À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 55
Capítulo Extra - A História de Mais Alguém: Ondas de Concreto e Papo de Garota


Notas iniciais do capítulo

Heeeeeeey!
Gente, eu sei, eu sei... Estou demorando eternidades mais uma vez. Perdão! Sério, as coisas estão meio malucas por aqui '-' MAS! Não se desesperem porque eu sempre apareço. Enfim.
Acho que tava todo mundo esperando a grade revelação sobre o poder da May, mas acontece que o capítulo não tá pronto. E não tá pronto porque tá faltando inspiração, e tudo que eu escrevia nele tava ficando uma bosta, então resolvi esperar mais um pouco e trabalhar melhor nele. Perdão >.<
Bom, desculpas à parte, vamos ao capítulo. Pela primeira vez, vamos ver alguma coisa pelos olhos de Ian! Ah, e sobre a segunda parte: mantenham em mente a conversa de Izumi com Taiga, okay?
Vejo vocês no fim :3



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Tinha que ter uma pista de skate no caminho até a loja de comida, não tinha? Assim que Ian bate os olhos nas ondas de concreto, ele sabe o que vem a seguir.

— Nii-sama! – Tori exclama, animada.

Ele não evita um sorriso, seus próprios músculos também ansiando por ir até lá.

Mayara fita a pista e puxa os lábios em um sorriso fofo que a deixa com as bochechas infladas. Ian acha que ela não se dá conta disso, mas tem o hábito de fazer essa expressão. Como quando RR lhe trouxe café com canela. Ou quando viu o brilho de sua espada depois da luta contra os Ciclopes. Impressionante como aquela expressão lhe cai tão bem, e ao mesmo tempo destoa tanto de sua personalidade teimosa e muitas vezes arrogante. 

— Uma pista de skate. – a filha de Atena fala, como se não fosse óbvio – Você quer ir lá, Charlotte? Acho que ninguém vai notar se gastarmos uns dez minutos a mais.

Tori comemora, e, invocando sua moto, tira do compartimento para malas dois skates de trinta centímetros, coloca-os no chão e murmura alguma coisa em grego. Alguns segundos se passam, eles crescem até o tamanho normal e ela os pega, entregando um deles ao irmão, em seguida transformando a moto em uma carta novamente.

O vento no rosto, o frio na barriga antes da rampa, a sensação de liberdade ao realizar uma manobra no ar... Ian preza muito por essas coisas. Ele é apaixonado por surf, mas nem todo lugar tem praia para isso. Depois de alguns meses em Tóquio, ele passou a venerar o cara que inventou o skate. Sério, era quase uma dívida de vida.

Dez minutos se passam e nenhum dos três se dá conta. Ian para no topo de uma das rampas e observa Mayara e Tori rirem juntas. A loira agora está encima do skate, com Tori lhe dando dicas e orientações. Ela pegou o jeito mais facilmente que a maioria das pessoas, e agora serpenteia na pista, evitando as rampas.

Mayara veste um short tão curto quanto o que usara na luta pela manhã, uma regata branca leve com um casaco largo por cima. O cabelo longo tem sua raiz escondida pelo boné com aba larga virada para trás que Tori colocou ali. De certa forma, o visual se encaixa no cenário, mas ser capaz de ver as pernas dela, coberta por arranhões e feridas ainda não cicatrizadas, não deixa Ian satisfeito, mesmo que ele não se dê conta de que é isso que o incomoda. Os vários outros garotos na pista fitam-na com interesse.

Fitam-na não, fitam-nas.

Ian estreita os olhos ao desviá-los para sua irmã, que, além de Mayara, é a única garota na pista. Ela está usando uma saia. “Uma saia para andar de skate” é tudo que ele tem tempo de pensar antes que três garotos se aproximem dela.

Ian só falta soltar fogo pelas narinas. Ele desce a rampa com rapidez e para perto dela.

— Lotty – chama, cortando o que quer que os garotos estivessem falando e dizendo em japonês – Já está na hora de ir, chame a novata.

— Hai, Nii-sama. – ela responde e, acenando para os rapazes, corre na direção de Mayara.

— Ei, cara, acho que esse aí não entende a nossa língua. – um deles comenta com o amigo.

— Aho*. – Ian suspira – Eu entendo tudo o que você fala.

— Ah! Ei, mano, a gente suas manobras! Você é dos nossos.

Ian tenta esconder uma expressão contrariada diante da fala.

— Isso aí. – outro ajunta, passando um braço pelos ombros de Ian – E aquelas duas são suas irmãs? Cara, não quer descolar pelo menos uma pra gente?

