deslizei meus dedos por seus cabelos, e lhe dei um olhar terno - Obrigada por ter cuidado de mim esse tempo todo, mesmo que eu nunca tenha notado. Obrigada por ter me protegido, por me dar suporte, por me ajudar a sair das crises. Mesmo sem muitas palavras, você me consolou, me ajudou a lidar com a dor, me ajudou a ficar mais forte. Você me ajudou a lutar, Ian. 

Ele tinha uma expressão espantada.

— Mas agora... - prossegui - Chegou a hora de você me deixar te acessar. Precisa confiar em mim, também. Somos parceiros, uma dupla. Não só na hora de lutar, mas o tempo todo. Pode me deixar ver você, pode me falar sobre o que te machuca. Pode confiar em mim.

Ele fechou os olhos molhados, fazendo mais gotinhas correrem por suas faces, e permaneceu quieto por muito tempo. Eu vi sua luta em seu rosto, e esperei pacientemente que ele quebrasse o silêncio. Fiz meus dedos passearem por seus cabelos negros, sentindo-o encostar a cabeça na beira da cama. E assim ficamos por o que parecia uma eternidade. Uma eternidade quieta e segura. Até sua voz finalmente sair em um sussurro meio desesperado:

— Eu tenho tanto medo. Tanto medo que Lotty se lembre de tudo o que passamos. Ela vai me odiar. Se ela lembrar como foi tudo culpa minha, ela vai me odiar. 

— Da mesma forma como você se odeia?

Ele soluçou, e isso me serviu de resposta.

— Maya... - ele ergueu o rosto pra mim e suplicou: - Diz pra mim que não foi culpa minha. Quando você fala... Eu sou capaz de acreditar. Eu não quero mais me sentir um monstro. Por favor, me diga que a culpa não foi minha. 

Limpei suas lágrimas e pousei minha mão em sua face.

— Você não teve culpa, Ian. Você fez o que era necessário. Você não é o monstro que sente ser. Você foi um herói, e é assim que Charlotte te vê. E é assim que eu te vejo.

Em seus olhos grudados aos meus, eu vi o alívio brotar junto com mais algumas lágrimas. Ele segurou minha mão e a levou até seus lábios, depositando ali um beijo. Em seguida recostou a testa na beira da cama novamente, ainda com nossos dedos entrelaçados.

— Obrigado. - sussurou - Você sempre foi a minha salvação. 

E assim, ambos ainda com as faces molhadas e de mãos dadas, adormecemos.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Aaaaaaaaaahhh
O que achou? Erros, críticas, expectativas, pedidos, pensamentos aleatórios? Deixa um comment aí me contando tudo! Ou só pra registrar que você esteve por aqui. É muito importante saber se vocês estão gostando ou não, então por favor me contem!!
Desculpa se alguém achou que já ia rolar beijo hahaha As coisas não caminham tão rápido assim entre esses dois. Mas até teve, né? Quem diria que o Ian beijaria a mão da May assim? O que acharam?
Bom, vou ficando por aqui. Obrigada pelo amor que vocês me dão ♡♡ A até o próximo capítulo ^^
~jaa ne!



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