Ian pega o braço do garoto e o tira de si, com um olhar fuzilador que colocaria militares de joelhos.

— Nem ousem chegar perto daquelas duas. – fala entredentes.

— Hey, cérebro de camarão! – a voz de Mayara soa – Vamos ou não?

O moreno pisa na borda do skate e habilmente o pega quando sobe. Com uma mão no bolso e ar de quem não fez nada de mais, ele dá as costas aos garotos e caminha até as duas.

— Fez novos amigos, Nii-sama? – Tori pergunta, claramente já sabendo da resposta.

Ian abre um sorriso sombrio.

— Ah, sim. – responde – Com certeza seria interessante se eu os encontrasse novamente.

Mayara lhe lança um olhar.

— Por que será que tenho a impressão de que você os mataria se os visse novamente?

 

****

 

— Ah! – Mayara salta da cama, repentinamente tendo uma ideia para se livrar do tédio que se instala no quarto de hotel das meninas em San Francisco, na noite anterior à festa.

Izumi e Charlotte olham para ela de repente.

— Que tal uma brincadeira? – a loira continua – Eu acho que as pessoas normalmente brincam disso quando vão dormir na casa dos amigos hoje em dia. Uma de nós faz uma pergunta, e precisamos todas responder com a verdade. Claro, o silêncio é uma opção.

Charlotte já bate palmas animadas.

— Vamos, Izumi-chan! – pede para a mais velha, que abre um sorrisinho.

— Bom, acho que não faz mal. – a líder acaba concordando.

— Da mais nova para a mais velha! – Charlotte sugere – Sou a primeira.

As outras duas assentem.

— Okay, então... Uma coisa que é normal, mas que te dá medo.

— Aranhas. – Mayara responde prontamente – Tenho uma aracnofobia imensa.

— E você, Izumi-chan?

A líder coloca a mão no queixo.

— Bom, para mim, talvez valha dizer que é a escuridão.

— Hah? – May deixa escapar – Izumi, você tem medo de escuro?

A outra dá um sorriso e nega com a cabeça.

— Não é bem isso. – explica – É mais uma temor e um constante incômodo. A minha Habilidade principal é manipulação e materialização das sombras. A condição para que eu a ative é a presença suficiente de luz. Sem luz não há sombra, e, portanto, não posso usar minha habilidade. Não ter esse recurso sempre à mãos em qualquer momento é algo capaz de tirar minha paz.

—Hmm... – May resmunga, admirada – Capaz de alterar o seu humor... Talvez Hiro seja o único outro fator que tenho ciência de que consegue essa proeza.

Ela ri.

— Não se engane, May-san. – fala – Não sou tão imperturbável assim.

— E quanto a você, Charlotte? – May pergunta.

A garota cruza as pernas.

— Sou claustrofóbica. – diz – Lugares apertados e que eu sei que não consigo sair... É terrível a sensação de estar presa.

— Ah, por isso você preferiu subir de escada – a loira percebe – Elevadores te deixam nervosa?

Charlotte assente.

— Sua vez, May-san.

Mayara leva a mão ao queixo. Claro, ela não havia proposto aquela brincadeira apenas para passar o tempo. Ela quer conhecer melhor suas companheiras de equipe, e também responder suas próprias perguntas e satisfazer sua curiosidade ou suspeitas. Mas, mais que isso, ela também quer dar às duas um gostinho de como as garotas mortais se divertem em festas do pijama. Seu pai havia dito que ela precisava ser uma ponte entre sua equipe e o mundo que os Greno rejeitaram, e ali é uma ótima oportunidade de fazer isso.

Com um sorrisinho, ela pergunta:

— Vocês têm alguma pessoa especial para vocês? Digo, namorado ou alguma paixão platônica? Se sim, quem é?

Izumi se move um pouco, meio desconfortável.

Charlotte se adianta:

— Eu tenho muitas pessoas especiais para mim, mas... Não acho que tenha algo como um amor romântico ou coisa do tipo.

Mayara tem vontade de exclamar um “tem certeza?! Porque não é o que parece quando você está com Hiro”, mas se segura, achando melhor não despertar esse tipo de pensamento em Charlotte. Ela preza pela quase paz que tem com o irmão dela. Ou seja lá como se chama o tipo de relacionamento maluco que os dois têm.

— E você, Izumi?

A face dela fica um pouco rubra.

— Acho que pode-se dizer que sim. – responde – Mas isso fica entre nós, por favor.

Mayara se anima.

— Quem é, quem é? Ian?

Izumi franze a testa, e Charlotte arregala os olhos.

— Ian-kun? – diz a morena – Ele é como um irmão. É assim que vemos um ao outro.

A outra ergue uma sobrancelha.

— Ah, sério... – fala, e então tem uma ideia – Oh! Acho que já sei quem é. Vocês combinam, Izumi.

A líder desvia o olhar.

— Quem é? – Charlotte quer saber, e então parece se dar conta – Ah!

— E quanto a você, May-san? – Izumi parece querer desviar do assunto.

A filha de Atena sorri.

— Tenho alguém me esperando no Acampamento. – fala.

— Ah, deve estar falando de Michael-kun, certo? – Charlotte diz – Aquele que fez uma ligação de íris quando estávamos em NY.

— Ele mesmo. Mike e eu nos conhecemos a pouco tempo, mas ele já me ajudou a passar por muita coisa. Foi ele que não me deixou desistir de me apresentar para a missão.

— Pensou em desistir? – a ruiva argui.

A outra assente.

— Depois que meu pai morreu, tudo o que eu queria era ficar e cuidar dos meus irmãos. Mas isso era apenas uma desculpa para me afundar em minha dor e fugir da batalha, da minha responsabilidade. Foi Mike quem me fez enxergar isso.

— Hm, parece que devemos sua companhia ao curandeiro, então. – Izumi comenta.

Mayara ri.

— Pode prestar queixas a ele, então.

— Ao contrário, agradecer.

— Ah – Charlotte diz – Pergunto-me como seria a nossa missão se May-chan não fosse parte dessa esquipe. Afinal, realmente tudo o que fizemos até aqui tiveram algo a ver com sua história, poderes ou destino.

— Bem chata, isso seria. – a loira fala e então ri – Izumi, sua vez de perguntar.

— Ahn... Okay, então: fator mais importante na batalha, em sua opinião.

— Uma defesa sólida e um ataque eficiente. – Charlotte responde.

— Inteligência. – diz Mayara – Se você for capaz de montar uma boa estratégia, ou de pensar rapidamente se ela não der certo, você tem mais chances de vencer.

A líder assente.

— Bom, a esses dois fatores eu ainda acrescentaria a paciência. Saber quando agir ou não é um dos maiores determinantes de uma batalha. Lady Ártemis sempre dizia: a caça é um jogo de paciência, onde muitas vezes se aguarda mais do que se age.

— Minha vez de novo! – Charlotte comemora – Qual foi o momento mais feliz da sua vida?

A ruiva e Izumi fitam Mayara, interessadas. Elas sabem muito bem o tipo de vida que a garota teve, e, especialmente a mais nova, nutre uma curiosidade sobre o mundo mortal do qual nunca participou por muito tempo.

A filha de Atena ergue o olhar para o teto, pensando.

— Hmm... Eu não sei se posso escolher corretamente... Bom, talvez tenha sido a época em que morava aqui em San Francisco, e que ia jantar na casa de tio Henry toda semana. Ou talvez tenha sido quando meu pai casou com Layla, e eu finalmente tinha uma mãe. Ou quando meus irmãos nasceram. Ou quando encontrei minha melhor amiga pela primeira vez, e nós formamos um laço inquebrável. Eu... Tive muitos momentos felizes na minha vida.

Charlotte parece encantada.

— Para mim, provavelmente foi após o nascimento de Hiro. – Izumi diz – Onee-sama e eu ficamos super felizes. Mas isso só durou alguns dias... Logo depois, Otou-sama começou a ter problemas com Okaa-sama...

— E quanto a você, Charlotte?

— Ah... Bem, eu... –ela fala pausadamente – Acho que quando Nii-sama e eu estávamos na Austrália com papai, antes de ele morrer. No Brasil as coisas também eram boas... Depois daí tudo virou de cabeça para baixo.

O tom melancólico acaba por tomar o ambiente diante da menção do falecimento do pai de Charlotte. Ali está algo que todas as três têm em comum: precocemente perderam seus pais. Mayara não consegue evitar que a pergunta lhe escape dos lábios:

— Qual foi o pior momento da vida de vocês?

Os olhos de Izumi recaem imediatamente sobre Charlotte, preocupados, mas a garota não demonstra reação. Ela fica em silêncio por alguns instantes e então diz:

— Depois que papai morreu... Nii-sama e eu fomos presos pelos eidolons durante dias. Ele me protegeu, até conseguirmos fugir com ajuda... Acho que foi o pior momento. Mas, bom, eu não me lembro muito bem. Depois que fomos para o Japão, Nii-sama pediu para JJ-sama... Que ele apagasse minhas memórias daquele tempo. Então tudo o que sei é o que ele me contou e alguns fragmentos deixados.

— Meu pai apagou sua memória? – Mayara se surpreende.

— Era uma de suas habilidades secundárias. – Izumi explica – Ele podia apagar memórias se a pessoa estivesse de acordo.

— Então você nem sabe direito o que aconteceu? – a loira continua, perguntado a Charlotte – Não tem curiosidade de pegar suas memórias de volta?

Ela nega com força.

— Não quero reviver aquilo, May-chan. Eu me lembro de ter ficado semanas sem dormir bem depois daquilo, de chorar todas as noites, de não comer... Nii-sama recorreu ao seu pai porque eu não conseguia me recuperar, porque eu fui fraca. Até hoje... Até hoje eu ainda corro para o quarto dele à noite....

— Okay, chega. – Izumi interrompe, suspirando – Não vamos continuar nesse assunto. O passado de Ian-kun e Tori-chan é algo que você não precisa ficar revirando, May-san. Se me permite o conselho, não arrume mais esse problema entre você e Ian-kun.

May engole em seco, engolindo também a curiosidade que cresce em si, mas deixa o assunto morrer. A brincadeira não se sustenta mais, e Charlotte timidamente pede licença e sai do quarto, obviamente indo para o irmão, o que faz Mayara se sentir ainda mais culpada.

— May-san. – Izumi chama, após alguns minutos de silêncio entre as duas – Peço que esqueça por um instante da revelação de Tori-chan. Tem algo que acho que devo te contar.

A atenção da filha de Atena é prontamente capturada diante da fala.

— Você já deve saber que seu pai, ocupando a posição de Líder dos Videntes, tinha uma grande influência dentro do Conselho. – continua – Além disso, ele foi aquele a profetizar minha ascensão a Líder de Guerra. De certa forma, JJ-sama tomou para si a responsabilidade de me aconselhar sempre que me via. Ele conquistou minha confiança, apesar de seu passado misterioso, e minha admiração. E uma vez ele me disse o seguinte: “Jesus Cristo escolheu ele mesmo os doze que estariam próximos a ele, e ainda assim foi traído. Pense, pequena Izumi, você confia no sistema da família o suficiente para permitir que os seus Generais sejam escolhidos por ele?”

A japonesa aprecia sua katana embainhada à sua frente, pousada no colchão. Mayara chega a alimentar o pensamento de que Izumi parece sempre estar com a arma à distância de uma pegada, nunca longe.

— Refleti por dias, e cheguei à conclusão de que não, eu não confio. – ela ergue o olhar para a loira – Você talvez seja capaz de ver muito mais claramente os erros da nossa família, May-san, mas não sou tão cega assim. Eu posso sim enxergar as disparidades e atrocidades que o Conselho comete, mas, atada como estou diante das Regras, não há muito que eu possa fazer no momento. Se eu quiser ser obedecida e respeitada quando assumir a liderança, preciso ser perfeita até então. Portanto, eu decidi trilhar o único caminho que me é possível por enquanto: eu mesma escolherei quem sentará à mesa de decisões comigo, da forma mais discreta que conseguir. Eu preciso saber que cada um será capaz de pensar por si, e discordar se necessário, mas sempre permanecer leal. Preciso conhecer os ideais e objetivos de cada General que me acompanhará.

Izumi faz uma pausa, sustentando o olhar de Mayara com um ar firme, enquanto a loira começa a perguntar-se o que a líder espera como resposta. Fechando os olhos para um suspiro, Izumi estende a mão e segura sua katana, em seguida levantando-se.

— Eu só precisava que você estivesse ciente disso. – fala – Não pense que minha paciência e confiança quanto a você são cegas ou despropositadas, Mayara. Eu a estou observando. E espero logo poder contar ainda mais com você.

Ela se dirige à porta do quarto, sem esperar uma resposta.

— Agora descanse. Amanhã teremos um dia e tanto.

Com isso, todo o quarto fica mais escuro e Mayara se vê sozinha, com o pensamento de que nunca vira sua líder tão firme, assustadora e forte antes. E nem tão confiável.

 

 


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Notas finais do capítulo

Vocabulário:
*Aho (japonês): Significa idiota, estúpido. Tem uma intonação ofensiva, ao contrário de "Baka". Pronúncia: "arrô".

Heeeey
Então, o que acharam?
Mais uma vez, peço desculpas pela demora. Espero que entendam.
Críticas, impressões, erros, incentivos, expectativas? Conta tudo pra mim nos comments! ^^
Sério, eles me enchem de inspiração (e estou bem carente dela agora, só pra relembrar haha)
Bom, obrigada pela leitura, e até a próxima! ♥